quarta-feira, 5 de outubro de 2022

BIOGRAFIA DE Steely Dan


 

Steely Dan é uma banda americana de jazz fusion centrada na dupla Walter Becker e Donald Fagen. O grupo ganhou popularidade nos anos 70, quando fez sete álbuns juntando elementos do jazzrockfunkR&B e pop. Inicialmente rock, sua canção absorveu complexas estruturas e harmonias com influências do jazz. O nome da banda se refere a um livro de William Burroughs. Além de Fagen (piano, teclados e vocal) e Becker (baixo e guitarra), a banda original tinha Denny Dias (guitarra), Jeff "Skunk" Baxter (guitarra e percussão), Jim Hodder (bateria) e David Palmer (vocal). O grupo fez turnês de 1972 a 1974, mas de 1975 a 1980 se retirou dos palcos para trabalhar unicamente em estúdio. Depois de uma pausa que durou até 1993, e atendendo a pedidos, Fagen e Becker voltaram a se reunir e a se apresentar nos EUA, lançando um disco Alive in America em 1994. Em 2000, a dupla lançou Two Against Nature, primeiro disco com inéditas em 20 anos, ganhando quatro Grammys em 2001.

Discografia

Can't Buy a Thrill (1972)

Produzido por Gary Katz, nos estúdios da ABC, o álbum de debut, Can't Buy A Thrill, foi lançado em 1972, causando uma imediata impressão com os hits "Do It Again" e "Dirty Work", cantados por Palmer, e "Reeling In The Years", que apresenta um aclamado solo de guitarra de Elliott Randall. Devido à relutância de Donald Fagen em cantar, David Palmer assumiu a maioria dos vocais no palco. O baterista Jim Hodder também cantou em uma faixa: "Midnight Cruiser". Palmer, irritado com o perfeccionismo de Fagen e Becker, deixou a banda durante a gravação do segundo álbum e foi trabalhar com Carole King, com quem escreveu o hit Jazzman.

Countdown to Ecstasy (1973)

O segundo álbum foi Countdown to Ecstasy (1973). Seguindo a mesma linha de Can't Buy A Thrill, foi gravado em meio a turnês, trazendo clássicos como "Show-Biz Kids", "My Old School" e "Bodhisattva".

Pretzel Logic (1974)

O Steely Dan manteve-se em evidência com seu terceiro LP, Pretzel Logic, no início de 1974, produzindo um outro grande hit, "Rikki Don't Lose That Number" - que foi direto para o Top Ten dos EUA. Pretzel Logic também tem a única canção de um outro compositor - uma canção de Duke Ellington: "East St Louis Toodle-oo". "Any Major Dude Will Tell You" a faixa título também se tornaram favoritas dos fans. Durante a turnê de lançamento do álbum, a banda passou a contar com um jovem baterista, Jeff Porcaro (mais tarde membro do Toto), que na época trabalhava com a dupla Sonny e Cher. Outro que chegou foi o cantor e tecladista Michael McDonald. O álbum também marca a primeira vez que Walter Becker faz algumas inserções de guitarras nas canções do Steely Dan. A decisão de Fagen e Becker de deixar de lado as turnês para se concentrarem em trabalhos em estúdio gerou um racha na banda. Descontentes, Baxter (cada vez mais envolvido com os Doobie Brothers) e Hooder caíram fora. Michael McDonald (que também foi para os Doobie Brothers posteriormente) e Denny Dias ainda iriam continuar nas sessões de estúdio dos álbuns seguintes.

Katy Lied (1975)

No LP de 1975, Katy Lied, o duo usou um grupo diversificado de músicos, incluindo Porcaro e McDonald, bem como o Elliott Randall, os saxofonistas Phil Woods e Wilton Felder, o vibrafonista Victor Feldman, o tecladista Michael Omartian e o guitarrista Larry Carlton. Os destaques são "Black Friday", "Bad Sneakers", "Rose Darling", "Dr. Wu" e "Chain Lightning".

