quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Discografias Comentadas: Mercyful Fate (Parte I)

 Discografias Comentadas: Mercyful Fate (Parte I)

Durante os meses de janeiro e fevereiro, o blog estará de férias! Por isto, estaremos publicando novamente as matérias mais acessadas em cada mês destes dois anos de Consultoria do Rock, sempre às terças, quintas e sábados. Além disso, a seção Discografias Comentadas será quinzenal durante este período, mantendo-se na sua data tradicional de domingo. Voltaremos à nossa programação normal em março, desejando um Feliz 2013 a todos os nossos leitores, com muito “rock and roll all night, and party every day” durante este ano!

Surgido na Dinamarca em 1981, com músicos oriundos de grupos como Brats, Black Rose e Danger Zone, o Mercyful Fate tornou-se, com o passar dos anos, uma das bandas mais influentes do cenário do Heavy Metal mundial. Após algumas demos, foram convidados a participar da coletânea Metallic Storm em 1982, com a música “Black Funeral”, que veio a ser sua estreia em vinil. Logo depois, com a formação estabilizada em King Diamond (vocais), Hank Shermann e Michael Denner (guitarras), Timi Hansen (baixo) e Kim Ruzz (bateria), conseguiram um contrato para a gravação de um EP. Era o começo da trajetória de uma das mais importantes bandas dinamarquesas da história, além de ser das mais polêmicas também. Trajetória esta que você confere a partir de agora no Discografias Comentadas!


  Mercyful Fate EP [1982]

Também conhecido como Nuns Have No Fun, o primeiro EP tem apenas quatro músicas, mas já deixava claro o potencial daquele então novato grupo. O riff e o solo que abrem “Doomed by the Living Dead” (bem como o restante da faixa) e a fúria de “A Corpse Without Soul”  fizeram com que estas duas canções se tornassem clássicos da carreira do Mercyful Fate. A também excelente “Nuns Have No Fun” e a mais cadenciada “Devil Eyes” acabam sendo mais esquecidas pelos fãs, mas também possuem muitas qualidades. As letras de cunho anti-cristão ou de temática obscura (e por vezes lembrando a atmosfera dos filmes de terror), os solos e riffs da dupla de guitarristas e, principalmente, os vocais de King (indo do mais alto falsete ao próximo do gutural com facilidade, em um ponto que sempre foi algo tipo “ame ou odeie” na carreira da banda) acabaram conquistando muitos seguidores, e abriram caminho para o primeiro full lenght no ano seguinte.
 Melissa [1983] 
 
Apenas sete faixas foram o suficiente para gravar o nome do Mercyful Fate como um dos mais importantes do Heavy Metal mundial. Lançadas no mesmo ano dos discos de estreia do Metallica e do Slayer, canções como “Evil”, “Curse of the Pharaohs”, “Into the Coven”, “Black Funeral” e o épico “Satan’s Fall” conquistaram seguidores mundo afora, com seus riffs e solos impressionantes, e a temática sombria de suas letras, mantendo os tópicos obscuros e deixando ainda mais clara a filosofia satanista de King (que era, e ainda é, um seguidor de Anton La Vey, o fundador da Church Of Satan nos EUA). A longa e atmosférica faixa título tomou o nome de um crânio humano real que King usava durante suas apresentações, e que acabou roubado durante a turnê do disco. “At the Sound of the Demon Bell” acaba sendo a canção menos lembrada deste debut, mas também tem bastante qualidade, com muitas variações. Em 2005, foi lançada uma edição remasterizada comemorativa aos vinte e cinco anos do álbum, com muitas faixas bônus e um DVD extra. Melissa é um dos clássicos do Heavy Metal, e, se você gosta do estilo e nunca o escutou, compense esta falha imediatamente!
 
