O power trio britânico The Jimi Hendrix Experience era a grande sensação do rock mundial na virada de 1967 para 1968. Seu vocalista e guitarrista, o norte-americano Jimi Hendrix, assombrou o mundo e deixou a todos perplexos com a sua maneira completamente inovadora de tocar guitarra elétrica. Ele praticamente reinventou a maneira de tocar esse instrumento musical. Além das apresentações arrasadoras nos palcos, o power trio contava com dois álbuns de estúdio no currículo, os elogiados Are You Experienced e Axis: Bold As Love, ambos lançados em 1967.
As gravações do material para o terceiro álbum começaram em julho de 1967, antes mesmo do lançamento do segundo álbum Axis: Bold As Love, que ocorreu em outubro daquele ano. O processo de gravação passou por algumas interrupções por causa das turnês do trio, mas retomado sempre quando possível. As gravações ocorreram em estúdios diferentes como o Olympic Studios, em Londres, o Mayfair Studios e o Record Plant Studios, os dois últimos em Nova York. No entanto, boa parte do material foi gravado no Record Plant Studios, na época recém-inaugurado e que se tornaria mais tarde um dos mais importantes estúdios de gravação do mundo, local onde algumas das maiores estrelas da música gravaram discos antológicos do rock como Imagine (1971), de John Lennon, School's Out (1972), de Alice Cooper, Rumours (1977), do Fleetwood Mac, Parallel Lines (1978), do Blondie, She's So Unusual (1983), de Cyndi Lauper, dentre tantos outros.
Detalhe da capa de Axis: Bold As Love, segundo álbum da The Jimi Hendrix Experience.
À medida em que o processo de gravação de Electric Ladyland avançava, a relação entre Jimi Hendrix Experience e o seu produtor e empresário Chas Chandler, se tornava insustentável. Chandler discordava do perfeccionismo excessivo de Hendrix nas gravações, além de não tolerar o entra e sai de amigos convidados do guitarrista no estúdio, tonando o ambiente de gravação do álbum tumultuado. O produtor acabou não só abandonando a produção do álbum, como cortou relações profissionais com Hendrix deixando de ser seu empresário. Hendrix assumiu sozinho a produção, o que permitiu a ele ter maior liberdade na condução do novo trabalho.
O perfeccionismo exagerado de Hendrix e o ambiente caótico no estúdio de gravação não haviam incomodado somente Chandler. Noel Redding, baixista da Jimi Hendrix Experience, se mostrava irritado com o excesso de preciosismo do guitarrista e com a bagunça durante as gravações. As relações entre Hendrix e Redding estavam tão abaladas que o baixista chegou a se ausentar de propósito de algumas gravações, levando o guitarrista a tocar as linhas de baixo. Redding passou a se dedicar mais à Fat Mattress, uma banda em que Redding tocava paralelamente à sua carreira na Jimi Hendrix Experience. Era o começo do fim de um dos mais poderosos power trios que o rock já produziu.
Se Redding não aguentou o perfeccionismo de Hendrix nas sessões de gravação de Electric Ladyland, o baterista da Jimi Hendrix Experience, Mitch Mitchell, parece ter suportado muito bem. Só para a faixa “Gypsy Eyes”, foram gravados nada menos que 50 takes durante três sessões, tudo isso para que a faixa ficasse do jeito que Hendrix havia imaginado.
O trio The Jimi Hendrix Experiencee e Chas Chandler (último à direita).
Dentre os amigos de Jimi Hendrix que participaram das sessões caóticas de gravação de Electric Ladyland e que tanto irritaram Chas Chandler e Noel Redding, figuras ilustres como Steve Winwood e Chris Wood (os três da banda Traffic), Dave Manson (recém saído do Traffic), Brian Jones (dos Rolling Stones), Al Kooper e mais outros músicos de alto nível que participaram das sessões de gravação que eram praticamente uma farra.