The Royal Scam (1976)

The Royal Scam foi realizado em 1976 e é considerado o mais disco mais dirigido à guitarra que o grupo produziu, em parte pela colaboração do guitarrista Larry Carlton. Outra presença importante é o lendário baterista Bernard "Pretty" Purdie. Destacam-se no álbum "Kid Charlemagne", "The Fez" (na qual o tecladista e jornalsita Paul Griffin tem uma rara co-autoria). Também populares são "Don't Take Me Alive", "Sign in Stranger", "Haitian Divorce", "Caves of Altamira" e a suingadíssima "Green Earrings". Este também foi um disco no qual Fagen (que cantou) e Becker pouco tocaram seus instrumentos, dedicando-se à produção, composições e arranjos.

Aja (1977)

O sexto LP, Aja (1977), teve Becker e Fagen usando os serviços de músicos top de linha do do jazz, jazz-rock e da soul music, incluindo Larry Carlton, o saxofonista Wayne Shorter, os bateristas Steve Gadd, Rick Marota e Bernard "Pretty" Purdie e o baixista Chuck Rainey, além de Denny Dias. Aja é considerado o mais requintado álbum da banda e, de fato, um dos melhores discos de todos os tempos. Ironicamente, um disco recheado de jazz tornou-se um clássico do rock. O premiadíssimo Aja atingiu o Top Five dos EUA, e vendeu 1 milhão de cópias graças a canções como "Peg" (com o proeminente backing vocal de Michael McDonald), "Josie" e "Deacon Blues". O LP consolidou a reputação da dupla B&F como compositores e reafirmou o seu perfeccionismo dentro do estúdio. A história de Aja foi documentada em um episódio de TV e lançada em DVD pela série Classic Albums. Depois do sucesso do disco, o duo contribuiu a canção "FM" para a trilha do filme de mesmo nome. O filme foi um fracasso, mas a canção foi um grande sucesso.

Gaucho (1980)

Becker e Fagen passaram 1978 fora de cena, antes começaram a escrever sons para o novo trabalho, que seria marcado por problemas técnicos, legais, pessoais e que culminariam na interrupção de uma parceira de muitos anos. Em março de 1979, a ABC (gravadora do Steely Dan) foi vendida para a MCA e pelos próximos dois anos a dupla teve problemas contratuais que dificultaram a gravação do álbum. B&F planejaram deixar a ABC pela Warner Brothers, onde queriam realizar o trabalho, mas a MCA declarou-se proprietária do material já gravado e impediu-os de levá-lo para outro estúdio. A primeira faixa gravada foi The Second Arrangement, da qual B&F ficaram muito orgulhosos. Mas numa noite, um engenheiro de som apagou acidentalmente uma fração da faixa gravada e os produtores do disco nada puderam fazer. No outro dia, ao ser notificado, Fagen simplesmente saiu caminhando do estúdio sem dizer uma palavra. As tentativas de regravar o som foram frustrantes e a canção foi abandonada.

Mais problemas não faltaram. A namorada de Becker na época, Karen Stanley, foi encontrada morta no apartamento que dividiam. Becker sofreu acusações mas foi absolvido. Também teve problemas com álcool e drogas e, pouco tempo depois, ao atravessar uma rua em Manhattan, foi atropelado por um táxi, quebrando a perna direita em várias partes, sendo obrigado a usar muletas por um tempo. Na mesma época, O compositor de jazz Keith Jarrett recorreu a justiça dizendo que faixa título do novo disco era baseada em uma de suas composições, intitulada "Long As You Know You're Living Yours". Fagen admitiu que havia se apaixonado pela canção e ela o teria influenciado fortemente. Jarret acabou ganhando a co-autoria, assim como os direitos comerciais da canção. Gaucho foi finalmente concluído e lançado em novembro de 1980. Apesar dos problemas, o disco foi o maior sucesso e "Hey Nineteen" chegou ao topo das paradas. Em 1981, B&F anunciaram a suspensão de sua parceria.