Don’t Break the Oath [1984]
 
Com o próprio tinhoso na capa avisando para “não quebrar o juramento”, e ainda mais trabalhado em termos de arranjos, Don’t Break the Oath é considerado por muitos como o ponto alto da carreira do Mercyful Fate. Embora eu prefira o primeiro álbum, é impossível não reconhecer a qualidade de faixas como “A Dangerous Meeting”, “Nightmare”, “Desecration of Souls”, “Gypsy” e “Welcome, Princess of Hell”. Lembro de ter este disco em vinil nacional, lançado, se não estou enganado, pelo selo Combat Records. A gravação era horrível, e fez com que eu me afastasse da banda por um bom tempo. Apenas na era do CD foi que descobri como este disco era bom, com a melhor sonoridade que as cópias neste formato trouxeram. Voltando ao track list, a assustadora “The Oath” tem em sua introdução teclados executados pelo próprio King Diamond, e “To One Far Away” é uma curta e triste peça instrumental com base feita pelo violão e apenas algumas vocalizações feitas por King, algo diferente na carreira da banda até então. “Night of the Unborn” é uma faixa que não é muito lembrada pelos fãs, e a clássica “Come to the Sabbath” encerra outro marco na carreira da banda e do Heavy Metal mundial. Audição obrigatória!
 
Mercyful Fate nos anos 80

 
The Beginning [1987] 
 
Reunindo as quatro faixas do primeiro EP ao lado B do single “Black Funeral” (a música “Black Masses“, um outtake do álbum Melissa) e a três faixas gravadas ao vivo para o programa “The Friday Rock Show”, da BBC Radio One (“Curse of the Pharaohs”, “Evil” e “Satan’s Fall“), esta é uma coletânea lançada pela gravadora Roadrunner após a dissolução do grupo em 1985. Para muitos, foi a primeira chance de ouvir o Mercyful Fate ao vivo, apesar de ser em um ambiente sem plateia como o do estúdio da rádio, e, só por isso, o álbum já mereceria certo destaque. A edição em CD (com uma capa diferente) ainda conta com a faixa bônus “Black Funeral”, presente na coletânea Metallic Storm, a estreia da banda em disco, que no encarte tem creditada a presença do guitarrista Benny Petersen (que na época estava no lugar que seria de Michael Denner), algo que, ao que consta, não ocorreu, pois Hank teria gravado todas as guitarras nesta faixa. The Beginning é um lançamento para completistas, mas altamente indicado àqueles que não conseguirem ter acesso ao raro EP de estreia na versão original. Confira sem medo!
 
Return of the Vampire [1992]
 
Outra coletânea, desta vez mais interessante que a anterior. Reunindo antigas demos do grupo (algumas com a presença efetiva do guitarrista Benny Petersen, no único disco oficial a contar com sua presença, outras ainda dos tempos do Brats, banda da qual King e Hank participaram), tem como curiosidades as versões originais de faixas como “Curse of the Pharaohs”, “A Corpse without Soul”, “Desecration of Souls” (aqui chamada “On a Night of Full Moon”), “A Dangerous Meeting” (ainda com  o nome “Death Kiss”) e “Return of the Vampire”, que só sairia oficialmente no disco In the Shadows, com um arranjo diferente. “Burning the Cross” era a única música do Mercyful Fate a não ter sido regravada depois, visto que as faixas que completam o track list (“Leave My Soul Alone“, “M.D.A.” e “You Asked for It”, que serviria de base para “Black Masses”, presente em The Beginning) faziam parte da demo tape do Danger Zone, um grupo formado por alguns membros do Mercyful, mas que existia em paralelo à banda, e tem um estilo diferente do característico som “malvado” dos dinamarqueses. Vale pela curiosidade de se ouvir uma banda ainda iniciante, mas já carregada de talento.
 
Mercyful Fate em 1983: Hank Shermann, Michael Denner, Timi Hansen, Kim Ruzz  e King Diamond (em uma de suas raras fotos sem maquiagem ou óculos escuros)
 

Durante a turnê de Don’t Break the Oath, especialmente após sua primeira passagem pelos EUA, Hank Shermann passou a ter outros gostos musicais, além de usar roupas brancas ou de cor clara no palco (em contraste com as cores escuras usadas pelos outros integrantes). Quando King e ele se reuniram para trabalhar no terceiro álbum do Mercyful Fate, ficou clara a incompatibilidade musical que os novos gostos de Hank haviam colocado entre os dois principais compositores da banda, e o vocalista decidiu por acabar com o grupo. Hank formou o Fate, com quem gravou vários discos, e King partiu para uma carreira solo, tendo a seu lado Michael Denner e Timi Hansen (o baterista Kim Ruzz, que não tinha um bom relacionamento pessoal com King e Michael, acabou virando carteiro). 

