sábado, 22 de junho de 2024

Mais 5 discos novos que gosto

 



Scowl - Psychic Dance Routine


A primeira faixa de Psychic Dance Routine  é uma colisão frontal e flamejante de hardcore 'tradicional' e pop-grunge viciante à la Veruca Salt . O resto do EP dá corpo a essa dicotomia de forma espetacular. É uma mudança flagrante em direção à acessibilidade e a um alcance mais amplo, mas também é facilmente minha coisa favorita que a banda já fez.



Nicole Dollanganger - Married in Mount Airy



Vinhetas de romance condenado, vício, abuso, suicídio e assassinato através de uma cultura americana sombria, surreal e inegavelmente Lynchiana. A voz e a guitarra sonhadoras e quase infantis de Dollanganger estão no centro de todas as músicas, mas estão envoltas em camadas sonoras com tons alterados que têm um brilho perturbador, quase estranho. Os fãs de Ethel Cain deverão encontrar muito o que amar aqui.




Tujiko Noriko - Crépuscule I & II


Tujiko Noriko tem feito excelentes sons IDM/pop experimental/outros sons eletrônicos desde a virada do milênio, e é realmente um crime eu nunca ter postado sobre ela aqui. Seu mais recente, Crépuscule I & II,  é um álbum duplo expansivo de ambiente cavernoso e imersivo: sintetizadores à deriva e cheios de reverberação, o ritmo estranho e disperso em câmera lenta e as entonações sussurrantes de Noriko.




Derhead - The Grey Zone Phobia


Black metal denso e misterioso com um som massivo e envolvente que sugere tanto o cosmos bocejante quanto a cacofonia esmagadora da expansão urbana - bastante apropriado para um álbum que supostamente encoraja o ouvinte a "contemplar o contraste entre a realidade e o eu interior. " Labiríntico, mas não exagerado, assustador, singular, mas não conscientemente. Sem dúvida um dos melhores black metal da memória recente.



Baaba Maal - Being


Uma fusão perfeita de rock do deserto senegalês e groove eletro-pop de intervalo. Os vocais de Maal seriam hipnotizantes em praticamente qualquer contexto, mas sobre ritmos distorcidos e linhas de baixo potentes, há momentos de verdadeira transcendência. Praticamente impossível ouvir algo abaixo do volume máximo.


Cable - Down-Lift the Up-Trodden (1996)

 


Primeiro álbum desses indie rockers britânicos. Pós-hardcore caótico e grunge com um senso de diversão e melodia que mantém as coisas divertidas, mesmo quando elas descem para um rock barulhento em uma música chamada "Murdering Spree". Foi muito difícil escolher quais álbuns dessa banda postar, já que eles só têm três e são todos ótimos, então por que não começar do início?

Lista de músicas:
1. New Set of Bruises
2. Choice
3. Blindman
4. Hydra
5. Seventy
6. Murdering Spree
7. Sale of the Century
8. Oubliette
9. Give 'Em What They Want [bonus]
10. Dead Wood for Green [bonus]




Crawl - Earth (1995)

 

Nos anos 90 não faltaram bandas adorando no altar de Godflesh, e eu estaria mentindo se dissesse que Crawl não estava nesse número. Mas o mais importante é que Crawl injetou muita energia do death metal no deserto industrial distópico, o que os diferencia e impõe regras. Conforme encontrado em uma pasta de álbuns em meu aplicativo de música chamada "SHUPS", que é a abreviação de "pushups", obviamente.

Track listing:
1. Skinned
2. Servant
3. Womb
4. I Believe
5. Machines Way
6. Emotional Cage
7. Soundless
8. Gray
9. Release




Remedios Amaya “Quien Maneja Mi Barca” (1983)

 Em 1983 a televisão espanhola levou a Munique uma das propostas mais ousadas e desafiantes de toda a história de representações do país na Eurovisão. Remedios Amaya obteve zero pontos com “Quién maneja mi barca?” mas fez história. 

A chegada de uma nova direção à televisão espanhola teve entre o conjunto de decisões tomadas uma reordenação do modo de pensar a representação do país no Festival da Eurovisão. E para 1983 foi lançado um olhar sobre o panorama musical local, atendendo não apenas aos espaços consagrados mas também a linguagens emergentes, como o novo flamenco, e acabou por ser precisamente para aí que se concentraram as atenções com a escolha, por seleção interna, da então jovem e ainda internacionalmente desconhecida Remedios Amaya. 