Para ajudar a dar vazão à liberdade criativa de Jimi Hendrix na produção de Electric Ladyland duas figuras foram importantes, os engenheiros de som Eddie Kramer e Gary Kellen (1939-1977). Os dois foram fundamentais para que o álbum obtivesse uma sonoridade psicodélica arrojada e diferenciada. Kramer já havia trabalhado nos dois discos anteriores da Jimi Hendrix Experience no processo de mixagem. Gary Kellen, além de proprietário da Record Plant Studios, foi responsável também pela mixagem de Electric Ladyland e pelos efeitos de phasing, uma técnica de estúdio no processo de gravação que cria efeitos de altos e baixos no som, indo e voltando de um canal ao outro. Efeitos como esses estão presentes em abundância em Electric Ladyland, principalmente nos solos de guitarra de Jimi Hendrix, dando todo um caráter psicodélico à sonoridade do instrumento.
Enquanto o processo de gravação de Electric Ladyland chegava ao final e Hendrix estava no exterior em mais uma turnê com a The Jimi Hendrix Experience, a gravadora britânica Track Records, da qual o power trio era contratado, começava a preparar a capa do álbum. A gravadora convocou o fotógrafo Dave Montgomery, que fez uma sessão de fotos com um grupo de dezenove mulheres nuas na capa e contracapa, algumas delas segurando fotos de Jimi Hendrix. E foi com a foto em capa dupla com as dezenove garotas nuas que Electric Ladyland chegou às lojas britânicas em 16 de outubro de 1968. A capa do álbum chocou a opinião pública na época, causou o maior escândalo. Algumas lojas chegaram a recusar vender Electric Ladyland. Por incrível que pareça, Hendrix e seus companheiros de banda, não sabiam da ideia da capa. Particularmente, Hendrix detestou a capa.
A polêmica capa da edição britânica de Electric Ladyland com mulheres nuas.
Para o lançamento da edição norte-americana de Electric Ladyland, Hendrix tomnu a iniciativa de escrever uma carta para a Reprise Records, gravadora responsável pelos lançamentos dos discos da The Jimi Hendrix Experience nos Estados Unidos. Na carta, Hendrix faz recomendações de como queria a capa do álbum, incluindo desenhos rascunhados. Entre as ideias rabiscadas para a capa e contracapa, bem como para a parte interna da capa dupla, estava a de trazer na frente da capa, a foto do power trio acompanhado de um grupo de crianças junto a uma escultura de Alice no País das Maravilhas, no Central Park, em Nova York. Inclusive, as fotos já estavam prontas, a cargo da fotógrafa Linda Eastman, futura esposa do beatle Paul McCartney.
Contudo, as recomendações de Hendrix para a capa foram ignoradas pela Reprise Records. A edição norte-americana de Electric Ladyland chegou às lojas com uma imagem da cabeça de Jimi Hendrix, em tons alaranjados e avermelhados, ao invés da foto da banda com as crianças no Central Park, conforme o guitarrista havia pedido em carta. Apenas a parte interna da capa dupla seguiu o pedido de Hendrix. Apesar das confusões e dos escândalos envolvendo as diferenças da capa, o conteúdo de Electric Ladyland foi o mesmo: as mesmas faixas, a mesma sonoridade da música da The Jimi Hendrix Experience.
Foto que seria a capa da edição norte-americana de Electric Ladyland, mas que não foi aproveitada. A foto foi utilizada a capa da caixa especial dos 50 anos de Electric Ladyland em 2018.
Quem abre o lado do A do primeiro disco do álbum duplo é “...And The Gods Made Love”, faixa curta e cheia de efeitos de gravação como ruídos e vozes em baixa rotação que dão ao ouvinte uma sensação extraordinária. Segundo Hendrix, a ideia era retratar musicalmente como seriam os deuses fazendo amor.
A segunda faixa, "Have You Ever Been (To Electric Ladyland)", é um canção romântica e sensual em que Hendrix canta em falsete como se fosse um cantor de soul music. Ao invés de Noel Redding, quem toca o baixo é o próprio Hendrix, que toca também a guitarra. Redding se mostrava insatisfeito durante as gravações do álbum com o excesso de perfeccionismo de Hendrix, chegando a não participar de algumas faixas. Na bateria, o talentoso Mitch Mitchell.
Em "Crosstown Traffic", o power trio está completo com a guitarra de Hendrix afiada como sempre. O ritmo da bateria transita entre o blues rock e o nascente funk. Hendrix canta acompanhado de Noel Redding e Dave Mason nos vocais de fundo.