E segue a história

Em 1982, Fagen lançou seu disco solo The Nightfly, juntando material não-utilizado nos dois álbuns anteriores do Steely Dan e um cover de Leiber e Stoller, "Ruby Baby". Depois ficou sem gravar por vários anos. Ocasionalmente, assim como Becker, produziu trabalhos de outros artistas. Dois eventos contribuíram para uma possível volta do Steely Dan. O primeiro foi em 1991, quando Becker participou do concerto com a então banda New York Rock and Soul Revue, fundada por Fagen e pela produtora e cantora Libby Titus (mais tarde esposa de Fagen). O segundo evento foi a a presença de Becker como produtor segundo ábum solo de Fagen, Kamakiriad, em 1993. Fagen nominou-o como a mais sofisticada experiência em sua carreira. Retornando o favor, Fagen co-produziu o único disco solo de Becker, 11 Tracks of Whack (1994).

Em 1993, a MCA lançou Citizen Steely Dan, uma caixa que reúne os 7 álbuns da banda, o single FM (1978), mais as faixas Here at the Western World (lançada em uma coletânea em 1978), e as inéditas "Bodhisattva" (ao vivo, 1974) e uma versão de "Everyone's Gone to the Movies" (1971).

Alive in America (1994)

Estes eventos conduziram finalmente à reativação da banda. A excursão norte-americana em 1993 para apoiar o álbum de Fagen (que vendeu pouco, embora os concertos tivessem bom público). Com Becker na guitarra, eles reuniram uma banda que incluiu um tecladista, um baterista, um baixista, três vocalistas e uma seção de sopro. Viajaram com grande aclamação de 1993 a 1996 executando canções antigas da banda e canções de álbuns solo. Alive in America registra gravações de vários concertos.

Two Against Nature (2000)

Em 2000, eles lançaram o primeiro álbum de estúdio em vinte anos, Two Against Nature. Mais do que um rotorno, o CD foi um dos sucessos e a surpresa do ano. No verão de 2000, eles caíram na estrada para outra excursão nos EUA seguida por uma excursão internacional. Em Fevereiro de 2001, o CD ganhou quatro Prêmios Grammy.

Everything Must Go (2003)

Em 2003, o Steely Dan lançou um novo álbum, Everything Must Go, e fez nova turnê pela América. Depois de anos, Walter Becker assumiu todos os baixos do disco e algumas guitarras. Em 2006, a banda promoveu a turnê Steelyard "Sugartooth" McDan and The Fab-Originees.com Tour, com a participação de Michael McDonald. Os shows ajudaram a divulgar o ótimo álbum solo de Fagen, Morph the Cat, lançado em 2006. A turnê de 2007 se chama Heavy Roller Tour, nome inspirado em um trecho da canção Gaucho.

Discografia




           

Resenha: Big Big Train – Grimspound (2017)

Artist: Big Big Train
Disco: Grimspound
Data de lançamento: 28 de Abril de 2017
Selo: English Electric Recordings
Tempo total: 67:48
Disponível em: CD, LP & Digital

Resenha:

Rock progressivo inglês clássico, criando a partir de referências do passado

Assim como em 2016, quando Kendrick Lamar lançou o disco ‘Untitled Unmastered’ com sobras de ‘To Pimp A Butterfly’ (2015), o Big Big Train também ficou com material de sobra do álbum ‘Folklore’, lançado em 2016. Pretendiam eles lançar apenas um EP (que tinha até nome definido: Skylon) mas, no processo de gravação, perceberam que as sobras eram muito mais prolíficas, e decidiram por gravar um LP completo. E assim surgiu ‘Grimspound’, décimo álbum de estúdio da banda inglesa.

