segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Discografias Comentadas: Led Zeppelin

 

Discografias Comentadas: Led Zeppelin

Uma das maiores bandas da história do rock, o grupo britânico Led Zeppelin esteve na Terra apenas 12 anos, mas o suficiente para atingir esse posto com mérito, sobras e principalmente, milhares de fãs espalhados ao redor do mundo, fora as influências geradas através de seus dez álbuns (nove de estúdio e um ao vivo). O Discografias Comentadas dessa semana irá prestar uma justa homenagem para Jimmy Page (guitarra), Robert Plant (voz), John Paul Jones (baixo, teclados, mandolim) e John Bonham (bateria), o quarteto que bateu o The Beatles em vendas e em popularidade, arrasou por onde tocou e marcou a década de 70 como sendo o grande nome do rock daquela época. Trataremos apenas dos álbuns de estúdio, deixando os álbuns ao vivo nos comentários adicionais.
Vamos então voar pela carreira do Zeppelin de chumbo.

Led Zeppelin [1969]

Jamais o mundo havia ouvido uma estreia tão poderosa. Nem mesmo o Cream, com Fresh Cream, em 1966, conseguiu tal façanha. O primeiro LP do Led Zeppelin é uma aula de blues psicodélico e peso, muito peso. Page avançou as experimentações que haviam começado ainda no Yardbirds, com o essencial Little Games (1967), e tendo a aguda voz de Plant, combinou os elementos que produziram o melhor disco de estreia de todos os tempos. Logo na primeira faixa, uma pancada: “Good Times, Bad Times”. Quer música melhor para abrir um LP? A guitarra fumegante de Page, as linhas de baixo avassaladoras de Jones, a fúria exalada nas pancadas de Bonham, e claro, a sensualidade na voz do ainda menino Plant, que começava a arrancar gritos da mulherada com seus agudos que David Coverdale, David Lee Roth e outros passariam a copiar. Depois da pancada, uma leve canção, “Baby, I’m Gonna Leave You“, levada pelos violões de Page e Jones, com uma interpretação vocal fantástica de Plant, e com Bonham colocando a casa abaixo, mostrando que mesmo uma faixa acústica pode ser pesada. “You Shook Me“, de Willie Dixon, é um blues safado, perfeito para uma noite regada à vinhos, queijos e claro, sexo. A guitarra duelando com a voz excita até uma freira totalmente virgem. “Dazed and Confused” encerra o lado A, aproveitando das experiências de Page no Yardbirds. Essa canção era batizada apenas de “Confused” na época do Yardbirds, e já possuía a principal característica que fez dela essencial nas apresentações do grupo: o solo com o arco de violino e wah-wah de Page. A diferença é que no Led Zeppelin, Page encontrou uma cozinha pesadíssima, que acompanha ele com um peso desigual, incomparável ao que a cozinha do Yardbirds conseguia fazer. “Your Time is Gonna Come” abre o lado B, mostrando o lado flower-power do Led Zeppelin, e com Jones pilotando o órgão, em uma canção simples, mas bela, assim como a sequência, com “Black Mountain Side”, apenas com violão e tabla, também resquícios do tempo de Yardbirds, onde era batizada de “White Summer”. Está tudo calmo? Então “Communication Breakdown” coloca tudo abaixo de novo. Irmã mais nova de “Good Times, Bad Times”, é uma rebelde canção, com a guitarra de Page pegando fogo agora, e Plant se rasgando em agudos e mais agudos. O blues psicodélico retorna em “I Can’t Quit You, Baby”, também de Willie Dixon, só que mais embriagante, para um bar esfumaçado onde choramos as mágoas de uma mulher que nos abandonou. O álbum encerra com mais psicodelia, em “How Many More Times“. Oito minutos e trinta segundos de muita loucura, com direito a solo de arco de violino, duelo baixo-bateria, vocalizações estranhas e um riff inesquecível de baixo e guitarra. A melhor canção do álbum em disparado. Se o Led Zeppelin tivesse lançado apenas esse álbum, já seria considerado um grande grupo, mas esse era apenas o começo.

Led Zeppelin II [1969]

Se o álbum de estreia do Zeppelin de Chumbo é uma avassaladora mistura de blues, psicodelia e sensualidade, em Led Zeppelin II o grupo tenta dar uma puxada de mão. Mas não consegue! A locomotiva sonora saiu dos trilhos, e logo na primeira faixa, um clássico que até hoje destrói salas e quartos mundo afora, “Whole Lotta Love”. Com um riff grudento, uma levada manhosa e uma viajante sessão ao teremim, esse clássico alavancou ainda mais as vendas do grupo (que já tinham alcançado mais de oito milhões apenas nos Estados Unidos), fazendo com que o Led supera-se o Beatles pela primeira vez. Mas nem só de “Whole Lotta Love” vive o álbum. A sequência bluesy com “What is and What Should Never Be” e “The Lemon Song”, apesar de não serem tão sensuais quanto a dobradinha de Willie Dixon em Led Zeppelin, mantém o charme e a bela performance do grupo. O lado A encerra com uma das mais belas canções do rock, “Thank You“, uma balada de chorar, com Jones pilotando o órgão com uma suavidade que nem Chopin conseguiria fazer, que revela ao mundo o lado hippie do grupo. O lado B de II é muito diferente. Pesado ao extremo, começa com a paulada “Heartbreaker“, um show de virtuosismo de Page. “Living Loving Maid (She’s Just a Woman)” é um rock rápido, que passa despercebido depois da paulada sonora da faixa de abertura do lado B, e principalmente pelos violões de “Ramble On”, mesclando peso com momentos acústicos, e com Page tirando timbres cada vez mais inéditos em sua Les Paul. O solo de Bonham em “Moby Dick” hoje já está manjado, mas na época, era considerado o melhor já gravado por um baterista. E o álbum encerra com aquela que eu considero a melhor do disco, “Bring it on Home“, uma versão para a canção de Willie Dixon, com Plant solando na gaita de boca em um blues poderoso e detonador. Muitos consideram Led Zeppelin II o melhor álbum do grupo. Eu particularmente acho um bom álbum, mas longe de estar entre os cinco primeiros.

