terça-feira, 17 de setembro de 2024

Discografias Comentadas: Mutantes

 

Sérgio Dias, Rita Lee e Arnaldo Baptista

Um dos maiores grupos do rock nacional, e talvez o mais apreciado no exterior, o Mutantes revelou ao mundo um trio capaz de fazer chover no final da década de 60, através dos nomes de Rita Lee (voz, flauta, percussão), Sérgio “Serginho” Dias (guitarra, vocais) e Arnaldo Baptista (baixo, teclados, voz). O grupo entrou a década de 70 com mais dois membros: Arnolpho Lima “Liminha” Filho (baixo) e Dinho Leme (bateria). Como quinteto, o grupo chegou no auge da carreira, ao mesmo tempo que viu Rita Lee construir uma carreira solo em paralelo, que levou-a sair do Mutantes, graças também as influências progressivas que o grupo passou a adotar após seu quinto álbum.
Sem Rita, o grupo seguiu como quarteto, e alternando diversas formações, gravou mais dois LPs, encerrando as atividades em 1978. Depois de muitas especulações, o Mutantes voltou a ativa em 2006, trazendo  Serginho, Arnaldo, Dinho e Zélica Duncan nos vocais, permanecendo em carreira nos dias de hoje carregado pela lisérgica guitarra de Serginho e os demais membros atuais do grupo.

Vamos então conhecer um pouco mais sobre essa que é  mais perfeita discografia do rock nacional. E para aqueles que desejam conhecer um pouco mais da história do grupo, aqui está o nosso Podcast em homenagem ao grupo, o qual, aconselhamos ouvir ao mesmo tempo que lê essa matéria.

Os Mutantes [1968]

A estreia do grupo (contando ainda com o artigo OS no nome) é uma aula de tropicalismo. Auxiliados pelo Maestro Rogério Duprat, o trio Rita, Arnaldo e Serginho abriu a boca de muita gente em uma participação especialíssima no álbum Tropicália ou Panis et Circensis (1968), e carregou toda a dose de psicodelismo daquele álbum para seu primeiro LP. Abrindo com a clássica “Panis et Circensis”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, o disco passeia por canções experimentais, construídas principalmente pelos arranjos de Duprat e da guitarra ácida de Serginho. O predomínio das composições são versões para canções de diversos artistas brasileiros. Assim, homenageiam Jorge Ben no samba “A Minha Menina”, Humberto Teixeira e Sivuca no baião “Adeus Maria Fulô”, Caetano Veloso e Gilberto Gil na maluca “Bat Macumba” e também passeiam por composições internacionais, através da linda balada “Le Premier Bonheur du Jour” (de Frank Gerald / Jean Renard), contando com um bonito solo de flauta de Rita, e “Tempo no Tempo” ( versão em português para “Once Was A Time I Thought”, de John Philips). As composições do grupo aparecem timidamente, através de “Senhor F”, uma descrachada canção que mostra todo o lado hilário do trio, “O Relógio“, uma viajante balada cantada por Rita, repleta de experimentalismo e com um refrão muito forte, e “Ave Gengis Khan“, um belo samba-rock levado pelo piano, baixo, vocalizações, guitarra e o órgão de Arnaldo. A maioria das canções apresenta uma forte influência de grupos britânicos, onde o Beatles é notadamente o nome mais forte. Para completar, Caetano Veloso deu as contribuições mais significativas desse álbum: a balada “Baby” e a excepcional “Trem Fantasma“, composta em parceria com o trio mutante, e que é a melhor canção desse álbum, recheado de clássicos do rock nacional, e que faz do mesmo o preferido da maioria dos fãs.

Mutantes [1969] 