Para quem não conhece o Big Big Train e seu gênero musical, importante dizer que os caras bebem na fonte do rock progressivo inglês. Não só bebem, como matam completamente a sede. É a inspiração absoluta, lugar seguro, referência e criação. Ao ouvir Big Big Train, é possível lembrar de grupos como Emerson, Lake and Palmer, King Crimson, Camel e (sobretudo) Genesis. A diferença é que, na época, essas bandas faziam uma música revolucionária (ainda que complexa) e hoje o Big Big Train trabalha numa linha até mais nostálgica, por conta de ter permanecido intacto às mudanças do estilo. O rock progressivo ganhou outros tantos braços: alguns aproximaram-se ainda mais no jazz, outros tantos incorporaram elementos do heavy metal no progressivo, e outras bandas propuseram-se a incorporar o elemento progressivo ao pop. Mas o Big Big Train está lá, intacto, nostálgico, como se seus discos tivessem sido lançados na década de 70.

‘Grimspound’ é isso: um rock progressivo bem clássico, e letras seguem também esta linha mais clássica. É o caso da música que abre o disco, “Brave Captain”, que narra a história do piloto inglês Albert Ball, que morreu como um grande herói na Primeira Grande Guerra. Thomas Fisher, outro personagem da história inglesa (esse, séculos atrás), é o protagonista da música “The Ivy Gate”. Quando o mote não é sobre personagens históricos, as canções lembram um pouco a ambientação espiritualista e naturalista do Yes, como em “Grimspound”“As the Crow Flies” e “Meadowland”.

Aliás, nesta música citada o vocal de David Longdon lembra muito o de Neal Morse, e talvez aí seja o lugar do Big Big Train hoje: no neo progressivo, gênero que teve um boom nos anos 90 com Spock’s Beard e Flower Kings. A musicalidade do Big Big Train é irretocável, por conta dos excelentes músicos que ali estão. Nick D’Virgilio é uma sumidade na bateria, assim como o trabalho dos guitarristas em criar uma sonoridade próxima daquilo que foi o rock progressivo setentista inglês.

A crítica que é possível fazer destes caras é essa característica muito séria e grave, como se estivessem criando música de fraque. Os temas são passadistas, tanto nas letras de música quanto nas composições. Está certo que olham pra trás e reelaboram através de belas melodias e letras, mas há que se olhar pra frente também – ou pelo menos pro atual. Escrever músicas sobre a atual condição xenófoba da Inglaterra, o aumento progressivo de islâmicos no continente, enfim… refletir sobre o presente também é um possível.

De qualquer forma, ‘Grimspound’ é um disco bem interessante. Uma boa pedida para os fãs mais antigos e conservadores de rock progressivo, que torcem o nariz para essas ramificações que foram surgindo do estilo, com o passar das décadas. Uma obra bastante interessante de rock progressivo setentista, lançada em 2017.

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FICHA TÉCNICA:
Artista: Big Big Train
Ano: 2017
Álbum: Grimspound
Gênero: Sinfônico
País: Inglaterra
Músicos: Andy Poole (guitarra, telclados), Danny Manners (teclados), David Longdon (voz, flauta), Rikard Sjöblom (teclados, guitarra, vocais), Nick D’Virgilio (bateria, vocais), Dave Gregory (guitarra), Rachel Hall (violino), Greg Spawton (baixo, vocais)
MÚSICAS:
1. Brave Captain 12:37
2. On The Racing Line 5:11
3. Experimental Gentlemen 10:01
4. Meadowland 3:36
5. Grimspound 6:55
6. The Ivy Gate 7:26
7. A Mead Hall In Winter 15:19
8. As The Crow Flies 6:43


 

Ouça


TANGO DOWN - THIS IS GONNA HURT (2022)

 


ANTHONY GOMES - HIGH VOLTAGE BLUES (2022)


