sábado, 22 de junho de 2024

Ruth Jacott “Vrede” (1993)

 A canção holandesa de 1993, “Vrede”, de Ruth Jacott, desenha-se vocalmente em terreno clássico, mas a estrutura rítmica assimila ecos da cultura hip hop, entre batidas, loops e até mesmo um breve momento de scratching. 

Após uma primeira sucessão de concursos dominados pelo mais clássico modelo da chanson a história do Festival da Eurovisão foi traduzindo regularmente sinais de assimilação (uns mais rápidos, outros nem por isso) de formas, movimentos e tendências do panorama da música popular de cada ano que foi passando. Se a década de 90 acabou por ficar essencialmente caracterizada quer pela abertura a leste do concurso quer pela presença, mais vincada do que nunca, de expressões de diálogos entre músicas tradicionais e as linguagens pop do presente (“étnica” era uma palavra muitas vezes então usada no discurso sobre as canções), na verdade outras mais frentes se abriram, uma delas colocando nos palcos da Eurovisão (e nos discos) espaços que durante algum tempo eram arrumados sob o termo “urbano”. O hip hop, por exemplo, entra em cena em 1995 com os britânicos Love City Groove. Mas, antes mesmo dessa participação, ecos diretos da cultura hip hop tinham já chegado às canções, como se nota pelas batidas que, em 1993, suportaram a canção que então representou a Holanda.

“Vrede” (ou seja, “paz”) apresentou a muitos a cantora Ruth Jacott, nascida em 1960 no Suriname e com carreira na música iniciada em concursos de talentos e continuara, depois, em palcos de teatro musical. “Vrede” assinalou um momento de viragem para a cantora, que daí em diante tomou os discos e os concertos em nome próprio como espaço de afirmação do seu caminho. E assim foi porque, mesmo tendo terminado a votação (em Millstreet) em sexto lugar, a canção seria uma das mais notadas do ano, abrindo caminho à edição de um primeiro álbum em neerlandês ainda esse ano.

A canção, se bem que dominada por uma linha vocal mais próxima da canção “eurovisiva” clássica, sublinhada pelo arranjo orquestral, na verdade tem na base uma estrutura rítmica desenhada por batidas que traduzem ecos de recentes assimilações pelo R&B de loops originalmente nascidos na cultura hip hop, não faltando mesmo um breve pontuado de scratching (mas de arestas polidas), aqui ao jeito de alguma pop que, em finais dos oitentas, já tinha assimilado algumas destas pistas numa altura em que a “club culture” saltou das pistas de dança para a cena pop mainstream.




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