A parceria com Duprat concebe um álbum que, musicalmente, mostra como o trio mutante havia evoluído em termos de composição. Tendo a adição do baterista Dinho Leme, o Mutantes tira o artigo OS e consolida-se como um dos principais nomes da música brasileira. Nove das onze canções do LP são do trio, deixando para “Não Vá Se Perder Por Aí” (composta por um antigo parceiro do grupo, Raphael Villardi) e a psicodélica “Banho de Lua” (versão para “Tintarella di Luna”, de B. Filippi e F. Migiacci) as canções covers. Se era possível fazer mais clássicos do que o álbum de estreia, o Mutantes conseguiu isso. A parceria com Tom Zé em “2001” deu ao grupo o primeiro sucesso, apresentando aos brasileiros o teremim. “Algo Mais” levou-os a fazer comercial televisivo para a empresa de gasolina Shell.  As belas baladas “Fuga No2 dos Mutantes” e “Dia 36” mostram as inovações instrumentais, como o uso do arco de violino para tocar baixo na segunda, e o wah-wah construído com um pedal de máquina de costura no primeiro. “Caminhante Noturno”, “Dom Quixote” e “Mágica” (essa última fortemente inspirada no Rolling Stones de Their Satanic Majesties Request) carregam toda a psicodelia que o grupo havia apresentado em Os Mutantes, mas com mais técnica e exalando deboche e ironia em cada segundo dos sulcos do vinil. O grande destaque vai para a linda “Qualquer Bobagem“, onde Arnaldo canta gaguejando a la Roger Daltery (The Who) uma emocionante balada, com arranjo de metais perfeitamente construído por Duprat, e onde Arnaldo mostra sua paixão pelo órgão, único instrumento usado por ele a partir de então.



A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado [1970]

Aqui, o Mutantes começa a cortar o cordão umbilical que os prendia à Duprat. Com Serginho e Arnaldo tendo evoluído enormemente suas técnicas na guitarra e no órgão, adicionam o baixista Liminha, e lançam o álbum divisor de águas da carreira do grupo. A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado é uma coletânea de canções que mostram o que era o Mutantes antes dele, e o que se tornaria depois. O deboche e psicodelia estão presentes na polêmica versão para “Chão de Estrelas”, de Silvio Caldas, que fez com que o LP fosse quebrado em praça pública por conservadores que não aceitaram tamanha afronta, e também em “Hey Boy”, mas o grupo estava maduro, e pretendia sair da marca que carregava associada ao deboche, e demonstrar que eram grandes músicos e compositores. Assim, constróem pérolas que variam de estilos, mas complementam-se em sonoridades fantásticas. “Ando Meio Desligado” é a mais flower-power canção jamais gravada por um grupo da Califórnia. “Preciso Urgentemente Encontrar Um Amigo”, “Quem Tem Medo de Brincar de Amor” e “Jogo de Calçada” são aulas de rock’n’roll para a geração Jovem Guarda. “Ave Lúcifer” é uma audaciosa veneração à Satanás, repleta de psicodelismo e alucinógenos. Arnaldo destaca-se na fantástica instrumental “Oh! Mulher Infiel“, assim como os vocais do trio são exaltados em “Haleluia“. A balada “Desculpe Baby” mostra como Serginho estava concentrado em expandir sua guitarra e seus vocais. E falando em voz, nada supera a interpretação de Rita Lee em “Meu Refrigerador Não Funciona“,  canção perfeita para mostrar como a união dos arranjos de Duprat e o talento individual de cada Mutante gerava divinas pérolas musicais. O Mutantes deixou de existir para muitos depois desse álbum, pois passavam de meros coadjuvantes vocais a primorosos instrumentistas e compositores. Na verdade, eles haviam acabado de mostrar suas garras.

Jardim Elétrico [1971]

O Mutantes agora era O GRUPO do Brasil. Depois de uma temporada de shows pela europa, onde registram um álbum especialmente para o público de lá, voltam ao Brasil e deparam-se com a burocracia, que acaba trancando o lançamento de tal álbum em mais de 25 anos. Aproveitam então parte do material gravado na europa, e com a adição de mais algumas canções, registram um dos melhores trabalhos da carreira do grupo. Sem a presença de Duprat, sobrou para Serginho, Arnaldo e Rita construirem com maestria as linhas melódicas de canções que dizem muito sobre o momento individual e coletivo do Mutantes. “Benvinda” é a marca debochada. O resto, bom, o resto é nada mais nada menos do que maravilhosas canções de diferentes estilos, passeando pela bossa-nova da versão revisitada de “Baby”, cantada em inglês, o rock de “Top Top” e “Lady Lady”, o mambo irônico de “El Justiciero” e a belíssima “Virgínia”. A acidez psicodélica das drogas usadas por Arnaldo é expelida em petardos lisérgicos de nomes “Tecnicolor“, “Jardim Elétrico” (talvez o primeiro heavy metal gravado no Brasil) e “Saravá“, com Liminha, Arnaldo, Dinho e Serginho soberanos em seus instrumentos. O Mutantes manda a ditadura para a PQP no divertido jazz-rock “Portugal de Navio”, e guarda para mais uma balada, “It’s Very Nice Pra Xuxu“, a dose emocional que faz de Jardim Elétrico um álbum quase perfeito, mas ainda não o melhor.

Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets [1972]

Rita havia começado uma carreira solo nos álbuns Build-Up (1970) e Hoje é o Primeiro Dia do Resto das Suas Vidas (1972), e passava uma forte crise com Arnaldo (seu marido na época). As drogas entravam e saiam nas mãos dos membros do grupo, que não parava de evoluir tecnicamente. As canções tornavam-se mais complexas, e o progressivo batia na porta. Entre divergências musicais, acusações entre Rita e os demais mutantes, em um clima de “faremos um álbum que marcará a história do rock”, lançam Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets. Melhor álbum do grupo, é onde temos a completa performance de cada membro tanto individual como em grupo. Sendo uma sequência de Jardim Elétrico, o LP expande os estilos de seu antecessor, com mais técnica e muita perfeição. O rock inicial de “Posso Perder Minha Mulher Minha Mãe Desde Que Eu Tenha o Meu Rock and Roll” e também a versão para “Rua Augusta” são as únicas amostras do Mutantes fase-Duprat, assim como as vinhetas “Todo Mundo Pastou”. Porém, “Cantor de Mambo” resgata as veias latinas de “El Justiciero”, enquanto “Beijo Exagerado“, a paulada sônica de “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer” e “Dune Buggy” mostram ao público brasileiro o lado pesado que havia surgido em Jardim Elétrico, influenciados por grupos como Led Zeppelin, Cream e Experience. A balada “Vida de Cachorro” acaba sendo esquecida perto do grande sucesso do LP, “Balada do Louco”, uma das principais canções do Mutantes. O maior destaque vai para a longa faixa-título, uma maravilhosa experiência progressiva carregada pelo órgão de Arnaldo e pela guitarra de Serginho, em mais de 10 minutos de uma soberba interpretação instrumental. Rita saiu, e o Mutantes seguiu seu rumo, apontando o norte diretamente para o progressivo britânico, mas deixando como legado cinco discos que marcaram o rock nacional em termos de inovação, deboche, e principalmente, talento, onde Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets é a cereja do bolo.

 

Tudo Foi Feito Pelo Sol [1974]

Depois da saída de Rita Lee, o Mutantes investiu pesado no progressivo. Nesse período, influenciados principalmente por Yes, constroem um álbum conceitual que acaba barrado pela gravadora do grupo, a Polydor. Arnaldo desiste de ser um Mutante, e logo depois, Dinho e Liminha também abandonam o barco. Sérgio Dias fica sozinho, mas decide manter o Mutantes na ativa. Então, chama para o baixo Antônio Pedro, e também os ex-Veludo Elétrico Rui Motta (bateria) e Túlio Mourão (teclados). Essa formação estreia em Tudo Foi Feito Pelo Sol, a estreia do grupo também na Som Livre, e que mostra para o mundo como o Mutantes podia concorrer palmo-a-palmo com os grandes britânicos. Tirando os rocks básicos de “O Contrário de Nada é Nada” e “Eu Só Penso Em Te Ajudar”, esse LP é um tratado essencial sobre o progressivo nacional. Os teclados de Túlio fervem ao lado da performance impecável de Serginho, acompanhados por uma cozinha repleta de vigor e peso. Além disso, o grupo desenvolve o lado vocal, chamando a atenção pelas belas melodias e harmonias tipicamente Yes, que podem ser conferidas na linda faixa-título, a qual parece ter saído de Tales from Topographic Oceans (Yes) tamanha semelhança das linhas de teclados, guitarra e vocais, bem como o andamento da mesma. O virtuosismo é enaltecido na fantástica “Pitágoras“, uma instrumental onde os duelos entre Túlio e Serginho são de tirar o fôlego. “Deixe Entrar Um Pouco d’água no Quintal”, “Cidadão da Terra” e “Desanuviar” complementam o LP, com um saldo extremamente positivo, que faz do mesmo ser considerado pelos fãs dessa fase do grupo como o melhor pós-Rita. A versão do relançamento  do CD saiu com três bônus, as quais são as canções pertencentes ao compacto “Cavaleiros Negros”, lançado no mesmo ano: “Cavaleiros Negros“, um épica faixa com mais de oito minutos de muitas experimentações e intrincadas partes; “Balada do Amigo”, uma linda canção ao piano, e “Tudo Bem“, um rock’n’roll do mesmo nível de “O Contrário de Nada é Nada”.