Led Zeppelin III [1970]

Uma análise desse disco já foi feita aqui no blog. Mesmo assim, alguns pontos precisam ser recapitulados. É nesse disco que o Led finalmente amadurece. O retiro em Bron-Yr-Aur fez surgir um novo grupo, que prestava mais atenção ao processo de composição, à busca por novas sonoridades, e também ao aperfeiçoamento da técnica de cada integrante. Considerar III como sendo um disco acústico é no mínimo estupidez. Afinal, qual disco acústico começa com uma paulada tão forte quanto “Immigrant Song”, seguida pela psicodélica “Celebration Day”, onde o baixo de Jones parece que vai derrubar seu quarto. “Since I’ve Been Loving You“, construída em cima de “Never” (do grupo Moby Grape), é o grande momento do Led Zeppelin tocando blues, sendo este o melhor blues de toda a carreira do grupo. E “Out on the Tiles” é um tiro na nuca, com sua violência descomunal para uma canção do Led, onde os gritos de Plant estão acima do normal, e a levada de Bonham simboliza bem o que era o homem tocando: uma avalanche. Mas claro, o lado acústico se destaca por ser a primeira vez que aparece com mais regularidade (lembrando que isso já havia ocorrido nos dois anteriores, mas em uma e outra canção). “Tangerine” é a balada meio sem sal, que perto de “That’s the Way” ou “Gallows Pole“, soa mais como complemento do álbum. A citada “That’s the Way” é merecedora de prêmio obra-de-arte. A afinação desconcertante de Page, a levada dos violões, e a interpretação de Plant, me arrancam arrepios em cada audição. As experiênciais orientais de “Friends” são marcantes, com o Led Zeppelin fazendo um pequeno flerte ao progressivo. “Bron-Yr-Aur Stomp” e “Hats Off to (Roy Harper)” fecham o melhor dos três primeiros discos do grupo, o mais bem trabalhado e elaborado, com a sensação de que finalmente o Led Zeppelin havia amadurecido, podendo ser aclamado tanto pelos fãs quanto pela imprensa.
Led Zeppelin IV [1971]
Quando este disco foi lançado, ninguém sabia de quem era e do que se tratava. Apenas ao abrir o vinil e ler o rótulo do mesmo que estava estampado “Led Zeppelin”, e somente isso. O nome dos músicos era expresso através de quatro diferentes símbolos, e por isso, até hoje alguns chamam o quarto LP do Led Zeppelin de Four Symbols.  Eu considero esse álbum uma sequência de III, sendo tão acústico como ele, como se fosse o lado C e D do mesmo.  Afinal, “Black Dog” é uma continuação de “Out on the Tiles”, tanto que ao vivo, o grupo a interpretava assim, e seu riff saiu dos ensaios da mesma. “Rock and Roll” é um clássico, também surgida do acaso (uma tentativa de Bonham em tocar a introdução de “Keep a Knockin”, de  Little Richard). “Misty Mountain Hop” revela um lado alegre do grupo,  através do piano elétrico de Jones e de uma harmonia mais suave, e que começava a surgir vagarosamente, assim como a obsessão por temas épicos, com  a longa “When the Levee Breaks“, sete minutos de muita exploração da guitarra, dos vocais e da gaita de boca de Plant, soltando notas rasgadas. Porém, IV é recheado de belíssimos momentos acústicos. “Going to California“, assim como “That’s the Way”, pertence a elite das melhores baladas já registradas em um álbum. “Four Sticks” expande o horizonte de sons orientais que havia surgido em “Friends”, com um Plant cantando muito. “The Battle of Evermore” traz a linda participação de Sandy Denny, a única pessoa a participar de um disco do Led como convidada nos vocais, e que, com os seus duelos vocais com Plant, faz dessa linda canção uma maravilhosa e encantadora audição. E o que dizer de “Stairway to Heaven”? Não importa que a introdução tenha sido chupinhada de “Taurus” (do Spirit), não importa que já tenha tocado tanto que até quem nasceu semana passada já conhece, não importa que tenha sido tema do Nuno Leal Maia, É um clássico! Um verdadeiro hino da música! Ela que me apresentou ao Led Zeppelin, e por causa dela, hoje estou escrevendo para vocês, pois sem o Led Zeppelin, creio que ainda hoje eu estaria ouvindo Erasure e Madonna. Sua levada suave, com um crescendo envolvente, entrando cada instrumento aos poucos, estourando no maravilhoso solo de Page, com Plant cantando tudo o que pode e mais um pouco, demonstra 100% o que era o Led Zeppelin: talento, inspiração e muita, mas muita transpiração. Um grande álbum, divisor de águas na carreira do grupo, e que só seria superado em termos de grandiosidade quatro anos depois.

