terça-feira, 17 de setembro de 2024

Review: Children of Bodom – Hexed (2019)

 


Foi-se o tempo em que eram necessários dias - até mesmo meses - para que o lançamento do álbum de uma banda chegasse até as mãos dos fãs mais remotos (como eu) e para que esse o replicasse entre seus amigos através de fitas k7 gravadas à mão. As formas mais primitivas de propagar o lançamento de um disco qualquer de heavy metal aos poucos foram substituídas pelo download ilegal e, mais recentemente, pelos serviços de streaming. Então, dessa vez - diferente do final dos anos 1990 - precisei apenas atualizar o feed do meu aplicativo de música para ter acesso ao novo disco de uma das minhas bandas favoritas, o Children of Bodom.

Hexed é uma gíria utilizada para descrever uma pessoa que está completamente fora de si - geralmente “induzida” por substâncias ilícitas - e dá título ao décimo álbum do quinteto finlandês conduzido por Alexi Laiho. As primeiras impressões deram-se através da arte da capa - criada por Deins Forkas - do tracklist e do primeiro single disponibilizado, a música “Under the Glass of Cover”. A canção, que também ganhou um vídeo de divulgação, apresenta uma banda com uma sonoridade mais séria e madura, mas sem o ímpeto criativo de outrora, transitando entre todas as fases do grupo, da mais melódica e virtuosa à mais
crua e moderna, agradando - ou desagradando - desde os fãs mais antigos até aqueles que surgiram após Are You Dead Yet?.

Passados mais de vinte anos do lançamento do debut Something Wild (1997), o Children of Bodom tornou-se uma vítima de algo que eles próprios criaram, e após o lançamento de seus inovadores quatro primeiros álbuns de estúdio, eles enveredaram por novos caminhos, com uma sonoridade mais direta e menos elaborada do que aquela praticada nos primeiros anos de banda, quando deram cara nova ao death metal melódico, utilizando-se de elementos não experimentados por outras bandas dessa mesma vertente.

Mais duas músicas de trabalho foram lançadas antes do disco sair em definitivo. Se “Platitudes and Barren Words” segue a mesma linha do primeiro single, “This Road” me criou algo que eu não gostaria de criar a respeito deste novo disco: expectativas. “This Road” mostra uma sonoridade mais encorpada e intrincada, com ótimos riffs e uma excelente linha de baixo, cheia de mudanças de andamento e clima. Tudo o que fez o COB virar referência naquilo que criaram está nesta canção, me tirando completamente da neutralidade pela qual eu aguardava o nascimento de Hexed.

A própria “This Road” abre o disco, seguida pela também já citada “Under Grass and Clover”. “Glass Houses” é mais direta que as anteriores, com riffs pesadíssimos e com curtíssimas intervenções melódicas e duetos de Alexi Laiho e Janne Wirman nas guitarras e teclados, lembrando pouco a principal característica que a fez conhecida, com uma roupagem mais próxima àquela praticada em discos como Relentless Reckless Forever. As quebras de ritmo ditadas pelo baterista Jaska Raatikainen são o destaque dessa faixa.

Ao iniciar “Hecate’s Nightmare” tive que verificar se meu serviço de streaming não havia me direcionado por engano para o disco The Dark Ride do Helloween, mas era de fato uma das canções de Hexed. A quarta faixa me causou uma estranheza muito grande com sua intro “dançante” e cheguei a pensar que fosse algum dos covers improváveis que o COB costuma fazer de bandas de fora da cena da música pesada. Se por um lado a banda tenta fazer algo diferente, com uma abordagem mais próxima a uma balada - dentro de suas características - como fez em “Angels Don’t Kill”, ou à músicas mais cadenciadas como em “Punch Me I Bleed”, por outro, falta espontaneidade no experimento e soa completamente forçada. De qualquer forma, a tentativa foi muito válida e pode
agradar a muitos fãs, mas a mim não convenceu e após ouvi-la a quantidade de vezes que julguei necessário para falar a respeito do disco, sempre pulo essa faixa em minhas audições.

“Kick in a Spleen” é uma porrada, com riffs e pedais duplos poderosíssimos e a mesma sonoridade moderna da fase pós Are You Dead Yet?, em alguns momentos parecendo até mesmo querer flertar com o entusiasmo e a sonoridade praticada por bandas de metalcore - não que isso seja um demérito. A música possui uma quebra de ritmo interessante, seguida de uma ótima intervenção de Janne Wirman nos teclados, mas solos pouco inspirados.
Ainda assim, é uma das melhores faixas do disco.