 

Ao Vivo [1976]

Esse é um dos casos exemplares de como destruir um disco. O Mutantes havia se tornado ícone no Brasil. Shows lotados, turnês gigantescas, o nome do grupo badalado em todo o país, fez com que a gravadora Som Livre decidisse investir em um álbum ao vivo. O show no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi gravado em sua totalidade, gerando material para um álbum duplo. Porém, a Som Livre achou que um álbum duplo não iria vender, e decidiu limar o material, deixando apenas 45 minutos de música em um LP simples, lançado em Ao Vivo. Mesmo com a perda de no mínimo mais 45 minutos de muitas maravilhas progs, Ao Vivo amplia o leque progressivo que Serginho havia empregdo em Tudo Foi Feito Pelo Sol, agora ao lado de Luciano Alves (teclados), Paul de Castro (baixo, violino) e Rui Motta. Apresentando 12 faixas, todas inéditas, Ao Vivo é uma viagem ao mundo ácido das improvisações e delírios do Mutantes nesse período. A guitarra de Serginho é alucinante, com escalas furiosas, velozes e hipnotizantes, que deixavam as plateias embasbacadas com tamanho virtuosismo, assim como o moog de Luciano trabalhando bastante. “Rock’n’Roll City” é o ponto alto do LP, apresentando talvez o melhor solo da carreira de Serginho, bem como “Benvindos/Mistérios”, “Trem/Dança dos Ventos”, “Tudo Explodindo”, “Esquizofrenia“, “Rio de Janeiro” e “Gran Finale”, que mesmo sendo canções curtas, acabam empolgando pelo virtuosismo de cada mutante. As lindas “Anjos do Sul” e “Sagitarius” acalmam os ânimos exaltados nas canções anteriores, e a única derrapada é “Hey Tu”, que acaba descontando a média geral desse ótimo LP. Na versão do relançamento do CD, uma versão ao vivo de “Cidadão da Terra” entrou como bônus, não acrescentando muito na discografia geral, tornando-se mais um item de colecionador. E quanto ao resto do material cortado pela Som Livre, esse ainda aguarda um lançamento oficial.

 

O A E O Z [1992]

Depois de quase 20 anos engavetado, o que era para ter sido o primeiro álbum do Mutantes pós-Rita Lee veio ao mundo. Podado em quase 40 minutos, O A E O Z, gravado em 1973 com Liminha, Arnaldo, Serginho e Dinho na formação, é uma megalomaníaca peça progressiva, concebida para ser um álbum duplo originalmente, sendo um dos álbuns apenas com a suíte “O A E O Z”. Aqui, a suíte saiu pela metade, bem como três canções do que era para ser o segundo disco estão presentes para completar a bolacha. Concentrando-se nessas três últimas canções, “Eu Ainda Vou Transar Com Você” é um hard setentisa clássico, com uma psicodélica introdução, e com um belo andamento do grupo; “Você Sabe” é uma linda peça de violões, tabla e voz, com destaque para o duelo de violões entre Arnaldo, Serginho e Liminha. “Rolling Stone” é a mais fraca canção de O A E O Z. O grupo se perde em uma letra sem inspiração, que acaba passando para a canção um ar de “precisamos completar esse disco”. Tratando-se da suíte “O A E O Z”, aí o bicho pega. Dividida aqui em três partes, é uma canção digna do posto de Maravilha Prog. O Mutantes levou a inspiração em Yes ao limite, trabalhando essa suíte para ser a obra prima do grupo. Apesar de quase chegar lá, o que temos em O A E O Z soa incompleto, mas mesmo assim, muito bom. As passagens de guitarra e órgão em “O A E O Z“, as lindas melodias de baixo na longa “Hey Joe” e a fantástica letra de “Uma Pessoa Só“, revelam ao mundo (ainda que tardiamente) o novo Mutantes, transformado em um grupo onde um tocava por todos, e todos tocavam por um, ou seja, vivendo o lema do “UMA PESSOA SÓ”, exalando técnica, feeling, virtuose e muito talento. Esse é o melhor disco da fase sem Rita Lee, e uma pena que ainda hoje, não tenhamos o prazer de ouvir o resto do que foi gravado em 1973.