Houses of the Holy [1973]

Ainda hoje eu tenho certos resquícios com esse LP. Passados 20 anos ouvindo quase sem parar os discos do grupo, Houses of the Holy as vezes me soa como um disco confuso. Page, Plant, Bonham e Jones tentam criar novos rumos para sua música, que começava a ser fortemente associda à canções celtas e também para músicas acústicas, sendo que alguns críticos chegavam ao ponto de dizer que o Led Zeppelin não era um grupo de rock. Então, gravaram esse álbum, e que transmite duas ideias bem diferentes. A primeira delas é que sim, o Led Zeppelin era uma banda de rock, e tocava esse estilo muito bem, como ouvimos em “The Song Remains The Same“, uma paulada veloz, com mais uma interpretação sensacional de Plant, e com Bonham despejando batidas furiosas, ou então em “Over the Hills and Far Away“, cuja introdução é um aprendizado de arpejos e dedilhados, e que assim como “The Song Remains the Same”, possui uma velocidade que cansa só de ouvir. Mas “The Ocean”, “The Crunge” e “Dancing Days” são leves demais, e não fazem jus ao que o quarteto já havia construído. Além disso, o reggae de  “D’yer Mak’er”, apesar de ser conhecido mundialmente, sinceramente não me agrada. Porém, graças a segunda ideia, o álbum se salva de um fiasco maior. Essa ideia é justamente de que além de ser uma banda de rock, o Led era a MAIOR banda de rock da década de 70, e podia investir em algo muito além de simplesmente acordes simples, fazendo composições extremamente complexas que beiravam o progressivo. São essas canções, duas na verdade, que elevam o nível de Houses of the Holy, fazendo-o essencial tanto como os outros. A primeira delas, “No Quarter“, é um show de John Paul Jones no piano. Longa, sombria e penetrante, choca com a quantidade de efeitos empregados na guitarra de Page, e com a praticamente ausência de Bonham. Essa ausência também é sentida em “The Rain Song“. Se “That’s the Way” é merecedora de prêmio de obra-de-arte, e “Stairway to Heaven” é um clássico, “The Rain Song” é a mistura das duas, e muito mais. Sua construção ao violão de 12 cordas de Page, com Plant cantando praticamente sussurrando, o crescendo com a entrada de Bonham, a harmonia das cordas arranjadas por Jones, e uma letra emocionante, colocam “The Rain Song” entre as minhas favoritas da carreira do Led e também em todos os tempos. Só por ela já vale o investimento em Houses of the Holy, que por deslizes em “The Crunge” e “Dancing Days”, é um álbum abaixo dos seus antecessores, mas bem melhor do que muito que ouvimos hoje em dia, sendo que com ele, o Led conseguia atingir o número 1 em casa, algo que nos Estados Unidos havia sido conquistado desde o início.

Physical Graffiti [1975]

Uma das tarefas mais difíceis de serem feitas por mim aqui no blog é fazer essa discografia comentada. Não por que eu desconheço os álbuns ou por que tenha muita música para ouvir, mas simplesmente por que em poucas linhas, estou comentando uma das minhas bandas favoritas, que lançou aqueles que para mim, estão entre os melhores discos da história. E pior, pelo menos dois deles estão entre os 10 mais, sendo um deles, Physical Graffiti, o que considero o melhor disco de todos os tempos (lado a lado com Tales from Topographic Oceans, do Yes). 18 meses para ser gravado (um recorde à época), experimentações, reconstrução de canções abandonadas em Houses of the Holy e IV, e muito trabalho, resultaram em um álbum duplo inigualável, perfeito. De ouvir, ouvir, ouvir e não parar enquanto o disco furar (como aconteceu comigo). Com certeza, Physical Graffiti é o disco que mais ouvi em minha vida. E não é a toa. Todas suas 15 canções são suculentos pedaços de filet mignon, que devem ser saboreadas prazerosamente, sem nada para incomodar. O quarteto cumpria sua meta de ser a maior banda do mundo, sem um estilo definido, e colocando respeito nas demais. “Black Country Woman” e “Bron-Yr-Aur” revivem os momentos acústicos de III e IV, sendo a primeira uma canção agitada, e a segunda, um bonito dedilhado ao violão de Page. “Custard Pie”, “Houses of the Holy”, “Night Flight“, “The Wanton Song” e “Sick Again” são rocks dançantes, swingados, com suas levadas bluesísticas, as vezes mesclando teclados, e principalmente com Plant cantando muito. “Boogie With Stu” é uma divertida peça musical, saída dos ensaios de III, com Jones pilotando o mandolim, assim como havia feito em “Going to California”, bem como o próprio Jones dando um show no piano. As baladas tambem aparecem, uma mais melosa, “Down by the Seaside”, a outra, um revelador horizonte de quanto o grupo havia crescido em composições, chamada “Ten Years Gone“, outra bela letra de Plant. Experimentações em “The Rover”, onde Page esgota as possibilidades de efeitos em sua guitarra, em uma melodia lindíssima, e também na funkeada “Trampled Underfoot“, com Jones estraçalhando os dedos em seu piano elétrico, Bonham forte na bateria, Plant gastando a voz e Page destroçando o wah-wah, são complementadas pela parte épica do LP, composta por três espetáculos sonoros, onde o Led conquista o reinado do rock e os súditos que ainda não haviam se curvado. “In My Time of Dying” é lisergia e blues exalando  do slide de Jimmy Page em uma afinação estranhíssima, empregados para uma noite de sexo selvagem, com Plant gritando enlouquecidamente em onze alucinantes minutos, e Page, Jones e Bonham fazendo a cama sonora para a orgia vocal de Plant. Delírio total! “In the Light” leva as experimentações com teclados e efeitos de Jones ao limite, flertando direto com o progressivo, e destacando cada vez mais os dotes musicais de Jones (talvez o melhor instrumentista do grupo) também nos teclados. E por fim, mais uma obra-prima, “Kashmir“. Seria essa uma Maravilha do Mundo Prog? Mesclando sons orientais, um trabalho de cordas fantástico, a guitarra de Page quase que apenas como um acompanhamento, uma batida chocante de Bonham e uma emocionante intrepretação de Plant, fazem dessa a preferida dos membros do grupo, e da maioria dos fãs (eu me incluo). Perdoem pelo longo texto, mas como eu disse, é difícil falar do melhor álbum da história em poucas linhas. Esse foi o primeiro disco do grupo pelo selo Swan Song, e também é o mais vendido da carreira do Led Zeppelin.