A já citada “Platitudes and Barren Words”, tem alguns experimentos vocais muito interessantes de Alexi e boas melodias. A canção, se não acrescenta absolutamente nada a tudo que a banda já criou, ao menos faz-se mais bem vinda que a maioria das restantes do álbum. Para essa faixa também saiu um videoclipe típico da banda, remetendo bastante, inclusive, ao clipe de “Sixpounder”.


A faixa-título beira o thrash metal em alguns momentos. Em outros, flerta com a música clássica (me remetendo muito à Something Wild) e nela sim podemos ouvir algo mais próximo daquilo que se espera de uma composição da banda. “Hexed” é a faixa mais longa e que melhor representa a sonoridade do grupo no disco em que ela carrega o nome, tornando-se minha favorita do álbum, com riffs pesadíssimos de Alexi e do estreante Daniel Freyberg e uma cozinha precisa dos sempre competentes Henkka Blacksmith e Jaska Raatikainen, dando a base necessária para os já conhecidos e tanto esperados solos e duetos frenéticos de Laiho e Wirman. Os coros do refrão também já são velhos conhecidos e, assim como soaram muito bem antigamente em “You’re Better Off Dead”, aqui se fazem poderosos e poderiam ser mais utilizados.

“Relapse - The Nature of my Crime” começa com um riff completamente heavy,
remetendo-me imediatamente ao HammerFall (vide “Hearts on Fire”) e mostrando-se uma faixa promissora, que poderia propor algo novo, mas que de tão preguiçosa, logo retoma a sonoridade das primeiras músicas do disco. Assim como em Star Wars, “Say Never Look Back” vem com “uma nova esperança”, iniciando com uma belíssimas melodias e linhas de baixo, mas também não demora a se tornar mais do mesmo, a não ser por um ou outro riffs
mais inspirados.

A essa altura, muito provavelmente quem está acompanhando esta resenha pode estar pensando que estou torcendo o bigode gratuitamente para o disco de uma banda que pouco tenho apreço, quando na verdade estou sedento por um disco impactante de uma das minhas bandas favoritas de metal. O Children of Bodom foi um dos precursores do death metal melódico e dentro deste subgênero ainda foi capaz de se reinventar, e é isso que tenho esperado há quase 15 anos. Não que tudo que tenha sido lançado neste período seja descartável, há muita coisa boa, especialmente em Bloodrunk I Worship Chaos, mas sempre fica aquela impressão de já ter ouvido aquilo em algum
lugar.

O disco segue com a cadenciada e melodiosa “Soon Departed”, com alguns bons riffs na linha de “Everytime I Die” e “Prayer For The Afflicted”, e finaliza com “Knuckleduster”, com intervenções de Wirman que dão toques épicos à canção, mas nada que salve o álbum da mesmice. (alguém mais sentiu falta de uma música com “Bodom” no título? Elas nunca decepcionam).

Como bônus, ainda há versões ao vivo para “I Worship Caos” e “Morrigan” do disco anterior, e uma versão industrial para “Knuckleduster”, mostrando alguns dos muitos elementos modernos que vem influenciando a sonoridade da banda nos últimos anos.

Hexed é apenas mais um bom álbum do Children of Bodom, e em se tratando deles, bom não é grande coisa. De qualquer forma, tenho ouvido o álbum com frequência, buscando por nuances e elementos novos que me conquistem e, ao lançarem seu décimo primeiro disco de estúdio, lá estarei novamente aguardando não por um novo Hatebreeder ou um novo Hate Crew Deathroll, mas sim por mais um excelente trabalho de uma das bandas mais criativas no metal do final dos anos 1990, início dos 2000.



Review: In Flames – I, the Mask (2019)

 


O In Flames é uma banda controversa para uma parcela dos fãs de metal. E isso não deveria acontecer. Surgido em Gotemburgo em 1990, o quinteto foi um dos responsáveis pela popularização e pelo desenvolvimento do death metal melódico, gravando discos que são considerados arquétipos do gênero como o trio Whoracle (1997), Colony (1999) e Clayman (2000).

A discussão em torno dos caminhos musicais da banda começou em 2002, quando os caras soltaram o seu sexto álbum, Reroute to Remain. O motivo para isso foi uma mudança considerável na sonoridade dos suecos, que incorporaram outros elementos à sua música, influenciados principalmente pelo KoRn e pela cena nu metal que vinha dos Estados Unidos. Essa alteração de curso gerou admiração (em menor número) e repulsa (em sua maioria) entre o público do metal, que demorou um bom tempo para assimilar os novos caminhos sonoros trilhados pelo grupo. E esse novo direcionamento seguiu sendo desenvolvido nos discos seguintes, como os ótimos Come Clarity (2006) e A Sense of Purpose (2008) por exemplo, que mostraram a banda equilibrando as duas facetas de sua personalidade sonora.

