quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Brian Eno, “The Lion Sleeps Tonight”

 



Lado A: The Lions Sleeps Tonight (Wimoweh)

Lado B: I’ll Come Running (To Tie Your Shoes)

Island Records, 1975

Do vídeo com o hipopótamo azul que se vê pelo YouTube ao filme ‘O Rei Leão’, não esquecendo a versão com ar de ginásio barato que, via Tigh Fit, foi êxito em 1982, esta canção tem uma vasta e bem variada coleção de vidas.

O original é uma canção sul-africana de 1939 (gravada então por Solomon Linda and The Evening Birds). Ganhou maior visibilidade nos anos 60, com o sucesso da versão pelos Tokens. E, em 1975, até mesmo Brian Eno a gravou num single que não teve, contudo, representação no alinhamento de nenhum dos seus álbuns vocais.

A canção mora no alinhamento de um dos CDs da caixa antológica vocal que Eno editou nos anos 90.

A capa que ilustra o post corresponde à edição italiana de 1975.

Uma edição com capa genérica pode custar entre os 5 e os 30 euros, consoante a edição e o estado do disco. Uma edição com capa – e há capas diferentes nos vários mercados em que o single surgiu, pode atingir os 80 euros.



Japan, “Life In Tokyo”

 Lado A: “Life In Tokyo (Short Version)”

Lado B: “Life In Tokyo (Part 2)”

Produção: Giorgio Moroder

(Hansa, 1979)

Apesar de terem encontrado em “Tin Drum” (em 1981) um dos mais perfeitos álbuns da história da música pop, os Japan viveram dias difíceis até terem compreendido qual era o seu caminho. Depois de dois álbuns (ambos editados em 1978) algo perdidos entre referências do rock e diálogos com o disco, o funk e outros espaços começaram a experimentaram por isso as mais diversas ideias, uma delas tendo-os juntado em estúdio com Giorgio Moroder, em 1979.

O desafio na verdade partira de uma sugestão do management (ou da editora, não há unanimidade nas memórias citadas na biografia “” Foreign Place”) dado não apenas o sucesso que o ‘disco’ então vivia mas também o papel “visionário” que era reconhecido a Moroder depois de “I Feel Love”, que criara em 1977 com Donna Summer.

Giorgio Moroder aceitou o desafio mas mediante apenas uma condição: que a canção fosse um inédito de autoria partilhada entre ele e a banda. E assim, em março de 1979, depois de uma bem sucedida digressão no Japão (onde, ao contrário do resto do mundo, eram um fenómeno de sucesso a ponto de esgotar a mítica sala do Budokan), rumaram a Los Angeles para trabalhar com o produtor.

E assim nasceu “Life In Tokyo”, canção que revelava uma mais evidente presença das eletrónicas na música dos Japan e uma clara presença das visões ‘disco’ de Moroder. As sessões foram mais um jogo de cedência e aceitação, acabando o single por não se afastar muito do que era o som então habitual nas criações de Giorgio Moroder, sendo a voz de Sylvian a única clara marca de diferença (e identidade)

“Life In Tokyo”, em clima ‘disco’ não trouxe resultados imediatos, sobretudo no plano das vendas (que manteve uma tremenda indiferença pelos Japan). Mas a colaboração semeou ideias que, uma vez depuradas, lhes abriram o caminho a um novo patamar que, pouco depois, lhes daria, em apenas dois anos, três álbuns inesquecíveis. De resto, logo em “Quiet Life”, lançado ainda em 1979, encontramos já ecos do impacte desta inesperada parceria na música que começa a definir, então, a real identidade dos Japan.

Só encontrei este single, na sua versão original (que entretanto houve várias reedições) lá para os noventas, numa loja de vinil em segunda mão por Londres.