Fechando o lado A do primeiro disco, o blues “extraterrestre” “Voodoo Chile”, a faixa mais longa do álbum (cerca de 15 minutos de duração). “Voodoo Chile” foi inspirada na linha melódica de “Rollin’ Stone”, um blues de 1950 de Muddy Waters (1913-1983). Nota-se a influência dos mestres do blues como Waters, John Lee Hooker (1917-2001) e B.B.King (1925-2015) no estilo de Hendrix fazer blues. A gravação desta faixa ocorreu ao vivo no estúdio da Record Plant em clima de jam session. Hendrix teria voltado de um clube noturno e foi direto para o estúdio com cerca de vinte convidados para gravar essa música. Entre os amigos, estavam alguns rock stars como Steve Winwood (do Traffic), Jack Casady (do Jefferson Airplane). Hendrix e Winwood parecem fazer um “duelo” entre guitarra e órgão Hammond, enquanto Casady e Mitch Mitchell na retaguarda, respectivamente no baixo e na bateria. A faixa é um verdadeiro deleite para quem gosta de músicos talentosíssimos mostrando as suas habilidades nos seus instrumentos.
Muddy Waters e a sua "Rollin' Stone" inspiraram "Voodoo Chile".
O lado B do primeiro disco começa com “Little Miss Strange”, faixa acessível e de refrão fácil, cuja letra é de Noel Redding, que além de tocar o baixo, divide os vocais com o baterista Mitch Mitchell. Hendrix concentra-se na sua guitarra, fazendo solos com os efeitos de pedal, variando entre o fuzz e o wah-wah. “Long Hot Summer Night” é um rock com vocais de soul music de Hendrix, que conta com a participação especial de Al Kooper ao piano.
“Come On (Let The Good Times Roll)” é mais uma regravação presente em Electric Ladyland, tratando-se de uma canção originalmente gravada por Earl King em 1960. A versão original é mais lenta e os arranjos mais polidos, enquanto que a versão da Jimi Hendrix Experience é mais rápida e “sujo”. Os solos de guitarra de Hendrix são bem distorcidos e o baixo é robusto e pulsante.
O blues rock “Gypsy Eyes”, apesar de contar apenas com baixo, guitarra e bateria, foi a faixa mais trabalhosa do álbum. A cada take gravado, Hendrix mostrava-se insatisfeito com o resultado, levando a faixa a ter cerca de 50 takes. O fato teria irritado o baixista Noel Redding que abandonou as gravações. Hendrix acabou assumindo ele mesmo o baixo, além de fazer os vocais e o som da guitarra. O perfeccionismo exagerado resultou numa das melhores faixas do álbum: baixo, guitarra e bateria em perfeita sintonia com os vocais de Jimi Hendrix, guitarras cheias de efeitos de phasing, recurso técnico desenvolvido em estúdio que permite que o som transite entre um canal e outro como num zigue-zague sonoro. A faixa é um belo misto de blues rock e rock psicodélico.
O baixista Noel Redding (esquerda) abandonou a The Jimi Hendrix Experience por causa do excesso de perfeccionismo de Hendrix e o ambiente agitado e tumultuado pelos convidados do guitarrista nas sessões de gravação de Electric Ladyland.
"Burning Of The Midnight Lamp" teria sido uma das primeiras músicas em que Jimi Hendrix experimentou os efeitos do pedal wah-wah na sua guitarra numa gravação. Com uma letra cheia de metáforas (o que era comum nas canções de Hendrix) e um grau de melancolia nos versos, Jimi Hendrix contou com a participação especial do grupo vocal Sweet Inspirations nos vocais de apoio que deram um tom celestial nas vocalizações de fundo da canção.
“Rainy Day, Dream Away” abre o lado A do segundo disco do álbum duplo. Boa parte da música parece um longo improviso: onde Hendrix faz solos blueseiros na sua guitarra, o músico convidado Freddie Smith empresta o seu talento nos solos de saxofone em tons jazzísticos. Uma saborosa percussão faz o acompanhamento. Na segunda metade da faixa, já na reta final é que Hendrix começa a cantar.
Segunda faixa mais longa de Electric Ladyland, “1983... (A Merman I Should Turn To Be)” conta com a participação especial de Chris Wood, do Traffic, tocando flauta. É mais uma faixa sem Redding, e consequentemente, mais uma com Hendrix no baixo. A letra metafórica da faixa cria todo um cenário surrealista na imaginação do ouvinte. No meio da faixa, uma longa sessão de improviso: Mitch Mitchell mostrando as suas habilidades como baterista e deixando veia jazzística como músico, além da flauta de Wood e dos solos de guitarra de Hendrix.
