Brian Eno mostra-nos, uma vez mais, que a sonorização do silêncio pode ser feita de forma imperial, elegante e evocativa.
O ano de 2017 abriu com este disco, o que já por si é um facto significativo a ter em conta. Explico melhor: o mundo anda antipático para connosco, e para podermos pensar sobre o que nos circunda, para podermos refletir sobre o que temos pela frente, há que fazê-lo sem os ataques sonoros, visuais, ideológicos que a cada minuto nos transtornam a vida. Há que parar, por vezes. É urgente o silêncio para que possamos dar voz ao que somos e pensamos. Por isso, e sobretudo nesse estrito sentido, Reflection funciona como uma esponja que tudo limpa ou que ajuda a apagar todos os excessos. E não me venham com conversas: há sempre muito lixo que convive diariamente connosco que é premente deitar fora. O que Brian Eno nos oferece é, nada mais, nada menos, do que um momento de claríssima depuração da alma, uma vez que o corpo, sempre interessado em ritmos e cadências várias, não é para aqui chamado.
Reflection é um disco em que a ideia de paz se estende em longos e envolventes lençóis sonoros. Ou melhor, de silêncios onde o som vai pontuando de modo quase poético. É mais um esforço, dos muitos que Brian Eno já desenvolveu ao longa da sua carreira, para que percebamos a utilidade da quebra, da fratura da rotina que se instala em todos nós até ao osso da nossa existência moderna. É igualmente, como se percebe, mais um trabalho ambiental e atmosférico, próximo do conceito que teve o seu início no já distante ano de 1975, com o excelente Discreet Music, marco inicial e histórico de uma nova forma de estar e fazer música onde nada (ou pouco) parece acontecer. Não se tome, no entanto, esse disparate como certo. Há sempre algo a acontecer em Reflection, embora de forma tão lenta (por isso o disco se compõe de apenas uma faixa com a duração de 54 minutos e um segundo), tão subcutânea, que é difícil, porventura, percebermos de imediato as transformações a que estamos sujeitos quando o ouvimos. Elas podem ser muitas e proveitosas, assim tenhamos nós a capacidade de transformar em benefício aquilo que esse ar nos traz.
O efeito produzido por Reflection em cada ouvinte que se aventure a levar a bom porto a sua longa audição, não será obrigatoriamente o mesmo, embora o título deste recente longa duração de Brian Eno seja bastante autoexplicativo. O convite é claro e direto: a reflexão, o que obrigará a uma pausa prolongada, tipo de momento raro nos dias musculados do nosso tempo. Daí o efeito terapêutico que em alguns se fará sentir. Eu faço parte desse grupo de pessoas que encontra nesse formato inovador de projeção musicada de silêncios um caminho de tranquilidade e íntima satisfação. A beleza de álbuns como Ambient 1: Music For Airports (1978), Ambient 2: The Plateaux of Mirror (de 1980, com a participação de Harold Budd), Ambient 4: On Land (1982) ou Apollo, Atmospheres & Soundtracks (1983, com Daniel Lanois e Roger Eno) é intemporal e esmagadora. Em Reflection, disco que em alguma medida é distante e próximo, ao mesmo tempo, do anterior The Ship lançado no ano passado (e que tem, como sabemos, momentos cantados, ao contrário do seu sucessor) há também bastante dessa neutralidade da música, que confessadamente tanto aprecio.
Uma última nota sobre Reflection: depois de três prazerosas audições, chegou finalmente a surpresa de perceber que a sua verdadeira profundidade reside na descoberta interior de um quarto secreto e escuro que anseia por uma plena ocupação. E eu tenho agora, neste momento em que já ouvi o disco outras tantas vezes, o coração curvado ao peso de inúmeras boas coisas que florescem a olhos vistos, espécie de novelo enrolado para dentro, para o interior do meu particular contentamento.
A estreia dos Sundara Karma nos discos cumpre a elevada expectativa que os precedia. Os novos meninos queridos da pop britânica vieram para ficar.
A tradição de a imprensa inglesa apostar na próxima “next big thing” é longa e cheia de sucessos e falhanços. Entre os últimos candidatos estão os Sundara Karma, quatro rapazes de Reading que andam há mais de um ano a lançar EPs e singles feitos de uma excelente pop de guitarras. A expectativa era elevada, e a questão era simples: conseguiria o LP de estreia estar à altura dos temas que íamos conhecendo?
E a resposta, claramente, é sim. O hype afinal tem alguma sustentação.
Youth is Only Ever Fun in Retrospect é o resultado, e a espera valeu a pena. São 12 temas nocturnos, angulosos e enérgicos. Um rock mexido mas assente sempre num dedo para as melodias pop que distinguem estes rapazes de muita outra coisa que anda por aí.
Ouçam-se temas como “A Young Understanding”, “Loveblood” ou “Vivienne”, feitos para incendiar pistas de dança com o bom gosto pelo rock de guitarras. Aliás, aqui não há músicas para encher, como se os Sundara Karma dessem tudo em todos os temas, sempre à procura do single perfeito. Ao contrário de outras grandes esperanças da boa pop britânica, os Hooton Tennis Club – que nos conquistam com a sua música encantadora e o seu charme algo “slacker” – aqui há tensão e nervo, há ambição de compor hinos de uma geração.