No começo dos anos 1990, Hank, Michael e Timi se uniram em um projeto chamado Lavina, que daria origem ao Zoser Mez, o qual inclusive chegou a lançar um disco. Denner convidou King para ouvir o material que ele preparava para o segundo álbum de sua nova banda, e o vocalista, ao ouvir as músicas, acabou achando a qualidade do material muito boa. Isto foi o estopim para a volta do Mercyful Fate, como você confere daqui a quinze dias na segunda parte desta Discografia Comentada: Mercyful Fate!

Discografias Comentadas: Mercyful Fate (Parte II)


Mercyful fate em 1993: Michael Denner, Snowy Shaw, Timi Hansen, King Diamond e
Hank Shermann


Em 1992, após ouvir as novas composições de Michael Denner para sua banda Zoser Mez (que também contava com Hank Shermann e Timi Hansen), o vocalista King Diamond propôs o retorno do Mercyful Fate. Após algumas ligações telefônicas, tudo estava pronto para a volta, a não ser a falta de um baterista (Kim Ruzz, que ocupou este posto nos primeiros discos, não foi sequer cogitado, pois não tinha uma boa relação pessoal com Denner e King). O amigo Morten Nielsen foi escalado para a posição, e o grupo estava pronto para renascer.
Confira agora a segunda parte da discografia comentada do Mercyful Fate!

In the Shadows [1993]

O álbum de retorno foi o primeiro pela nova gravadora, a Metal Blade, após anos com a Roadrunner. Apesar de levemente diferente dos dois clássicos primeiros discos, acabou sendo muito bem aceito pelos fãs, com os clipes para as faixas “Egypt” (uma das melhores composições da carreira do grupo) e “The Bell Witch” ajudando a torná-las os destaques do track list, junto com a faixa título. Apesar de creditado no encarte, o baterista Snowy Shaw não participou das gravações, que contaram com Morten Nielsen em todas as faixas (Morten não teve condições de fazer a turnê devido a um problema no joelho, e Snowy, que já havia tocado na banda solo de King, assumiu o posto). A temática satânica foi substituída quase que inteiramente por letras relatando contos de terror, mais ou menos como King fazia em sua carreira solo, porém sem ser um disco conceitual. Bons exemplos disso são as longas e climáticas “The Old Oak” e “Legend of the Headless Rider”, baseada no conto “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”. “A Gruesome Time” foi composta para o Zoser Mez, enquanto “Thirteen Invitations” e a instrumental “Room of Golden Air” (com passagens de violão e teclados em seu arranjo) acabam sendo pouco lembradas, apesar de sua qualidade. “Is That You, Melissa?” encerra o track list regular, retomando a história da bruxa Melissa, presente na faixa título do primeiro LP, em uma música em muitos aspectos parecida com aquela. A edição em CD ainda conta com uma faixa bônus para lá de especial, a regravação de “Return of the Vampire” (chamada “Return of the Vampire… 1993“) com a participação de Lars Ulrich, do Metallica, na bateria (ele que também é dinamarquês, e era fã da banda desde o começo). Durante a turnê de promoção foi lançado o EP The Bell Witch, que conta com a faixa que lhe dá nome, a citada “Is That You, Melissa?”, e quatro clássicos gravados ao vivo em 1993 na cidade de Los Angeles. O Mercyful Fate estava de volta com tudo!

Time [1994] 

O único álbum de estúdio com Snowy Shaw marcou também a estreia do baixista Sharlee D’Angelo no Mercyful Fate, substituindo Timi Hansen, que deixou a banda por motivos particulares. Apesar da sonoridade geral ser um pouco mais leve que a de In The Shadows, este foi também o disco que atraiu novamente minha atenção para o grupo (depois da decepção com o vinil de Don’t Break The Oath, como relatei na primeira parte), graças ao clipe para “Witches’ Dance“, que passava no saudoso Fúria Metal, da MTV. As letras continuaram contando histórias de terror, como as de “The Afterlife”, “Lady in Black” (um dos destaques), “Nightmare Be Thy Name” (que também ganhou clipe) ou “The Mad Arab“, baseada nos contos de H. P. Lovecraft, embora “My Demon” e “Angel of Light” retomem alguns dos antigos conceitos, a segunda referindo-se especialmente aos da faixa “The Oath”, do segundo álbum. King mais uma vez gravou alguns teclados, como os que aparecem na quase sinfônica faixa título, uma composição diferente dentro da carreira do grupo. As faixas “The Preacher” e “Mirror” (com mais peso que as anteriores) completam o track list, que se encerra com a variada e enigmática “Castillo del Mortes”, com letra em inglês apesar do título. No final da turnê deste disco, o grupo veio ao Brasil pela primeira vez (ao lado da banda solo de King Diamond), em 1996, onde se apresentaram no festival Monsters Of Rock em São Paulo, além de realizarem outras quatro apresentações no país. 

