segunda-feira, 1 de setembro de 2025

BIOGRAFIA DE Peter André

 

Peter André

Banda Black Rio - Maria Fumaça (1977)

 

Econtinuamos com mais produções musicais brasileiras. E é hora de apresentar um dos álbuns de fusão de samba-disco-funk-soul mais fortes de todos os tempos, com a Banda Black Rio revolucionando a "música instrumental negra" da época com sua releitura brasileira de ritmos inspirados em artistas como Tim Maia e que lembram Kool & The Gang e Earth Wind & Fire. "Maria Fumaça" foi o álbum de estreia do grupo, um disco que lhes trouxe fama mundial. E para contextualizar, vou citar algo da Wikipédia: "Naquela época, no Rio de Janeiro, havia um movimento conhecido como Black Power, Soul Power ou Black Rio, que tinha relação com o samba, mas não se restringia apenas à esfera musical. O movimento teve origem na zona norte da cidade, nas favelas e nas escolas de samba que se apresentavam no Carnaval carioca. Os membros do movimento, quase todos negros, reuniam-se para dançar, mas também para compartilhar suas preocupações políticas e sociais; influenciados pelo movimento americano pelos direitos civis, os membros do movimento tentaram interpretar e aplicar suas conquistas ao seu contexto." E você pode imaginar mais ou menos para onde as balas estão apontando...

Artista: Banda Black Rio
Álbum: Maria Fumaça
Ano: 1977
Gênero: Latin Jazz / Funk / Soul
Duração: 29:37
Nacionalidade: Brasil




E ainda estamos no Brasil. A Banda Black Rio é uma banda emblemática do movimento "Black Power" ou "Soul Power" no Rio de Janeiro dos anos 1970. Ou seja, caras morenos que gostavam de jogar coquetéis molotov, ler Malcolm X e tocar funk nas ruas. Ou pelo menos é o que acontece na nossa imaginação, porque eu acho esses caras morenos mais gato que a Lassie.
Banda Black Rio foi uma banda brasileira de jazz funk e jazz fusion formada em 1976 e dissolvida em 1980. Em 1999, outra banda de mesmo nome foi formada, liderada por William Magalhães, filho de Oberdan Magalhães, fundador da banda original.
(...) Frequentemente comparada a grandes bandas americanas de soul-funk como Kool & The Gang, Earth Wind & Fire ou The Headhunters, a música da Banda Black Rio é uma fusão de gêneros que integra elementos de rhythm & blues junto com as variantes mais dançantes de gafieira, samba e jazz. Um dos nomes mais importantes da história musical de seu país, a banda foi pioneira na fusão do samba com a soul music, enquanto liderava o Movimento Black Rio ao lado de Tim Maia e Toni Tornado, com quem revolucionou a cena musical em seu país, com particular incidência no Rio de Janeiro. Na Europa, a banda obteve grande sucesso nas pistas de dança inglesas no final da década.
O estilo deles é inteiramente instrumental, uma banda de funk que não se limitou apenas a esse gênero, combinando jazz, rock, soul e funk com ritmos brasileiros. Com quatro álbuns gravados durante sua existência como banda

, os caras tiveram impacto internacional, mesmo após a morte de Malcolm X.
E como era o som deles? Bem, algo assim:

