ANOHNI é um talento geracional, e seu novo álbum My Back Was A Bridge For You To Cross parece o ponto culminante de sua carreira de 25 anos. Ela se reúne depois de mais de uma década com a banda de longa data The Johnsons, e assim a paleta sonora remonta aos lançamentos pop de câmara dos anos 2000. No entanto, a influência de seu álbum solo eletrônico Hopelessness é sentida através da presença das construções instrumentais maximalistas em “Scapegoat” e “Rest”, bem como a chicotada de “Go Ahead”, que vira imediatamente à esquerda com sua ousadia, estrutura experimental.
A performance vocal de ANOHNI é camaleônica e também se baseia em todo o seu trabalho anterior. Em “Sliver Of Ice” ela faz o papel de uma tímida cantora lounge, e então uma mera canção depois em “Can't” ela chora como uma banshee, evocando urgência dentro do ouvinte através de sua performance dolorosa. Essa urgência é multiplicada pelo conteúdo lírico de My Back Was A Bridge , que transborda sadismo e masoquismo em igual medida. ANOHNI se dirige a familiares mortos, canta da perspectiva de seus amigos mortos e lamenta nosso planeta moribundo, tudo entrelaçado com imagens literais e metafóricas de violência, articulações doloridas e ossos quebrados.
Por mais sombrio que pareça, o tom geral do álbum é confrontador em vez de sombrio, e em vez de apenas inspirar desesperança, ele funciona como um chamado às armas. Um exemplo é o riff maciço que irrompe no último minuto de “Scapegoat” como um raio de sol através de uma tempestade – é um momento épico e inspirador que liberta você do ataque de temas sombrios, mesmo que apenas por um momento.
E então, no momento final do álbum, ANOHNI nos deixa com a mensagem “For me / You be free for me” . Ela permitiu que o ouvinte sentisse a dor que ela sente, mas, no final das contas, nos concede permissão para romper essa emoção e avançar com mudanças progressivas para nós mesmos e para o nosso planeta.
Madonna com a sua Madame X Tour cativou o público esgotando audiências em todo o mundo com a sua intimidade incomparável. Essa experiência rara e inesquecível foi documentada em Madame X, um filme conceptual e banda sonora digital em 2021. Neste verão, a banda sonora fará a sua estreia no formato físico, mais concretamente em vinil, numa edição limitada deluxe de 3 LPs que inclui duas faixas bónus inéditas.
Disponível em 22 de setembro, “Madame X: Music From The Theatre Xperience” apresenta 22 apresentações ao vivo de músicas que abrangem eras notavelmente diferentes da carreira de Madonna, incluindo o seu nono álbum Nº 1, “Madame X”. A edição em triplo LP apresenta apresentações ao vivo exclusivas de “Crave” (com a participação de Swae Lee) e “Sodade”, duas músicas que não constam do alinhamento da banda sonora digital.
“Madame X: Music From The Theatre Xperience” foi gravado em janeiro de 2020 no Coliseu dos Recreios de Lisboa, durante a Madame X Tour. Desde a Virgin Tour de 1985 que Madonna não se apresentava ao vivo em espaços mais pequenos.
Os Talking Heads uniram forças com o realizador Jonathan Demme para o inovador filme-concerto “Stop Making Sense”. Para comemorar o 40.º aniversário dos concertos filmados Stop Making Sense, uma versão 4K recém-restaurada do filme regressará aos cinemas com a A24.
Igualmente vai ser lançada a 18 de Agosto uma versão deluxe da banda sonora que inclui, pela primeira vez, a totalidade do concerto “Stop Making Sense”.
A banda sonora inclue todas as canções do filme, incluindo duas inéditas – “Cities” e “Big Business / I Zimbra.” A edição limitada em vinil inclui um livro com 28 páginas com fotos inéditas e notas pelos quatro membros de banda –Tina Weymouth, David Byrne, Chris Frantz e Jerry Harrison
Já está disponível uma versão ao vivo inédita de “Cities.” Só foi incluída na edição original do filme Stop Making Sense em VHS/DVD, em 1999, mas agora é o primeiro single dos Talking Heads em mais de 30 anos.
A ideia de “Stop Making Sense” surgiu quando Jonathan Demme assistiu a um concerto dos Talking Heads durante a digressão “Speaking in Tongues”, em 1983. O realizador propôs à banda transformarem o concerto num filme, eles aceitaram e cooperaram nos meses seguintes para finalizarem os detalhes. Para produzir Stop Making Sense, Demme filmou três concertos no Pantages Theater em Hollywood, em dezembro de 1983.
O filme oferece uma retrospetiva da banda até essa altura, com canções dos seus seis álbuns de estúdio. O concerto corre metodicamente, abrindo com Byrne a interpretar “Psycho Killer” a solo com uma máquina de ritmos. Depois de cada canção, surge um novo membro da banda, até Byrne, Weymouth, Frantz e Harrison estarem todos juntos em palco. O grupo vai aumentando durante o concerto, com a chegada dos membros da banda reunida para a digressão: o teclista Bernie Worrell, o percussionista Steve Scales, guitarrista Alex Weir e as cantoras Lynn Mabry e Ednah Holt.
A banda interpreta 18 canções, incluindo o seu mais recente single na altura, “Burning Down The House.” No verão, a canção ouviu-se muito na radio e na MTV, e foi o primeiro Top 10 da banda na América. Mas um dos grandes momentos do filme é outra canção de “Speaking in Tongues”.Byrne interpreta “Girlfriend Is Better” com o seu icónico fato demasiado grande, inspirado nos trajos do teatro tradicional japonês – e a capa do álbum mostra-o assim vestido.