Carlos Mendes, “Verão”

 

Lado A: Verão + Nobody Want You When You’re Down And Out

Lado B: I’ll Get Over It + Mensagem

Arranjos e dir. orquestra: Thilo Krasmann

Valentim de Carvalho, 1968

É uma das melhores canções que Portugal alguma vez enviou à Eurovisão e uma das mais interessantes da colheita pop local de finais dos anos 60, refletindo uma certa ousadia, tanto na composição como nos arranjos que piscavam o olho às cores e formas que se escutavam na pop caleidoscópica e psicadélica que então ia acontecendo pelo mundo ocidental. É o oposto da canção que celebra o verão como hedonismo e sol, falando antes do que acaba quando esse calor se vai… É sabido que, a alguns, a Eurovisão faz muita comichão, mas não entendo como este single não é mais vezes citado entre as referências da melhor pop que nasceu entre nós por esses dias…

Naturalmete nem comprei nem ouvi o single na altura. Ainda nem tinha feito um ano! Mas descobri o EP mais tarde, numa feira de discos de coleção em Lisboa.




José Cid, “Lisboa Perto e Longe”

 

Lado A: “Lisboa Perto e Longe “ + “Dida”

Lado B: “Dona Feia, Velha e Louca” + Zé Ninguém

Columbia, 1971

José Cid era já um nome com obra feita no emergente universo pop/rock português quando, em inícios da década de 70, deu os seus primeiros passos em nome próprio. Já se tinha apresentado a solo no Festival da Canção de 1968 cantando “Balada Para D. Inês” porque as regras do concurso não previam a participação de bandas (tanto que o tema chegaria a disco num EP do Quarteto 1111). Mas em 1971, numa altura em que cumpria o serviço militar e mantinha ativo o Quarteto 1111, o músico apresentou com um conjunto de edições que desenhavam a vontade em alargar os espaços pelos quais a sua música poderia caminhar.

Com o álbum de estreia do Quarteto 1111 editado em 1970 (e votado ao silêncio pela censura, sem surpresa avessa às temáticas ali abordadas) José Cid apresenta então um magnífico primeiro álbum a solo – ao qual chama simplesmente “José Cid” – no qual são já evidentes os sinais de horizontes alargados a explorar nu alinhamento onde surge o belo “Volkswagen Blue”, de Gilberto Gil (que tinha passado por Lisboa a caminho do exílio em Londres).

No mesmo ano lançou ainda dois EPs com temas não incluídos no álbum. O primeiro deles, “Lisboa Perto e Longe” tem como tema principal a canção que lhe dá título e na qual se desenha um retrato crítico de uma Lisboa em confronto entre ecos da sua história e um presente cinzento. A presença da guitarra portuguesa, a voz que não se vergou aos cortes da censura (fala-se em “multidões silenciosas”) e um certo sarcasmo no último verso são marcas de uma canção que hoje parece algo esquecida no longo historial discográfico de José Cid mas que na verdade, como o resto do EP, traduz sinais de ideias que a obra seguinte continuaria a explorar.

Outro interessante sinal de ideias lançadas a prever passos futuros é o instrumental “Dida”, que continua os ambientes da canção de apertura mas junta ecos jazzy a imaginar um futuro progressivo.

Na face B do EP “Dona Feia” revela um gosto pela exploração das possibilidades da música tradicional, aqui claramente apontando os azimutes da curiosidade a Norte. A fechar o alinhamento “Zé Ninguém” revela a mais evidente ligação deste conjunto de gravações a terrenos rítmicos mais próximos da cultura pop/rock de então, sugerindo mesmo um interesse pelos caminhos do R&B.

Este EP, assim como os demais discos a solo que José Cid editou entre 1971 e 1974 correspondem a uma etapa que parece arredada do que o tempo definiu como o cânone dos seus grandes êxitos. Há aqui porém muitas pérolas (como esta) a pedir reencontros. É que, tal como outros discos desta sua etapa, este EP nunca teve edição em suporte digital.




Yello + Shirley Bassey “The Rhythm Divine”

Lado A: The Rhythm Divine

Lado B: Dr. Van Steiner

Mercury, 1987

São sempre desafiantes e muitas vezes frutuosos os diálogos entre gerações diferentes de músicos. E entre finais dos oitentas e inícios dos noventas uma série de vozes de outros tempos conheceram nova visibilidade através de colaborações com os nomes que então estavam sob o foco das atenções. Os Pet Shop Boys com Dusty Springfield ou Liza Minelli, os KLF com Tammy Wynette, os Bronski Beat com Eartha Kitt, Marc Almond com Gene Pitney, os Art Of Noise com Tom Jones e, no caso que hoje destacamos, os Yello com Shirley Bassey.