Presence [1976]

Gravado após diversos problemas pessoais, principalmente com Plant, que sofreu um grave acidente de carro meses antes das gravações, e fez todo o processo de gravação em uma cadeira de rodas, Presence é tido por muitos como o pior disco da carreira do Led. Para mim, Presence perde apenas para Physical Graffiti. Mesmo não sendo tão diversificado quanto Houses of the Holy e Physical Graffiti, ele mostra um Led Zeppelin voltando suas sonoridades para as raízes do blues, sem perder o status atingido de mega banda. O LP abre com outra canção que pode ser considerada a melhor da carreira do grupo, a épica “Achilles Last Stand“, e que também poderia ser considerada uma maravilha Prog. Fãs de Iron Maiden que me perdoem, mas baixo cavalgante é o de Jones nessa canção, que permanece como um martelo periódico na sua cabeça. As mudanças de acordes de Page, repleto de variações climáticas e melodias, naquela que sem dúvidas é a mais complicada canção do Led Zeppelin para Page, a levada tinhosa de Bonham, com rufos, viradas e um pique assombroso, e a interpretação vocal de Plant, são um violento golpe logo na abertura do álbum, e os mais de dez minutos da canção hipnotizam o ouvinte para o que vem pela frente, uma doce e viajante visita ao blues moderno. “For Your Life” é justamente isso, a versão moderna do blues que influenciou o Led Zeppelin, mas adaptada para o que o grupo estava fazendo. “Royal Orleans”, apesar de ser curta, é outro violento soco no ouvinte, que mesmo tendo acalmado os ânimos em “For Your Life”, balança na faixa que encerra o lado A. O lado B abre com “Nobody’s Fault But Mine”, mais um blues moderno, com Plant trazendo seus dotes na gaita de boca, em um solo de tirar o fôlego. “Candy Store Rock“, com o boogiezão de baixo e guitarra, e “Hots on for Nowhere” , outro que Jones e Page fazem belos duelos, são pontes belíssimas e envolventes entre a canção que abre o lado B e o tiro de misericórdia que encerra esse lado, chamado “Tea For One“. A animada introdução não diz o que é a canção. Um blues de se cortar os pulsos. Nove minutos para colocar o ouvinte de joelhos, e pensar na vida, correndo sérios riscos de cometer um suicídio depois. Nove minutos de dramaticidade, tristeza, depressão e todo sentimento ruim que alguém poderia registrar, mas só o Led conseguiu fazer isso com tanta perfeição. “Tea For One” é outra canção que, assim como “Achilles Last Stand”, figura entre minhas favoritas. O solo de Page reflete um improviso de um cidadão perdido, em sua última noite na Terra, tomando seu último chá sozinho. É arrepiante! As linhas de baixo e bateria, suaves, quase que inaudíveis, e Plant chorando ao microfone, marcaram minha infância, e me mostraram que o Led Zeppelin era muito mais do que “Stairway to Heaven”. Presence é o disco mais pesado, mais denso e talvez o menos virtuoso e trabalhado, sendo o único a não conter teclados ou violões. Ou seja, é um álbum totalmente cru, somente guitarra, baixo, bateria e voz, o que reflete, por outro lado, em ser o mais sentimental dos álbuns do Led. Rodou (ainda roda) muito na minha vitrola, sendo que dois vinis acabaram furados (assim como Physical Graffiti). 

In Through the Out Door [1978]


Se Houses of the Holy eu ainda não consigo ouvir redondinho, esse álbum segue a mesma linha. Depois de mais problemas pessoais (Page quase perdeu o dedo em um acidente de trem, e estava altamente viciado em heroina, enquanto Plant perdeu seu filho para uma doença rara), o Led voltava aos estúdios tentando se adaptar aos novos sons. O uso exagerado de teclados acaba dando um som diferente para as canções do quarteto, e a própria voz de Plant está em um timbre diferente do comum, sem tantos agudos e com algum efeito. Por trás dos teclados, a guitarra de Page acaba sendo encoberta, e o único que ainda toca algo no mesmo estilo é Bonham. O disco começa bem, com a viajante “In the Evening“, repleta de efeitos na guitarra de Page. Essa é a única canção que Page aparece mais, e aqui já percebemos a mudança na voz de Plant. A sequência do álbum peca, principalmente em canções como “South Bound Saurez”, “Fool in the Rain” e “Hot Dog”, que complementam o lado A. Acho que sou o único que não gosta de “Hot Dog”. Ok, não é uma canção ruim, mas para o que o Led já havia feito, é simples demais. O piano e o estilo country não combinaram. As outras duas parecem sobras inacabadas de Houses of the Holy, e de novo, os teclados destacam-se muito mais do que deveriam. O Lado B abre com “Carouselambra“, e finca o pé do Led no progressivo de vez. Agora, ele já não mais flerta, e sim, arranca as roupas do progressivo em um sexo animalesco, dividido em três etapas de uma longa peça, variando com climas orientais, outros mais lentos e muitas partes intrincadas. A melhor canção do disco, e uma das melhores do Led. “All My Love” é a balada do disco, com uma linda letra e um belíssimo arranjo, além do solo eterno de Jones nos teclados, e ficou bem como sequência de “Carouselambra”. O álbum encerra-se com “I’m Gonna Crawl”, uma balada que antecipa o que viria a ser a carreira solo de Plant nos anos oitenta. Depois da crueza de Presence, esse é um álbum muito moderno para o meu gosto, sendo o último que deve ser ouvido na minha opinião. O grande destaque do LP (fora “Carouselambra”) era a capa. Sua versão original vinha envolta de um envelope, e dentro, o fã encontrava apenas duas das seis capas desenvolvidas para o mesmo. Uma grande jogada de marketing, que ajudou In Through the Out Door a vender mais do que Presence, e colocou o nome do Led novamente no topo. Mas infelizmente, Bonham faleceu no dia 25 de setembro de 1980, e a maior banda de rock a pisar na Terra encerrava precocemente suas atividades com um álbum que para mim, está abaixo do esperado. 