O vocalista e guitarrista canadiano Anthony Gomes é bem conhecido por alguns entusiastas do blues. Em geral, Gomes tem uma base de fãs em toda a América do Norte. Se tu não conheces o músico, tem a chance de recuperar o atraso.
'High Voltage Blues' é o novo álbum de Gomes, que será lançado pela Rat Pak Records. No entanto, é apenas um novo álbum até certo ponto. Pelo contrário, é uma compilação de músicas do guitarrista de blues rock que foram regravadas e aparecem em nova glória.
Para não apenas se divertir no passado, Gomes adicionou três novas faixas a 'High Voltage Blues', cada uma delas um pouco de fogos de artifício do blues rock. Uma dessas delícias chama-se 'Fur Covered Handcuffs' e é uma grande música em que o espírito dos ZZ Top ganha vida. Esta faixa imediatamente revela todo o seu potencial e agrada instantaneamente na primeira audição.
Também 'I Believe' pertence às novas faixas de 'High Voltage Blues'. Aqui é a batida forte e a linha melódica feliz que dão à música uma vibração positiva. 'I Believe' é uma faixa que desperta fé na humanidade e no amor, ambos mais do que relevantes nestes tempos estranhos.
Por um punhado de músicas, Gomes também conseguiu juntar dois grandes nomes do rock. Desde a primeira música, 'Painted Horse', a seção rítmica bem trabalhada se destaca. Ninguém menos que a lenda do baixo Billy Sheehan e o baterista dos Korn, Ray Luzier, dão à faixa o soco certo e, assim, a base para a guitarra de blues de Gomes. Esta música é um cavalo selvagem musical que é difícil de domar.
Com 'Blues-A-Fied' o título da música já fala muito e indica claramente para onde as coisas estão indo. Também a ser mencionada é 'Peace, Love & Loud Guitars', a faixa-título do álbum de 2018. Este energizador tem a capacidade de unir pessoas, fãs de rock dinâmico e poderoso “De Montreal a Moçambique”.
'High Voltage Blues' é uma ótima porta de entrada para os fãs de blues rock que não tinham o guitarrista nascido em Toronto no seu radar antes. Cada uma das músicas que entraram neste álbum representa o mundo com alma do blues rock e uma coisa é muito clara. Anthony Gomes não precisa se esconder dos grandes nomes do género. Habilidades, paixão e emoção são combinadas aqui para criar um deleite musical único.

01. Painted Horse (03:45)
02. Fur Covered Handcuffs (03:24)
03. Blues-a-fied (03:33)
04. Born to Ride (04:11)
05. Peace, Love and Loud Guitars (03:55)
06. I Believe (03:36)
07. Red Handed Blues (03:47)
08. Turn It Up! (03:19)
09. Blues in the First Degree (03:45)
10. Hell and Half of Georgia (03:10)
11. Darkest Before the Dawn (04:10)
12. Blueschild (03:34)
13. White Trash Princess (bonus Track) (04:15)
14. Rebel Highway (bonus Track) (04:12)
15. Darkest Before the Dawn (extended Version) (04:59)
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Arann lança “Mitomaníacos” com clipe de “O Ditador”


 “Mitomaníacos” é um single duplo com músicas que criticam por meio de comparações e trocadilhos o uso e compartilhamento das “Fakes News” no Brasil, e o desgoverno que as propaga como senso comum. Pelo excesso dessa ferramenta de manipulação nas redes e prevendo o momento caótico que viria com as eleições.

O single foi escrito no início de 2021 por Wil Viana e gravado em 2022 às vésperas das eleições por entender ser um momento crucial de posicionamento e reflexão.

Com o som característico pelo seu riff e melodias marcantes, Arran mais uma vez surpreende com sua identidade sonora e visual.