“Stop Making Sense” centra-se na música dos Talking Heads mas inclui algumas canções gravadas à margem da banda: “Genius Of Love” pelos Tom Tom Club, e “What A Day That Was” e “Big Business,” do álbum “The Catherine Wheel”, lançado por Byrne a solo em 1981.
Apenas três meses depois de ter lançado o tema “Attention”, a norte-americana Doja Cat regressa com o single “Paint The Town Red”.
O single vem acompanhado pelo vídeo realizado pela cantora e Nina McNeely, num cenário no qual a artista seduz e dança com a morte. O vídeo é baseado em pinturas feitas pela própria Doja Cat.
Adamo Canta em Português ( EP A Voz do Dono/V.C. - 7 LEG 6051, 1967). Edição portuguesa.
Faixas / Tracks: Eu Amo (J'aime) / Cai a Neve (Tombe La Neige) / Uma Recordação (Une Mèche de Cheveux) / Ela (Elle) Orquestra dirigida por Oscar Saintal
Letra do tema: Uma recordação (Une mèche de cheveux)
Passa o tempo e ao passar Com razão, sem razão Há-de sempre apagar Qualquer recordação Poderá suceder Tudo pode ter um fim Mas não posso esquecer O que foste p’ra mim
Anjo louro que eu vi E não voltas, talvez O que é feito de ti Quero ver-te outra vez!... Solitário fiquei Porque sonhei de mais Mas eu não encontrei Como tu ninguém mais!...
Eu bem sei que onde estou Guardo um sonho que foi meu Pequena réstia de sol Dum cabelo que foi teu… E um passado que acabou Eu fechei numa só mão Pois tudo a vida me levou Menos esta recordação!...
Beverly Glenn-Copeland é o típico caso de um artista que, mesmo em atuação desde o início dos anos 1970, teve seu reconhecimento tardio. Redescoberto ao longo da última década por conta do cultuado Keyboard Fantasies (1986), trabalho em que se aventura de forma exploratória pela produção eletrônica, o músico regressa agora com o primeiro álbum de inéditas em quase duas décadas, The Ones Ahead (2023, Transgressive). São nove faixas em que o compositor norte-americano se permite transitar por diferentes estilos, ritmos e possibilidades em um permanente exercício de renovação da própria identidade criativa.
Música de abertura do disco, Africa Calling é um claro exemplo desse resultado. Ponto de reconexão do artista com os próprios ancestrais, a composição aponta para o continente africano no uso ritualístico da percussão e vocais, porém, partindo de um senso de atualização que faz lembrar dos encontros entre Brian Eno e David Byrne no início da década de 1980. Nada que a música seguinte, Harbour (Song for Elizabeth), com seus pianos e vozes sóbrias não deem conta de perverter, fazendo da declaração à própria esposa um exercício de confissão sentimental que evoca a dramaticidade de nomes como ANOHNI e Nick Cave.
Essa mesma carga dramática, porém, utilizando de uma abordagem transformada, pode ser percebida na posterior Love Takes All. Enquanto os versos se aprofundam nas dores e prazeres de um amor, arranjos cuidadosamente trabalho servem de complementos aos vocais sempre calculados de Glenn-Copeland. Um lento desvendar de informações que ainda serve de preparativo para a crescente People of the Loon, um dos pontos fortes do registro. Pouco menos de cinco minutos em que metais, coros, pianos e batidas parecem trabalhados de forma a potencializar as vozes densas e sentimentos incorporados pelo artista.
Com a chegada de Stand Anthem, quinta faixa do disco, todos esses elementos previamente revelados pelo compositor ganham nova formatação, crescem e transportam o ouvinte para um novo território criativo. Da percussão tribal ao uso complementar das vozes e bases fortes, cada mínimo componente assume uma posição de destaque dentro da canção. Entretanto, como indicado logo nos minutos iniciais, a grande beleza do registro está na capacidade de Glenn-Copeland em perverter qualquer traço de conforto, vide a mudança de direção imposta pela faixa-título, um soul colossal que parece resgatado da década de 1970.
Passado esse momento de maior comoção, Glenn-Copeland desacelera consideravelmente em Prince Caspian’s Dream. Mais do que um respiro momentâneo e talvez livre da sensação de impacto que marca o restante do trabalho, a faixa funciona como um aceno para as ambientações testadas pelo artista no já citado Keyboard Fantasies. É como se uma fina tapeçaria instrumental caísse sobre o disco, estrutura que projeta de forma ainda mais sensível na canção seguinte, Lakeland Angel, música que partilha de um série de elementos previamente apresentados em Love Takes All, mas que convence por meio das emoções.
Partindo desse direcionamento climático, Glenn-Copeland abre passagem para a faixa de encerramento do trabalho, No Other. Assim como as composições que a antecedem, a música parte de uma base pré-estabelecida, porém, ganha novos contornos e cresce na colorida sobreposição dos elementos. São vozes que se conectam aos cantos ritualísticos da canção de abertura e, mais uma vez, se completam pelo uso da percussão, texturas e bases sintéticas, proposta que não apenas traz de volta uma série de componentes testados ao longo do registro, como ainda apontam para diferentes fases na carreira do norte-americano.