Toda essa trajetória faz com que o In Flames seja uma formação que ainda soa diferenciada dentro do universo do heavy metal. I, the Mask, décimo-terceiro trabalho do grupo, saiu no início de março e mostra que a banda continua afiada. As doze faixas do álbum variam entre canções mais pesadas e que são verdadeiras pedradas (como o quarteto que abre o disco) e outras onde o lado mais suave do grupo assume o protagonismo, tornando a música mais acessível e amigável. Amparados por uma produção impecável assinada Howard Benson, que já trabalhou com nomes como Motörhead e Sepultura, o In Flames potencializa suas qualidades e mostra mais uma vez que é capaz de trilhar vias musicais aparentemente opostas como o mesmo domínio.

Pessoalmente, prefiro os momentos mais agressivos como os que podemos ouvir na música que batiza o CD, “Call My Name”, “I Am Above” e “Burn”, e onde é possível sentir o DNA do death melódico ainda vivo através dos duetos de guitarras, por exemplo. A parte central do disco é reservada para uma sequência de canções mais domesticadas, digamos assim, como “Follow Me”, “(This is Our) House” e  “We Will Remember”, onde o vocalista Anders Fridén deixa os vocais guturais e canta com a voz limpa, algo que tem feito ao longo dos anos.

Independentemente de qual for a sua encarnação favorita do In Flames, o novo disco dos caras entrega ótimos momentos em ambas as personificações musicais do quinteto. É ouvir e curtir.



Review: Queensrÿche – The Verdict (2019)

 


O Queensrÿche conseguiu uma coisa rara dentro do metal. A banda norte-americana não só sobreviveu à troca de um vocalista já estabelecido e idolatrado pelos fãs, como ficou melhor com a chegada de Todd La Torre – os últimos discos com Geoff Tate foram, convenhamos, bem medianos. Quem mais conseguiu isso? O Black Sabbath com Dio, o Iron Maiden com Bruce Dickinson, o Anthrax com John Bush (apesar de nem a própria banda acreditar nisso) e outros poucos exemplos.

Na banda desde 2012, La Torre chega ao seu terceiro álbum como frontman do Queensrÿche em The Verdict, lançado no início de março. Respaldado pelos fãs e pelo trio Michael Wilton, Scott Rockenfield e Eddie Jackson (respectivamente guitarrista, baterista e baixista originais), além do guitarrista Parker Lundgren (no grupo desde 2009), o vocalista mostra que foi a escolha certa para manter a banda na ativa.

Produzido por Chris “Zeuss” Harris (Iced Earth, Rob Zombie, Soulfly), The Verdict traz dez faixas e uma alteração interessante no time: afastado por razões pessoais, Rockenfield foi substituído pelo próprio Todd La Torre no álbum – e spoiler: ele se sai muito bem na função.

Na minha percepção, o Queensrÿche ficou mais agressivo com a entrada de seu novo vocalista. Isso se percebe tanto no álbum auto intitulado de 2013 quanto em Condition Hüman (2015), e é um aspecto que se mantém no novo trabalho. Nunca fui apreciador da banda com Geoff Tate no comando – sim, podem jogar as pedras e tudo mais, não tem problema -, mas passei a curtir a sonoridade mais pesada adotada nos últimos discos.

Musicalmente, o Queensrÿche soa atualizado e moderno em seu novo álbum, mas sem precisar mudar a sua música ou explorar aspectos que não tem nada a ver com o seu universo sonoro para alcançar isso, ao contrário do que foi feito em alguns discos sob o comando de Geoff Tate. O que chega aos ouvidos é um metal repleto de melodia, sem tantos elementos prog como no passado, e sempre apresentando bons refrãos. O foco está nas guitarras de Wilton e Lundgren, que abusam dos duetos e harmonias, criando uma atmosfera ao mesmo tempo agradável e rica musicalmente. O tracklist é bem homogêneo, e deve agradar fãs de todas as fases da carreira dos norte-americanos.





ROCK ART



Nala Sinephro - Endlessness (2024)

Endlessness (2024)
Foi há três anos que a multi-instrumentista de jazz belga Nala Sinephro lançou seu primeiro álbum de estúdio completo, Space 1.8. Foi com o disco acima mencionado que ela imediatamente se tornou um nome conhecido e altamente respeitado dentro do lado mais progressivo do mundo do jazz, já que a natureza espacial e focada no ambiente daquele disco proporcionou uma das experiências auditivas mais agradáveis ​​e únicas que o gênero teve a oferecer no ano. Seu último álbum de estúdio, Endless, proporciona uma experiência agradável semelhante, ao mesmo tempo em que leva seu som em direções que parecem mais intrigantes do que nunca. 

