No seu disco de estreia os Parcels revelam-nos a sua aptidão para escrever músicas destinadas a ficar presas nos nossos ouvidos para sempre e uma afinidade particular para emular o espírito do passado.

Se há característica marcante no indie pop/rock produzido nesta década é o seu revivalismo. Mas, se por um lado parece que já tudo foi reinventado, por outro parece que um género tão datado como a disco nunca poderia ser atualizada e encontrar novos adeptos em 2018. Neste sentido a existência e o sucesso dos Parcels pode parecer uma pequena anomalia.

Pese embora estejam sediados em Berlim, os Parcels são fruto de mais uma colheita da longa dinastia de pop psicadélica australiana de onde vieram bandas como os Tame Impala, Pond, King Gizzard and the Lizard Wizard, entre outros. Depois de passarem os últimos dois anos a abrir-nos o apetite com um punhado de singles orelhudos, chegou a hora de finalmente nos brindarem com o seu álbum de estreia homónimo.

Logo no início somos enfeitiçados com os acordes sentimentais de teclado em “Comedown”, rapidamente substituídos por uma guitarra funkadélica que, por sua vez dá lugar a um daqueles refrões onde nos podemos perder no meio do transe da sua repetição. Esta canção de abertura diz-nos já uma ou outra coisinha sobre os australianos, nomeadamente o facto de serem músicos bastante competentes e de saberem emular na perfeição o espírito da música que tentam emular sem serem imitadores de ninguém em particular.

Apesar da preferência pelo funk e pela disco há genuínas tentativas de variar a atmosfera: “Everyroad” tem uma secção spoken-word que se prolonga enquanto a canção vai ganhando camadas de vozes e sintetizadores. É a versão dos Parcels de uma canção disco progressiva. Logo a seguir, “Yourfault” é uma versão açucarada de música country com direito a slide guitar e tudo. A adição de um xilofone e gravações do som de um pântano impedem-na no entanto de se tornar apenas uma canção country genérica.

A pérola do disco é, no entanto “Bemyself” uma pepita pop imaculada com uma melodia destinada a ficar na cabeça dos ouvintes durante semanas e semanas. Um hino desavergonhadamente positivo que oscila perigosamente entre o algodão doce e o foleiro sem nunca cair em nenhum. A acabar o álbum está uma canção apropriadamente chamada “Credits” na qual o rapper alemão Dean Dawson, encarnando um qualquer DJ jamaicano, lê os créditos do disco entre interjeições e divagações, por cima de uma groove subtil.

O álbum de estreia dos Parcels, com a sua relativa longa duração (51 minutos), raramente arrisca perder os seus ouvintes graças às melodias aprimoradas e a pequenas surpresas, como por exemplo a flauta em “Lightenup” ou o solo ondulante de “Tape” que nos agarram pelos ouvidos e mantém-nos por perto. Um disco de estreia tão polido ameaça ser um fardo (que o digam os Strokes) particularmente um trabalho com uma sonoridade tão específica como este. O álbum prova que os Parcels sabem escrever grandes canções. Se essa habilidade será o suficiente para um próximo disco é impossível saber por agora. Igualmente impossível vai ser esperar por ele.