quarta-feira, 1 de maio de 2024

Review: Grand Funk Railroad – Closer to Home (1970)

 


Com este disco, uma das bandas de pior relacionamento com a imprensa ganhou fôlego nas críticas. Não era para menos, devido ao alto nível do álbum, lançado ainda antes do grupo assumir um tecladista fixo. O Grand Funk Railroad já tinha em seu currículo um grande trabalho (Grand Funk, de 1969), mas faltava a continuidade para confirmar a boa fase do trio. 

O início dos anos 1970, com a Guerra do Vietnã em alta e o espírito hippie se esfarelando,  era o cenário perfeito para quem chegasse com um som mais cru trazendo para o universo da música a realidade fria que o planeta estava vivendo. E qual banda melhor para preencher esta lacuna senão este trio de Flint, cidade natal da General  Motors e símbolo da indústria automotiva nos Estados Unidos? Na região central da pequena cidade o caos começou a reinar quando restaurantes, bares e tudo mais começaram a ficar largados à própria sorte com o êxodo da população com as constantes crises e demissões que iniciaram nos anos 1960, quando as fábricas implementaram a automação em suas instalações 

Foi no meio deste caos decadente que Mark Farner (vocalista, guitarrista e capitão da banda),  Don Brewer (o excêntrico baterista, que em breve também se arriscaria também como vocalista) o Mel Schacher (o mestre das quatro cordas, responsável pelo som gordo do GFR) começaram a tocar. Se o rock precisava de um grupo que falasse diretamente sobre a fria realidade, ele tinha que ser de Flint!

O curioso nome foi sugerido pelo empresário dos caras, Terry Knight, inspirado na empresa ferroviária de Michigan, a Grand Trunk Western Railroad.  

Closer to Home apresenta um Grand Funk repleto de personalidade, principalmente nas linhas estrondosas do baixo, profundas e com ritmos marcantes. Quando “Sin’s a Good Man’s Brother” toma conta do ambiente com a sua introdução acústica, a ansiedade para escutar o som encorpado do baixo de Mel Schacher (marca da banda até então) é sanada imediatamente.  Ao final da canção o Grand Funk manda uma pequena parte funkeada típica deles.

Aliás, esta é uma banda que todos os que gostam de contrabaixo elétrico deveriam idolatrar. “Aimless Lady” é uma prova de como o baixo pode ser discreto e ainda assim ter mais destaque que os demais instrumentos, e isso ocorre também em “Nothing is the Same”.   “Mean Mistreater” tem a fórmula que a banda seguiria em Phoenix (1972), alguns anos depois: teclados experimentais e uma sonoridade mais tranquila. A receita deu certo neste trabalho apesar de não ser o estilo deles, e o resultado influenciou futuramente a banda como podemos perceber claramente no futuro, mas isso é outra história.


A instrumental “Get It Together” quase seguiu o mesmo caminho, mas esbarrou na trave. Uma mudança e tanto que pegou de surpresa muitos fãs na época, apreciadores do som pesado, do groove do baixo, da bateria quebradíssima de Don Brewer e dos longos solos de Mark Farner. Ou seja, um som direto, sem frescuras. “Get It Together”, ainda assim, conseguiu manter um pouco de tudo com direito ao coral na parte final (sim, tem coro em uma música instrumental, e daí?)

As coisas voltam ao seu estado natural em “I Don’t Have to Sing the Blues”, que não é um blues, mas uma dançante canção que Mel Schacher dava de presente para quem quisesse ouvir. “Hooked on Love” (este sim um blues) lembra muito a melodia de “Get It Together” , porém a utilização dos instrumentos foi de maneira fiel ao que eles estavam acostumados. Mais uma vez, um corinho se faz presente abrilhantando o dueto interessante entre Farner e Brewer.

Ok, pessoal, agora chegamos ao que interessa. “I’m Your Captain (Closer to Home)” é um marco do rock pois aqui o Grand Funk Railroad atinge quase que a perfeição. Dez minutos redondos com duas canções em uma. Começa com “I’m Your Captain”, com violões ditando o ritmo, para que Schacher possa despejar toda a sua habilidade. A canção título vem colada, mas a mudança passa quase despercebida. O clima é de tranquilidade de um porto com a utilização de sons marítimos. Tudo isso embalado com orquestrações de flauta, violinos e violoncelos.