A canção, que conta com co-autoria de Billy McKenzie (a voz dos Associates, que surge também aqui nos coros), foi composta já com a voz da cantora em mente. “The Rhythm Divine” cruza os climas das novas eletrónicas – e os registos de produção do seu tempo – com o sentido clássico da canção romântica de grande aparato que a obra da cantora sempre conhecera. Aparentemente distantes, os dois mundos juntaram-se num episódio simplesmente inesquecível. 

O tema surgiu em 1987, num momento em que singles como “Vicious Games” (1985) e “Goldrush” (1986) já tinham elevado os Yello – originários da Suíça – a um patamar de reconhecimento global e então com inesperada visibilidade mainstream. “The Rhythm Divine” surge ainda no alinhamento do álbum “One Second”, que os Yello editaram em 1987.

Buggles, “Video Killed The Radio Star”

 

Lado A: Video Killed The Radio Star

Lado B: Kid Dynamo

Island, 1979

Poucas canções ficaram na história como símbolos de um tempo. Editado a 7 de setembro de 1979 o single de estreia dos Buggles, “Video Killed The Radio Star”, sugeria, com alma quase profética, a visão de um momento de viragem na história da relação da música com os media. Como tantas profecias não era coisa para leituras literais. Mas quando, em 1981, a MTV escolheu o teledisco desta canção para abrir a sua primeira emissão, a profecia cantada dois anos antes ganhava o peso de uma mensagem: a televisão seria a casa de uma nova era na história da música… O tempo mostraria que, mais do que a televisão (como meio), o que mudava sobretudo – e com o pequeno ecrã como veículo inicial – era a relação da música com as imagens. A televisão não matou a rádio. Tal como antes não matara o cinema. Mas a mensagem dos Buggles, na forma de uma canção, definiu o momento da transição do antes para o depois de uma relação quase inseparável entre a música e as imagens. Já havia telediscos. Mas, depois de 1981 (e aí com a MTV, na altura em que o “m” era de “música”), passam a ser ferramenta fulcral no jogo de comunicação de cada novo disco… E não deixa de ser curioso verificar que há hoje muitas estações de rádio que juntam – online – janelas de vídeo à sua voz áudio mais “clássica”. Os Buggles só não acertaram no verbo. Matar não foi o caso. Mas depois da chegada do vídeo a música, de facto, não mais soube viver sem as imagens.

A canção tem uma história que recua a 1978 e à materialização da ideia que ganharia forma nos Buggles. Trevor Horn, Geoff Downes e Bruce Wooley, que tinham começado a gravar maquetes desde finais de 1977. Horn era já produtor (de jingles publicitários e de bandas punk). Conhecera Geoff nas audições para a formação de uma banda que iria acompanhar Tina Charles, em 1976. Wooley, que tocava na banda residente do Hammersmith Odeon, entra em cena pouco depois. Assim como uma sugestão de Daniel Miller (o futuro “patrão” da Mute Records) para que lessem J.G. Ballard… E na verdade “The Sound Sweep”, um conto de Ballard, assim como uma admiração partilhada por todos pelos Kreaftwerk, são peças-chave na raíz de “Video Killed The Radio Star”.

A canção surgiu numa tarde de ensaios na casa de Geoff Downes e, meses depois, ganhou forma numa série de sessões entre os estúdios Town House (instrumental) e Sarm East (voz), ambos em Londres. A mistura exigiu várias revisões, sobretudo marcadas pela busca de uma maior pujança da secção rítmica que Trevor Horn então buscava. Pelo caminho os Buggles passam de trio a dupla com a saída de Woolley, que gravaria esta mesma canção na nova banda que então forma, os Camera Club.