Coda [1982]


Como uma despedida aos fãs, Jones, Page e Plant resolveram lançar algumas sobras de estúdio desde o seu início de carreira. Coda acaba sendo um passeio pela discografia do Led Zep, refletindo bem cada momento do grupo. “We’re Gonna Groove“, que abre o LP, é uma paulada raivosa que injustamente ficou de fora do álbum de estreia, e poderia ter ocupado o lugar de “Your Time is Gonna Come”, por exemplo. “Poor Tom”, com sua sonoridade acústica, poderia ter facilmente entrado em III ou em IV, e certamente, ficou de fora por ser “alegre” demais. “I Can’t Quit You Baby” é uma versão diferente da mesma canção que está no álbum de estreia, e não sei por que o grupo colocou essa versão em Coda, deixando de lado por exemplo “Hey Hey What Can I Do“, que acabou saindo como bônus na versão em CD. “Walter’s Walk” é um regresso aos tempos de Houses of the Holy, sendo bem melhor que “Dancing Days” ou “The Crunge”, e que talvez pudesse ter sido melhor trabalhada, apesar  do belo trabalho de baixo e guitarra. “Ozone Baby” é outra que lembra os tempos de Houses of the Holy, e certamente, o maior destaque vai para o baixão retumbante de Jones. “Darlene” é uma prévia do que seria o Led em In Through the Out Door, não trazendo muitos acréscimos na discografia do grupo, e “Bonzo’s Montreux” é uma brincadeira entre Bonham (o Bonzo) e Page, sendo um solo de bateria com participações de um estranho piano elétrico (tocado por Page). Agora, o que é inexplicável é como uma paulada chamada “Wearing and Tearing” não havia aparecido em um álbum oficial do grupo. É pornográfico ouvir essa canção e saber que ela poderia ter estado em In Through the Out Door. A violência dos vocais de Plant, a poderosa batida de Bonham, com o baterista destruindo o bumbo, o riff complicado de Page e Jones, impressionam pela crueza, sendo um belo seguimento à Presence. Mas claro, pela ausência de teclados, fica justificada a ausência de um dos maiores petardos da carreira do grupo, e que graças à Coda, o mundo ficou conhecendo. Somente por isso, Coda já vale o investimento, e no geral, é um álbum muito bom, apesar do sentimento nostálgico que ele deixa ao final de seus sulcos.

Depois, o Led se reuniu algumas vezes, mas nunca mais voltou aos estúdios. Por outro lado, coletâneas e álbuns ao vivo tem pipocado regularmente com o passar dos anos. Alguns destaques são as coletâneas Remasters (1990) e Mothership (2007), que apesar de não trazerem novidades, são um bom começo no início do som do Led. Ao vivo, o grupo lançou o ótimo The Song Remains the Same, em 1976, que também virou filme de mesmo nome, enquanto que em 1997, BBC Sessions saciou os fãs que queriam ouvir o Led ao vivo no início da carreira, e How the West Was Won (2003) apresenta o grupo no começo de seu auge, logo após o lançamento de IV, em dois shows nos Estados Unidos durante a turnê de 1972. Uma bela experiência, que complementada pelo DVD Led Zeppelin (2003), encerram o valioso material disponível deste que é um dos meus grupos favoritos, e que eu espero ter conseguido trazer um pouco de minha paixão e da representividade de sua discografia 

Discografias Comentadas: Vintersorg

 



O grupo Vintersorg (“Tristeza do Inverno”, em sueco) surgiu em 1994 na cidade de Skellefteå , na Suécia, com o nome de Vargatron (“Trono do Lobo”) e a intenção de fazer um black metal com vocais limpos, ao contrário do usual rasgado/gutural. Com o fim do projeto em 1996, o vocalista e multi-instrumentista Andreas Hedlund (que já utilizava o nome artístico Vintersorg) decidiu continuar com o projeto como uma one-man band, lhe dando o seu nome artístico.
Desde então, o grupo já lançou sete discos e um EP, partindo de uma mistura de black metal e pagan/viking metal (com letras exaltando a natureza e temas nórdicos) e alterando o seu som para uma grande mescla de estilos, onde cabia praticamente tudo, principalmente após o guitarrista Mattias Marklund ter se tornado membro permanente, formando dupla com Andreas Hedlund, e ambos terem adotado uma temática ligada a temas do universo, da ciência e da tecnologia em suas músicas.
Vale citar que Vintersorg é também vocalista de diversas bandas, como Otyg, Borknagar, Waterclime, Havayoth, Fission e Cronian.
Com vocês, a discografia da Tristeza do Inverno.

Hedniskhjärtad [1998]

Neste EP de estreia (cujo o título significa “Paganhearted” em inglês, algo como “com o coração pagão”, em português), Andreas reuniu as ideias não aproveitadas para o Vargatron, além de outras compostas após o fim da banda, e deu início à saga do Vintersorg. Já aqui se pode perceber o amplo espectro musical que o projeto iria atingir em seus futuros discos. Vocais hora limpos, hora rasgados, às vezes extremamente agressivos e em outras próximos ao gutural (sem contar as vocalizações femininas em “Stilla“, um dos destaques do EP, feitas pela cantora Cia Hedmark), melodias quase folk misturadas à sonoridades tipicamente black metal, violões suaves misturados à guitarras distorcidas, que por vezes perfazem melodias que lembram bandas da NWOBHM, por exemplo, além de teclados muito bem encaixados e de uma bateria que, embora programada, não soa repetitiva ou chata em nenhum momento. Aqui, Vintersorg foi auxiliado pelo músico Vargher, que tocou os teclados e fez a programação da bateria. Um belo começo para o grupo (apesar da produção ainda se ressentir de uma maior qualidade), no qual merecem destaque também as faixas “Norrskensdrömmar” e “Tussmörkret“, sendo o EP completado pelas não menos apreciáveis “Norrland” e “Hednaorden”.
Till Fjälls [1998]