Into the Unknown [1996]

Após a intro “Lucifer” (uma espécie de “Pai Nosso” satânico), Into the Unknown começa com tudo, com a veloz “The Uninvited Guest”, que ganhou um clipe de divulgação. No geral mais pesado que o anterior, o disco marca a estreia do baterista Bjarne T. Holm, e é o mais bem sucedido da banda até o momento, comercialmente falando, tendo como destaques, para mim, a faixa título (com algumas guitarras limpas no arranjo), “Fifteen Men (And a Bottle of Rum)” (com o baixo bem destacado), “Holy Water” (novamente com conceitos anti-cristãos na letra) e a continuação de “The Mad Arab”, do disco anterior, aqui chamada “Kutulu (The Mad Arab, Part 2)” (com alguns toques de música árabe no seu arranjo). “Deadtime” começa apenas com King cantando sozinho, a capella, para então passar a uma música pesada, mas bastante melódica. As pesadas “The Ghost of Change” e “Under the Spell”, junto com a variada “Listen to the Bell”, completam o track list, que na versão japonesa apresenta a cover para “The Ripper”, do Judas Priest, gravada para um tributo à banda britânica chamado Legends of Metal: A Tribute to Judas Priest, lançado no mesmo ano. Um bom disco, que vale a audição.

Mercyful fate sem Michael Denner: Bjarne T. Holm, Sharlee D’Angelo, King Diamond,
Hank Shermann e Mike Wead

Dead Again [1997] 

Durante a turnê de Into the Unknown, Michael Denner decidiu sair do grupo por motivos familiares, indicando Mike Wead como seu substituto. Desta forma, Dead Again foi o primeiro álbum do Mercyful Fate sem o guitarrista, que deixou sua marca nas mentes e corações de todos os fãs da banda pelo mundo. “The Night” foi a música escolhida para receber um clipe de divulgação, mas os destaques vão para “Torture (1629)” (cuja letra trata de uma mulher torturada pela Santa Inquisição), “Since Forever” (que parece saída da carreira solo de King) e a insana faixa título, a música mais longa da carreira da banda, com quase quatorze minutos e muitas partes diferentes. Enquanto algumas faixas são mais diretas, como “Fear”, “Banshee” (que trata da lendária criatura que lhe dá nome) e “Sucking Your Blood” (que tem por tema os vampiros), outras são cheias de climas e mudanças de ritmo, como a “satânica” “The Lady Who Cries” (que tem um refrão contagiante), “Mandrake” (que fala sobre a raiz da mandrágora), ou “Crossroads”, que encerra o disco de forma abrupta, deixando o ouvinte com a sensação de que houve algum problema com o CD (isto foi feito de forma intencional pela banda para provocar o ouvinte, causando-lhe uma certa perturbação, como se algo muito errado tivesse ocorrido). Felizmente, a saída de Michael Denner não comprometeu a qualidade da música do quinteto, e Dead Again é um dos melhores álbuns gravados depois do retorno do Mercyful Fate, e merece ser conferido!

9 [1999]

O nono full lenght da banda (contando os álbuns The Beginning e Return of the Vampire), gravado no ano de 99… Parecia claro que o título do novo disco tinha de ser 9, número que, para completar, tem diversos simbolismos no ocultismo, assunto do qual King sempre foi um apreciador. Pois o (até agora) último registro do Mercyful Fate não deixou por menos. Com faixas bastante velozes como “Insane”, “House on the Hill” e a “satânica” “Burn in Hell”, os destaques ficam para a faixa título, “Last Rites” (com um ritmo empolgante) e “Church of Saint Anne” (com um riff excelente, que lembra o Black Sabbath da fase Dio). “Sold My Soul”, mais cadenciada, destaca o baixo de Sharlee D’Angelo, e “Buried Alive”, apesar de bastante pesada, conta com alguns efeitos de passarinhos cantando tanto no início quanto no final, algo bastante curioso em um disco do Mercyful Fate. “The Grave” e “Kiss the Demon” completam o track list, que na versão japonesa teve uma faixa bônus, “S.H.”, um curto tema instrumental. Um bom disco, mas que não supera o anterior.