De origem sevilhana, então com 21 anos, mas já com discos lançados desde 1978, Remedios Amaya apresentou em Munique a canção Quién maneja mi barca?, da autoria de José Miguel Évoras e Isidro Muñoz, levada a palco com um arranjo desafiante que integrava a presença de alguns elementos eletrónicos (mais evidenciados na versão de estúdio fixada no disco), bem antes de Rosalía e outras vozes do presente levarem os cruzamentos do flamenco com novas sonoridades da era digital a plateias mais vastas. Com sentido (natural, pelo que nada forçado) de pioneirismo e ousadia, Quién maneja mi barca? entrou em cena sugerindo em ouvidos mais duros aquele desconforto do choque cultural, disputando com as belgas Pas de Deux, nesse mesmo ano, o título do momento mais desafiante (e interessante) de todo o festival. Todavia a estranheza perante a canção de Remedios Amaya terá sido maior, terminando a noite em 19º lugar com zero pontos (tal e qual a canção da Turquia), ficando a Bélgica em 18º.

A cantora integrou depois Quién maneja mi barca? no álbum Luna Nueva (1983) que, juntamente com Seda en Mi Piel (1984), traduzem a sua obra em disco na década de 80. Remedios Amaya enfrentou então um período de pausa discográfica, voltando a gravar apenas em 1997. 




Duran Duran “Ordinary World” (1983)

 Lançado os EUA em dezembro de 1992 e em janeiro de 93 nos restantes territórios, foi já em fevereiro, há precisamente 30 anos, que “Ordinary World” se começou a confirmar, mundo fora, como um dos maiores casos de sucesso da obra dos Duran Duran.

O álbum Liberty (1990) e os meses que se seguiram à sua edição foram tempos difíceis para os Duran Duran. Sem a adesão do público de outros tempos nem o apoio da crítica (o que não espanta perante um álbum realmente menor), os Duran Duran deram a si mesmos uma folga de tempo para parar e repensar o seu futuro. Pelo caminho perderam o baterista Sterling Campbell pelo que, na hora de regressar ao trabalho, eram apenas quatro. 

Trabalharam em casa, criando novas canções sem o relógio a apontar uma data de edição previamente fixada. E, em finais de 1992, com já grande parte de um novo álbum já gravado, a Capitol estreou uma canção nova na rádio americana. Chamava-se Ordinary World e assinalava, dez anos depois de Save a Prayer, um segundo surto de interesse sobre uma balada assinada pelo grupo. E o interesse foi tal que a edição nos EUA chegou ainda em dezembro de 1992, mantendo contudo a EMI a sua agenda de lançamento internacional apontada a janeiro de 1993. 

O sucesso de uma canção suportada por uma linha de guitarra acústica, um refrão “orelhudo” e arranjos de cordas (na verdade tocados em teclados por Nick Rhodes) foi tal que, em pouco tempo, os Duran Duran não só se viam de regresso a ambientes e lugares que antes haviam vivido, como em alguns territórios somavam com Ordinary World o seu maior êxito de sempre. Foi número um no Canadá, dois na Suécia e Itália, três nos EUA e Irlada e seis no Reino Unido. 

No lado B do vinil foi usado My Antartica, um dos raros momentos felizes de Liberty. Nos CD singles, cientes da presença de uma nova geração de ouvintes, apostaram na recordação de velhos clássicos, como que sugerindo mini-best of do grupo.




Ruth Jacott “Vrede” (1993)

 A canção holandesa de 1993, “Vrede”, de Ruth Jacott, desenha-se vocalmente em terreno clássico, mas a estrutura rítmica assimila ecos da cultura hip hop, entre batidas, loops e até mesmo um breve momento de scratching. 

Após uma primeira sucessão de concursos dominados pelo mais clássico modelo da chanson a história do Festival da Eurovisão foi traduzindo regularmente sinais de assimilação (uns mais rápidos, outros nem por isso) de formas, movimentos e tendências do panorama da música popular de cada ano que foi passando. Se a década de 90 acabou por ficar essencialmente caracterizada quer pela abertura a leste do concurso quer pela presença, mais vincada do que nunca, de expressões de diálogos entre músicas tradicionais e as linguagens pop do presente (“étnica” era uma palavra muitas vezes então usada no discurso sobre as canções), na verdade outras mais frentes se abriram, uma delas colocando nos palcos da Eurovisão (e nos discos) espaços que durante algum tempo eram arrumados sob o termo “urbano”. O hip hop, por exemplo, entra em cena em 1995 com os britânicos Love City Groove. Mas, antes mesmo dessa participação, ecos diretos da cultura hip hop tinham já chegado às canções, como se nota pelas batidas que, em 1993, suportaram a canção que então representou a Holanda.