Bem, você tem uma história bem completa aqui:
A Banda Black Rio foi criada na segunda metade da década de 1970. Na época, havia um movimento que buscava fundir soul e samba. Mas a verdade é que esse movimento não era estritamente musical e tinha uma grande variedade de nomes. Black Power, Soul Power ou o mais famoso de todos, Black Rio. Os nomes eram em inglês porque a ideia básica era fundir línguas, quebrar o individualismo, abrir espaços e, acima de tudo, inquietar um pouco os puristas, algo que por si só parece uma causa nobre.
Os eventos narrados ocorreram principalmente na zona norte do Rio, habitat natural de favelas, morros e escolas de samba. O movimento Black Rio se estabeleceu nos bailes de fim de semana muito frequentados que aconteciam ao redor das escolas. O público, composto por milhares de pessoas, era predominantemente negro e influenciado principalmente por ativistas dos direitos civis dos EUA. Os seguidores do Black Rio absorveram as ideias e as transformaram em uma nova abordagem adaptada à realidade brasileira da época.
Nesse contexto, a gravadora Warner, recém-criada no Brasil, queria formar uma banda que se tornasse pioneira do movimento. Para isso, contataram Oberdan Magalhães, renomado saxofonista, que aceitou o desafio de formar a Banda Black Rio. Nascido e criado em Madureira, Oberdan era primo de Silas de Oliveira, grande compositor de samba-enredo e um dos fundadores da Escola de Samba Império Serrano, além de afilhado de Mano Délio Da Viola, outro grande sambista.
Tão influenciado por Pixinguinha quanto por Coleman Hawkins, grande admirador de Cartola e Stevie Wonder, Oberdan perseguiu seus planos de fusão musical tendo em mente as casas noturnas cariocas, onde começara a tocar com apenas 15 anos. Nessa idade, integrou o grupo Impacto 8, onde começou a delinear o que viria a ser a Banda Black Rio. No Impacto 8, Oberdan conseguiu reunir músicos como Raul De Souza e Robertinho Silva, com quem tocou uma curiosa mistura de jazz, soul e samba. Em seguida, juntou-se ao pianista Dom Salvador e ao grupo Abolição, onde conheceu alguns dos músicos que fariam parte da formação original da Banda Black Rio, como o trompetista Barrosinho, o trombonista Lúcio e o baterista Luis Carlos. Entre shows e gravações, conheceu também o guitarrista Cláudio Stevenson, o baixista Jamil Jones e o pianista Cristóvão Bastos, formando a banda Rio 40ª.
Quando recebeu a proposta da Warner, Oberdan contatou a todos e produziu um trabalho repleto de grooves de samba e funk, mas com a musicalidade característica do jazz. Com essa formação, gravaram três discos: "Maria Fumaça" (1976), "Gafieira Universal" (1978) e "Saci Pererê" (1980), além de receber convites para participar de gravações de nomes como Luiz Melodia e Caetano Veloso. Com este último, gravaram "Bicho Baile Show", um LP ao vivo.
A banda continuou se apresentando até o início da década de 1980, quando Oberdan se envolveu em um acidente de carro fatal que o levaria à morte em 1984. O trágico acontecimento levou a Banda Black Rio a suspender todas as atividades.
Quinze anos depois, quando poucos se lembravam deles, o filho de Oberdan, William Magalhães, pianista, tecladista e arranjador de artistas tão importantes quanto Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Ed Motta, Marina Lima e Milton Nascimento, decidiu dar continuidade ao projeto iniciado pelo pai. William Magalhães tinha uma longa trajetória profissional na época. Iniciou sua carreira musical com apenas 7 anos de idade e cresceu em um ambiente extremamente musical, frequentando os ensaios e concertos do pai, além de outras atividades musicais que aconteciam ao seu redor, nas quais sua família estava quase sempre envolvida. Na adolescência, estudou jazz, com a pianista Sonia Vieira. Ao atingir a idade adulta, foi contratado pela banda de Gilberto Gil, com a qual excursionou inúmeras vezes. Em 1996, recebeu o prêmio APCA de melhor arranjador por seu trabalho no álbum "Registros à Meia–Voz", de Marina Lima.
Nos anos 90, William começou a pesquisar o trabalho que a Banda Black Rio havia produzido anos antes e estudou esboços e partituras que haviam ficado inacabados após a morte prematura de seu pai. Munido de todas as informações e experiências necessárias, gravou o que seria o último trabalho da banda até então, Movimento, renomeado na Inglaterra como Rebirth. O álbum ganhou vários prêmios, mas as vendas não foram suficientes para a gravadora, e a Banda Black Rio continuou a fazer shows, mas não gravaria mais. Atrás deles, estavam quatro álbuns que deixaram um testamento sonoro para uma era e uma banda que hoje é praticamente desconhecida fora do Brasil.
Maria Fumaça é a Banda Black Rio em sua forma mais pura. Grooves poderosos cheios de funk, mas também samba e bossa nova, em um LP bem elaborado, projetado especificamente para curtir a música e a vida. Ouça a primeira faixa; temos certeza de que você sentirá vontade de mover cada músculo do seu corpo.
Esperamos que goste.
Jazz funk bossa ok
 