Os membros do Mercyful fate ao lado do Metallica no show do Fillmore em 2011

Após a turnê de divulgação para 9, King se concentrou em sua banda solo, tendo a companhia do guitarrista Mike Wead. Hank Shermann e Bjarne T. Holm uniram-se a Michael Denner para formar o Force of Evil, enquanto Sharlee D’Angelo juntou-se ao Arch Enemy. Desde 2005, King trabalha em algumas fitas VHS que ganhou de um fã, na tentativa de compilar um DVD com apresentações da banda, algo que ainda não saiu do papel. Em 2008, a formação que gravou os dois primeiros discos (sem o baterista Kim Ruzz) se reuniu para gravar dois temas para o jogo “Guitar Hero: Metallica”, tendo Bjarne na bateria, mas apenas uma faixa foi efetivamente usada no game. As regravações chegaram a sair em um Picture Disc de edição limitada, com as faixas rebatizadas de “Evil 2009” e “Curse of the Pharaohs 2009”. Outra reunião (sem Bjarne) ocorreu em 2011, no show comemorativo aos trinta anos do Metallica, no Fillmore de San Francisco. 

Existem duas coletâneas do Mercyful Fate no mercado, A Dangerous Meeting, lançada em 1992 (que reúne material tanto do grupo quanto da banda solo de King Diamond) e The Best of Mercyful Fate, de 2003. Ambas são boas portas de entrada para o som do grupo, ao lado dos clássicos dois primeiros discos. O vocalista sempre afirmou que a banda não acabou, estando apenas “hibernando”, então resta a esperança de ainda vermos o grupo lançar algum material novo por aí! Afinal, não se pode quebrar o juramento, certo?


VA - Japan: Ainu Songs (Chants Des Ainou) (1993)

 


Os Ainu são um povo nativo da ilha de Hokkaido, no norte do Japão, os únicos nativos ainda existentes nas ilhas do Japão. Algumas tribos Ainu também são encontradas na ilha russa de Sakhalin, ao norte de Hokkaido. No Japão, eles quase desapareceram; poucas de suas tradições estão vivas hoje. Este CD foi produzido originalmente em 1980 pela Unesco, sob a supervisão de dois etnomusicólogos dedicados à preservação da música Ainu. Este é um lançamento de 1993 pelo selo francês Auvidis. Os Ainu fazem parte das sociedades xamânicas encontradas em toda a Sibéria. A sua música é maioritariamente cantada, por vezes acompanhada por algumas percussões. favoravelmente, suas canções às vezes são semelhantes ao katajak Inuit (ou esquimó) do norte do Canadá (uma espécie de canto gutural). Eles têm poucos outros instrumentos não ouvidos no CD. Este CD apresenta 14 canções tradicionais Ainu. É uma homenagem a um povo que já estava desaparecido em 1980 quando essas músicas foram gravadas. 



Os Ainu possuíam uma literatura oral na forma de longos poemas chamados yukara. (Não havia cartas Ainu e não temos registro escrito.) Os poemas foram recitados, ou melhor, cantados, com melodias individuais, por um contador de histórias da aldeia. O contador de histórias (ou cantor yukara, poderíamos dizer) era, na maioria dos casos, um homem ou uma mulher idosa. Mas o contador de histórias não tinha monopólio; todos na aldeia aprenderam a recitar yukara. Alguns eram melhores que outros em recitação e memória, e um dos mais hábeis foi escolhido como contador de histórias oficial da aldeia. Ele recitava os poemas durante as noites dos dias cerimoniais ou, se solicitado pelos aldeões, nas noites normais. 

Ao mesmo tempo, yukara eram épicos que se acreditava serem a voz dos deuses descrevendo suas cerimônias. Na língua Ainu, yukara originalmente significava “imitar” ou “imitar”. Eles sempre eram contados na primeira pessoa e sempre terminavam com “Assim disse o deus”. Isso indica que yukara pode ter começado como canções cerimoniais ou orações dos xamãs. 

Mais tarde, yukara tornou-se poesia que, caracteristicamente, contava os atos e amores de um jovem herói chamado Poiyawumpe, filho de um deus criado por primos humanos. Justo, generoso e corajoso, ele lutou e finalmente venceu uma linda garota que resgatou de um desastre, de um “bandido” ou de um demônio. Essas histórias, longas demais para serem contadas em uma noite, eram comparáveis ​​ao épico homérico.