Em Till Fjälls (“Para as Montanhas”, em português), Vintersorg basicamente seguiu o estilo do EP de estreia, embora dando mais ênfase às melodias que às partes mais agressivas. Os vocais rasgados típicos do black metal perdem espaço (embora ainda governem “Jökeln“, a mais agressiva e uma das melhores do disco), e as vozes limpas sobressaem-se em canções como a diversificada faixa-título (a maior do álbum), “Vildmarkens Förtrollande Stämmor” (outra bastante agressiva) e na curta “Hednad I Ulvermånens Tecken”. Novamente com a participação de Vargher e Cia Hedmark (que, desta vez, participa de duas músicas, a melódica “Isjungfrun” e a de encerramento, “Fångad Utav Nordens Själ“, com belas passagens com flauta e violão), ainda participam os músicos Andreas Frank (solo em “För Kung Och Fosterland” e “Asatider“, que com seu começo em clima de guerra e seu ritmo empolgante se configura na melhor faixa do disco) e Nisse Johansson (teclados adicionais). Se o black estava perdendo espaço para o metal mais “tradicional”, os elementos folk continuavam presentes através das belas passagens de violão, no que pode ser considerado um álbum que apontava as mudanças que haveriam na sonoridade do grupo nos próximos anos.
Ödemarkens Son [1999]
Neste terceiro álbum, o lado folk volta a prevalecer sobre a faceta black do grupo, cada vez mais substituída por um heavy metal mais orientado para as melodias. Se “Under Norrskenets Falland” e “När Alver Sina Runor Sjun” ainda apresentam partes bastante agressivas, “Trollbunden” é totalmente focada nos pianos, violões e teclados, sendo uma bela vinheta. “Offerbäcken” talvez seja a que melhor equilibra os lados black e folk de Vintersorg, e a faixa título dá mostras do estilo progressivo que apareceria de vez nos álbuns seguintes. Para mim, os grandes destaques são a melódica e veloz (na maior parte de sua duração) “I Den Trolska Dalens Hjär” e a climática “Svältvinter“, que mais uma vez tem Cia Hedmark nos vocais, assim como acontece em “Månskensmän”. Com os mesmos músicos colaboradores de Till Fjälls (à exceção de Nisse Johansson), Ödemarkens Son (“Filho da Vastidão”, em português) é um disco superior aos trabalhos anteriores, mas ainda aquém daquilo que o grupo poderia atingir.
Cosmic Genesis [2000]
Cosmic Genesis pode ser considerado o álbum que inicia a segunda fase do Vintersorg. Marcando a estreia de Mattias Marklund nas guitarrs, e com as letras agora em inglês (com exceção da de “Om Regnbågen Materialiser”), e dedicadas a assuntos como a física quântica, o cosmos e a astronomia, deixando um pouco de lado os temas nórdicos e ligados à natureza dos discos anteriores (que tinham letras em sueco), o grupo também alterou o seu som, acrescentando generosas doses de progressivo, além de compor músicas mais longas e com ainda mais variações. Isso é sentido já na segunda faixa “Algol”, que possui efeitos eletrônicos em sua introdução até então inéditos na discografia da banda. Este é o disco que, para mim, contém a melhor música já composta por Vintersorg, a empolgante “A Dialogue With The Stars” (é impossível não ficar repetindo os “ô-ô-ô” de seu refrão), mas as demais canções não deixam a bola cair. A faixa título mostra um estilo completamente diferente de vocais em seu início (em se tratando do usual nos trabalhos anteriores), depois voltando à voz limpa do vocalista, além de riffs quebrados e mais alguns elementos eletrônicos na introdução. “Ars Memorativa” é outro destaque, bastante variada e apresentando alguns efeitos nos vocais durante sua execução, bem como “Naturens Galleri“, levada em um ritmo bastante empolgante, e com vocais limpos na maior parte de sua execução. O cover para “Rainbow Demon” (original do Uriah Heep, que também faz parte do disco tributo “A Return To Fantasy”) pode assustar aos mais puristas, mas eu gosto bastante da faceta mais obscura que os suecos lhe deram. Se a abertura com “Astral And Arcane” tem alguns dos momentos mais agressivos do álbum, “The Enigmatic Spirit” fecha o disco com as sonoridades dos violões e dos teclados mescladas em uma bela balada, que demonstra que o lado folk do Vintersorg continuava presente, apesar da temática das letras estar diferente, e novamente apresenta alguns efeitos interessantes nos vocais. Contando apenas com a participação de Nils Johansson nas programações e teclados (além da dupla “Mr. V” e Marklund), a banda reinventava sua sonoridade, sem no entanto abandonar de vez sua origem. Um grande álbum (melhor que os anteriores até aqui), mas o auge ainda não havia chegado.

Visions From The Spiral Generator [2002]

Este é o primeiro disco gravado com um baterista humano (no caso, Asgeir Mickelson, do Borknagar e diversas outras bandas), além de contar com o monstruoso baixista Steve DiGiorgio (Sadus, Death, Testament e muitas outras), que dá uma verdadeira aula de como executar linhas de baixo criativas e complexas (como em “E.S.P. Mirage“), além de Lars “Lazare” Nedland (do Solefald, que faz o Hammond em “A Metaphysical Drama”) e do velho conhecido Nils Johansson (teclados e programações). Basicamente, Visions From The Spiral Generator segue de onde Cosmic Genesis havia parado, mantendo a mesma temática lírica e acrescentando ainda mais influências e estilos à sonoridade do grupo, enriquecida pelos talentos de DiGiorgio e Mickelson. Se “Trance Locator” (a mais curta – à exceção da vinheta de abertura “Quotation” – e a mais “porrada” do álbum) parece sobra de um dos primeiros discos, canções como a quase balada “A Star-Guarded Coronation” (para mim, a melhor do play), “Spegelsfären” (com algumas das melhores linhas de teclado já gravadas pelo grupo, além de uma aula de DiGiorgio), “Vem styr symmetrin?” (que mescla muito bem porradaria e calmaria ao longo de sua duração), “Universums Dunkla Alfabet” (e seus vários climas) e “The Explorer” (que soa bastante calma perto de outras do disco, apesar dos vocais rasgados em seu começo), soam mais progressivas e menos agressivas que as anteriores da discografia da banda, mas não significa que sejam piores que estas. Pelo contrário, pois muitos consideram este o melhor trabalho do grupo, mas a verdade é que ele forma uma trilogia com seu antecessor e seu sucessor onde a qualidade é mantida lá em cima, sendo bastante difícil escolher qual deles é o “melhor”, constituindo-se este período no auge criativo do grupo.