E a melhor parte é que você pode ouvir na íntegra aqui:
https://open.spotify.com/intl-es/album/7KoQPmHEfDU7Sf61BfkhgG

 
 
Lista de faixas:
01. Maria Fumaça
02. Na Baixa do Sapateiro
03. Mr. Funky Samba
04. Caminho da Roça
05. Metalúrgica
06. Baião
07. Casa Forte
08. Leblon Via Vaz Lobo
09. Urubu Malandro
10. Junia


Formação:
- Oberdan Magalhães / sax soprano, sax alto e sax tenor
- Lúcio Silva / trombone
- José Carlos Barroso / trompete
- Jamil Joanes / baixo
- Cláudio Stevenson / guitarra
- Cristóvão Bastos / teclados
- Luiz Carlos Batera / bateria, percussão



 




Fleesh - The Next Hemisphere (A Rush Tribute) (2018)

 

Mais uma vez, continuamos nossa jornada pelo bom rock brasileiro. Mais uma vez, a dupla brasileira, formada pelo cantor de voz belíssima e pelo multi-instrumentista, aterrissa no blog, apresentando mais covers, mas desta vez com foco na história musical da banda canadense Rush. Aqui estão algumas de suas músicas icônicas, como "Limelight", "Closer to the Heart" e "The Trees", além de outras de todas as épocas. Elas soam tão originais quanto as originais, apesar de não terem a melhor produção. De "Here Again", do álbum de estreia, também incluímos "2112", "Hemispheres", "Signals", "Vapor Trails", "Clockwork Angels" e muito mais, em 14 faixas que prestam homenagem ao Rush e ao seu brilhantismo. Um belo álbum tributo, e de ninguém menos que o Rush, então definitivamente vale a pena conferir.

Artista: Fleesh
Álbum: The Next Hemisphere (A Rush Tribute)
Ano: 2018
Gênero: Crossover prog
Duração: 68:50
Referência: 
Discogs
Nacionalidade: Brasil


Já disse que não gosto nem um pouco de álbuns de covers. E se você vai fazer covers de monstros como o Rush , é melhor se preparar... e vou deixar um comentário de outra pessoa.

Admito que essa coisa toda de cover está acabando com meu moral, ou talvez eu seja exigente demais, mas a questão está ficando fora de controle. Sim, sou daqueles que sempre defendeu o cover como a verdadeira escola do rock and roll, que bandas em bares tocando músicas de outras bandas enquanto você toma umas cervejas e canta junto, sempre existiram e espero que sempre existam, mas quando isso se estabelece como a norma, não vejo mais luz nisso. Casas que só programam música ao vivo, desde que não sejam músicas originais, o que está acontecendo, e eu poderia recitar vários nomes conhecidos sem pensar. Eu entendo que há músicos que, cansados ​​e esgotados, optam por isso. É chato tocar suas músicas de graça ou por um preço miserável, e há 15 pessoas lá, enquanto você se veste de (insira o nome que quiser), ensaia suas músicas e até organiza um festival de merda. É a lei da oferta e da procura, como diria algum economista de talk show sem graça.
E agora alguém vai dizer, com razão: "Que porra você está fazendo escrevendo sobre um álbum tributo?". E tem razão. Embora eu pudesse dar uma resposta estridente, relacionada às minhas bolas, ainda nem tomei meu primeiro drinque do dia, e vou dar uma resposta. Pois é, é um tributo ao Rush, e os canadenses que infelizmente estão se despedindo são um dos meus pontos fracos, então não resisti a essa banda brasileira, liderada por uma vocalista feminina, interpretando as músicas de um dos meus grupos favoritos. Sim, o Fleesh é brasileiro, e se não me falha a memória, este é o terceiro álbum deles. A dupla Gabby Vessoni e Celo Oliveira, que postaram seus covers do Rush no YouTube, resolveram registrar isso em um disco, tocando com o máximo respeito, e, considerando tudo, soa muito, muito bom. Certamente alguns puristas vão apontar mil falhas e pretensões vãs, mas eu, que peço à vida uma cerveja gelada, gelo no freezer para o meu bourbon e uma música que me faça curtir, estou completamente satisfeito.
É evidente que este é um álbum feito com paixão e qualidade, fácil de ouvir, no qual a voz de Gabby Vessoni assume o protagonismo ao longo da gravação, imbuindo-a de uma beleza e suavidade que se impõem desde o primeiro momento. Quatorze músicas — duas delas bônus — nas quais elas tocam com "Closer to the Heart", "Tears", "Resist"... 