Daí para a frente é só relaxar e curtir o que considero o ponto mais alto da carreira da banda. Eles ainda trariam outros grandes álbuns ao rock, mas tudo pode ser encontrado nesta bolachinha aqui.

Closer to Home
 foi direto ao sexto lugar da parada norte-americana, e para consolidar ainda mais a banda temos a cereja do bolo com a apresentação do GFR no ano seguinte no velho Shea Stadium, em Nova York, com o Humble Pie como banda de abertura. O show aconteceu em 1971, quebrando o recorde de público e vendas (os ingressos se esgotaram em menos de 71 horas) e desbancando os Beatles . Como o estádio foi demolido em 2008, este recorde será eterno assim como a magia da banda.

Grande disco, grande banda: Grand Funk Railroad.




Review: Megadeth – Super Collider (2013)

 


Parafraseando o falecido Stan Lee, que criou a frase “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”, imortalizada nas histórias do Homem-Aranha, ouso adaptá-la para a música com um pequeno ajuste: “com grandes bandas, vem grandes expectativas”. Traduzindo: todo fã espera sempre o melhor de sua banda favorita. E, algumas vezes, esquecemos que as bandas são formadas por seres humanos, e, portanto, sujeitas à falhas e altos e baixos.

Após lançar uma série de sete discos que colocaram seu nome no topo do metal – da estreia Killing is My Business ... and Business is Good! (1985) até Cryptic Writings (1997) -, o Megadeth experimentou um período não tão inspirado assim com discos que não foram bem aceitos pelos fãs e não apresentaram a inspiração de outrora. Álbuns como o controverso Risk (1999, The World Needs a Hero (2001), Th1rt3en (2011) e Super Collider (2013) fazem parte desse pacote.

Décimo-quarto álbum do Megadeth, Super Collider foi lançado em 4 de junho de 2013, sucedendo Th1rt3en. O trabalho foi o primeiro em que a formação da banda se repetiu desde Cryptic Writings, dezesseis anos antes – mais um exemplo de como a década de 2000 foi instável para o quarteto de Dave Mustaine. Ao lado de Mustaine estão o parceiro de longa data David Ellefson (que havia retornado ao grupo no álbum anterior), o guitarrista Chris Broderick (que fez parte da banda entre 2008 e 2014) e o baterista Shawn Drover (uma década no grupo, entre 2004 e 2014). Vale mencionar também que Super Collider, cuja produção foi assinada por Mustaine e Johnny K (Red Lamb, Soil, Pop Evil), foi o primeiro lançamento do selo Tradecraft, que a Universal entregou nas mãos de Mustaine e onde o músico, teoricamente, teria mais liberdade criativa.

O que dividiu os fãs foi a variação entre músicas mais agressivas e outras nem tanto, onde a aproximação com o hard rock e elementos mais acessíveis incomodou quem sempre associou o Megadeth com o thrash metal e não admite que a banda coloque um pé para fora do estilo que ajudou a consolidar e popularizar. O álbum contém pedradas fortes como “Kingmaker”, “Built for War” e “Don’t Turn Your Back” (talvez a melhor música do CD) ao lado de momentos em que a banda explora outros caminhos como o hard presente na música título e em “Forget to Remember”, sonoridades mais contemporâneas em “Burn!” e “Off the Edge” (que não estão distantes do que foi apresentado em Cryptic Writings, por exemplo) e até experimenta na sombria e densa “Dance in the Rain”, com participação de David Draiman, vocalista do Disturbed. Fechando o trabalho, o grupo gravou uma versão para “Cold Sweat”, do sempre ótimo Thin Lizzy, que obviamente ganhou uma releitura mais pesada pelas mãos de Mustaine e sua gangue.

Chris Broderick e Shawn Drover seriam dispensados alegando as famosas “diferenças musicais”, e anunciaram de maneira conjunta que estavam deixando o grupo no dia 25 de novembro de 2014. A banda então foi reformulada com Kiko Loureiro e Dirk Verbeuren, vindos do Angra e do Soilwork respectivamente, e lançou o excelente Dystopia em 2016, cuja bateria foi gravada por Chris Adler, do Lamb of God.

Analisado com o distanciamento do tempo e sem a urgência da época de seu lançamento, Super Collider revela-se um álbum que, mesmo inferior ao período inicial do quarteto e também a discos como United Abominations (2007) e, principalmente, Endgame (2009), possui qualidades inequívocas. A variação entre composições mais agressivas e acessíveis, somada à execução primorosa, faz do disco um trabalho com jóias sonoras que até hoje não foram descobertas pelos fãs.