The Focusing Blur [2004]

O quinto álbum completo do grupo é basicamente uma continuação do que o Vintersorg havia feito nos dois trabalhos anteriores, porém é também o mais esquizofrênico até então, devido às muitas variações dentro das mesmas músicas, pois em um momento podemos estar “batendo cabeça” alucinadamente com uma “pauleira” das boas, e no seguinte a música apresenta violões e teclados quase etéreos, em um clima de calma e beleza que contrasta extremamente com o momento anterior (ou com o seguinte), além de apresentar elementos eletrônicos e outros que parecem retirados de um parque de diversões bizarro, e dos vocais variarem constantemente entre o limpo, o rasgado e o gutural. A constante mudança de climas pode desconcertar um ouvinte neófito, mas não aqueles que já conhecem a sonoridade do grupo, já acostumados a esta faceta do Vintersorg, que aqui encontra o seu ponto máximo. Este é o único disco até aqui a contar com letras apenas em inglês, e tem novamente as participações de Asgeir Mickelson na bateria, Lars Nedland (que faz o Hammond em “Star Puzzled”, além de diversas narrações ao longo das músicas) e de Steve DiGiorgio, mais uma vez dando aulas de baixo, como acontece em “Matrix Odyssey“. O disco apresenta duas vinhetas, a abertura mais eletrônica com “Prologue Dialogue – The Reason” e a instrumental “Artifacts of Chaos”, além da “quase balada” “Epilogue Metalogue – Sharpen Your Mind Tools“, com seus violões e teclados “viajantes” e um show de DiGiorgio no baixo. A qualidade de canções como “The Essence”, “The Thesises Seasons”, “A Sphere in a Sphere? (To Infinity)“, “A Microscopical Macrocosm” (que possui o melhor refrão do álbum) e “Dark Matter Mystery (Blackbody Spectrum)” torna difícil uma descrição mais adequada de cada uma, pois as muitas alternâncias de estilos e climas dentro de uma mesma composição precisariam de linhas e mais linhas para serem detalhadas com precisão. O melhor é ouvir esta maravilha, admirando a enorme capacidade criativa de Vintersorg e seu parceiro Mattias Marklund.

Solens rötter [2007]

Solens rötter (Raízes do Sol, com a segunda palavra iniciando com letra minúscula mesmo) é uma espécie de “volta às raízes” para Vintersorg. As letras voltam a ser em sueco, a bateria volta a ser programada, o baixo sai das mãos do virtuoso Steve DiGiorgio e passa ao não mais que competente Johan Lindgren, além do velho conhecido Nils Johansson nos teclados e programações. No lado musical, são as melodias folk que ganham com essa retomada, pois o álbum é bem mais calmo que os anteriores, com muito uso do violão e poucos efeitos eletrônicos, ao contrário de seus três antecessores diretos. O que não significa que as guitarras não apareçam com maior destaque em certas composições, como é o caso de “Naturens Mystär“, uma das mais agitadas e velozes do play, e de “Att Bygga en Ruin”, que tem um final bem folk. “Spirar Och Gror” é a que mais lembra a trinca anterior, mas mesmo assim é bem menos esquizofrênica e bem mais calma que as canções de The Focusing Blur, e “Från Materia Till Ande” tem algo em sua construção que lembra as canções solo do mestre King Diamond. No geral , as músicas estão mais diretas e melódicas do que no disco mais recente antes deste, sendo assimiladas com maior facilidade pelo ouvinte comum, e a constante troca entre vocais limpos e gritados/rasgados continua, sendo que o gutural é usado em poucas partes, como na melódica “Kosmosaik“. Se com a mudança na sonoridade houve uma queda na qualidade, isso cabe a quem ouve julgar, mas eu prefiro a fase anterior. De qualquer modo, canções como “Döpt I en Jökelsjö” (que abre – e muito bem – os trabalhos), “Strålar” (que pode ser considerada a “balada” do álbum) e a instrumental “Vad Aftonvindens Andning Viskar” (que encerra o disco) se deixam ouvir sem nenhum desgosto, embora o andamento seja bem mais cadenciado do que aquele a que o fã do grupo estava acostumado.