O single, que assinalou a estreia em disco dos Buggles, chega às lojas a 7 de setembro de 1979 e gera um fenómeno de popularidade que lhes dá visibilidade planetária, conquistando o número um em tabelas de vendas em 16 países. Numa equação com variáveis de preocupação pelo futuro da tecnologia e um sentido de nostalgia (não conservador, sublinhe-se) a canção procurava olhar os tempos que a humanidade tinha pela frente. Temática que, de resto, era então comum a várias outras canções e discos e que acabaria por definir a alma do álbum de estreia dos Buggles, “The Age of Plastic”, que seria editado já em 1980 (e no qual “Video Killed The Radio Star” surge numa versão mais longa.

A letra começa por aludir a memórias de noites passadas a escutar a rádio…

I heard you on the wireless back in fifty two
Lying awake intent at tuning in on you
If I was young it didn’t stop you coming through

O terceiro verso abre caminho a uma alusão a um novo domínio da máquina sobre o homem, aqui claramente fruto dos ecos das leituras do conto de Ballard…

They took the credit for your second symphony
Rewritten by machine on new technology
And now I understand the problems you can see

Mais adiante abre-se uma janela de nostalgia, lembrando tempos passados, talvez perdidos (e com uma curiosa nota autobiográfica pelo facto de Trevor Horn ter sido um produtor de jingles)…

And now we meet in an abandoned studio (ohh)
We hear the playback and it seems so long ago
And you remember the jingles used to go (ahh)

Pelo caminho, ficava ainda uma observação sobre o modo como a chegada das imagens deixara a radio de coração despedaçado…

Video killed the radio star
Video killed the radio star
Pictures came and broke your heart


Se a popularidade que a canção alcança logo entre 1979 e 1980, e o facto de ser um dos primeiros êxitos globais da pop eletrónica, lhe garantia logo um lugar na história, deve-se, contudo, à escolha da MTV o episódio que a mitifica. E para isso foi fulcral a aposta – logo em 1979 – na criação de um teledisco, para o qual os Buggles chamaram o realizador australiano Russel Mulcahy que, pouco depois, ganharia um lugar de ainda maior destaque na história do vídeo musical através de uma série de colaborações com os Duran Duran entre 1981 e 1984.

Os Buggles nunca repetiram o sucesso de “Video Killed The Radio Star” mas mesmo assim tiveram alguns mais episódios de visibilidade com canções como “Clean Clean” ou “I Am A Camera”… Depois de “Adeventures in Modern Recording”, um segundo álbum (editado em 1982), deram a sua história por terminada, seguindo os dois músicos para outros caminhos.Em 2004, numa gala do Prince’s Trust, juntaram-se em palco os três elementos da formação original dos Buggles para, pela primeira vez, apresentar a canção ao vivo. Nessa ocasião juntaram-se ainda a eles as duas coristas e o baterista que tocou nas sessões em estúdio em 1979.



Já agora, como complemento, aqui fica a versão de “Video Killed The Radio Star” pelos Camera Club, a banda então formada por Bruce Wooley. Pois… não é difícil perceber porque foi a dos Buggles que a memória fixou.

Altred Images, “I Could Be Happy”

 

ALTERED IMAGES, I Could Be Happy

Lado A: I Could Be Happy

Lado B: Insects

Produção: Martin Rushent

CBS Records, 1981

Nos últimos anos temos visto Clare Grogan ora em participações (sem grande protagonismo) como atriz séries de TV ou no cinema e durante algum tempo foi mesmo apresentadora de programas de televisão e de rádio, na BBC.

A memória guarda contudo as imagens e o som de uma voz diferente, que dava o tom às canções pop luminosas e de linhas inventivas que os Altered Images, a banda da qual foi vocalista, nos deu a escutar entre os três álbuns editados em inícios dos oitentas.

Entre a sua discografia, um dois melhores momentos chegou em 1981, ao som desta canção.

Destaque

Glass Harp - Glass Harp (1970)

  Power trio de hard rock formado em Ohio, Estados Unidos, composta pelo guitarista Phil Keaggy, baterista John Sferra e o baixista Daniel P...