 

Tecnicolor [2000]

Se O A E O Z demorou 20 anos para chegar ao mundo, Tecnicolor demorou exatos 30 anos. O disco, gravado em 1970 para promover o Mutantes fora do Brasil, apresenta regravações em inglês para canções que apareceram nos três primeiros álbuns da banda, bem como as “inéditas” (na época) canções que fariam parte depois de Jardim Elétrico. Nas regravações, estão: “I Feel A Little Spaced Out” (“Ando Meio Desligado”), “Panis et Circensis“, “Bat Macumba”, “She’s My Shoo Shoo” (“A Minha Menina”), “I’m Sorry Baby” (“Desculpe Baby”), “Le Premier Bonheur du Jour” e “Adeus Maria Fulô”, quase todas fieis as versões originais, apenas com modificações da letra do português para o inglês, a exceção de “Adeus Maria Fulô”, cantada em português. Porém, “I Feel A Little Spaced Out” surge mais hardeira, com a guitarra de Serginho pegando fogo em uma linha de órgão e baixo sensacional. Nas canções novas, estão “Saravah”, “Tecnicolor”, “El Justiciero” e “Virginia“, que também, com a exceção das letras em inglês, são idênticas as versões que apareceram em Jardim Elétrico. Vale mais como um item de colecionador, e de forma geral, revela aquilo que já sabia na época: o Mutantes podia sim fazer sucesso no exterior, fosse o estilo que fosse, fosse a formação que fosse.

 

Haih … or Amortecedor [2009]

Quase 30 anos após o término do grupo em 1978, o nome Mutantes foi homenageado em um evento na Inglaterra, o qual tinha como principal objetivo celebrar os 40 anos da Tropicália. Assim, o Mutantes foi convidado a participar do evento, fazendo um show que foi registrado no emocionante Mutantes Ao Vivo: Barbican Theater, Londres, 2006 (2006), onde o grupo contou com Serginho, um debilitado Arnaldo, Dinho e a vocalista Zélia Duncan no lugar de Rita Lee. O show foi um sucesso, e dele, uma turnê pelo Brasil arrancou lágrimas de milhares de fãs, principalmente por ver no palco o mito Arnaldo Baptista ainda em ação. Porém, o grave problema de saúde de Arnaldo, bem como a dificuldade de Zélia em cantar as canções do grupo, levou-os a uma reformulação na linha de frente. Para os vocais, Bia Mendes assumiu o posto, e como um agora octeto, trazendo novamente o artigo “OS” para o nome, sem Arnaldo, mas com Sérgio e Dinho, voltam aos estúdios e registram Haih … or Amortecedor. Esse álbum curiosamente saiu primeiro fora do Brasil, em 2009, vindo a ser lançado por aqui recentemente, com algumas canções extras. No geral, é um pouco decepcionante ouvir o álbum como um álbum do Mutantes. Apesar da boa quantidade de canções boas, como a ótima “Querida Querida“, que abre o CD, “Baghdad Blues”, o rock de “Neurociência do Amor” e a psicodélica “Gopala Krishna Om”, Haih … or Amortecedor soa mais como uma tentativa de voltar ao tempo do Mutantes fase inicial, inclusive com canções como “2000 e Agarrum”, que por mais que exalte a interpretação vocal da talentosa Bia Mendes, acaba sendo uma cover para “2001”, assim como a divertida letra de “Careca” remete a canções como “Baby” e “A Minha Menina”, e o mambo de “Samba do Fidel” é um cópia descarada de “El Justiciero”. As linhas flamencas de “Teclar”, e a flauta de “Nada Mudou“, simbolizam o Mutantes ano 2000, mas com forte raiz tropicalista. Já “O Mensageiro” é uma balada estilo Ira! que não diz muito, assim como “Anagrama”, que contém uma letra inteligente, mas muito similar ao que o Los Hermanos já havia feito no seu segundo álbum em “Cadê Teu Suín?”, fora o ritmo sonolento da mesma. Completam o álbum as vinhetas “Hymns of the World” (partes 1 e 2). Na geral, Haih … or Amortecedor apresentou  o Mutantes para uma nova geração de fãs, e deu à eles o privilégio de ver nos palcos a melhor banda do rock nacional, mas em termos de música, soa como um álbum solo de Sérgio Dias auxiliado pelos novos mutantes, e mesmo sendo um bom disco, fica abaixo da média na carreira do grupo.