Grandes bandas geram grandes expectativas. E mesmo quando não conseguem alcançá-las, o caminho até essa conclusão sempre reserva boas surpresas para o ouvido.




Spike Jones, ““Dinner Music For People Who Aren’t Very Hungry” (1957)

 

Era tão magro que lhe deram o nome de “spike” (ou seja, “cavilha”, como nos caminhos de ferro, o que faz sentido já que o seu pai era agente da Southern Pacific). Foi assim que o jovem que nascera com o nome Lindley Armstrong Jones passou a ser tratado com o nome pelo qual registou a sua presença na história da música do século XX: Spike Jones. Começou por tocar em orquestras, mas a ideia de repetir as peças dos outros não o entusiasmou e cedo juntou um grupo com o qual experimentou formas de criação de humor através da música. Uma gravação de uma dessas sessões foi parar à secretária de um executivo da indústria discográfica. E o que era um divertimento de músicos transformou-se num caso mais sério. Mas sem perder nunca o humor. 

Durante as décadas de 40 e 50 apresentou-se acompanhado por uma banda à qual chamou Spike Jones & His City Slickers, lançando, ora em banda ora a solo, uma série de discos e atingindo um patamar de popularidade que chegou a dar-lhe um programa de televisão. 

Dinner Music For People Who Aren’t Very Hungry correspondeu a uma das suas primeiras experiências no formato de LP. E refletiu não apenas a possibilidade de criação de uma narrativa mais alargada para a sua música, como também a exploração das possibilidades tecnológicas que a alta fidelidade colocava ao serviço do som.
O alinhamento junta algumas peças então já “clássicas” do seu catálogo, cruzando-as com outras novas criações, juntando uma narração como fio condutor e as incontornáveis presenças dos elementos de sonoplastia que frequentemente Spike Jones usava como os motores para dar largas ao humor. Não faltam também paródias a peças clássicas, de abordagens menos canónicas a Brahms ou J. Strauss à transformação, com espirros, de O Vôo do Moscardo de Rimsky-Korsakov em The Sneezin’ Bee (com solo de trombone).

“Dinner Music For People Who Aren’t Very Hungry” teve uma primeira edição em 1957, pela Verve. A Rhino lançou uma edição em CD em 1988.

Da discografia de Spike Jones vale a pena descobrir álbuns como:
“A Course in Music Depreciation” (1955), como Spike Jones & His City Slickers
“Spike Jones Presents a Xmas Spectacular” (1956)
“Spike Jones in Hi-Fi” (1959)




terça-feira, 30 de abril de 2024

Esquivel “Exploring New Sounds In Stereo” (1959)

 

Um dos exponentes máximos de uma visão pop instrumental que ganhou forma na reta final dos anos 50 e à qual se chamou então ‘space age pop’, o mexicano Juan Garcia Esquivel (que assinava apenas com o último dos seus nomes) chegou uma vez a sublinhar o caráter invulgar das suas criações ao afirmar, ao dono de um clube onde ia tocar, que muitos achavam que ele vinha de Marte. Na verdade, vinha do México. Nasceu em Tampico a 20 de janeiro de 1918 (sim, é verdade, assinalou-se bem “discretamente” o seu centenário) e tinha dez anos quando se mudou com a sua família para a Cidade do México. Por essa altura já tocava piano, rezando a mitologia que completou a sua formação por si mesmo, aprendendo entre livros, ouvindo música e tocando por si mesmo.

Em 1956 o seu álbum de estreia Las Tandas de Juan Garcia Esquivel chegou aos ouvidos de um produtor da RCA que o chamou aos Estados Unidos, dando-lhe oportunidades para criar a sua própria música. E entre 1958 e 1960 lança uma sucessão de álbuns pelos quais define um terreno muito pessoal algures entre a música lounge e heranças do jazz com temperos latinos, adicionando depois uma série de elementos instrumentais menos habituais, entre os quais algumas das primeiras ferramentas da música eletrónica, nomeadamente o theremin.