Ouvimos em Youth is Only Ever Fun in Retrospect ecos da década anterior, dos melhores tempos dos Killers, dos Bravery ou dos She Wants Revenge, mas há também pozinhos de War on Drugs, por exemplo (em “Olympia”).
Esse é, aliás, o desafio destes garotos, a afirmação de um som que venha a ser só seu. Ficamos à espera dos próximos capítulos. Para já, o futuro parece ser radioso.
Depois de dois singles promissores, finalmente chega o terceiro álbum dos xx. É tudo aquilo que podíamos esperar de uma banda que já nos deu dois álbuns tão belos mas que consegue ir mais além; com I See You, mostram-nos que ainda têm muito para dar.
Do mesmo modo que Paul Cézanne pintou a montanha Santa Vitória diversas vezes ao longo da sua vida, os xx voltam a falar connosco, na sua língua tão própria, sobre as coisas de sempre — amor, introspeção e amizade. No entanto, tal como o pintor pós-impressionista mostrava quadro após quadro, o olhar que têm sobre estes segmentos da experiência humana é diferente, é novo: são Romy Madley Croft, Oliver Sim e Jamie Smith (a.k.a. Jamie xx) em 2017. A evolução sonora que se ouve em I See You, terceiro álbum dos londrinos, é resultado da sua mudança enquanto pessoas e, consequentemente, enquanto músicos.
Os singles que precederam o lançamento deste novo álbum deixavam transparecer que vinha aí algo muito diferente. O primeiro, “On Hold”, foi uma surpresa por ter mostrado um novo universo sonoro dos xx. O sintetizador líquido e cristalino do início vai-nos embalando, com as vozes de Romy e Oliver a acompanhá-lo, até que um sample e uma batida se começam a ouvir, tornando-se cada vez menos difusos até ao drop — e, de repente, temos uma das bandas mais tímidas dos últimos anos a pôr-nos a dançar, com uma canção de partir-o-chão-da-discoteca tão orelhuda quanto entristecedora (afinal, é uma música sobre o fim de uma relação). E, se nesta faixa a arte de samplar é honrada com o corte de uma faixa do duo Hall & Oates, em “Say Something Loving”, segundo single de I See You, o processamento de um verso dos Alessi Brothers revela outro nível de mestria — não só Jamie muda o tom do sample, como a própria progressão de notas é alterada para encaixar nas demandas harmónicas da guitarra e das vozes.
Curiosamente é nestas duas faixas que a clássica dinâmica de cantar em diálogo ganha maior destaque, com os versos a encaixar uns nos outros tão perfeitamente como rodas dentadas no mecanismo de um relógio suíço. Desde xx (2009) que ouvimos Romy e Oliver a “falar” um com o outro desta maneira cúmplice e fazem-no com relativa facilidade e grande sucesso (são melhores amigos, nada iguala essa química),
Há três músicas neste álbum que indicam, muito claramente, algumas das sonoridades que influenciaram o processo criativo em I See You e que se ouvem aqui e ali ao longo do LP. A primeira é “Dangerous”, faixa que abre o álbum. Logo a seguir a uns sopros que parecem anunciar a chegada dos reis, surge um beat tão UK Garage que podia, sem problemas, substituir a linha rítmica de clássicos do género como “A London Thing” ou “Re-rewind (The Crowd Say Bo Selecta)“. Nada estranho, de resto: Jamie, mestre do sampler/MPC, já tinha professado o seu amor pelo género em In Colour ou nos 7 polegadas que o precederam. Depois, o início de “Lips” sugere o de uma faixa de trap ou de um hip-hop mais narcótico. Contudo, quando entra a batida e a voz de Romy (seguida pela de Oliver), a ambiência transfigura-se rapidamente num R&B futurista e muito sensual — o reverb na guitarra, a letra e a maneira como esta é cantada criam uma atmosfera misteriosa, que parece retratar uma dança promíscua numa discoteca escura e cheia de fumo. Por fim, “A Violent Noise” engana-nos ao fazer parecer que vem aí um tropical house solarengo — na verdade, o synth agressivo que se vai fazendo ouvir lembra a tecnho minimal de Andy Stott ou um Arca sob o efeito de calmantes.
Algo que os xx usam em I See You como nunca antes são crescendos. Já tinham surgido ocasionalmente na sua discografia em faixas como “Heart Skipped a Beat” ou “Night Time”, mas sempre contidos na bolha minimal que caracteriza a primeira fase da banda. Contudo, neste terceiro registo, surgem por diversas vezes — na poppy e tão dançável “I Dare You”, na declaração de amor/quase-balada “Brave for You”, onde uma bateria forte e agressiva (lembra o martelo-dos-deuses em Pornography, dos The Cure) reforça a carga emotiva da canção, e, ainda, em “Replica”.
