domingo, 14 de dezembro de 2025

Que fim levou? Scotty Moore

 

Winfield Scott Moore III, mais conhecido como Scotty Moore, foi o guitarrista que formou os "The Moon Boys", em 1954, banda de apoio de Elvis Presley. Ele foi o guitarrista de estúdio e turnês de Presley entre 1954 e 1968. O jornalista Dave Marsh credita a Moore a invenção dos poderosos acordes na introdução de "Jailhouse Rock" (hit destacado por nós ontem), que segundo declarou certa vez o baterista D. J. Fontana teve ideia tirada de uma versão Swing dos anos 40 de "The Anvil Chorus". Keith Richards, guitarrista dos Rolling Stones, já disse: "quando ouvi 'Heartbreak Hotel', soube o que fazer da minha vida. Estava tão claro como o dia. Tudo o que eu queria fazer no mundo era poder tocar e soar como Scotty Moore. Todo mundo queria ser Elvis, eu queria ser Scotty". Moore nasceu perto de Gadsden/TN, em 1931. Aprendeu a tocar guitarra na família e através de amigos aos 8 anos. Ele serviu a Marinha dos EUA na China/Coréa entre 1948-52. Sua base musical era toda de Jazz e Country Music. Fã do guitarrista Chet Atkins, Moore liderou um grupo chamado "Starlite Wranglers", antes que Sam Phillips (da Sun Records) o colocasse junto com o novato Elvis Presley (lembrando que Elvis era nascido em 1935, portanto 4 anos mais jovem que Moore).
Moore, Presley e Black
O trio foi completado pelo baixista Bill Black (nascido em 1926 em Memphis/TN), que tocava de uma maneira propulsiva que agradava muito a Phillips. Em 1954, Moore e Black acompanharam Elvis naquele que seria seu primeiro sucesso, a sessão na Sun Records de "That's All Right", uma gravação seminal na história do Rock & Roll (Elvis tinha 19 anos, Moore tinha 23 anos e Black tinha 28 anos). Aliás, a história por trás dessa sessão de gravação é fascinante:
"Esta sessão, realizada na noite de 5/jul/54, revelou-se totalmente infrutífera até tarde da noite. Quando eles estavam prestes a desistir e ir para casa, Presley pegou seu violão e começou a tocar um número de Blues de 1946, "That's All Right", de Arthur Crudup. Moore contou: 'de repente, Elvis começou a cantar essa canção, pulando e agindo como um idiota e então Bill pegou seu baixo e começou a agir como um idiota também, e eu comecei a tocar com eles. Sam, eu acho, estava com a porta da cabine de controle aberta... ele colocou a cabeça para fora e disse: 'O que vocês estão fazendo?' E nós dissemos: 'Não sabemos'. 'Bem, voltem', disse ele, 'tentem encontrar um lugar para começar e façam tudo de novo'. Phillips rapidamente começou a gravar, pois esse era o som que ele procurava".
Durante os dias seguintes, o trio gravou um número de Bluegrass, "Blue Moon of Kentucky", de Bill Monroe, novamente em um estilo distinto e empregando um efeito de eco que Sam Phillips chamou de "slapback". Um single foi lançado com "That's All Right" no lado A e "Blue Moon of Kentucky" como lado B. A visão centrada no ritmo de Phillips o levou a afastar Moore do estilo de Chet Atkins, cheio de dedilhados. Phillips queria um som simples e corajoso. Simplificar era a palavra-chave. Para uma apresentação no programa de rádio Louisiana Hayride, em out/54, Presley-Black-Moore foram chamados de "Blue Moon Boys". Pouco depois, eles agregaram o baterista D. J. Fontana.
Subsequentemente, a popularidade de Elvis aumentou entre as adolescentes, eles começaram a fazer turnês (no início pelo Sul, mas depois por todo o país) e apareceram em programas de TV ilustres. Em abr/56, eles tocaram "Shake, Rattle and Roll", "Heartbreak Hotel" e "Blue Suede Shoes" no The Milton Berle Show". Elvis foi proibido de fazer os giros que provocavam as garotas a gritar descontroladamente. Ele não compreendeu o porquê e foi Moore que o explicou: "É a sua perna, cara. A maneira como você balança a perna esquerda". Moore tocou em muitas das gravações mais famosas de Presley, incluindo "That's All Right", "Good Rockin' Tonight", "Milkcow Blues Boogie", "Baby Let's Play House" (onde Elvis apresentou a gagueira vocal aos especialistas em música), "Heartbreak Hotel", "Mystery Train", "Blue Suede Shoes", "Hound Dog", "Too Much", "Jailhouse Rock" e "Hard Headed Woman". Ele chamou seu solo em "Hound Dog" de "psicodelia antiga".
Durante as filmagens/gravações do filme "Loving You" (segundo filme de Elvis, de 1957), em Hollywood/CA, no início de 1957, Moore e Black afastavam todo o tédio tocando com Presley entre as gravações, mas geralmente viam pouco Presley. Eles ficaram magoados/ressentidos com a separação, que passaram a perceber como organizada deliberadamente. Eles já não haviam acompanhado Presley nas gravações da trilha sonora de "Love Me Tender" (primeiro filme, de 1956), porque a 20th Century Fox se recusou a permitir que ele usasse sua própria banda com a desculpa de que a banda não poderia tocar Country. Em dez/56, eles começaram a passar por dificuldades financeiras, porque as apresentações havia se reduzido desde agosto. Quando havia apresentações, eles recebiam US$ 200 por semana, mas apenas US$ 100 quando não estavam se apresentando. Moore e sua esposa foram forçados a morar com suas três irmãs e seu cunhado. Em entrevista ao Memphis Press-Scimitar (leia aqui) naquele mês de dezembro, eles falaram sobre a falta de apresentações e de contato com o próprio Presley. A entrevista foi o veículo para o anúncio de que a administração lhes havia dado permissão para gravar um álbum instrumental próprio, que a RCA Victor lançaria, permissão necessária para que eles aparecessem como um grupo sem Presley.
