domingo, 21 de julho de 2024

ROCK ART


 

Sigue Sigue Sputnik “Love Missile F1-11 (Video Mix)” (1986)

 

Quando entraram no mapa das atenções, em finais de 1985, rapidamente dominaram páginas de noticiário (com grandes fotos) na imprensa musical. A imagem era possante, o discurso provocador feito de slogans estrategicamente lançados em entrevistas e T-shirts e a sua irónica auto-proclamação como quinta geração do rock’n’roll só podia gerar controvérsia. E a música? Bom, ninguém a tinha escutado, limitando-se as expectativas a acreditar na genealogia pop do guitarrista Tony James (ex-Generation X) e na conhecida rodagem do vocalista Martin Degville, um velho habituée das noites londrinas de alguns anos antes, quando o movimento new romantic ganhou forma.

Como nunca se tinha visto antes, lançaram uma mega-campanha por um acordo discográfico, à qual a EMI respondeu, com números apontados bem acima da média… Com entusiasmo de uns e sob o ceticismo de outros, e sempre sob uma constante cascata de comunicação focada na imagem e carregada de slogans, os Sigue Sigue Sputnik estrearam-se finalmente em disco em inícios de 1986 com Love Missile F1-11, uma canção pop claramente diferente das que estávamos habituados a escutar, nascendo de uma (bem sucedida) parceria em estúdio com o produtor Giorgio Moroder.

Sustida por uma colagem de módulos electrónicos repetidos à exaustão, adornada por samples de filmes como Blade Runner, Scarface ou A Laranja Mecânica, sons de explosões, pedaços de outras músicas, uma letra apocalítica de travo sci-fi e com atitude de puro showbiz pop, a canção marcou, de facto o seu tempo. A acompanhar a canção surgia um teledisco que traduzia literalmente por imagens os mundos sugeridos pelos sons. Colagens, citações (uma delas evidentemente apontada à Laranja Mecânica de Kubrick), imagens de atuações, letras desenhadas por computador (uma modernice na altura), imagens reais de ameaçadores cenários de guerra, planos da banda em poses de fama e glamour e ainda efeitos especias (de ouvir e de ver).

E, apesar dos narizes torcido de alguns o single de facto chamou atenções, transformou-se num êxito com dimensão internacional (talvez não tão gigante quanto o esperado), e a expectativa projetou-se em frente, aguardando as cenas dos próximos capítulos. Acontece que, editado meses depois, 21st Century Boy quase replicava a fórmula do primeiro single. E o álbum, Flaunt It, apesar de acrescentar algumas ideias (uma delas a suposta venda de espaço publicitário entre as canções), não revolucionou na verdade muito mais…

O discurso sobre a quinta geração do rock’n’roll acabou ali mesmo… Mas o single de estreia guarda contudo o sabor de um momento diferente e foi banda sonora para o desenho de um sonho de fama. É indubitavelmente um episódio a não ignorar para contar a história pop dos anos 80. E entre os lançamentos a si associados vale a pena procurar o máxi então lançado como Love Missile F1-11 – Original Motion Picture Soundtrack. Ou seja, a “banda sonora” do teledisco. O disco, no formato de 12 polegadas, apresenta a versão do trailer, a Video Mix, guardando no lado B as misturas mais convencionais dos dois temas originalmente apresentados no sete polegadas. Mais ainda do que as variações sobre a canção (na verdade com mais efeitos e citações), o apelo maior deste máxi é o design que trata de facto o disco como uma banda sonora (não faltam os créditos na contracapa) e duas evidentes citações à Laranja Mecânica de Kubrick, uma na foto que coloca o grupo num túnel semelhante a um que vemos no filme, outro no logótipo que apresenta o nome da banda som o mesmo lettering do poster original do sucessor de 2001: Odisseia no Espaço.




Pas de Deux “Rendez Vous” (1983)

 

Em 1983 o Festival da Eurovisão vivia um tempo de transição entre os novos emergentes modelos europop e a grande balada orquestral que havia definido os paradigmas do concurso nos últimos anos. E de desta última categoria saiu a muito canção vencedora – na voz de Corine Hermès, em representação do Luxemburgo – já o fulgor mais festivo das canções de Israel – Hi de Ofra Gaza – ou Jugoslávia – Dzuli, por Daniel – partilharam entusiasmos de gostos menos conservadores que abraçaram ainda a participação da sueca Carola Häggkvist (Främling), voz que regressaria à Eurovisão para vencer a edição de 1991. Curiosamente, terminada a votação, estas canções chamaram a si as posições imediatamente a seguir às da canção do Luxemburgo.

Mas um dos episódios musicalmente mais suculentos do ano ficariam por conta das canções mais desafiantes apresentadas pela Bélgica e por Espanha, mas que terminaram a noite respetivamente em 18º e 19º lugar (aqui ex-aequo com a Turquia, a zero pontos).