“Replica” é, quanto a mim, a melhor faixa do álbum. A batida que lembra o trip-hop dos Massive Attack (“Black Milk” de Mezzanine vem à cabeça) e a guitarra em loop causam um efeito hipnótico que nunca antes se ouviu nos xx. Ao transe induzido por esses elementos, juntam-se outros – uma segunda guitarra, a voz de Oliver (com Romy a acompanhar em coro), pianos e sintetizadores – que criam uma paisagem sonora expansiva e belíssima, com uma produção tão celestial que faz todos os instrumentos ganhar cores vivas e quentes. O contraste do instrumental com a letra também faz parte da magia desta faixa: “Replica” conta-nos a história de alguém que tenta, desesperadamente, libertar-se de uma rotina autodestrutiva, mas que acaba por se ver nas mesmas situações dia após dia.
Entre tanta inovação sónica, há ainda, no terceiro álbum do trio londrino, espaço para reminiscências dos trabalhos passados. Duas faixas de I See You, pela sua proximidade com aquilo que se ouve em xx e Coexist (2012), ajudam a criar uma espécie de coerência estética na evolução do som, evitando que esta pareça forçada, que aconteceu porque tinha mesmo de ser. “Performance” é uma dessas canções. Esta é uma das faixas mais belas e, ao mesmo tempo, tristes e deprimentes que a banda alguma vez criou — daquelas que casam muito bem com um regresso desolador a casa, a chorar no comboio, depois do fim de uma relação de anos. Como canta Romy, antes do refrão: “When you saw me leaving / Did you think I had a place to go? / Since you stopped believing / I’ve had to put on my own show”.
Por sua vez, “Test Me” relembra “Our Song” (última faixa do segundo trabalho dos The xx), na medida em que se apresenta como uma carta entre amigos, entre Romy e Oliver. No entanto, “Test Me” toca num ponto que só uma amizade muito sólida permitiria (pelo menos, com a honestidade com que aqui isso é feito) — discussões. Nela, os cantores e amigos de infância desafiam-se mutuamente a aliviar um no outro aquilo que os consome: “Just take it out on me / It’s easier than saying what you mean / Test me, see if I break”. No fundo, retratam aquilo que é a marca distintiva de uma amizade forte: quem não aguenta os desabafos de um amigo, por mais agressivos e absurdos que possam parecer, não desempenha verdadeiramente o seu papel.
Depois de se saber dos problemas com álcool que atormentaram a vida de Oliver Sim nos últimos anos (que revelou beber como forma de atrasar a chegada da idade adulta), I See You ganha uma importância que vai para além da música que encerra: marca a sobriedade do cantor e baixista, mostra uma Romy mais confiante nas suas capacidades vocais e um Jamie xx a assumir a sua importância no trio, deixando de estar na sombra dos dois cantores. É um registo que marca a maturidade artística dos londrinos. É, de certa forma, o seu álbum “adulto” — não que os outros fossem imaturos ou infantis, pelo contrário. Mas é apenas a manifestação natural do seu crescimento. E ainda bem que este se reflete na sua música, que não se prenderam à fórmula dos dois primeiros registos e se deixaram evoluir.
No seguimento de Coexist, a banda sabia que, no álbum que viesse posteriormente a esse lançamento, teria de sair da sua zona de conforto, como contam em entrevista à Pitchfork. E, de facto, foi isso que fizeram — logo à primeira audição percebe-se que o minimalismo que pautou xx e o segundo registo do grupo se dissolveu em produções grandiosas e brilhantes, com ritmos ricos e complexos. O grande responsável por esta mudança é, claro está, Jamie xx. As participações de Romy e Oliver no álbum de estreia do produtor e o contacto com o seu processo artístico a solo fez com que, depois, enquanto trio, deixassem de parte a premissa que precedera a gravação dos dois primeiros LP da banda: a de que tudo o que gravassem deveria poder ser tocado ao vivo. A remoção desta autoimposição expandiu a palete dos The xx com a adição sons e texturas que antes não faziam parte do seu leque imediato de escolhas. Isto abriu-lhes horizontes para um novo nível de experimentação sónica e o resultado está à vista: à medida que os 40 minutos de I See You se vão desenrolando nos nossos ouvidos, pinta-se um quadro de muitos tons com cores fortes e variadas, mas, acima de tudo, coesas e aplicadas com muito bom gosto. Sabe bem começar o ano com algo tão belo, depois de um 2016 para esquecer.
Lula Pena voltou, e isso é sempre um acontecimento. Com Archivo Pittoresco muda-se um pouco a geografia sonora, mas o destino é sempre o mesmo: um passeio pelo seu mundo.
Já lá vão quase vinte anos. Por essa altura, em 1998, uma nova voz chegava à música portuguesa através de Phados, disco que abraçava de forma muito particular e sem receios a nossa veia musical mais antiga e saliente, fundindo-se com o Brasil e os seus encantos maiores. O disco, lançado pela editora belga Carbon, é hoje um objeto raro. Felizes aqueles que o têm, porque é de uma obra-prima que se trata. Depois, bem mais tarde, surgiu Troubadour, já no ano de 2010, e de novo a voz e a guitarra voltavam a ser, uma vez mais, deslumbrantes. Novo tempo de espera, que a compositora e intérprete parece não ter quaisquer pressas de regressar, até que Archivo Pittoresco acontece, num quase final de janeiro já passado. Misturam-se sons, geografias de sons, misturam-se línguas cantadas e cordas, e parece haver uma consciência cada vez maior que o mundo de Lula Pena não tem fronteiras. Nunca teve, na verdade, mas deixou de ter apenas a outra margem do Atlântico como principal referência, espraiando-se agora, naturalmente, para outras águas, para outras margens.