Já os apresentei; Fleesh é uma dupla brasileira que faz suas próprias músicas, mas também se inclina bastante para covers interessantes de bandas famosas. Rush foi a vez, e talvez seja porque a seleção de músicas me parece um pouco irregular, mas não a considero tão completa quanto "Versions". Claro, a qualidade dos músicos e das performances é inegável, mas, pessoalmente, prefiro tocar um álbum dos canadenses.

Também não direi muito sobre este álbum, uma coleção de músicas de várias eras do Rush (e é aí que começa minha discordância, já que há uma leva inteira de álbuns dos anos 90 que eu simplesmente descarto, sem mencionar "Vapor Trails"), mas para os fãs mais dedicados do Rush certamente será uma ótima ideia.




Se você quer relembrar a Era de Ouro do Canadá e fazer isso de uma nova perspectiva, experimente!
Você pode ouvir o álbum na página deles no Bandcamp, com certeza vai te entreter.
https://fleesh.bandcamp.com/album/the-next-hemisphere-a-rush-tribute

Ligações:

Lista de faixas:
1. Limelight (4:20)
2. The Stars Look Down (4:24)
3. Closer to the Heart (2:55)
4. Nobody's Hero (4:50)
5. Losing It (4:52)
6. Tears (3:39)
7. Resist (4:11)
8. The Way the Wind Blows (6:06)
9. Here Again (7:05)
10. The Trees (4:32)
11. Mission (5:19)
12. Bravado (4:31)
13. The Pass (5:09)
14. The Garden (6:57)
 
Formação:
- Gabby Vessoni / vocal
- Celo Oliveira / todos os instrumentos
Com:
Rodrigo Boechat / Hammond (9)





Daniel Barenboim: entre música, política e humanidade

 

Daniel Barenboim ou a lentidão irreconciliável do falecido mestre: Em dias particularmente sombrios, quando o ruído da morte sistemática ameaça se tornar nada mais do que outro ruído branco na consciência coletiva, um crepúsculo Daniel Barenboim (Buenos Aires, 1942), diminuído pela idade e pela doença, mais uma vez surpreendeu o público de Berlim, Lübeck, Salzburgo e Lucerna neste mês de agosto, enquanto fazia o único apelo de sua presença, mais uma vez, como guia da Orquestra Divan do Oriente e do Ocidente, que une fraternalmente músicos de Israel, Palestina e outros países do mundo árabe.

Por Jesús Adonis Martínez


Uma turnê relâmpago, junto com o famoso pianista chinês Lang Lang , por terras germânicas: Musikfest em Bremen (9 de agosto), Waldbühne em Berlim (10), Schleswig-Holstein Musik Festival, em Lübeck (13), Rheingau Musik Festival, em Wiesbaden (13), Salzburger Festspiele , na Áustria (15) e  Festival de Lucerna , na Suíça (neste domingo, 17). 

E um programa ilustre e poderoso, tão alemão quanto talvez seja  “cheio de sinais proféticos” :  o Idílio de Siegfried, de Richard Wagner  , WWV 103; o Concerto para Piano nº 1 em Sol menor, Op. 25 , de Felix Mendelssohn  ; e a Sinfonia nº 3 em Mi bemol maior, Op. 55, “Eroica”, de Ludwig van Beethoven .