Retomando o tom de desafio que levara os Telex à Eurovisão em 1980, a Bélgica fazia-se representar pelo coletivo Pas de Deux, que terminara o processo de seleção local em primeiro lugar desde logo acendendo um caso de confronto entre espíritos mais ousados e gostos menos dados à mudança.

Rendez Vous levou então a Munique uma canção de formas invulgares, dominada pelo trabalho de percussão sintetizada, eletrónicas e um muito elaborado arranjo sobretudo focado nos cordas e metais, sobre o qual as vozes das duas cantoras – que de mostravam descalças e dançavam curvadas – iam repetindo as palavras: “Rendez-vous, maar de maat is vol en m’n kop is toe”… O tom algo nonsense da letra e o caráter desafiante da música não foram coisa de digestão simples. E a canção acabou por cativar apenas os pontos do Reino Unido (4), Espanha (8) e Portugal (1).




Duran Duran “The Wild Boys” (1984)

 

O desafio partiu do realizador Russel Mulcahy, o mais frequente colaborador na criação de telediscos para os Duran Duran na etapa inicial da sua obra em disco, ou seja, entre 1981 e 1985. Mulcahy tinha em mente a criação de uma possível adaptação ao cinema de The Wild Boys, de William S Burroughs e lançou aos Duran Duran a sugestão da criação de uma banda sonora. Do livro Simon Le Bom partiu para a criação da letra, surgindo a música em sintonia com a cenografia ameaçadora que ali se sugeria… O projeto para cinema de Rusell Mulcahy conheceu, entretanto, outro percurso, acabando a ideia por estar na origem de um filme-concerto dos próprios Duran Duran que surgiria em vídeo, em 1985, com o título Arena: An Absurd Notion. E a nova canção, que entretanto começara a ganhar forma, acabou colocada no centro gravítico não só da narrativa como do mood que definira o filme. Gravada no verão de 1984, com produção de Nile Rodgers (que recentemente havia assinado a bem-sucedida remistura de The Reflex), a canção colocava os Duran Duran num espaço mais anguloso, sobretudo dominado pela percussão e pelos sintetizadores, levando a voz de Le Bon a um patamar de maior esforço. Numa altura em que o grupo não trabalhava num álbum, mas antes no projeto de um disco ao vivo nascido de gravações durante a Sing Blue Silver Tour, The Wild Boys foi assim um episódio pontual, mas que se revelou um dos momentos de maior impacte da discografia do grupo.

            Se o aspeto mais anguloso das formas da canção destacou The Wild Boys dos singles que o grupo antes tinha apresentado, o teledisco representou outra das razões maiores para o sucesso da sua comunicação. De orçamento (literalmente) milionário, nasceu de um trabalho que exigiu um cenário que ocupou parte do estúdio 007 em Pinewood e um exigente labor coreográfico que a realização de Russel Mulcahy de facto soube explorar. A grandiosidade da produção foi tal que, além de suportar a medula do filme-concerto, o volume do esforço justificou a edição de um documentário que seria originalmente editado em vídeo com o título The Making of Arena.



A versão apresentada no filme corresponde à que escutamos no máxi-single, representando por isso o single um edit criado para servir sobretudo as programações de rádio. No lado B do single (e também do máxi) surgiu uma gravação ao vivo de (I’m Looking For) Cracks in the Pavement, captada no mesmo concerto em Toronto que fora usado para a rodagem do teledisco de The Reflex. O single conheceu, além da edição standard, uma outra para colecionadores, com uma capa para cada um dos cinco elementos do grupo. O alinhamento dos singles era, contudo, igual em todos os lançamentos.

12″ UK

Duran Duran “Save a Prayer” (1985)

 

Com uma estratégia de promoção para os Estados Unidos diferente da que então estava em curso na Europa, os Duran Duran apostaram na comunicação das canções mais “dançáveis” por ocasião do lançamento do álbum Ri em 1982, e no ano seguinte, editaram uma versão diferente do álbum de 1981, juntando ao alinhamento o então “novo” Is There Something I Shoud Know?… Em finais de 1983 o mercado americano começou a andar a par e par com as edições europeias, entrando assim em sintonia por alturas do álbum Seven and The Ragged Tiger e dos três singles dele extraídos, o mesmo acontecendo depois com The Wild Boys, já na reta final de 1984… Todo este percurso impediu Save a Prayer de ter lançamento americano nos formatos de 45 rotações. Pelo que, em inícios de 1985, como reforço de comunicação em tempo de vida do álbum ao vivo Arena, eis que finalmente a balada de 1982 viu a luz do dia por aqueles lados na forma de single.

            Com uma capa com grafismo em sintonia com a linguagem visual de Arena, a nova edição em single de Save a Prayer teve como principais destinatários os mercados dos EUA e Canadá, juntando-se ainda o Japão e, porque então o grupo gozava ali de maior popularidade do que em 1982, a Alemanha.