Parece simples tentar perceber como Lula Pena trabalha. Em primeiro lugar, a guitarra acústica. Dela sairão sempre densas melodias, timbres, ritmos, mostrando-se um instrumento que é de cordas, mas também de percussão. Depois vem a voz, o canto, a estética do canto tão particular em Lula Pena. Finalmente, como produto acabado da junção dos dois primeiros, a torrente hipnótica que deles se produz, os poemas cantados e as canções. ArchivoPittoresco traz-nos treze temas, embora pareçam ser um só. Ou melhor, um longo e bonito desfile de ritmos e línguas (português, castelhano, francês, grego, língua sarda e inglês) que estão umbilicalmente ligados, unos por uma igualmente longa paisagem sonora que se vai expondo aos nossos ouvidos, passeando, (e nós passeando nela), até ao fim da viagem. Há cantigas que abraçam o longínquo tempo inicial das nossas trovas (“Cantiga de Amigo”, do cantor e compositor brasileiro Elomar), outras inscritas em terras do Chile (“Ausencia”, assim mesmo, sem acento, de Violeta Parra), outras ainda que navegam até à Ilha de Marajó, na foz do Amazonas (“Breviário”, texto da ensaísta e professora brasileira Jerusa Pires Ferreira)… Há “tantos barcos a passar” por este Archivo Pitoresco, que nos parece impossível não embarcar num, que é o mesmo que dizer embarcar em todos ao mesmo tempo, e fazer nele (neles) o percurso proposto por Lula Pena. As deambulações, as simetrias, os ângulos da longa travessia fazem-se sem custo algum, fazem-se pelo prazer hipnótico, quase narcótico de canções como “Poema / Poème”, “Pesadelo da História”, “Ojos, Si Quereis Vivir”, “Pes Mou Mia Lexi” ou “A Diosa (No Potho Reposare)”. Todas belíssimas e envolventes.
Como nota final, uma última referência àquela que é, para mim, a canção que mais me toca em toda esta obra, tanto pela melodia dolente e preguiçosa, como sobretudo pelo poema cantado. Refiro-me a “O Ouro e a Madeira”, tema do cantor baiano Ederaldo Gentil, falecido há poucos anos, que bisa neste disco. É o tema mais curto do álbum, e diz-nos coisas tão bonitas como estas: “Não queria ser o dia / Porém o momento / Muito menos ser concerto / Apenas a canção”. Ou ainda que a “Ostra nasce do lodo / Gerando pérolas finas”. Talvez neste versos se vislumbre um pouco do que é Archivo Pittoresco, o terceiro longa duração de Lula Pena, essa artista que se demora no silêncio do tempo até voltar de novo a ser luz e a ser voz.
O duo Sam France e Jonathan Rado está de regresso, desta vez mais disciplinados e focados, para nos apresentar um bom disco de homenagem ao soft rock e glam dos anos 70.
Surgidos para a ribalta em 2013 com a exposição mediática de “San Francisco”, e aproveitando a cavalgada da onda revivalista psicadélica, os Foxygen não eram novatos nestas andanças. A sua história de vida como banda começou quase uma década antes, em 2006, ainda bastante jovens, na casa dos 15 anos, “uns pré-púberes”, segundo afirmou Rado certa vez. A verdade é que esta loucura exacerbada, e por vezes falsa, demonstrada pelo duo, começa exactamente aí, quando Rado e France, após a visualização do documentário Dig!, e assomados de paixão pelo grupo The Brian Jonestown Massacre e pelo o seu líder Anton Newcombe, que garantia ter tocado 75 instrumentos diferentes nos seus discos, começam a querer aprender a tocar tantos instrumentos quanto possível fosse e a fazer a sua própria música. Um dos resultados, de seu nome Jurrassic Exxplosion Philippic, é fruto dessa mesma loucura.
Quando foi altura de seguir para a faculdade, o duo separa-se, indo cada um para seu lado. France para a Costa Oeste e Rado para a Nova Iorque. Ambos continuaram a tocar, agora em bandas diferentes, no entanto não há amor como o primeiro e Sam France decide visitar Rado a Nova Iorque e em 2012 resolvem lançar Take The Kids Off Broadway. Um EP que sabe a disco completo. Sete músicas a perfazer 23 minutos de som bastaram para que a crítica musical visse ali mais do que um desvario de um duo de amigos. Havia ali substância. Claro que no meio daquela quantidade de influências e quase plágios de Rolling Stones via Mick Jagger, Bowie do início dos anos 70, Lou reed e até David Byrne, havia uma loucura salutar que bem direcionada poderia dar um resultado final melhor que a soma das suas partes.