Muito de Endlessness ainda se concentra na natureza espacial de sua estreia, mas isso não é algo ruim quando esse som exato é algo que ela é capaz de fazer brilhantemente. Endlessness é um disco profundamente atmosférico e sabe como executar adequadamente uma experiência auditiva atmosférica que ainda consegue parecer desenvolvida e nunca excessivamente minimalista. Isso sem mencionar que a produção encontrada aqui, que é extremamente espaçosa, fornece uma certa abertura ao disco que permite que os vários cantos da instrumentação tenham sucesso em uma paisagem sonora que os permite se mover livremente. 

A instrumentação em si é previsivelmente fantástica também, e a própria Sinephro é o que define isso em grande parte. Sendo ela uma multi-instrumentista, suas contribuições por meio do uso de sintetizadores e harpa criam um disco interessante e de estilo único. Isso sem mencionar os vários outros artistas que fazem do Endlessness o disco instrumentalmente forte que é. Este álbum não seria o mesmo sem as aparições de pessoas como a saxofonista Nubya Gracia ou a baterista Natcyet Wakili, ambas as quais atuam como colaboradoras frequentes de Sinephro aqui e contribuem para a dinâmica geral do disco. Até mesmo o colega tecladista Lyle Barton aparece para entregar um trabalho forte, com o trabalho de sintetizador principal fornecido por Barton em "Continuum 3" destacando isso especialmente. Este é um disco composto por músicos novos e talentosos, então não é surpresa que ambas as qualidades brilhem em Endlessness.

Talvez a maior coisa que diferencia Endlessness de seu antecessor é que ele sem dúvida tem um foco cada vez maior em passagens eletrônicas. Embora alguns possam não gostar disso devido à traição inerente ao jazz tradicional que vem com incorporações eletrônicas, há muito pouca chance de você ter se sentido atraído pela música de Sinephro em primeiro lugar se você não consegue engolir um pouco de fusão. Há até alguns momentos aqui em que as coisas abandonam o jazz completamente para se concentrar em passagens de movimentos ambientais no estilo Tangerine Dream. Isso é algo que foi explorado em uma extensão um pouco menor em Space 1.8, e no final das contas se encaixa muito bem no estilo descontraído, mas aventureiro, de Endlessness. Tudo isso fornece uma boa vantagem de evolução artística para Sinephro em seu segundo álbum de estúdio, e ela lida com isso muito bem, pois evita completamente a queda do segundo ano. 

Endlessness fez o que alguns provavelmente presumiram que não era possível: melhorou em Space 1.8. Embora a estreia de Sinephro possa não ter sido um disco perfeito no sentido literal da palavra, ainda assim se destaca como uma das experiências mais memoráveis ​​do jazz dos últimos anos. O fato de Endlessness não só ser capaz de igualar uma das estreias de jazz mais queridas dos últimos anos em termos de qualidade, mas também superá-la em certos aspectos devido a uma ligeira mudança de direção que é, no entanto, extraordinariamente interessante, é sem dúvida impressionante. Se ela continuar a boa fase em que está atualmente, Nala Sinephro certamente acabará sendo um dos nomes mais notáveis ​​da era moderna do jazz.


Uniform - American Standard (2024)

O mais novo álbum do Uniform desde 2020, American Standard, destrói a base industrial da banda, e o grupo soa mais dinâmico do que nunca como resultado. A faixa-título de abertura épica de 20 minutos é uma declaração de rock progressivo descomunal, os rosnados diabólicos e coalhados do vocalista Michael Berden se contorcendo acima de pulsos monolíticos e antológicos de guitarra barulhenta, como um Godspeed encharcado de ácido. Sua segunda metade é a catarse miserável final, cada elemento colidindo um com o outro, canalizando rapidamente para a frente, alcançando um final pós-rock estimulante e eufórico. As outras faixas aqui também não são desleixadas, como as guitarras solo escaldantes de Clemency que cauterizam a segunda metade com seu groove hipnótico, ou os corais do juízo final ressaltando sucessos frenéticos de percussão de black metal no Permanent Embrace mais próximo . O disco é uma adição emocionante ao catálogo da banda e parece uma verdadeira evolução de seus trabalhos anteriores. É um pouco desequilibrado, mas a faixa-título por si só já é suficiente para merecer elogios; as outras três podem ser apenas faixas bônus, no que me diz respeito.