 

A nova formação do Mutantes: Henrique Peters, Sérgio Dias, Bia Mendes, Vitor Trida, Dinho Leme, Vinícius Junqueira e Fábio Recco

Além dos discos oficiais, é extremamente relevante destacar as participações do grupo como acompanhantes nos álbuns Ronnie Von 3 (1967), Gilberto Gil (1968), o EP “A Voz do Morto” – “Baby” / “Marcianita” – “Saudosismo” (com Caetano Veloso), bem como o compacto do grupo O’Seis, com “O Suicida” / “Apocalipse” e a trilha do filme “As Amorosas” (1968), os quais são cobiçados pelos fãs da banda.

Atualmente, Os Mutantes estão como um hepteto, já que a percussionista Simone Soul saiu do grupo, e está de volta as gravações, depois de uma extensa turnê que passou pelo Brasil e também por diversos países ao redor do mundo. A expectativa é que até o final de 2012 um novo CD chegue as lojas, trazendo aos velhos e novos fãs as melodias, deboches e o talento individual que encantaram fãs de todo o planeta, inclusive celebridades como Kurt Cobain, Sean Lennon e David Byrne.


“7 Desejos” (EMI-Odeon,1991), Alceu Valença

 




Após cinco anos na RCA Victor, Alceu Valença trocou de gravadora e assinou com a EMI em 1990. Naquele ano, Alceu lançou seu primeiro álbum pela nova companhia, Andar, Andar, um trabalho que carrega uma forte influência do rock na sua primeira metade, enquanto na segunda predomina a musicalidade nordestina em ritmo agitado. 

No entanto, para o próximo álbum, 7 Desejos, de 1991, Alceu decidiu seguir um caminho mais ameno, explorando uma vertente mais pessoal e poética, e uma linha musical mais serena e contemplativa. 

O álbum abre com a embolada "Papagaio do Futuro – Vinheta", um prelúdio breve, mas significativo, que prepara o terreno para a linda "La Belle de Jour". Na letra, escrita por Alceu Valença, o eu lírico expressa sua admiração por uma mulher que ele encontra na praia de Boa Viagem, na cidade do Recife, numa tarde de domingo. O título da canção remete ao filme Belle de Jour, do cineasta Luis Buñuel (1900-1983), de 1967, estrelado pela atriz francesa Catherine Deneuve. 

Em "Tesoura do Desejo", um dos momentos mais românticos e encantadores do álbum, Alceu faz um dueto com a cantora Zizi Possi. A letra se apresenta como um diálogo entre um casal de amantes apaixonados, onde a interação das vozes de Alceu e Zizi cria uma atmosfera de intimidade e profundidade emocional. Esta faixa exemplifica a habilidade de Alceu em combinar poesia e música de maneira harmoniosa, evocando sentimentos complexos e profundos. 

Genevieve Page e Catherine Deneuve em Belle de Jour, filme de Luis Buñuel,
que deu nome a canção de Alceu Valença.

A faixa-título, "Sete Desejos", é uma canção em que Alceu expressa a saudade de um amor passado, destacando detalhes marcantes e poéticos. Os versos falam sobre a renovação a partir das cinzas, simbolizando recomeço e esperança. Refletem também sobre a inevitabilidade do destino, comparando a vida a um trem com idas e voltas do qual ninguém pode escapar. 

"Junho" é uma canção de beleza e sensibilidade incríveis. O violão delicado e o naipe de cordas acompanham a voz de Alceu, que canta uma letra que celebra a poética das festas juninas, destacando suas tradições, a alegria das celebrações e a conexão cultural e comunitária no Nordeste brasileiro. "Tomara" aborda temas de esperança e solidariedade, ressoando profundamente em tempos de crise, evidenciando o otimismo inerente na obra de Alceu. "Bicho Maluco Beleza", em sua versão mais lenta, traz a energia vibrante do frevo, um ritmo que Alceu domina com maestria e que se tornou indispensável em seus shows. 

"Papagaio do Futuro / Coco das Serras" carrega toda a força da música popular nordestina em forma de embolada e traz em seus versos uma mensagem ecológica sobre preservação ambiental. A contestação prossegue em "Desprezo", uma crítica a quem destrói a flora e a fauna, bem como aos corruptos do meio político. 

Detalhe da capa do álbum 7 Desejos.