We Are the 21st Century Embassadors of Peace, lançado no ano seguinte, abriu as portas ao duo. O revivalismo psicadélico ajudou a que os Foxygen tivessem mais exposição, sobretudo através da açucarada “San Francisco”. O disco, apesar de fugir aqui e ali para outros desvarios, era mais focado e revelou o grupo um tudo nada mais maduro do que no EP anterior. Obviamente que as tais influências e quase plágios continuavam e, por vezes, aqui e ali, parecia que eles não se levavam tão a sério assim. Parecia que queriam ser uma caricatura de uma banda revivalista e não um conjunto determinado em assumir a sua autenticidade.
Esta dúvida em relação à natureza do conjunto ainda se agravou mais com o lançamento da sequela ...And Star Power. Um disco interminável, de difícil digestão e compreensão, em que parecia que os Foxygen estavam a querer parodiar as bandas dos anos 70. Não ajudou a que nos seus concertos, de uma teatralidade quase circense, deixassem as pessoas mais confusas com a natureza do duo. Parecia que tudo era uma brincadeira e ninguém se levava a sério. Juntando a isso, há ainda os episódios em que o grupo cancelou concertos e ameaçava acabar a cada mês que passava. Não parecia haver futuro para os Foxygen pós-2014.
A surpresa, para muitos, surge agora em 2017 com o lançamento de Hang. Não só o conjunto não se separou, como conseguiu equilibrar-se, focando-se num trabalho mais certinho, mesmo nunca perdendo o seu lado mais “gozão”, pois parece que essa será sempre a imagem de marca dos Foxygen.
Hang é um trabalho todo inspirado no soft rock e algum glam dos anos 70, que não destoaria nada ao lado dos melhores discos de Elton John ou Fleetwood Mac, versão Stevie Nicks. Para este resultado final, onde uma orquestra de mais de 40 pessoas passeia por todas as músicas do disco, muito terá pesado a mão do produtor Trey Pollard, acérrimo defensor do som total, onde tudo é pensado para se criar uma parede de som, vide os seus trabalhos com Matthew E. White e Natalie Prass. No disco também houve participação dos Lemon Twigs e Steven Drozd, dos Flaming Lips.
“Follow The Leader”, a faixa que abre o disco, mostra esse novo som que os Foxygen nos querem entregar e com o qual conseguimos nos integrar sem que estejamos a pensar que ouvimos é mais teatro do que sentimento. Em “Avalon”, Sam France vai do Dixieland aos Abba sem nunca perder o pé nem a vergonha, enquanto em “On Lankershim”, a faixa mais “normal” do álbum, é Elton John e Fleetwood que nos chegam ao ouvido, como se misturados numa trituradora. Mas ainda haveria espaço para homenagem (será plágio?) a Scott Walker em “On a Hill”.
O ponto mais alto de Hang chega-nos em “America”, onde os Foxygen nos dão um épico musical que segue por tantos caminhos que só mesmo este duo poderia atravessar.
Em apenas 32 minutos, divididos por oito músicas, a banda consegue, finalmente, rentabilizar o tempo, entregando-nos uma colecção de boas canções que prometem dividir cada vez menos os ouvintes que não suportam os seus excessos e loucuras e querem apenas ouvir um bom disco de início ao fim.
Para começar bem a semana, apresentaremos uma verdadeira joia esquecida, ou melhor, uma joia nunca descoberta. Refiro-me ao único álbum do projeto de rock francês DID (também conhecido como Dissociative Identity Disorder), outra incrível banda progressiva francesa. Este álbum homônimo apresenta 20 faixas (algumas curtas, outras longas) e mais de uma hora de música excelente, cantada em inglês, com vários vocalistas convidados de altíssima qualidade, criando um som neoprogressivo moderno muito apto e emocionante. É muito bem produzido. Como muitas das melhores produções do rock progressivo francês, a teatralidade e o drama são as estrelas aqui. Uma introdução curta e direta, porque não há muito a dizer, mas há muito para ouvir. Altamente recomendado!
Artista: DID Álbum: Dissociative Identity Disorder Ano: 2017 Gênero: Neoprogressivo Duração: 67:39 Referência: Rate Your Music Nacionalidade: França
Uma banda francesa de neoprogressismo que, embora não seja inovadora, sabe o que faz e o faz com excelência. Ou melhor, fazia, pois este foi seu primeiro e único álbum, injustamente desconhecido da maioria, até mesmo dos amantes do estilo. A banda era formada por instrumentistas que, para gravar o álbum, usaram quatro vocalistas convidados como personagens diferentes em seu álbum conceitual. O vocalista Marco Glühmann, do Sylvan , começa como o primeiro dos vocalistas e seu estilo se encaixa perfeitamente com a música e o estilo do DID . Ele é seguido por Michael Sadler, do Saga , que canta em "Run". Os dois vocalistas restantes são Oliver Philipps ( Everon ) e Maggy Luyten ( Ayreon , Nightmare ).