“Vrede” (ou seja, “paz”) apresentou a muitos a cantora Ruth Jacott, nascida em 1960 no Suriname e com carreira na música iniciada em concursos de talentos e continuara, depois, em palcos de teatro musical. “Vrede” assinalou um momento de viragem para a cantora, que daí em diante tomou os discos e os concertos em nome próprio como espaço de afirmação do seu caminho. E assim foi porque, mesmo tendo terminado a votação (em Millstreet) em sexto lugar, a canção seria uma das mais notadas do ano, abrindo caminho à edição de um primeiro álbum em neerlandês ainda esse ano.

A canção, se bem que dominada por uma linha vocal mais próxima da canção “eurovisiva” clássica, sublinhada pelo arranjo orquestral, na verdade tem na base uma estrutura rítmica desenhada por batidas que traduzem ecos de recentes assimilações pelo R&B de loops originalmente nascidos na cultura hip hop, não faltando mesmo um breve pontuado de scratching (mas de arestas polidas), aqui ao jeito de alguma pop que, em finais dos oitentas, já tinha assimilado algumas destas pistas numa altura em que a “club culture” saltou das pistas de dança para a cena pop mainstream.




Grethe e Jørgen Ingmann “Dansevise” (1963)

 A canção dinamarquesa que conquistou a vitória em 1963 no Festival Eurovisão da Canção, assinada por Grethe e Jørgen Ingmann, juntava discretos sinais de juventude e um travo jazzy na guitarra elétrica, contrastando com o “mood” então dominante. 

1963 foi um ano repleto de sinais de mudança no Festival da Eurovisão, mostrando alguns países uma vontade em transcender o modelo mais conservador da chanson que tinha caracterizado grande parte das canções concorrentes desde a estreia do concurso, em 1956. E se a presença da muito jovem estrela emergente do yéyé francês, Françoise Hardy, cativava de antemão atenções para a canção do Mónaco, na noite do concurso, a 23 de março (no BBC Television Center em Londres), quem mais sorriu na hora da votação foi um casal dinamarquês que juntava um guitarrista de jazz com uma vocalista, ao som de “Dansevise”.

Grethe (1938-1990) e Jørgen Ingmann (1925-2015) tinham-se conhecido em meados dos anos 50, casado e começado a atuar em conjunto, mantendo também percursos a solo em paralelo. E foi precisamente com um disco a solo de 1961, quando apresentou uma versão de “Apache” dos Shadows, que Jørgen Ingmann somou o seu maior êxito até que, em 1963, com Grethe, se apresentaram em Londres representando a Dinamarca. “Dansevise” revelava então uma canção com cenografia “moderna”, vincada por um ritmo mais marcado do que o habitual (mesmo quer ainda discreto), sublinhando ainda as marcas de diferença pela “voz” da guitarra elétrica.

“Dansevise” somou nessa noite 42 pontos, superando em apenas dois a votação obtida pela canção da Suíça. A vitória deu contudo à Eurovisão a sua primeira vitória capaz de traduzir sinais de uma nova geração de músicos e de sons, abrindo caminho para os triunfos, nos anos seguintes, de Gigliola Cinquetti (Itália, 1964), France Gall (Luxemburgo, 1965) ou Sandie Shaw (1967), num percurso que então acabou por abrir ali as portas à música pop.

Grethe e Jørgen Ingmann mantiveram carreira em conjunto, editando vários singles, EPs e álbuns até ao seu divórcio, em 1975, passando depois a trabalhar novamente a solo, não recuperando contudo Grethe o seu nome de solteira, Grethe Clemmensen, com o qual editara os seus primeiros discos. 




Destaque

Immaculate Fools - Searching For Sparks. The Albums 1985-1996 (2020 UK)

Immaculate Fools foi um grupo de pop/rock formado em 1984 em Kent (Reino Unido) e teve seu maior sucesso no Reino Unido em 1985 com o single...