Para "Respeita Januário", clássico de Luiz Gonzaga, foi criado um novo e interessante arranjo, dando a essa canção feições que remetem ao blues, reforçando a capacidade de Alceu Valença de reinventar grandes obras do passado. "Desejo" encerra o disco oferecendo ao ouvinte uma melodia suave e contemplativa que sintetiza a temática do álbum de forma magistral. 

Embora inicialmente a divulgação tenha sido deficiente por parte da gravadora EMI, o álbum 7 Desejos acabou se tornando um sucesso de público e de crítica. O bom êxito comercial de 7 Desejos deve-se não apenas à qualidade do repertório, mas também ao fato de algumas faixas terem sido incluídas em trilhas sonoras de novelas da TV Globo na época, o que contribuiu para que o álbum ganhasse visibilidade. "Tomara" fez parte da trilha sonora da novela Pedra Sobre Pedra, de Aguinaldo Silva, em 1992, enquanto "Sete Desejos" embalou o romance improvável entre o jagunço Damião e a fútil da cidade grande Eliana na primeira versão da novela Renascer, de Benedito Ruy Barbosa, em 1993. 

Mas, sem sombra de dúvidas, a música de maior sucesso popular do álbum foi "La Belle de Jour", que desde então passou a ser presença obrigatória nas apresentações ao vivo de Alceu Valença, seja no Brasil ou no exterior. 

Ao explorar temas de amor, desejo, esperança e crítica social, Alceu Valença conseguiu criar uma obra atemporal que continua a ressoar com o público. 7 Desejos é um testemunho da habilidade de Alceu em transformar suas vivências e visões em música, proporcionando a quem ouve o álbum uma experiência rica e uma viagem introspectiva e culturalmente significativa.

 

Faixas ( todas a músicas são de autoria Alceu Valença, exceto as indicadas .).

Lado 1

1 - "Papagaio Do Futuro - Vinheta"

2 - "La Belle De Jour"

3 - "Tesoura Do Desejo" (com Zizi Possi)

4 - "Sete Desejos" 

5 - "Junho" ( Alceu Valença / Geraldo Valença) 

6 - "Tomara" (Alceu Valença / Rubem Valença Filho)

 

Lado 2

7 - "Bicho Maluco Beleza"

8 - "Papagaio Do Futuro / Coco Das Serras" (Tradicional)

9 - "Desprezo"

10 - "Respeita Januário" (Humberto Teixeira / Luiz Gonzaga)

11 - "Desejo"


"Papagaio Do Futuro - Vinheta"

 

"La Belle De Jour"

 

"Tesoura Do Desejo"

 

"Sete Desejos"

 

"Junho”

 

"Tomara"

 

"Bicho Maluco Beleza"

 

"Papagaio Do Futuro / Coco Das Serras”

 

"Desprezo"

 

"Respeita Januário”

 

"Desejo"


Roberto Carlos - Roberto Carlos (1994)

 


 álbum abre com a faixa romântica "Alô". Outro destaque é "Eu Nunca Amei Alguém Como Eu Te Amei", dos compositores Eduardo Lages/Paulo Sérgio Valle, que posteriormente foi regravada em 2011 pela cantora baiana Ivete Sangalo, exclusivamente para trilha sonora da novela Fina Estampa. Nesse álbum, Roberto regrava a faixa "Custe o Que Custar" de Edson Ribeiro e Hélio Justo, originalmente gravada por ele próprio em 1969 e que foi trilha sonora do filme Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa.

Faixas do álbum:
01. Alô
02. Quero Lhe Falar do Meu Amor
03. O Taxista
04. Custe o Que Custar
05. Jesus Salvador
06. Meu Coração Ainda Quer Você
07. Quando a Gente Ama
08. Silêncio
09. Eu Nunca Amei Alguém Como Eu Te Amei




Toquinho - Boca Da Noite (1974)


 Apesar da parceria com Vinícius de Moraes nesse período, este  álbum apresenta um trabalho solo de Toquinho, que elaborou todos os arranjos. O disco conta com  contribuições de Paulo Vanzolini e Geraldo Vandré, que compuseram algumas canções com Toquinho. 


Faixas do álbum:
01. Na Boca Da Noite
02. Presença
03. Tua Imagem
04. 1969, Aeroporto Do Galeão
05. Uma Rosa Em Minha Mão
06. Asa Branca
07. Lembrando Josh White
08. No Fim Não Se Perde Nada
09. Sem Enredo
10. Vamos Chamar O Vento
11. Na Cancela
12. Ingênuo
13. Noite Longa




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