Grande parte do álbum é sinfônica e dramática, como era de se esperar, com várias músicas curtas do tipo interlúdio entre as faixas mais importantes. No entanto, se você gosta desse estilo de progressivo (seguro e previsível), este é um álbum que você vai gostar.
Você pode começar a ouvir aqui.
E embora eu pudesse dizer muitas coisas sobre as muitas músicas deles, a verdade é que isso é inútil, porque tudo aqui você já ouviu antes. Não há uma abordagem verdadeiramente inovadora, mas todos os elementos são tão bem combinados e de bom gosto que formam uma combinação brilhante. E se você quiser saber mais, é só ouvir...
Lista de faixas: 1. Hello (Dawn) (1:00) 2. I'm not in it (5:06) 3. A strange morning (1:52) 4. Run (3:44) 5. Dead town (3:34) 6. Kindergarten remember (4:39) 7. Pills (0:39) 8. Beyond the stars (White pill) (3:54) 9. (Black pill) (2:14) 10. Now I know (2:51) 11. Alone (1:17) 12. The sun (9:07) 13. Whisperings in the dark (1:47) 14. Locked up (7:46) 15. The quiet before the storm (1:18) 16. The storm (4:04) 17. Wake me up (4:46) 18. Awakening and now (2:04) 19. Now ! (4:43) 20. Hello (Twilight) (1:14)
Formação: - Régis Bravi / bateria - Didier Thery / baixo - Patrick Jobard / guitarras acústicas e elétricas - Christophe Houssin / piano, teclados, guitarras adicionais Músicos: Michael Sadler / vozes Marco Glühmann / vozes Maggy Luyten / vozes Oliver Philipps / vozes Alan Szukics / vozes
Uma fantástica exploração da microtonalidade, apresentada por uma musicista incrível, imensamente competente tanto com a voz, exibindo um lirismo poderoso aliado a vocais etéreos, quanto com um excelente trabalho de guitarra, criando uma espécie de Avant-folk surpreendente e simplesmente brilhante. Primeira vez no blog, encerramos a semana com um EP, mas vale muito a pena, e prepare-se, pois você vai ouvir algo novo, ao mesmo tempo emotivo e bastante experimental, elementos que não são fáceis de combinar e raramente são vistos. Ideal para conhecer no fim de semana, recomendo que não perca.
Artista: Maddie Ashman Álbum: Otherworld Ano: 2025 Gênero: Progressive folk Duração: 13:22 Referência: Rate Your Music Nacionalidade: Inglaterra
Não há muito o que dizer sobre isso, basta ouvir, então o que deixo aqui é o comentário da própria artista, que fala sobre a ideia central de seu trabalho:
Enquanto escrevia "Otherworld", pensei em questões como: e se o violão pudesse cantar? Ou falar? E se o violão pudesse se expressar além de seus limites tradicionais? E se a voz fosse o "instrumento" em vez do violão? Eu queria desafiar as convenções do violão clássico e da voz, principalmente rompendo com as limitações das 12 notas equidistantes. Embora o braço da guitarra se adapte, as cordas do violão são afinadas em uma entonação justa e pura; um slide abre um espectro fluido e ilimitado de harmonia microtonal. Eu queria explorar a linguagem e a comunicação de uma forma lúdica e sem limites. A música oscila entre momentos de unidade e individualidade: violão e voz como um só corpo, depois como entidades distintas. Ela reflete sobre o texto de Jessa Brown e como o sangue e as experiências compartilhadas podem gerar tensão simultaneamente, além de contrastar perspectivas individuais.
Maddie Ashman
E a única coisa que falta acrescentar é que você ouça... você pode começar por aqui.
Então essa garotinha, com todo seu talento, monta um EP surpreendente e incrível, usando apenas sua voz e violão.
O Patto foi uma banda de jazz-rock e blues rock progressivo formada na Inglaterra em 1970 pelo vocalista Mike Patto. Eles gravaram seu primeiro álbum de estúdio ao vivo na tentativa de capturar o virtuosismo cru da banda, dando origem ao álbum "Patto". Embora não tenha sido um sucesso comercial, é uma contribuição importante para o rock progressivo. Eles desenvolveram um estilo distinto baseado na destreza multi-instrumental de Ollie Hallsall, criando um rock poderoso com uma boa dose de jazz e um toque de blues em músicas com estruturas engenhosas e longas sequências de guitarra. Para quem não os conhece, preste atenção a um dos guitarristas mais subestimados do rock progressivo, combinado com a voz potente e rouca de Mike Patto, um excelente vocalista dentro da tradição do rock clássico; outro talento subestimado. Eles dizem que é o melhor álbum deles, então é um bom momento para ele aparecer no blog para que você possa apreciá-lo neste fim de semana.
Artista: Patto Álbum: Patto Ano: 1970 Gênero: Progressive Jazz Rock Duração: 40:14 Referência: Progarchives Nacionalidade: Inglaterra
Acho que incluí as partes mais importantes do álbum na descrição, às quais adicionaremos a história única da banda, sem faltar momentos dramáticos...