Yukara foi passada de geração em geração. Pouco antes de desaparecerem da cultura Ainu, os poucos que agora conhecemos foram descobertos e coletados pelo Dr. Kyosuke Kindouche, ex-professor da Faculdade de Letras da Universidade de Tóquio, que os traduziu para o japonês. 

Além do yukara, os Ainu contavam com canções de ninar, canções de amor, rodas e danças simples. Entre elas, a “Dança dos Guindastes”, que imita os movimentos dos pássaros, foi particularmente popular. Os Ainu não possuíam instrumentos musicais, mas marcavam o compasso com as mãos em suas canções e danças. 

The East Village Other Electric Newspaper - Hiroshmia Day. USA Vs Underground(1966)

 


Os historiadores opinaram que todos na América foram convidados para o casamento de Luci Baines Johnson em 1966, devido a toda a atenção da mídia que recebeu. Provavelmente, isso se deveu em grande parte às maquinações do pai da noiva, Lyndon Johnson, o maior presidente dos EUA na época. No Lower East Side de Nova York, enquanto todos os eventos se desenrolavam, os editores do jornal underground East Village Other e um grupo de artistas perceberam que o dia do casamento (6 de agosto) coincidiu com o 21º aniversário do bombardeio de Hiroshima. Mais do que uma coincidência, foi uma oportunidade de fazer uma declaração, o que levou à criação do álbum The East Village Other Electric Newspaper. Oficialmente, as notícias sobre o casamento soavam (creditadas ao “rádio-relógio de plástico”), com trechos de canções, poemas, cantos e ruídos sobrepostos. E quem melhor para divulgar os resultados do que ESP-Disk, um selo já famoso por Albert Ayler, The Fugs e vários outros álbuns que poderiam deixar as pessoas impressionadas com sua qualidade audaciosa e se perguntando se seu conteúdo estava apto para lançamento.

O East Village Other Electric Newspaper atende a ambos os critérios. A sua mera existência merece uma crítica de cinco estrelas. Não importa o fato de que algumas das conversas são abafadas pelas entrevistas banais com Luci e seu marido Pat Nugent, ou que o álbum inclui 10 minutos quase inaudíveis de Allen Ginsberg e Peter Orlovsky entoando mantras. A ideia maluca abrangente faz com que funcione. É claro que, 47 anos depois, a sua reedição (em CD e vinil, através da atual encarnação do ESP-Disk, oferece uma fascinante convergência de músicos de free jazz, habitantes da Factory de Andy Warhol e poetas beat.

Um ano antes de The Velvet Underground e Nico serem lançados para um público desavisado, aqui estão os Velvets fazendo sua estreia não oficial com 1:44 de “Noise”. Seus dedilhados frenéticos e arranhões na viola permanecem brevemente antes que Gerard Malanga e Ingrid Superstar fofoquem sobre seus amigos. Ambos seguem uma breve música de Steve Weber do Holy Modal Rounders, “If I Had a Half a Mind”, que define o cenário para toda a produção.

A seguir vem outra explosão curta, mas focada, de free jazz do saxofonista alto Marion Brown (na época, que em breve seria um artista ESP), do baixista Scott Holt e do baterista Ron Jackson, que se tornaria mais conhecido por seu nome completo: Ronald Shannon Jackson. . 


O segundo lado original começou com Tuli Kupferberg dos Fugs e “Love and Ashes” de Viki Pollon, que liricamente contrasta o casamento e o atentado. Para um cara que adorava ser o presunto, Kupferberg oferece uma atuação direta, e a dupla soa como um casal típico de folk de cafeteria. O poeta Ishmael Reed rapidamente dispara um trecho de seu The Free Lance Pall Bearers, que é tão rico em metáforas que são necessários alguns ouvintes para compreendê-lo completamente.

Algumas reedições diferentes deste álbum apareceram nas últimas duas décadas, mas esta é a primeira a restaurar “Interview with Hairy”, uma contribuição escatológica de Ken Weaver e Ed Sanders dos Fugs, que encerrou o álbum. As versões anteriores desapareceram abruptamente, causando confusão, já que a última faixa é intitulada “Silence” e creditada a Andy Warhol. O comunicado de imprensa desta reedição explica que a contribuição do artista pop não é uma “faixa” real inspirada em John Cage, mas o que Andy criou no estúdio enquanto todos falavam ou tocavam. (“Ei, foram os anos 60. É um conceito, cara”, diz o comunicado.)