“Moon, Turn The Tides...Gently Gently Away” encerra o lado A, faixa curta e cheia de efeitos sonoros que dá ao ouvinte a sensação de estar dentro de uma cápsula espacial viajando no espaço sideral.
“Still Raining, Still Dreaming” é uma recriação de “Raining Day, Dream Away”. A diferença é que “Still Raining, Still Dreaming” é mais livre. Os solos de guitarra abusam dos efeitos de pedal wah-wah. O órgão executado pelo tecladista Mike Finnigan, faz um ótimo pano de fundo na música para Hendrix solar livremente com a sua guitarra.
Com solos fantásticos de guitarra na introdução, “House Burning Down” é um rock psicodélico com uma levada rítmica funk. Hendrix põe a guitarra para “gemer” em solos agressivos e “sujos”.
A faixa seguinte, “All Along The Watchtower”, é provavelmente a principal faixa de Electric Ladyland. Trata-se de uma de uma canção de Bob Dylan, regravada pela Jimi Hendrix Experience poucos meses depois que a versão original foi lançada com o álbum John Wesley Harding, de Dylan. A introdução da versão da Jimi Hendrix Experience se tornou antológica. Hendrix toca baixo e fez solos absurdos na sua guitarra, enquanto Mitchell ataca na bateria. Dentre os convidados para gravação desta faixa, participaram Dave Mason tocando um violão de 12 cordas, nada mais nada menos que Brian Jones, dos Rolling Stones, no vibrascap, um instrumento percussivo que produz um som parecido com o de uma queixada.
Bob Dylan teve a sua canção "All Along The Watchtower" recriada definitivamente por Jimi Hendrix.
Fechando com chave de ouro Electric Ladyland, “Voodoo Child (Slight Return)”, uma recriação lisérgica de “Voodoo Chile” na qual o power trio está completo. A faixa mistura blues rock, psicodelia e uma levada funk. Hendrix presenteia o ouvinte com solos de guitarra explosivos e alucinantes, carregados de efeitos de pedal.
Apesar do longo período de produção que durou quase um ano devido aos intervalos para turnês e ao excesso de perfeccionismo de Jimi Hendrix durante as arrastadas sessões de gravação, o tão aguardado Electric Ladyland foi lançado em outro de 1968. Recebeu elogios de alguns críticos musicais, mas causou um estranhamento numa outra parcela da imprensa musical na época de seu lançamento. Porém, alcançou melhor reputação e reconhecimento com o passar dos anos.
Electric Ladyland alcançou o 1º lugar nas paradas de álbuns dos Estados Unidos, enquanto que no Reino Unido foi 6º lugar. O álbum duplo rendeu três singles: “All Along The Watchtower” (5º lugar na para de singles do Reino Unido e 20º lugar na para de singles da Billboard 200, nos Estados Unidos), “Crosstown Traffic” e “Voodoo Child (Slight Return)”. Este último no entanto, trouxe na capa do single o título “Voodoo Chile”, quando na verdade era vir registrado “Voodoo Child (Slight Return)”.
Apesar da razoável receptividade, as relações entre Jimi Hendrix e Noel Redding que já vinham abaladas desde o período das gravações de Electric Ladyland, tornaram-se insustentáveis e a Jimi Hendrix Experience acabou em meados de 1969. Redding deu prosseguimento com a banda Fat Mattress que ele mantinha paralelo à carreira com a Experience, enquanto que Hendrix e Mitchell montaram uma banda nova, a Gypsy Sun And Rainbows, que contou ainda com Billy Cox no baixo, Larry Lee na guitarra base, e Juma Sultan e Jerry Velez na percussão, formação essa que se apresentou no Festival de Woodstock, em agosto de 1969. A formação durou pouco, e em outubro do mesmo ano, Hendrix montou outra banda no formato power trio novamente, com Billy Cox no baixo e um novo baterista, Billy Miles.