Patto: Triunfo e Tragédia Elusivos A década entre 1966 e 1975 é talvez o período mais prolífico da história do rock. Nomes históricos como Black Sabbath, Grand Funk Railroad, Led Zeppelin e Jimi Hendrix (para citar apenas alguns) lançaram não apenas o que hoje são considerados seus melhores trabalhos, mas também obras clássicas cujos títulos foram gravados em letras de ouro na história do gênero. O rock era, naquela época, o movimento musical mais popular da face da Terra, e até mesmo bandas de rock progressivo e jazz-rock estavam alcançando vendas milionárias, excursionando pelo mundo e participando de festivais como Woodstock e a Ilha de Wight, que atraíam centenas de milhares de pessoas. Sucesso comercial e rock eram, durante aqueles anos, praticamente sinônimos. Apesar disso, a saturação lógica do mercado que quase inexoravelmente acompanha o sucesso de qualquer tendência fez com que muitas bandas tremendas, apesar de sua qualidade evidente, não desfrutassem da aprovação do público em geral. Este é o caso de Patto. 1970 – 1973: De Patto a Monkey Bum Patto foi uma banda britânica nascida das cinzas de outros grupos anteriores de curta duração, como Timebox ou Patto's People, e originalmente composta por Mike Patto (vocal), Ollie Halsall (guitarra e vibrafone), Clive Griffiths (baixo) e John Halsey (bateria). Sua fundação remonta a 1970, e foi em novembro daquele mesmo ano que eles lançaram seu álbum de estreia, intitulado com o nome da banda, com Murf Winwood (irmão mais velho de Steve) na produção. O álbum em questão foi gravado ao vivo e, com um som que oscila sem esforço entre o blues-rock mais cru e longas improvisações de jazz, é um exemplo perfeito do tremendo talento de todos os membros da banda. Da voz quebrada de Mike Patto à poderosa base rítmica com referências ocasionais ao funk, todos os músicos brilham intensamente, com a figura excepcional daquele guitarrista sublime, Ollie Halsall, se destacando acima de tudo. Um Ollie Halsall que surge como o protagonista excepcional de uma obra em que todas as peças se encaixam perfeitamente, criando uma estreia quase imbatível, à altura dos melhores álbuns da era histórica em que foi lançado. Patto – Hold Me Back. Os motivos pelos quais um álbum tão bom não alcançou um sucesso de público significativo, numa época em que outras bandas com propostas semelhantes lotavam estádios, são difíceis de discernir. Mas a verdade é que Patto, apesar de ter a aprovação de boa parte da crítica especializada, não conseguiu conquistar um lugar de destaque no competitivo mundo do rock dos incipientes anos setenta com seu álbum de estreia. O extraordinário álbum de estreia foi seguido um ano depois, em dezembro de 1971, por Hold Your Fire, um novo álbum no qual a banda optou por limitar um pouco o aspecto jazzístico de seu álbum de estreia (ainda presente nos solos de Halsall, mas não tanto na estrutura das músicas) em favor de composições mais convencionais e uma maior presença de um piano tocado pelo próprio Halsall. O resultado é, apesar de tudo, um álbum que mantém o alto nível do trabalho anterior, com momentos de brilho absoluto como a balada "You, You Point Your Finger". Patto – You, You Point Your Finger Para o álbum seguinte, intitulado Roll 'em, Smoke 'em, Put Another Line Out, a banda continuou com a progressão sonora iniciada em seus trabalhos anteriores. Ao contrário de outras bandas contemporâneas, o caminho do rock progressivo não havia servido para Patto alcançar grandes patamares de popularidade, e neste terceiro álbum a banda escolheria explorar territórios até então inexplorados em busca da fórmula que lhes permitiria alcançar o sucesso que buscavam. O resultado é ocasionalmente brilhante ("Singing the Blues on Reds", com seus tons funky, é um exemplo claro disso), mas tremendamente inconsistente, com uma clara falta de direção que prejudica seriamente o resultado final. Tudo isso resulta em um álbum francamente fraco, que empalidece em comparação com os dois álbuns anteriores, e que deixa um gosto agridoce se considerarmos o que aconteceria logo depois. Patto – Singing the Blues on Reds Em 1973, a banda entraria em estúdio para gravar seu quarto álbum de estúdio, intitulado Monkey Bum. Durante as sessões de gravação do referido álbum, no entanto, com os diferentes membros do grupo cada vez mais focados em seus compromissos com outros grupos e com Ollie Halsall não totalmente convencido com a direção que a banda estava tomando, a carreira de Patto chegaria ao fim. Monkey Bum permaneceria, portanto, em um estado de limbo, do qual só emergiria em 1995, quando foi lançado não oficialmente pela primeira vez, com, infelizmente, uma qualidade de som bastante ruim. Felizmente, uma pequena gravadora londrina chamada Esoteric Records obteve um master das gravações originais e conseguiu lançar Monkey Bum em 2017, com uma excelente qualidade de som que nos permite apreciar plenamente as 10 faixas gravadas nas sessões originais, junto com outras três faixas gravadas ao vivo em sessões