NO BAIRRO DO VINIL

 José Carvalhal - Recado ao Governo

Numa altura em que a intervenção de forças externas em Portugal é já uma realidade, através da denominada Troika (onde se insere o F.M.I.), são muitos aqueles que desesperam sem saber ao certo o que fazer para tentar travar uma crise que é já de dimensão europeia. Enquanto tal acontece, resta-nos o contentamento em saber que conservamos ainda a nossa independência, aparentemente garantida pela eleição de um novo Governo após o último sufrágio a que fomos submetidos. Seja qual for o destino da nossa governação, são já muitos os apelos ao sentido de responsabilidade de todos os responsáveis pela Nação em favor do bem comum, que se multiplicam de hora a hora, sejam eles efectuados de uma forma mais racional ou de uma forma mais desesperada.
Transpondo estas considerações (de índole quase utópica) para o panorama musical, aproveitamos para relembrar que os mesmos apelos que hoje são feitos através da blogosfera (ou através de manifestações espontâneas de gerações à rasca) são em tudo idênticos aos que surgiram de forma livre no imediato pós 25 de Abril, através da proliferação de dezenas de artistas provenientes de todos estilos musicais (desde os cantautores até ao próprio fado) que, de uma forma ou de outra, faziam ingerências e apelos muito directos à Governação.
Tal sucedeu, por exemplo em 1978, quando um desconhecido José Carvalhal gravou para a Editora Rapsódia (inserido numa série de EP's de cantares ao desafio e cânticos populares) o tema "Apelo ao Governo" que, bem vistas as coisas, permanece ainda bastante actual. Aliás, a importância destes discos, ao qual pouca gente atribui real valor, torna-se ainda mais evidente na época em que nos encontramos. De facto, versos expressivos como "Temos um país vencido por causa da politica / isso a mim me consome por ver tanta miséria / tendes os bolsos cheios e os pobres cheios de fome" transportam os ouvintes mais pessimistas para uma preocupante realidade que poderá estar mesmo aqui ao virar da esquina.
Pelo menos até 1984 (?) José Carvalhal, gravou mais de meia dúzia de discos, uns com uma vertente mais popular e outro com um carácter mais político, como é por exemplo o sugestivo disco gravado também em 1978 para a mesma editora com o título de capa "Com tretas não se governa". Podíamos estar enganados e pensar que José Carvalhal seria apenas um cantor de outros tempos e que estes discos de tempos idos que teimosamente continuamos a resgatar de destinos incertos, não voltavam a soar nos nossos giradiscos. No entanto, para espanto nosso, conseguimos apurar que ainda hoje José Carvalhal mantêm o estatuto de popular tocador de concertina e "cantador" ao desafio na freguesia distante da Ermida, no concelho de Ponte da Barca, aldeia quase deserta mas que teimosamente continua a sobreviver à desertificação total.


Clique no play para ouvir um excerto de Recado ao Governo

Simone Mazzer lança seu novo álbum

Em um álbum que tem como fio condutor a quebra de padrões, as mulheres estão em maioria. O trabalho é resultado ainda da parceria artística e musical de Simone Mazzer com Antônio Fischer-Band e Arthur Martau, o duo ANT-ART: eles se revezam nos instrumentos, criando orquestrações e sonoridades para as dez canções do álbum



Simone conheceu “Deixa ela falar”, música título do projeto, assistindo ao espetáculo “Outros”, do grupo mineiro Galpão. “A canção de Lydia Del Picchia e Luiz Rocha me chamou muito a atenção pela letra, que fala sobre esse sistema regido por um padrão que não contempla a todos”, pontua Simone, que integrou durante vinte anos a Armazém Companhia de Teatro.

“Sem Lei”, parceria inédita de Duda Brack e Iara Rennó, nasceu de um poema que Duda escreveu depois de assistir a um show de Mazzer. “Fiquei muito lisonjeada, porque é muito bom saber como o seu trabalho reverbera nas pessoas”. Duda entregou o poema para a Iara Rennó que fez a música de um dia para o outro. Já “O crime” é uma parceria inspirada de Jards Macalé Capinam. “Eu a conheci em 2018, quando separávamos repertório para um show que fizemos juntos, Macalé e eu. Ele tocou essa música no violão e eu fiquei hipnotizada!”, lembra Simone, que a incluiu naquele show e a registrou agora: “Fiz questão de trazer O Crime para o álbum, porque ela trata de muitos sentimentos que ocorrem no universo feminino forçosamente padronizado que a gente vive.” 

A quarta faixa é um clássico de Vinicius de Moraes e Edu Lobo, tatuado em nossa memória na voz de Elis Regina. “Acho que por toda representatividade que ela tem, achei desafiador incluir Arrastão no disco. Eu realmente acredito que existem músicas que a gente não deve mexer, e a interpretação da Elis é irretocável. A nossa versão é uma homenagem à mulher que a Elis foi, a importância que a música ganhou na voz dela, então, não tem malabarismos para interpretar Arrastão. É só deixar a música brilhar”.