Sob o nome Band Of Gypsys, a banda lançou em março de 1970, um álbum gravado ao vivo no Fillmore East, em Nova York. A Band Of Gypsys também teve uma vida curta, e ainda em 1970, cogitou-se o retorno da Experience, porém o máximo que aconteceu foi o retorno de Mitch Mitchell à bateria no lugar de Miles, dando origem à Cry Of Love. Durante o restante do ano de 1970, Hendrix excursionou com a Cry Of Love. Em agosto daquele mesmo ano, Hendrix e a Cry Of Love tocaram no Festival da Ilha de Wight. No mesmo mês, Hendrix inaugurou o seu tão desejado estúdio particular de gravação, a Electric Lady Studios, em Nova York, que custou um milhão de dólares, mas desde junho, ele já vinha experimentando o estúdio. O guitarrista tornava-se o primeiro astro do rock a ter o seu próprio estúdio.
Jimi Henrdrix e o produtor Eddie Kramer (á direita), no recém inaugurado estúdio Electric Lady, em 1970.
Jimi Hendrix teve pouco tempo para desfrutar da sua nova conquista. Hendrix morreu em 18 de setembro de 1970, asfixiado pelo próprio vômito provocado pela ingestão exagerada de barbitúricos.
Em 2018, Electric Ladyland ganhou um relançamento comemorativo aos 50 anos do álbum com uma caixa especial que reúne três CD’s (CD-1 com o álbum original; CD-2 com 22 gravações inéditas das sessões de gravação do álbum; CD-3 show gravado ao vivo da The Jimi Hendrix Experience no Hollywood Bowl, em setembro de 1968), um Blu-ray e um livreto com textos e fotos. Disponibilizaram também a versão da caixa especial com 6 LP's, mais um Blu-ray e um livreto.
The Jimi Hendrix Experience:
-Jimi Hendrix (vocal, guitarra, piano, baixo (nas faixas 2, 6, 8, 11,14 e 15))
-Noel Redding (vocais de fundo e baixo (nas faixas 3, 5, 7, 9,16), violão e vocal principal na faixa 5)
-Mitch Mitchell (bateria, exceto nas faixas 10 e 13).
No próximo dia 26 de janeiro, um dos maiores nomes do rock gaúcho, e por que não nacional, estaria completando 50 anos. Trata-se de Flávio Basso, ou Júpiter Maçã, como ficou conhecido nos anos 90. Baixista de mão cheia, vocalista de entrega com performances de palco malucas, e um letrista incrível, Júpiter é uma referência no rock gaúcho, ao lado de nomes como Wander Wildner, Humberto Gessinger e Thedy Corrêa. Combinando com isso, o mês de janeiro é aquele onde a maioria dos jovens adolescentes curte uma praia (veraneia, como se diz por aqui). Na minha infância/adolescência, as músicas de um dos grupos que Fábio ajudou a criar tocavam direto lá em casa.
Fundado em 1984 por Flávio Basso (guitarra, vocais), Charles Master (guitarra, vocais), Márcio Petracco (baixo, vocais) e Alexandre Birck (bateria), o grupo logo em seguida ganhou a adição do guitarrista Nei Van Soria. Como quinteto, duraram pouco, pois Márcio pulou da barca, e Flávio assumiu o baixo. Nascia assim a formação que grava duas faixas para a coletânea Rock Grande do Sul (1986), as quais são “Estou na mão” e “Entra nessa”, os únicos registros do TNT com Flávio, que saiu da banda logo em seguida, junto com Nei Van Soria, para formar Os Cascasvelletes (que também merecem uma Discografia Comentada). Com Márcio “Petralha” Petracco de volta, e Luis Henrique “Tchê” Gomes nas guitarras, além de Master e Felipe Jotz na bateria, surge o primeiro disco da banda.Quatro álbuns, dois deles clássicos fundamentais nos botecos, praças e esquinas do Rio Grande do Sul, e muitas músicas para serem tocadas em luaus Brasil à fora, com o refrão na ponta da língua e a alegria de uma das grandes bandas de rock do nosso país.
Sendo assim, aproveito a nostalgia e a data para homenagear tanto a Flávio/Júpiter quanto o seu primeiro grande grupo, TNT. Ok, os mais xiitas irão dizer: “Mas bah, se não fosse o Charles Master, nunca haveria tido TNT” e “O Júpiter nunca gravou um disco completo com o TNT“, mas isso é o de menos.