            O single nos EUA, Canadá e Japão apresenta a versão de estúdio de Save a Prayer no lado A, revelando na outra face a gravação ao vivo apresentada em Arena. Já na edição para a Alemanha o lado B coube a uma versão ao vivo de Careless Memories. Apesar do estatuto que a canção já conhecia, em nada o percurso desta nova edição de Save a Prayer nas tabelas de vendas repetiu aquele que, em 1982, foi traçado pela edição original em muitos dos mercados que então a lançaram.



Sam Taylor-Wood “I’m In Love With a German Film Star” (2008)

 

Figura do mundo das artes, Sam Taylor-Johnsson editou em 2008, então como Sam Taylor-Wood, um single que contou com produção dos Pet Shop Boys. A realizadora de Nowhere Boy (um biopic sobre os dias de juventude de John Lennon) assinou então uma versão de I’m In Love With a German Film Star, tema originalmente gravado pelos Passions em 1980.

O single apresentava sete versões da canção, entre as quais uma remistura de Gui Boratto, três de Mark Redeer, uma de Jurgen Paape, além das leituras coordenadas pelos Pet Shop Boys, uma delas com travo sinfonista.

E quem é Sam Taylor-Johnsson, podem perguntar? Inglesa, fotógrafa e realizadora, com trabalho em diversas frentes. Já esteve ligada à Royal Opera House. Expôs em nome próprio. Dirigiu várias curtas, essencialmente na área do filme de arte. Venceu o Turner Prize em 1997. E trabalhou já por diversas vezes com os Pet Shop Boys. Realizou o teledisco de Somewhere (e o filme sobre os concertos no Savoy Theatre) e colaborou vocalmente em duas gravações anteriores, embora escondida atrás de um pseudónimo.



Duran Duran “A View to a Kill” (1985)

 

Reza a mitologia que a história desta canção começou com uma abordagem informal numa festa. John Taylor, admirador da série de filmes do agente 007, encontrou numa festa o mítico produtor Albert Broccoli. E perguntou-lhe quando é que iam voltar a chamar alguém “decente” para fazer uma canção para os filmes de James Bond. Na verdade o cardápio recente estava longe de ser coisa desatstrosa. Sheena Easton tinha cantado For Your Eyes Only em 1980 e, em 1983, Rita Coolidge dera a voz a All Time High, do filme Octopussy, em 1983. Contudo estavam longe os dias de glória de Goldfinger, You Only Live Twice, Live and Let Die ou The Man With The Golden Gun… E o produtor dos filmes não esperou para responder a John  Taylor com um desafio: e porque não os Duran Duran? Uma primeira reunião (aparentemente não muito produtiva) juntou o grupo com o compositor John Barry, figura presente em muitas das bandas sonoras de James Bond, e a Jonathan Elias, com quem tanto John Taylor (a solo) como os próprios Duran Duran voltariam a trabalhar. As primeiras ideias foram lançadas e conta-se que John Barry ajudou a escolher as melhores sugestões. No fim a composição acabaria assinada pelos Duran Duran, cabendo a John Barry os arranjos orquestrais.

              A View To A Kill (que seria também o título do filme) foi gravada nos estúdios Maison Rouge, em Londres, já em 1985 e representou a última vez que a formação “clássica” do grupo partilhou um espaço de trabalho comum até à sua reunião, já no século XXI. O disco foi lançado a 6 de maio apenas no formato de sete polegadas. Foi, até então, o primeiro single dos Duran Duran a não conhecer edição em máxi-single. Em contrapartida houve várias capas alternativas para o single em sete polegadas. O sucesso foi imediato, escalando o single ao número 2 no Reino Unido e número um nos EUA, resultado que ainda hoje é o melhor para uma canção nascida para um filme de James Bond.



Para acompanhar o lançamento do single o grupo reuniu-se em Paris para captar imagens na Torre Eiffel, espaço que corresponde à sequência de abertura do próprio filme. A montagem do teledisco, com realização da dupla Godley & Creme, sugere então a presença do grupo no mesmo tempo e lugar em que decorre a ação, terminando o vocalista por responder a uma transeunte que pergunta quem ele é: “Bon… Simon Le Bon”. O single não surgiu associado a nenhum álbum além do que apresentava a restante banda sonora do filme, assinada por John Barry. O próprio lado B, com o título That Fatal Kiss, é uma variação orquestral de ideias lançadas pela canção.

Destaque

Em Outubro de 1971, o LP de Cat Stevens “Teaser and the Fireccat” estreou na Billboard 200 Albums Chart dos EUA na #143 (9 de outubro)

Em Outubro de 1971, o LP de Cat Stevens “Teaser and the Fireccat” estreou na Billboard 200 Albums Chart dos EUA na #143 (9 de outubro) &quo...