Além da música, que durante estes dias atingiu, segundo  algumas crônicas , até os picos paralelos do "milagre" e da "inexorabilidade", o gesto mais eloquente foi o  lento  retorno, acompanhado dos filhos, do maestro argentino, judeu naturalizado espanhol, israelense e palestino.

Presumimos que ele não poderia faltar ao encontro de verão com a augusta Europa do humanismo e  do Iluminismo , mas também do antissemitismo e da culpa hipócrita, enquanto  outro  genocídio está em andamento  no Oriente Médio.

Barenboim, que vinha sofrendo de deterioração física desde que sua condição neurológica começou a se manifestar, três anos atrás, havia anunciado em fevereiro passado que sua condição era Parkinson e, consequentemente, viu-se impossibilitado pela primeira vez de acompanhar e reger em  uma turnê  — na China — a orquestra que ele criou no final do milênio com o pensador, acadêmico e ativista político palestino-americano Edward Said (1935-2003).

A Orquestra Divã Oeste-Oriental foi fundada como "uma oficina para jovens músicos israelenses, palestinos e árabes", que "se encontraram na Capital Europeia da Cultura daquele ano, Weimar, Alemanha — um lugar onde os ideais humanistas do Iluminismo são obscurecidos pelas sombras do Holocausto",  relata a Academia Barenboim-Said  em seu site. "Lá, eles realizaram seu sonho de um futuro melhor; de humanizar os outros; e de substituir a ignorância por educação, conhecimento e compreensão."

O professor e o pianista encontraram inspiração para este esforço de harmonia artística e humana na grande coletânea homônima de J.W. von Goethe (além de alguns poemas de Marianne von Willemer):  West-östlicher Divan  (1819-1827), no original em alemão. Uma obra literária animada, por sua vez, pela leitura admirada da poesia lírica, em tradução alemã, do poeta persa e místico islâmico Hafez de Shiraz.

“Embora nem Barenboim nem Lang Lang enquadrem explicitamente a turnê como um ato político , o público percebe algo diferente”,  observou  o  Argentinisches Yageblatt  após os primeiros recitais, enfatizando que a apresentação do  Idílio de Siegfried  de Wagner por músicos judeus, árabes e iranianos “acrescenta uma camada de reconciliação cultural”.

Barenboim, lemos em outra parte da resenha, “conduz sem discursos políticos, mas com a convicção de que cada gesto no pódio é também uma mensagem”. Assim: “A ‘Eroica’ de Beethoven, em seu encerramento, exibe uma força que transcende o puramente musical. O segundo movimento, uma  Marcia funebre , assume uma dimensão quase política sob a regência de Barenboim, como se ele quisesse condensar as decepções e esperanças de um mundo em crise.”

Após o recital de domingo no Festival de Lucerna, o  colunista do Frankfurter Allgemeine Zeitung  também notou esses ecos na execução da  Sinfonia nº 3. Ele escreveu: "Após um primeiro movimento ainda contido, especialmente na grandeza trágica do  Adagio  da  Marcia funebre  e na tensão visionária das variações finais", Barenboim e sua jovem orquestra "transmitiram notas de aspereza insensível, justas e intransigentes tanto na dor quanto na esperança, profundamente comoventes em sua unidade através das gerações e na defesa compartilhada dos ideais de uma ordem mundial humana transmitidos por Beethoven, que são mais necessários do que nunca".

Há seis meses, seu filho, Michael Barenboim , violinista e spalla da Orquestra West-Eastern Divan, disse  : “Meu pai conciliou quase todos os seus projetos com a música. Como músico autêntico que está no palco desde os sete anos de idade, a música é simplesmente seu meio de expressão. Mas”, enfatizou, “isso não significa que seus projetos não sejam políticos”.

O jovem Barenboim (Paris, 1985), também conhecido por seu ativismo, tem se manifestado repetidamente contra as ações do Estado de Israel na Faixa de Gaza e insistido que a Europa deve abandonar a venda de armas para Tel Aviv: “Nada justifica o genocídio”, disse ele em  uma entrevista  publicada no  Qantara.de .