TNT [1987]
A estreia full lenght dos “beatles dos pampas” é uma aula de rock ‘n’ roll para se dançar nas festas e bares durante toda a vida. Com inspirações nos primórdios do rock (anos 50 e 60 principalmente), pitadas de blues, letras de duplo sentido e muito feeling, aqui temos clássicos eternos do BRock. As letras falando sobre sexo, curtição, bebidas e tudo o mais que a vida desregrada de um jovem roqueiro pode ter, obviamente simbolizaram aos jovens daquela geração uma forma de se expressar. De cara, dois grandes clássicos, “Ana Banana” e “Cachorro Louco”, até hoje hinos no rock gaúcho. Do mesmo porte, estão “Entra Nessa” e “Identidade Zero”, rockabillies sensacionais, com letras engraçadíssimas, “Febem”, com um piano estonteante, a baladinha “Me Dá O Cigarro”, e a linda rock ballad “Oh Deby”, que criaram uma nova definição para a turma do Bonfim (tradicional bairro boêmio de Porto Alegre), que curtia os fins de semana na Redenção: a “chinelagem”. Dance ao som de “Desse Jeito” e “Liga Essa Bomba”, vibre com a gaitinha de boca de “Estou na Mão”, enlouqueça com “Ratiação” e grite com força para sua ex o título de “Não Quero Mais Te Ver”. Disco seminal na história do rock nacional, no qual todas as canções são composições de Flávio e Charles. A capa é inspirada em Power, Corruption & Lies, lançado pelo New Order em 1983, apesar de o som ser totalmente distinto. O desafio para o segundo disco, sem Flávio para auxiliar, foi grande. Mas os guris conseguiram superar o mesmo no ano seguinte.
TNT II [1988]
A parceria “Tchê” Gomes e Charles Master apresenta um som mais maduro em relação ao álbum anterior. Logo na primeira faixa, “Não Vai Mais Sorrir (Pra Mim)”, com a participação especial de Lulu Santos, podemos ver que o grupo está afim de crescer, com a inclusão do slide guitar em evidência. O slide também surge no leve country “Ela Me Deu O Bolo”. Outro ponto que chama a atenção nesse crescimento são os solos de guitarra, que ficaram mais elaborados e profissionais, vide “Baby (Eu Vou Morar N´outro Planeta)”, essa inclusive com um pequeno solo de bateria, “Dentro Do Meu Carro”, com o wah-wah comendo solto, e “Muito Cuidado”. O baixo de Master é uma das grandes atrações, com “Gata Maluca” e a ótima “Tempo No Inferno” sendo exemplos de como colocar o baixo na cara do ouvinte, sem extrapolar. Sem dúvidas, é uma marca registrada no som do TNT, assim como seu vocal escrachado. Das lembranças do primeiro álbum, temos o rock “Charles Master”, destacando o piano e as vocalizações femininas, e o jazz rock “Veja Amor”. Os grandes sucessos de TNT II ficaram para o rockabilly “Alazão”, com sua letra engraçada pacas, a balada “Irmã do Dr. Robert”, que inclusive levaram-os a apresentarem-se no programa global Globo de Ouro, e o mega-sucesso dos pampas “Não Sei”, inspirada nos riffs de “Sweet Jane” (Velvet Underground) e única composição do quarteto em conjunto, a qual é cantada até hoje nas diversas festas realizadas por jovens, adolescentes e adultos que viveram o final dos anos 80 no Rio Grande do Sul. Tão fundamental quanto TNT, TNT II é o álbum de maior sucesso dos gaúchos.
