quarta-feira, 1 de maio de 2024

Review: Grand Funk Railroad – Closer to Home (1970)

 


Com este disco, uma das bandas de pior relacionamento com a imprensa ganhou fôlego nas críticas. Não era para menos, devido ao alto nível do álbum, lançado ainda antes do grupo assumir um tecladista fixo. O Grand Funk Railroad já tinha em seu currículo um grande trabalho (Grand Funk, de 1969), mas faltava a continuidade para confirmar a boa fase do trio. 

O início dos anos 1970, com a Guerra do Vietnã em alta e o espírito hippie se esfarelando,  era o cenário perfeito para quem chegasse com um som mais cru trazendo para o universo da música a realidade fria que o planeta estava vivendo. E qual banda melhor para preencher esta lacuna senão este trio de Flint, cidade natal da General  Motors e símbolo da indústria automotiva nos Estados Unidos? Na região central da pequena cidade o caos começou a reinar quando restaurantes, bares e tudo mais começaram a ficar largados à própria sorte com o êxodo da população com as constantes crises e demissões que iniciaram nos anos 1960, quando as fábricas implementaram a automação em suas instalações 

Foi no meio deste caos decadente que Mark Farner (vocalista, guitarrista e capitão da banda),  Don Brewer (o excêntrico baterista, que em breve também se arriscaria também como vocalista) o Mel Schacher (o mestre das quatro cordas, responsável pelo som gordo do GFR) começaram a tocar. Se o rock precisava de um grupo que falasse diretamente sobre a fria realidade, ele tinha que ser de Flint!

O curioso nome foi sugerido pelo empresário dos caras, Terry Knight, inspirado na empresa ferroviária de Michigan, a Grand Trunk Western Railroad.  

Closer to Home apresenta um Grand Funk repleto de personalidade, principalmente nas linhas estrondosas do baixo, profundas e com ritmos marcantes. Quando “Sin’s a Good Man’s Brother” toma conta do ambiente com a sua introdução acústica, a ansiedade para escutar o som encorpado do baixo de Mel Schacher (marca da banda até então) é sanada imediatamente.  Ao final da canção o Grand Funk manda uma pequena parte funkeada típica deles.

Aliás, esta é uma banda que todos os que gostam de contrabaixo elétrico deveriam idolatrar. “Aimless Lady” é uma prova de como o baixo pode ser discreto e ainda assim ter mais destaque que os demais instrumentos, e isso ocorre também em “Nothing is the Same”.   “Mean Mistreater” tem a fórmula que a banda seguiria em Phoenix (1972), alguns anos depois: teclados experimentais e uma sonoridade mais tranquila. A receita deu certo neste trabalho apesar de não ser o estilo deles, e o resultado influenciou futuramente a banda como podemos perceber claramente no futuro, mas isso é outra história.


A instrumental “Get It Together” quase seguiu o mesmo caminho, mas esbarrou na trave. Uma mudança e tanto que pegou de surpresa muitos fãs na época, apreciadores do som pesado, do groove do baixo, da bateria quebradíssima de Don Brewer e dos longos solos de Mark Farner. Ou seja, um som direto, sem frescuras. “Get It Together”, ainda assim, conseguiu manter um pouco de tudo com direito ao coral na parte final (sim, tem coro em uma música instrumental, e daí?)

As coisas voltam ao seu estado natural em “I Don’t Have to Sing the Blues”, que não é um blues, mas uma dançante canção que Mel Schacher dava de presente para quem quisesse ouvir. “Hooked on Love” (este sim um blues) lembra muito a melodia de “Get It Together” , porém a utilização dos instrumentos foi de maneira fiel ao que eles estavam acostumados. Mais uma vez, um corinho se faz presente abrilhantando o dueto interessante entre Farner e Brewer.

Ok, pessoal, agora chegamos ao que interessa. “I’m Your Captain (Closer to Home)” é um marco do rock pois aqui o Grand Funk Railroad atinge quase que a perfeição. Dez minutos redondos com duas canções em uma. Começa com “I’m Your Captain”, com violões ditando o ritmo, para que Schacher possa despejar toda a sua habilidade. A canção título vem colada, mas a mudança passa quase despercebida. O clima é de tranquilidade de um porto com a utilização de sons marítimos. Tudo isso embalado com orquestrações de flauta, violinos e violoncelos.

Daí para a frente é só relaxar e curtir o que considero o ponto mais alto da carreira da banda. Eles ainda trariam outros grandes álbuns ao rock, mas tudo pode ser encontrado nesta bolachinha aqui.

Closer to Home
 foi direto ao sexto lugar da parada norte-americana, e para consolidar ainda mais a banda temos a cereja do bolo com a apresentação do GFR no ano seguinte no velho Shea Stadium, em Nova York, com o Humble Pie como banda de abertura. O show aconteceu em 1971, quebrando o recorde de público e vendas (os ingressos se esgotaram em menos de 71 horas) e desbancando os Beatles . Como o estádio foi demolido em 2008, este recorde será eterno assim como a magia da banda.

Grande disco, grande banda: Grand Funk Railroad.




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