“Usar o vocabulário correto é importante, mas não suficiente. Quando o genocídio é iminente, somos obrigados a fazer todo o possível para evitá-lo. O perigo de genocídio já era evidente em 9 de outubro de 2023, quando o Ministro da Defesa de Israel usou a expressão "animais humanos" e anunciou que o fornecimento de água, eletricidade, gasolina e alimentos seria completamente cortado. Em 15 de outubro, mais de 800 acadêmicos  alertaram  para o possível genocídio”, lembrou Michael Barenboim, e em fevereiro passado essas previsões já haviam sido confirmadas. “Há uma montanha de evidências que não permitem outra conclusão. A Anistia Internacional, a Human Rights Watch, a Comissão Especial das Nações Unidas e  eminentes acadêmicos  de  genocídio , incluindo alguns de Israel, concordam. Devemos encarar a verdade: em algum momento, a linha será cruzada.”

A reportagem do El  País  sobre a apresentação de Daniel Barenboim na última sexta-feira no Festival de Salzburgo concentra-se no virtuoso, o herói musical que "chega ao palco com passos curtos, exibindo um meio sorriso" e rege "uma versão muito lenta" do  Idílio de Siegfried . Em seguida, ele se senta e utiliza o brio de Lang Lang em "uma versão luminosa" da peça de Mendelssohn. E, finalmente, a  Sinfonia "Heroica" , inicialmente dedicada a Napoleão e posteriormente emancipada do déspota pelo próprio compositor.

“O primeiro movimento (omitindo, infelizmente, a repetição da exposição) retratou um heroísmo ferozmente humano, envolto em todo o lirismo que uma partitura tão frequentemente áspera e austera permite. E na  Funebre Marcia  , o milagre ocorreu”, escreve Luis Gago. “Em meio ao declínio físico, o argentino tornou-se ele próprio um  Spätstil , um “estilo tardio”, um conceito tão bem analisado por seu amigo Edward Said, cofundador do Divan, e tão identificável no próprio Beethoven, como também explorado pelo professor de Said, Theodor Adorno. Que Barenboim ainda possa reger em seu estado físico escapa a toda explicação racional. Que os resultados sejam os que foram ouvidos na sexta-feira no Grosses Festspielhaus em Salzburgo atinge o nível de um mistério insondável.” 

Mas o crítico repete o erro que Adorno já havia apontado: "De fato", comentou o filósofo de Frankfurt, "os estudos sobre o Beethoven tardio quase sempre se referem à sua biografia e ao seu destino. É como se, diante da dignidade da morte humana, a teoria da arte se despojasse de seus direitos e abdicasse em favor da realidade."

Said, por sua vez, falava das “irreconciliabilidades” entre o gênio tardio e seu tempo, esse fator eloquente da falta de comunicação entre o artista máximo e as supostas totalidades do eu e da sociedade… “O estilo tardio é o que acontece se a arte não abdica de seus direitos em favor da realidade”, escreveu Said.

E, certamente, essa pode ser a lentidão prodigiosa deste Barenboim: a vontade de deter a passagem do mundo, a impossibilidade de uma síntese ou conciliação dialética e, no entanto, a inexorabilidade da música e da humanidade .


Jesús Adonis Martínez  - Jornalista. Editor das revistas independentes El Estornudo e Rialta. Mestre em Ciência Política pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Foi colunista da revista Oncuba e correspondente da Prensa Latina. Publicou artigos em diversos veículos de comunicação em Cuba e na América Latina.


Dworniak Bone Lapsa - Fingers Pointing at the Moon (2016)

 