Noite Vem, Noite Vai [1991]
Depois de algumas brigas internas. uma reformulação na formação, com a saída de Felipe e a entrada de Paulo Arcari, uma breve pausa para se recuperar do estrondoso sucesso dos dois primeiros discos é necessária. O TNT volta à ativa em 1990, agora como um quinteto, tendo João Maldonado nos teclados. Assim, lançam Noite Vem, Noite Vai, em 1991. Com letras mais reflexivas, sem a alegria infantil de TNT e TNT II, temos aqui uma visão forte do pop que Master desejava seguir dali em diante. Faixas como “Amigo Meu”, o blues da faixa-título, “Paz no Seu Coração” e “Quem Procura Acha”, a primeira com um belo solo de slide, e as duas últimas com a participação destacada do órgão hammond de Maldonando, fogem do padrão de dois/três minutos que tínhamos até então, mas são boas canções. Curto mesmo o embalo setentista de “Daqui Pra Frente”, o solo de guitarra em “Não Tenho Medo Da Vida”, e o ritmo roqueiro de “Vacilou”, uma das raras lembranças do passado festivo do TNT. A banda conseguiu emplacar mais um grande sucesso nas rádios gaúchas, a bela “Nunca Mais Voltar”, com o riff sensacional do slide de Marcio, e o sensacional blues “Deus Quis”, faixa que considero a melhor de Noite Vem, Noite Vai. Por outro lado, “Estou Louco Por Você” parece saída de ensaios de alguma banda obscura do BRock oitentista, e não faria falta no track list final. Trocando em miúdos, é um álbum aquém de seus antecessores, mas ainda assim, importante para a geração roqueira do sul do país.
Em 1992, “Tchê” deixa o TNT. Na mesma época, Flávio sai dos Cascavelletes e volta para o seu grupo de origem, mas infelizmente, a tentativa de reviver os primórdios do TNT é frustrada devido a brigas e divergências musicais. Ficou como registro o single “Você Me Deixa Insano”/”Tá Na Lona”, sendo a primeira incluída também na coletânea As 15 mais da Ipanema, da rádio Ipanema de Porto Alegre, e que tornou-se outro pequeno sucesso do TNT no sul. A banda encerra as atividades em 1994, com Charles e Flávio, agora rebatizado de Júpiter Maçã, seguindo em carreira solo, enquanto Marcio fundou o Cowboys Espirituais, ao lado de outros grandes nomes do rock gaúcho (Frank Jorge e Julio Reny), e Luiz Henrique seguiu tocando em diversas bandas de Porto Alegre e região. Em 1999, é lançada a coletânea Hot 20, com 20 canções do grupo e que apresentou-os para a geração dos anos 90.
Em 2002, o TNT voltou a fazer shows em Porto Alegre, tendo na formação Charles, Luiz Henrique, Márcio e Fábio Ly na bateria. Esses shows culminaram com o CD e DVD Ao Vivo (2004), gravado no bar Electric Circus, em Portão, Rio Grande do Sul, no dia 13 de setembro de 2003, e com a participação de Luciano Albo (violão de 12 cordas, vocais), Alexandre Papel Loureiro (percussão, backing vocals), Roberto Scopel (trompete) e Carlos Mallman: (trombone). Na sequência, Marcio sai da banda, e como um trio, mais um novo álbum de estúdio do TNT vem em 2005.
Um Por Todos Ou Todos Por Um [2005]
O derradeiro disco do TNT é uma tentativa interessante de reviver o passado. Há a participação de Henrique Portugal nos teclados de “Contigo”, “Bicho Esquisito” e “Mais Menos”. Logo no início, as vocalizações e o riff de “Por Enquanto” nos remetem ao primeiro álbum. Gosto do blues arrastado de “Mais Menos”, e de “Ao Redor”, “Contigo” e a bela “O Quanto Antes”, as duas últimas com a participação de Luciano Albo no baixo, pela pegada mais oitentista e as letras de amor que fazem sentido para os já adultos “guris do TNT”, do suingue de “Bicho Esquisito” e do slide no rockabilly “Se Quer Saber”. No mais, o som é um tanto cru, faltando uma produção mais rica. Isso pode ser percebido seja nas canções já citadas, e em faixas como “Quando A Noite Vem”, “Ondas Legais” e a regravação de “Tá Na Lona” , que apesar de serem legais para curtir, faltam de um certo “tempero” para vingar no paladar do ouvinte, como se tudo tivesse sido gravado em um estúdio caseiro. “Ondas Legais” inclusive tocou um pouco nas rádios, mas não deu certo. “A Chuva”, “Histórias Felizes” e “Juro Que Não”, apesar da boa participação da guitarra de “Tchê” Gomes, não são das mais agradáveis. Ao encerrar a audição de Um Por Todos Ou Todos Por Um, fica uma sensação de que o TNT viajava nas ondas de outros nomes em voga no rock gaúcho da época, como Bidê O Balde, Acústicos e Valvulados ou Cachorro Grande. É um disco interessante, que fecha com dignidade uma carreira brilhante e meteórica.