CRONICA - STAN CLARKE | Children Of Forever (1973)

 

Uma das figuras do jazz bass – jazz fusion cuja influência ainda é atual.

Nascido em junho de 1951 na Filadélfia, Stanley Clarke estudou durante 4 anos na Philadelphia Musical Academy onde tocou em vários grupos de jazz como contrabaixista. Aos 18 anos, com seu contrabaixo, integrou a orquestra do pianista Horace Silver. Construindo uma sólida reputação na cena do jazz, ele aprendeu com Stan Getz, Pharoah Sanders, Curtis Fuller…

Avistado pelo pianista elétrico Chick Corea, este o convidou para participar em 1972 do Lp Return To Forever . Ao mesmo tempo incluiu-o no grupo homônimo que no ano seguinte imprimiu Light A Feather .

O tecladista que decidiu colocar o jovem contrabaixista sob sua proteção se ofereceu para produzir seu primeiro álbum solo com a condição de que ele também assumisse o baixo. Não querendo ficar de fora do Return To Forever que prepara um segundo álbum, Stanley Clarke aceita.

Chick Corea, que neste primeiro trabalho solo se apresentará no piano elétrico, traz como apoio ao seu jovem potro o baterista Lenny White, o guitarrista Pat Martino, o flautista Arthur Webb, o cantor Andy Bey e a cantora Dee Dee Bridgewater que também tenta para fazer seu nome na esfera do jazz. Em 1973, logo após a publicação de Light A Feather , toda a trupe imprimiu Children Of Forever sob o nome de Stan Clarke.

Escusado será dizer que este é um excelente seguimento do que Return To Forever alcançou até agora. Chick Corea no comando, seu teclado nos navega numa fusão celestial de jazz com aromas ibéricos cruzados com tropicalismo. Porém, se este disco destaca a atuação espetacular de Stanley Clarke, ele dá lugar de destaque ao canto. Acredita-se que este vinil seja obra da dupla Dee Bridgewater/Andy Bey.

Abrimos a bola aos 10 minutos do título homônimo. Depois de começar com um passeio comovente entre vocais suaves e flauta sonhadora, o grupo nos oferece um pouco de zeuhl latino! Na verdade, a percussão do piano combinada com este canto grandiloquente lembra o estilo pomposo e galopante de Magma. Passagem majestosa que termina num funk sensual com este baixo à espreita que tenta seguir o fantasma de Hendrix.

Chega o doce “Dias Inesperados” onde a flauta nos encanta, o piano eléctrico nos cativa. Segue-se “Bass Folk Song”, um instrumental galante e estimulante com aromas country com este baixo volúvel e festivo a fechar este primeiro lado. 

O lado B começa com a lânguida “Butterfly Dreams”, uma balada onde Andy Bey se transforma em cantor. O caso termina com os 16 minutos de “Sea Journey” escritos por Chick Corea. Faixa épica e exótica carregada de emoção feita de passagens perturbadoras, delírios hispânicos, acelerações carnavalescas com ritmos de bossa. Ausente até agora, a guitarra sai por acordes e refrões sublimes, misturando-se com este piano colorido, esta flauta alegre, este baixo com groove mal sugerido e este contrabaixo tocado com arco. 

Um disco que fará a transição entre Light A Feather e a obra que se seguirá a Return To Forever. Na verdade, Chick Corea Feeling seguido pela Mahavishnu Orchestra e Weather Report analisa sua cópia e faz uma mudança na formação. Ele forçou Stanley Clarke a tocar exclusivamente baixo e trouxe Lenny White, que já havia se provado em grande parte (deve-se notar que os dois homens se cruzaram em 1969 durante as sessões de Bitches Brew , de Miles Davis ).

Deve-se notar que Children of Forever servirá de trampolim para Andy Bey, mas especialmente para Dee Dee Bridgewater, cuja carreira ainda está ativa.

Quanto a Stanley Clarke, sua primeira tentativa é pouco mencionada. Ele está até esquecido. Certamente estamos longe do gênero pop jazz funk pelo qual ele se tornará conhecido, mas Children of Forever pode ser muito cativante. Até hoje meu disco favorito de Stan Clarke.

Títulos:
1. Children Of Forever
2. Unexpected Days
3. Bass Folk Song
4. Butterfly Dreams
5. Sea Journey

Músicos:
Stanley Clarke: contrabaixo, baixo
Chick Corea: piano, piano elétrico, clavinete
Pat Martino: guitarra
Lenny White: bateria
Arthur Webb: flauta
Dee Dee Bridgewater, Andy Bey: vocais

Produção: Chick Corea



Destaque

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