“Mulheres livres” (Bernardo Vilhena, Arthur Martau, Simone Mazzer) foi um presente de Bernardo Vilhena, artista que Simone admira há décadas e de quem se aproximou na pandemia. “Conversei muito sobre este projeto com o Bernardoe ele me apresentou essa letra. Mostrei aos meninos e o Martau fez a música. Hoje em dia, é importante não ter medo de ser óbvio e eu acredito muito no que essa música diz”, completa Mazzer, destacando ainda a levada rock com violão de aço que o arranjo sublinha. Além de figurar como compositor, Bernardo Vilhena é creditado como “paráclito” na ficha técnica (*), definição que Simone encontrou depois de descartar várias outras: “Fiquei procurando um termo no qual o Bernardo coubesse e encontrei paráclito! Achei divertido e resolvi adotar essa palavra, porque o Bernardo é mesmo o cara que encoraja, que anima, que intercede pela gente”.

Canção lançada como single em 2018, “Corpo” (Luisão Pereira) ganhou novo arranjo e orquestração: “Costumo dizer que esta música é o embrião do novo projeto, porque lá em 2018, eu já queria falar sobre esses corpos marginalizados, silenciados, invisibilizados. Ela foi o botão de start de tudo”, reforça Simone. Duda Brack compôs ainda “Desmanche”, em parceria com Martau, Fischer e Mazzer. “A Duda tinha essa melodia linda e nós a finalizamos juntos, eu, ela e os meninos. É um passeio por ritmos, andamentos, divisões, que tem muito a cara do duo Ant-Art, mas com o qual eu me identifico demais. Eu não sou compositora, mas ajudei com algumas frases, algumas palavras, e dando o título da música”.

“Conta Marinheiro” tem as assinaturas Eduardo Dussek e Luiz Carlos Gois. “Ela é tão importante para mim que não consigo imaginar o disco sem esta música. É também um presente que o Dussek me mandou pelo Messenger, ele cantando ao piano. É quase uma opereta, é muito imagética, dramática. É a minha cara e fala dessa mulher, desses corpos, dessas idas e vindas, desse mar revolto que é a vida, das pessoas que são deixadas para lá. Não poderia deixar de cantá-la”.

Corporal” é mais uma inédita do disco, composta por Ava Rocha a pedido de Simone. “Isso tem um sabor inigualável, saber que a Ava parou pra compor letra e música pensando em mim, pra eu cantar. Os meninos transformaram Corporal numa grande festa, numa celebração ao corpo que temos. Eu chamei o pessoal da família que eu escolhi na vida, o pessoal do Buraco Show, pra fazer os vocais. É um coral de amores”, define Mazzer. “Olhos nus”, última canção de “Deixa ela falar”, entrou depois do repertório já fechado. “Encontrei o Yantó em São Paulo e ele me contou que tinha voltado a compor.  Pedi pra conhecer algumas músicas: ele me mandou a primeira, que eu achei ótima, e depois me mandou Olhos nus. Eu fiquei de boca aberta. No final das contas, tirei uma música do disco para dar lugar a ela. Chamei o Marco Scolari, que toca comigo há quase 30 anos, pra fazer o arranjo de piano”, completa.

A capa do álbum reproduz a obra criada pela artista plástica Márcia Falcão; “Thiago Sacramento, meu marido, que também é um artista visual, me apresentou o trabalho da Márcia. Fui até ela, expliquei o meu trabalho e ela amou!”, celebra Simone Mazzer.

(*) Ficha Técnica

Direção Geral: Simone Mazzer

Produção Musical: Antonio Fischer-Band & Arthur Martau (ANT-ART)

Paráclito: Bernardo Vilhena

Direção de Arte & Programação Visual: Thiago Sacramento

Pintura, Croquis & Objeto: Márcia Falcão

Fotos: Gabriela Perez

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