Jordpuls [2011]
Após quatro anos (nos quais Andreas Hedlund dedicou-se às suas bandas e projetos paralelos), o Vintersortg lançava um novo disco. E a “volta às raízes” iniciada em Solens rötter continua neste CD, porém desta feita com composições mais agressivas do que em seu antecessor. Isso já é percebido logo de cara na faixa de abertura, “Världsalltets Fanfar“, que abre com as guitarras rasgando em uma das melhores composições da carreira do grupo. “Klippor och skär” mantém alguns teclados e violões ao longo de sua duração, mas o foco está mesmo nas passagens mais agressivas,assim como em “Skogen Sover” e “Till Dånet Av Forsar Och Fall”. “Eld Och Lågor” poderia ser encarada como a balada do álbum, com seu belo arranjo acústico, enquanto “Mörk Nebulosa” tem trechos bastante agressivos misturados a outros que lembram o metal melódico, e “Vindögat” e “Palissader” apresentam um pouco das contantes variações de discos anteriores, mas em muito menor número do que as canções daquela época. A linha de composições mais diretas adotada em Solens rötter também se repete aqui, sem a esquizofrenia dos álbuns com letras em inglês. Isso torna mais fácil assimilar as músicas deste Jordpuls (“Pulso da Terra”, em Sueco), e após poucas ouvidas você já consegue cantarolar boa parte dos trechos do álbum (claro que acertar as letras em sueco é quase impossível, mas o “embromation” cumpre bem seu papel nessas horas!). Talvez aqueles que não curtam muito as variações sonoras dos discos anteriores tenham este álbum como seu preferido devido a este fator, mas, apesar de ser melhor que seu antecessor, ainda prefiro a louca genialidade da trilogia “Cosmic/Vision/Focusing”.
Mattias Marklund e Andreas “Vintersorg” Hedlund
Até onde eu sei, a tour de promoção para Jordpuls (se é que haverá uma), ainda não começou, e o grupo encontra-se em recesso após o lançamento do álbum.
Resta-nos aguardar o que esta criativa dupla nos trará nos anos futuros. Mantendo, espera-se, a qualidade e criatividade de sempre, é claro!

John Greaves - Songs 1994

 

John Greaves  sempre fez seu melhor trabalho em colaboração, seja em seus primeiros dias no coletivo hipercolaborativo  Henry Cow  ou em álbuns posteriores com nomes como  Pip Pyle ,  Lisa Herman e seu principal colaborador,  Peter Blegvad . Em seu quinto álbum,  Songs , no entanto, o desfile de estrelas convidadas ocasionalmente fica um pouco opressor. É mais como um  álbum tributo a John Greaves  do que qualquer outra coisa! Trabalhando com um trio de piano/baixo/guitarra acústico sem baterista estrelando a pianista francesa  Sophia Domancich , junto com vários músicos convidados,  Greaves  executa um programa de músicas antigas e algumas novas. Ele não canta nada, deixando isso para amigos como  Robert Wyatt  (que contribui com três vocais, incluindo um remake impressionante de "Kew. Rhone.") e  Kristoffer Blegvad . Isso não é uma coisa ruim em si ( Wyatt  e  Blegvad  são ambos intérpretes impressionantes), mas significa que um pouco da  personalidade de Greaves infelizmente está faltando no álbum.  As músicas  serão um deleite para os fãs de longa data, mas os novatos são aconselhados a começar em outro lugar primeiro para o efeito completo





Butch Morris - Dust To Dust 1990

 

A técnica de condução de Lawrence "Butch" Morris, uma forma de improvisação dirigida pela qual os músicos seguem uma variedade de sinais de mão ao vivo do maestro para moldar e remodelar música notada e não notada, não assumiu o status reverenciado do  método harmolódico de improvisação livre de Ornette Coleman , mas produziu música igualmente emocionante. Na verdade, espelhando a mistura aguçada de composição e improvisação encontrada no  trabalho de  Anthony Braxton e  John Zorn , a música relativamente estruturada de Morris às vezes supera  a produção mais livre de  Coleman . Se suas concepções fossem amadoras, as "canções" de Morris empalideceriam em comparação a qualquer trabalho de ponta que  Coleman  produziu, mas, como é o caso de  Dust to Dust , as peças saem soando inteiras e refinadas, aprimoradas grandemente por uma variedade de reviravoltas musicais improvisadas. Alistando um elenco estelar de 12 músicos, incluindo, entre outros, o baterista  Andrew Cyrille , a pianista  Myra Melford , a harpista  Zeena Parkins , o clarinetista  Marty Ehrlich e o tecladista  Wayne Horvitz ,  Morris  trabalha em um programa variado de sete números, misturando elementos eletrônicos e acústicos para produzir paisagens sonoras ambientes em constante mudança. As peças variam das espaçosas e pastorais "Via Talciona" e "Othello A" (com as partes de harpa evocando vagamente a música koto japonesa) até a mais compacta e atonal-minimalista "Bartok Comprovisation", que é insistentemente movida por figuras repetitivas tocadas no piano e uma variedade de instrumentos eletrônicos. Durante todos esses cortes, uma infinidade de fragmentos sonoros entram e saem conforme os temas originais se tornam progressivamente mais difusos, quebrados por uma variedade de mudanças rítmicas. Alguns artifícios sonoros não saem, como alguns trechos estranhos de guitarra em "Via Talciona", mas considerando a quantidade de improvisação acontecendo aqui e o resultado quase perfeito, essas indiscrições acabam como aberrações atraentes. Tomando a brevidade de 12 tons de Webern, a música do Extremo Oriente, o jazz, o  trabalho ambiente de  Brian Eno e um monte de suas próprias ideias composicionais, Morris  cria uma mistura sofisticada e satisfatória em  Dust to Dust 



Kevin Ayers - The Confessions of Dr. Dream and Other Stories 1974

 

O quinto álbum de Kevin Ayers, The Confessions of Doctor Dream and Other Stories, é típico de seu trabalho. Ele canta com sua voz profunda e distinta com seu sotaque inglês culto (soando muito como  John Cale ) em músicas definidas em uma variedade de estilos pop, do hard rock a uma espécie de abordagem de music hall. Ele é frequentemente brincalhão e envolvente, embora suas músicas não somem muito. O segundo lado do álbum contém uma suíte de 18 minutos chamada "The Confessions of Doctor Dream", com uma participação especial de  Nico , que exemplifica o apelo amável, embora desfocado, de Ayers.
















Destaque

BIOGRAFIA DOS Echolyn

  Echolyn é uma banda americana de rock progressivo formada na Pensilvânia em 1989. Echolyn foi formado em 1989 quando o guitarrista Brett K...