Editado em 1959 o álbum Exploring New Sounds In Stereo representa um dos momentos maiores desta etapa no percurso de um músico que se manteve ativo, apesar de os seus poucos discos lançados depois de chegada a década de 70 não tivessem já qualquer impacte no panorama musical. Na verdade Esquivel é nome redescoberto num revival da cena lounge em plenos anos 90, surgindo então algumas antologias que revisitam momentos da sua obra, entre os quais este álbum que explora as potencialidades do estéreo e que, apesar de incluir apenas um original seu, consegue transformar os demais temas aqui apresentados segundo uma forte abordagem “de autor” (nos arranjos e interpretação, claro). De Boulevard of Broken Dreams à música de Miklós Rósza, este alinhamento junta os ingredientes mais característicos da música de Esquivel, incluindo incursões por terrenos da “exótica” e de formas mais habituais na escrita para cinema, num verdadeiro cocktail de sons com muitas cores.


“Exploring New Sounds In Stereo” conheceu edição original em 1959 pela RCA Victor tanto nas versões Mono como Estéreo. O disco só conheceu reedição em 1997, já no formato de CD. Em 2017 a Waxtime colocou no mercado uma reedição em vinil.

Da discografia de Esquivel vale a pena descobrir álbuns editados sob o nome Esquivel and His Orchestra como:
“Other Worlds Other Sounds” (1958)
“Infinity in Sound” (1961)
“Latin Esque” (1962)


Babatunde Olatunji, “Drums of Passion” (1959)

 

Com origens na Nigéria e educação feita nos Estados Unidos nos anos 50 Babatunde Olatunji é muitas vezes lembrado como tendo sido o primeiro embaixador da música africana junto do grande público ocidental e, por isso, talvez corresponda o seu álbum de estreia, Drums Of Passion, ao primeiro disco de grande sucesso que, não correspondendo de todo a uma lógica de “recolha” etnomusicológica, se inscreve num espaço que, algum tempo depois, acabaria designado como world music.

Babatunde Olatunji nasceu em 1927 numa aldeia no sudoeste nigeriano e foi entre as tribos da região que cedo foi exposto às tradições musicais locais, nomeadamente as percussões. Numa altura em que frequentava aulas em Nova Iorque criou um grupo de percussão que lhe permitiu fazer atuações e ganhar dinheiro para pagar os estudos. É, contudo, depois de uma atuação com uma orquestra (em 1957), que a Columbia Records o convida para gravar para a editora, lançando o seu primeiro álbum em 1959.

Drums Of Passion foi um sucesso, colocando um disco essencialmente feito com trabalho de vozes e percussão sob a atenção de muitos, sobretudo nos EUA. Jin-Go-Lo-Ba, um dos temas do álbum, vendeu milhões de cópias no formato de single, gerando um clássico que mais tarde conheceria versões e citações por figuras como Serge Gainsbourg, Carlos Santana, Jellybean ou Fatboy Slim. O tema tornou-se numa referência na obra de Babatunde Olatunji, músico que depois de Drums of Passion manteve uma carreira aberta a várias linguagens e espaços musicais, cativando inclusivamente atenções entre grandes figuras do jazz. Apesar de traduzir ecos de tradições africanas, o álbum na verdade só teve em Babatunde Olatunji o único músico com berço em África já que os restantes percussionistas e vocalistas usados em estúdio eram de origem norte-americana.

“Drums of Passion” conheceu edição original em 1959 pela Columbia Records nos EUA numa versão Mono, surgindo pouco depois uma versão em Estéreo. O disco manteve-se sempre em catálogo, conhecendo várias reedições em vinil e, mais tarde, em CD. Nos últimos anos surgiram algumas novas prensagens em vini.

Da discografia de Babatunde Olatunji vale a pena descobrir álbuns como:
“Zungo!” (1961)
“Soul Makossa” (1973)
“Drums of Passion: The Invocation” (1988)




Muddy Waters “At Newport 1960” (1960)

 

Um dos mais icónicos encontros da história do rock’n’roll ocorreu numa estação de comboios de Dartford, nos arredores de Londres, numa manhã de outubro em 1961. Dois jovens dirigiam-se às respetivas aulas… Um levava consigo uma guitarra. O outro segurava, nas mãos, dois LP. Um deles era Rockin’ at the Hops de Chuck Berry, o segundo sendo a compilação The Best of Muddy Waters que, poucos anos antes, reunira num álbum uma série de singles que Muddy Waters havia registado para a Chess Records, casa de referência dos blues de Chicago, desde a aurora dos anos 50. Se juntarmos à história os nomes das personagens e algumas consequências daquele momento o jogo de coordenadas ganha mais sentidos. Quem levava consigo a guitarra era Keith Richards. E os discos seguiam nas mãos de Michael Taylor (que o mundo conheceria pouco depois como Mick Jagger)… Os LP motivaram uma conversa e um primeiro encontro para ouvir mais discos… Alguns meses mais tarde, na hora de pensar o nome para a banda que juntaria os dois, olharam para o alinhamento do ‘best of’ de Muddy Waters e encontraram a pista no título de uma das faixas: Rollin’ Stone. 