Em nossa recente seção intitulada "Great Little Unknown Albums", apresentamos este trio de multi-instrumentistas, que lançou um álbum bem escrito, agradável e sofisticado que gradualmente cativa o ouvinte e, ao fazê-lo, revela uma música que muitos acharão atraente em muitos aspectos, onde o rock progressivo e o art rock se misturam, com influências folk irlandesas, alguns toques de blues e alguns toques sinfônicos e psicodélicos que, juntos, muitas vezes lembram a vibe do Pink Floyd, mas que, por sua vez, vão muito além do som do Floyd: toques de Porcupine Tree, Beatles, Yes e Camel, em partes iguais, conferem-lhe uma sonoridade particular, uma estranha amálgama de sons familiares. Este excelente trio é acompanhado por vários músicos adicionais (entre eles ninguém menos que Robert Wyatt no trompete) que adicionam som a pianos, saxofones, coros, percussão e afins, reforçando a qualidade de uma obra altamente recomendada. Este é o único álbum de Joe Dworniak, Greg Bone e Chris Lapsa, nenhum deles muito conhecido, mas criadores de uma obra que certamente agradará a todos os figurões que a ouvirem, e que realmente não tem pontos fracos. Garanto que, ao ouvi-lo, você se apaixonará por esta música...

Artista:  Dworniak Bone Lapsa
Álbum:  Fingers Pointing at the Moon
Ano:  2016
Gênero:  Crossover progressivo
Duração:  44:01
Referência:  Discogs
Nacionalidade:  Inglaterra


Com a enorme quantidade de novos álbuns sendo lançados, muitos deles sob a égide de um estilo com relativamente poucos ouvintes como o progressivo, e ainda mais considerando que muitos desses lançamentos são independentes, é inevitável que um grande número de bons álbuns não receba a veiculação que merece, e esse é o caso do álbum em questão. "Fingers Pointing At The Moon", de Dworniak Bone Lapsa, não recebeu nenhuma veiculação, o que, na minha opinião, é um crime artístico, já que este álbum está entre os melhores da época.  E para comemorar, algumas palavras e vários vídeos valem a pena, certo? Em vez de muitas palavras, é melhor ilustrar o álbum com muitos vídeos...

E aqui vai a primeira: 



Descobri o álbum procurando por coisas desconhecidas, e foi assim que descobri muitas das coisas que certamente surpreenderam você aqui no blog, se você o acompanha há algum tempo, e aqui você terá outra surpresa. Devo dizer que gostei de "Fingers Pointing At The Moon" imediatamente, mas precisei ouvir várias vezes antes que realmente começasse a repercutir, mas, uma vez que isso aconteceu, revelou-se um álbum envolvente e agradável.

O álbum tem muitas letras, então teria sido uma vantagem poder me aprofundar no conceito e nas letras, mas, infelizmente, não tenho tempo. Mas a música te guia em direção ao seu objetivo por si só, então não é um grande problema.

Um álbum com uma atmosfera serena, cativante e muito agradável. E algo que recomendo fortemente que você ouça!

Você pode ouvir no Spotify:
https://open.spotify.com/intl-es/album/4s1SZibgSU8IzWVT0BlY8h




Lista de faixas:
01. Mortal Man (11:08)
02. Home (14:22)
– I See Through You
– Conversations In My Head
– Justify
– Home (Slight Return)
03. It Only Takes A Second (4:09)
04. Funny Farm (9:01)
05. Finger Pointing At The Moon (5:19)

Formação:
- Joe Dworniak / Baixo e guitarras espanholas, EMS VCS3, Arp 2600, Solina String Ensemble, vocais de apoio
- Greg Bone / Guitarras, vocais de apoio
- Chris Lapsa / Vocal principal, guitarras elétricas e acústicas de 12 cordas, Moogs, sintetizadores
Com
Robert Wyatt / Trompete (1)
Jim Watson / Piano de cauda, ​​Fender Rhodes, Arp 2600, Órgão Hammond, Moogs e piano Wurlitzer
Danny Cummings / Bateria, percussão, waterphone e vocais de apoio
Melvin Duffy / Pedal Steel
Phil Smith / Saxofone
Annette Bowen / Vocal de apoio
Sam Smith / Vocal de apoio
Emily Holigan / Vocal de apoio
Nicky Brown / Vocal de apoio




Destaque

PEROLAS DO ROCK N´ROLL - PROG/FUSION - RAINBOW BAND - Rainbow Band

Grupo da Dinamarca formado em København em 1970 e que só lançou um álbum em 1970 com esse nome, logo depois o grupo ficou sabendo que havia...