para a BBC. E a verdade é que é uma pena que o álbum não tenha sido lançado na época, pois se quando se falava de Roll 'em, Smoke 'em, Put Another Line Out se dizia que a banda estava completamente sem rumo, nestas 10 faixas, apesar de o grupo estar em processo de desintegração, pode-se apreciar uma ideia geral que norteia as 10 músicas e que, aliás, funciona muito bem. O componente progressivo está praticamente ausente em favor de uma tendência ao rock mais clássico, com texturas ocasionais próximas ao soul e a presença de um saxofone (tocado por Mel Collins, colaborador frequente de Robert Fripp no King Crimson) que nunca haviam utilizado até então. Tudo isso resulta em uma mixagem muito interessante que nunca saberemos como teria funcionado se tivesse sido lançada na época. 1973 – Presente: The Long Road to Oblivion Neste ponto, vale a pena perguntar, portanto, o que aconteceu com os membros da banda após a mencionada separação. Uma pergunta cuja resposta, infelizmente, tem conotações que só podem ser descritas como dramáticas. No ano seguinte à dissolução do grupo, Mike Patto juntou-se brevemente ao Spooky Tooth, com quem lançou The Mirror em 1974, poucos meses antes da separação de uma banda que estava ativa desde 1967. Naquela época, e após uma breve reunião de Patto (banda) para três shows beneficentes, Patto (vocalista) optou por retomar sua colaboração com Halsall, formando o Boxer com Keith Ellis no baixo e Tony Newman na bateria. Logo após o lançamento do álbum de estreia da banda, Below the Belt, Halsall deixou a nova formação, enquanto Patto continuou com o projeto até 1977, quando um diagnóstico de leucemia o forçou a se separar prematuramente. Ele morreria apenas dois anos depois, em março de 1979, com apenas 36 anos. Antes de sua passagem pelo Boxer, Hallsall participou como músico de estúdio em diversas gravações, incluindo colaborações com artistas como John Cale, e fez parte do projeto de Jon Hiseman, conhecido como Tempest, e da banda que acompanhava Kevin Ayers (ex-Soft Machine). Após deixar o Boxer, Halsall retornou a Kevin Ayers, com quem permaneceria pelos próximos 16 anos, período em que se estabeleceram, de forma mais ou menos permanente, em uma pequena cidade no norte de Maiorca. Ao longo dos anos, ele se tornaria uma figura altamente reconhecida na indústria fonográfica espanhola, notável por sua participação como guitarrista no Veneno, da Rádio Futura, e por suas colaborações como produtor ao longo da década de 1980 com Ramoncín. Infelizmente, em maio de 1992, aos 43 anos, ele foi encontrado morto nas ruas de Madri, em consequência de um ataque cardíaco aparentemente induzido pelo uso excessivo de drogas. Quanto a Halsey e Griffiths, ambos continuaram suas carreiras como músicos de estúdio nos anos seguintes à dissolução do Patto, coincidindo com Halsall e Kevin Ayers por um breve período e, no caso de Halsey, colaborando com artistas como Joe Cocker, Lou Reed e Jack Bruce. A carreira de Griffiths, por sua vez, foi interrompida quando eles voltavam de um show e colidiram com um carro que vinha em sentido contrário, cujo motorista havia adormecido ao volante. Halsey sofreu ferimentos graves no maxilar e nos membros superiores e inferiores, dos quais felizmente se recuperou sem maiores consequências além de mancar. Griffiths, no entanto, foi quem sofreu mais, sofrendo um ferimento na cabeça que a deixou em coma por seis semanas e do qual acordou com danos cerebrais significativos. Danos cerebrais que causariam paralisia em algumas partes do seu corpo e, a partir de então, o impediriam de se lembrar claramente de seu passado como músico profissional. Este é, portanto, um grupo que teve azar durante seus anos de atividade e sofreu uma série de verdadeiros infortúnios nos anos seguintes à sua separação. No início da década de 1970, apesar de sua evidente qualidade, o sucesso comercial foi negado a eles. E nos anos seguintes, o infortúnio afetou progressivamente quase todos os seus membros. No entanto, ao contrário de outros casos, nem mesmo essas circunstâncias infelizes serviram para trazê-los de volta aos holofotes além de círculos muito restritos, e eles permanecem até hoje em um relativo anonimato do qual provavelmente nunca sairão. Que estas linhas sirvam, em suma, como uma reivindicação de uma banda com muito a oferecer e de músicos que foram perseguidos pelo azar ao longo de suas vidas. O rock, e a música em geral, estão cheios de histórias com finais trágicos como esta. Histórias que, apesar de tudo, valem a pena serem contadas e conhecidas para que esses músicos possam abandonar, mesmo que por alguns instantes, o esquecimento a que o destino os condenou.
Lista de faixas: 1. The Man (6:12) 2. Hold Me Back (4:40) 3. Time To Die (2:54) 4. Red Glow (5:15) 5. San Antone (3:07) 6. Government Man (4:20) 7. Money Bag (10:04) 8. Sittin' Back Easy (3:42)
Formação: - Mike Patto / vocal - Peter "Ollie" Halsall / guitarra principal e acústica, piano, vibrafone - Clive Griffiths / baixo - John Halsey / bateria