Não era preciso esta narrativa para justificar a importância da obra de Muddy Waters, figura central na divulgação mundial dos blues de Chicago e importante força no desafio de eletrificar os blues, facto que na altura custou (sem surpresa) a crítica dos espíritos mais conservadores. Na verdade a obra gravada de Muddy Waters precede em muito aquele disco que ajudou a juntar Jagger e Richards, tanto que, mesmo antes de registar o seu primeiro 78 rotações em finais dos anos 40, já na alvorada dessa mesma década fora figura presente numa das históricas gravações de campo de Alan Lomax. Mas o peso icónico que o músico conquistou através desse episódio recorda quão marcante foi a sua voz para uma nova geração de músicos para a qual, além daquele ‘best of’, o disco ao vivo registado no Festival de Jazz de Newport (no estado de Rhode Island, nos EUA) em 1960 foi outra importante fonte de encantamento e ideias.

Gravado e editado nesse mesmo ano, At Newport 1960 (que foi um dos primeiros LP de Muddy Waters e representou a sua primeira edição de uma atuação ao vivo) capta ecos não apenas do momento da desafiante abordagem elétrica aos blues como traduz um tempo em que esta música começava a ganhar focos de atenção junto de novos públicos, nomeadamente entre jovens brancos norte-americanos e também em solo europeu. O concerto que podemos escutar em disco na verdade esteve quase para nem acontecer, já que os motins que se seguiram à atuação de Ray Charles na véspera por pouco não levaram ao seu cancelamento. Já frente a serena plateia, Muddy Waters entrou em palco ao fim da tarde de 3 de julho (de 1960, claro), vestindo de negro, em contraste com a opção (a branco) dos elementos da banda que o acompanhava. O disco abre com a gravação então inédita de I Got My Brand on You, gravada cerca de um mês antes. E lança depois um alinhamento histórico ali registado que, a dada altura, e perante uma questão ao público, sobre o que queriam ouvir, e ao obter por resposta “Mojo”, volta a investir por I’ve Got My Mojo Working, que acabara por interpretar, o que explica o facto de ali surgir em duas faixas, a segunda apresentada como I’ve Got My Mojo Working (Part 2).

“At Newport 1960” conheceu edição original em mono, em 1959 pela Chess Records nos EUA chegando, pouco depois ao Canadá e Reino Unido.. O disco conheceu algumas reedições nas décadas de 60, 70 e 80, mantendo o alinhamento, mas a dada altura começando a surgir numa mistura em estéreo, a mesma que encontramos na primeira edição em CD, pela Chess, em 1986. É com uma reedição em CD feita no Japão em 1989 que surgem as três faixas extra que hoje habitualmente encontramos em edições recentes do disco nos formatos digitais.

Da discografia de Muddy Waters vale a pena descobrir álbuns como:
“The Best of Muddy Waters” (1958)
“Sings Big Bill Broonzy” (1960)
“Down on Stovall’s Plantation” (1966)




Chavela Vargas ““Con el Cuarteto Laura Foster” (1961)

 

Apesar das origens rurais mexicanas entre as décadas de 20 e 30 do século XX, cativando originalmente um público socioculturalmente mais desfavorecido, foi em ambiente urbano que, mais adiante a canção ‘ranchera’ ganhou outras plateias e, consequentemente, uma expressão discográfica numa geografia bem para além daquela que antes conhecera. A canção, tradicionalmente cantada por homens, veiculando as palavras um ponto de vista masculino, teve contudo em Chavela Vargas (1919-2012) uma das suas mais notáveis vozes. Os jogos de ambiguidade que vincaram a diferença, sublinharam traços de identidade que moldaram tanto a figura como a carreira, e que, juntamente com as capacidades interpretativas, um importante corpo de canções e uma vida atravessada por episódios difíceis (dos quais deu conta em Y si quieres saber de mi pasado, autobiografia publicada em 2002), fizeram da cantora um ícone que se fez referência.