Em 2012, Charles, Luis Henrique e João Maldonado, juntos de Régis Sam (baixo) e Bruno Suman (bateria e percussão) gravaram a faixa “Do Teu Sorriso Vou Lembrar, Porto Alegre”. A expectativa de que o TNT fosse voltar não ficou além disso. Charles Master ainda faz shows pelo Rio Grande do Sul. Márcio Petralha e “Tchê” Gomes são músicos em Porto Alegre, e Flávio “Júpiter Maçã”Basso foi viver em outra galáxia espiritual em dezembro de 2015.
Prog sinfônico com vocais semelhantes aos de antigas bandas alemãs como Neuschwanstein. No entanto, uma faixa instrumental chamada Brook é tão interessante, musical e progressivamente quanto possível, e nas últimas semanas eu a ouvi repetidas vezes:
O instrumental de Gutterflies também é um maravilhoso rock progressivo clássico, do segundo álbum:
Mais uma vez, estou muito envergonhado de dizer que nunca ouvi falar desses caras antes. Obviamente, há centenas de pessoas que se conhecem, no entanto, por meio de resenhas e coleções de rimas ...
O primeiro álbum começa um pouco hesitante na minha opinião com música programática, sem títulos para as faixas, explorando algumas composições instrumentais de câmara que são criativas, mas relativamente simples, talvez como o antigo Camel, exceto que faltam instrumentos elétricos, temas cuidadosamente explorados e melodias, mas sem muita energia ou criatividade (desculpe dizer). Descobri que, mesmo depois de repetidas audições, não havia nenhuma seção deste trabalho que ficasse na minha memória.
O segundo , porém, simplesmente surpreende com a incorporação total da fusão, na verdade a primeira parte deste trabalho é até chamada de Soft Machine, enquanto o terceiro álbum vacila um pouco em comparação ao seu antecessor, embora ainda tenha algumas passagens incrivelmente bem compostas. .
Do segundo CD, a primeira parte da suíte Soft Machine irá chocá-lo absolutamente se você ainda não ouviu essa banda:
E a partir do terceiro CD, a canção de ninar é doce, mas talvez não tão ferozmente progressiva quanto gostaríamos:
Em termos de composições mais eletrificadas, do terceiro álbum, esta passagem da suíte Vesikko com certeza impressionará:
Perfil: Cantor/compositor e ator britânico (n. 16 de junho de 1944).
Como todos os álbuns SSW deste período, você terá uma mistura um pouco estranha de music hall (pense em " Maxwell's Silver Hammer "), coisas de blues, imitações de sucessos pop dos anos 30, etc., todos aqueles pastiches picados dos Beatles como Uncle Albert com músicas diferentes misturadas em uma, e depois algumas composições boas, normais e típicas de compositores. Além disso, bônus, você também tem algumas músicas realmente criativas e interessantes, e é por isso que incluo este post neste blog.
Aparentemente a faixa Pinball fez um pouco de sucesso no Reino Unido naquela época, que surpresa, já que parece muito simplista (a música simplesmente alterna entre os dois acordes de Ré menor e G7) e a letra é totalmente boba, até inventada em o local, para nos impressionar hoje. Por outro lado, ele era capaz de composições bastante inventivas, como testemunhado pela estranheza, e pela auto-reflexão de Richard Sinclair em Changing my Tune :
Weeping Will , do segundo álbum Pickup:
Do terceiro álbum, Evil Eye me lembra nossos velhos pompers AOR favoritos, Baby Grand, com acordes cortados e linhas de guitarra elétrica entrelaçadas:
Embora valha a pena ouvir a demo Sail do CD mais recente, sem dúvida, com sua mudança de acordes descendente notavelmente única:
Para ser honesto, este último CD é muito melhor do que eu esperava, com algumas passagens realmente adoráveis, incluindo as novas músicas originais, e assim como antes das letras muito auto-reflexivas aparecerem:
" O velho senta ao piano... os acordes em sua mão não são o que ele planejou... ele se lembra de quando o mundo tinha uma melodia diferente... "
Altamente recomendado!! É chocante que Brian tivesse quase 80 anos neste último CD (Nascido em 1944).