Provavelmente há pessoas que esperaram anos para ouvir “Hairy”, cuja curiosidade foi alimentada pela referência de Lester Bangs a ela em seu infame “Do The Godz Speak Esperanto?” ensaio. E embora seja bom ter o artefato completo, não há separação estéreo entre o rádio e os artistas, por isso é difícil ouvi-lo com clareza, mesmo com fones de ouvido. Os participantes parecem estar tentando criar sua própria versão pornográfica de “The 2000 Year Old Man”, enquanto Sanders interpreta o entrevistador hétero e Weaver conta histórias sexuais. O que parece mais parece um casal de jovens de 15 anos tentando inventar as histórias mais depravadas que podem. (Até mesmo Bangs parecia um tanto desanimado com isso.) Isso faz você se perguntar se eles intencionalmente colocaram suas vozes baixas na mixagem para enterrar o assunto.

Como a maioria das reedições atuais do ESP, esta recria a capa original do álbum, que incluía algumas notas de capa e um formulário de assinatura (na contracapa, portanto, para usá-lo, seria necessário cortar o álbum). Embora algumas novas notas de capa tivessem sido uma adição bem-vinda, o pacote é, no entanto, uma reedição bem-vinda, levando-nos de volta a uma época em que era possível fazer uma declaração com música e arte que reunia pessoas que nunca mais se misturariam assim.


Grzegorz Pleszyński - Antidepressant Music in the Car (2013)

 


Ele é um artista polonês que vive e trabalha em Berlim e Bydgoszcz. A sua área de atividade abrange performance, instalação, videoarte. É autor de projetos sociais como trabalho com presidiários, crianças, pessoas com deficiência. Ele é educador e professor. Estudou na Escola de Arte da Universidade Nicolaus Copernicus em Torun. Depois de se formar, tornou-se professor do ensino primário e também do ensino secundário em Bydgoszcz e ao mesmo tempo esteve envolvido em vários projetos da sociedade artística. Em 1995 foi convidado para uma exposição individual na Color Square Gallery em Melbourne, Austrália. Em 1998 participou do Construction in Process 'Bridge' em Melbourne. Em 1999 tornou-se diretor do Bydgoszcz Office International Artists Museum. Em 2000 foi um dos organizadores do Construction in Process 'This Earth is a Flower' em Bydgoszcz, Polônia.





DISCOGRAFIA - ALEXL Eclectic Prog • Brazil

 

ALEXL

Eclectic Prog • Brazil

Biografia de AlexL
ALEXL é na verdade um one-man act, nomeadamente o multi-instrumentista Alexandre Loureiro, ex-integrante das bandas brasileiras dos anos 90 RAIKA e TURANGALÎLA. Este graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro já possui diversas composições como trilhas sonoras para teatro, vídeo, cinema e dança. Sua música, mais parecida com rock de câmara, incorpora elementos de YES e GENTLE GIANT (pelos vocais polifônicos e ritmos altamente sincopados), bem como de Frank ZAPPA, talvez até de GENESIS (pelo sabor dos anos 70) e, claro, folk brasileiro.

Para o seu álbum "Triz", contou com a ajuda de mais de 20 músicos/cantores (homens e mulheres) que tocam metais, cordas, teclados, guitarras, clarinete, flautas, oboé, xilofone e percussão, entre outros. As suas peças são muitas vezes curtas mas densas, complexas e bem trabalhadas, o uso de instrumentos acústicos confere-lhes uma sensação de leveza mesmo quando a música assume um rumo mais pesado. Longe de ser um remendo gratuito das bandas acima mencionadas, Loureiro consegue fundir todos estes elementos num todo coerente, conferindo à sua música uma identidade própria e genuína. As únicas falhas deste álbum - se é que é preciso encontrar alguma - podem ser a falta de um baterista de verdade (ele usa bateria sequenciada) e talvez a produção que poderia ter sido um pouco mais 'quente'. O produto geral é, no entanto, brilhante, para dizer o mínimo, e tem um sabor brasileiro agradavelmente exótico.

Especialmente recomendado para entusiastas de GENTLE GIANT, mas os fãs de ECHOLYN e SPOCK'S BEARD também se sentirão em casa com ALEXL.

ALEXL discografia



ALEXL top albums (CD, LP, )

3.24 | 28 ratings
Triz
2004




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