De seu nome Isabel Vargas Lizano (Chavela é como um diminutivo de Isabel), nasceu em San Joaquín de Flores, na Costa Rica, em abril de 1919. Aos 17 anos, e sem oportunidades de trabalho por perto, migrou para o México onde acabaria por se estabelecer definitivamente e, mais tarde, obter mesmo a nacionalidade. Começou contudo por cantar na rua antes de encetar uma atividade como profissional do meio. Os seus modos e imagem, que desafiavam códigos normativos de identidade, começaram a ter expressão igualmente no seu jeito de abordar e a si moldar a canção ‘ranchera’, lançando bases de uma carreira que a fez andar pelos palcos e pelos discos até depois dos noventa anos e que inclusivamente a levou ao cinema através de realizadores como Pedro Almodóvar ou Alejandro Gonzalez Iñarritu.

No final dos anos 50 a voz de Chavela Vargas começou a cativar atenções numa altura em que cantava habitualmente em salas de Acapulco, que se tornara um destino turístico com dimensão internacional. E na alvorada dos anos 60 chega finalmente aos discos, estreando-se com um par de álbuns em 1961, ambos registados sob a chancela de recomendação de José Alfredo Jiménez, uma figura de referência neste universo da canção mexicana. Além de Noche de Boemia, o seu primeiro ano de vida discográfica integra o álbum simplesmente chamado Chavela Vargas, muitas vezes referido como Con el Cuarteto Laura Foster (no qual surge uma primeira gravação sua para o clássico La Llorona), disco que lançou as bases de uma visibilidade internacional da canção ‘ranchera’. – N.G.

“Con el Cuarteto Laura Foster” teve primeira edição em LP no México em 1961. Uma primeira edição europeia ganhou forma em Espanha em 1967, embora com uma capa diferente. A capa original seria retomada por várias edições locais mais tarde, com a chegada do disco ao suporte de CD em 2007.

Da discografia de Chavela Vargas vale a pena descobrir álbuns como:
“Noche Boemia” (1961)
“La Llorona” (1993)
“En Carnegie Hall” (2004)




Todtgelichter - Schemen (2007)

 


Black metal alemão épico com um som expansivo, orgânico e pagão e uma tendência para o melódico e o triste. As aparições ocasionais de instrumentação pouco ortodoxa – o saxofone em “Aschentraum”, o drone didgeridoo espreitando em “Segen”, os vocais limpos em “Beginn des Endes” – são ao mesmo tempo inspiradas e surpreendentemente de bom gosto em sua apresentação. 

Track listing:
1. Impuls
2. Larva
3. Segen
4. Blutstern
5. Für Immer Schweigen
6. Aschentraum
7. Hammer
8. Beginn des Endes





Percy Jones Ensemble - Propeller Music (1990)

Bateria eletrônica, baixo fretless, teclados sintéticos, guitarras fragmentadas - geralmente tonto, um pouco perturbador, fusão 100% nerd. No meio do caminho, os vocais entram na mixagem e o álbum se transforma em um disco de Gary Numan da era intermediária . Eu ouço isso sozinho em fones de ouvido e penso: "caramba, isso é tão legal, gostaria que todas as músicas fossem tão estranhas"; Coloquei isso em um aparelho de som com outra pessoa na sala, me sinto um degenerado e um pervertido.


Track listing:
1. $10,000 Bookshelf
2. Heidelberg Switch
3. Barrio
4. Panic - Disorder
5. Count the Ways
6. Turn Around
7. Slick
8. Slack
9. All for a Better Way
10. Looking for a Sign of New Life
11. Razorville
12. K2





Honey Is Cool - Early Morning Are You Working? (1999)



O segundo e último álbum de Honey Is Cool, uma banda de indie rock de Gotemburgo que serviu de trampolim para a carreira de Karin Dreijer, também conhecida como Fever Ray. Os vocais poderosos e distintos de Dreijer são o ponto focal aqui, mas aqui está a serviço do indie rock sombrio, dinâmico e musculoso. Esqueci como encontrei essa banda pela primeira vez, mas sei que foi através de algum meio nerd da música da Internet, já que eu não tinha ideia de que Dreijer estava na banda quando os coloquei pela primeira vez, e lentamente me dei conta de que sua voz se elevou acima do turbilhão de abertura da faixa-título.

Track listing:
1. Early Morning Are You Working?
2. Bolero
3. Great and Smaller Things
4. There's No Difference
5. Summer of Men
6. I Surprise
7. Waiting for a Friend
8. My Love Is a Bell
9. Lead but Low
10. Something Above the Mountains
11. The Giraffe





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