Durante a turnê de Presley pelo Canadá em 1957, o promotor de shows Oscar Davis se ofereceu para representá-los como seu empresário. Moore e Black, que viram Presley se tornar um milionário enquanto eles ainda ganhavam US$ 200 ou US$ 100 por semana, estavam dispostos a trabalhar com Davis, mas os backing vocals, os Jordanaires, não foram receptivos, porque não confiavam em Davis. Eles viviam com US$ 100 por semana desde 1956, assim como Elvis. No entanto, depois que Hollywood foi introduzida, o salário de Presley experimentou um aumento dramático, enquanto Moore e Black continuaram com US$ 100 por semana. Eles receberam apenas um aumento em dois anos e, com a falta de apresentações foi ficando muito difícil financeiramente. A tensão atingiu o limite logo após as sessões de set/57 do primeiro álbum de Natal de Presley. Foi prometida a Moore e Black uma oportunidade de tocar com Elvis após a sessão, no horário de estúdio de Presley. No entanto, quando a sessão terminou, eles foram instruídos a fazer as malas e ir embora. Naquela mesma noite, a dupla escreveu uma carta de demissão. Deduziram (corretamente) que o Coronel Tom Parker estava trabalhando contra eles. Foi-lhes negado praticamente todo o acesso a Presley e sentiram como se "já não tivessem sequer permissão para falar com ele". O Coronel Parker não interferiu, mas o executivo da RCA Victor, Steve Sholes, que tinha pouca consideração pela banda de Presley, esperava que a separação fosse permanente. De volta a Memphis, um jornalista soube da separação e entrevistou a dupla. Presley respondeu ao artigo com um comunicado à imprensa desejando-lhes boa sorte, dizendo que as coisas poderiam ter sido resolvidas se eles tivessem procurado ele primeiro, em vez de levar o assunto à imprensa. Numa entrevista anexa, Presley revelou que durante os dois anos anteriores, as pessoas tentaram convencê-lo a se livrar de sua banda, então, do seu ponto de vista, ele permaneceu leal a eles.
Presley estava agendado para aparecer em Tupelo/TN nas próximas duas semanas e começou a fazer testes com novos músicos. Ele se apresentou com Hank Garland (guitarra) e Chuck Wiginton (no baixo), mas apesar de bons, aquilo não soou o mesmo para ele. Na semana seguinte, ele contratou Moore e Black de volta com base em diárias. Moore declarou que não houve ressentimentos, embora o próprio Presley, segundo o biógrafo Guralnick, pareça ter se sentido mais melancólico. "Um dia", escreveu Guralnick, "Presley ouviu 'Jailhouse Rock' no rádio e declarou: 'Elvis Presley e sua banda de um homem só', com um aceno triste de cabeça". Moore e os Blue Moon Boys atuaram (com pequenos papéis coadjuvantes) com Presley em quatro de seus filmes ("Loving You", "Jailhouse Rock", "King Creole" e "GI Blues") filmados em 1957, 1958 e 1960. No início de 1958, quando Presley foi convocado para o serviço militar, Moore começou a trabalhar na Fernwood Records e produziu um disco de sucesso, "Tragedy", para o cantor Thomas Wayne Perkins, irmão do guitarrista de Johnny Cash, Luther Perkins. Em 1960, Moore iniciou sessões de gravação com Presley na RCA Victor e também atuou como gerente de produção na Sam Phillips Recording Service, que envolvia a supervisão de todos os aspectos da operação do estúdio. Moore tocou em canções de Presley como "Fame and Fortune", "Such a Night", "Frankfort Special", "Surrender", "I Feel So Bad", "Rock-A-Hula Baby", "Kiss Me Quick", "Good Luck Charm", "She's Not You", "(You're the) Devil in Disguise" e "Bossa Nova Baby". Moore permaneceu como guitarrista na maioria das canções gravadas depois que o trabalho de Presley foi dominado pelas sessões de Hollywood. Moore tocava principalmente guitarra base, sendo seu último trabalho de guitarra solo ocorrido em 1962 com "(You're the) Devil in Disguise". Moore também tocou em sessões de Roy Orbison (mais notavelmente em “Crying”) e outros.
Em 1964, Moore lançou um álbum solo pela Epic Records chamado "The Guitar That Changed the World", tocado com sua Gibson Super 400. Phillips inicialmente não sabia do projeto e, assim que soube dele, demitiu Moore. Ele se reuniu com Fontana e Presley para o especial de televisão da NBC conhecido como '68 Comeback Special, novamente com sua Gibson Super 400, que também foi usada por Presley. Este especial foi a última vez que esses músicos tocaram com Presley e, para Moore, foi a última vez que o viu. Moore teve que desistir de tocar guitarra alguns anos antes de sua morte por causa de artrite. Muito provavelmente, sua última aparição em uma gravação foi como convidado no álbum "61 & 49", de 2011, do Mike Eldred Trio. O líder desse grupo, o guitarrista Mike Eldred, era amigo de Moore, desde o início dos anos 1990. Como membro do Big Blue, de Lee Rocker, Eldred também ajudou a trazer Moore (então semi-aposentado) como convidado no primeiro álbum do grupo. Moore morreu em 28/jun/2016, em Nashville/TN, aos 84 anos.

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