Sempre fui fã de bandas que tinham em sua bagagem talento, intrigas, discussões, polêmicas e diversão. Por quê? Porque rock ‘n’ roll é isso! É a irresponsabilidade e a falta de compromisso que garantem à banda o sucesso tão almejado! Livre de fórmulas pré-estabelecidas que causam falta de criatividade e identidade, transformando as bandas de hoje em bandas chatas e corretinhas, sempre em busca da perfeição, com medo de arriscar e chocar!
O W.A.S.P. surgiu em 1982, no estado da Califórnia, Estados Unidos, tendo como líder e fundador o talentoso e controverso Blackie Lawless. Logo no início das atividades, surgiu uma polêmica em torno do acrônimo “W.A.S.P”! Não é novidade para ninguém que isso sempre provocou dúvidas e diversas interpretações inusitadas por parte de seus fãs e também da tão complicada sociedade norte-americana. Para muitos, a sigla representa “White Anglo-Saxon Protestant” (“protestante branco anglo-saxônico”), para outros “We Are Sexual Perverts” (“nós somos pervertidos sexuais”). Enfim, quanto mais a banda polemizava, mais a popularidade crescia. Ganhou também notoriedade por seus shows teatrais e suas letras com temas pra lá de sacanas, rendendo à banda, uma briga de grandes proporções com o infame PMRC (Parents Music Resource Center), um comitê formado por esposas de congressistas norte-americanos a fim de “proteger” as crianças dos supostos malefícios incentivados pelo rock.
Fatos curiosos à parte, é indiscutível a importância do W.A.S.P. na história do heavy metal, banda de forte personalidade e que trouxe para nós composições de altíssima qualidade, garantidas pelo genioso Blackie Lawless.
“Ladies, and gentlemen, boys and girls
And wild ones of all ages
Step right now, I welcome you to come on in
The music is your passport, your magic key
To all the madness that awaits you
Feel the thunder and the frenzy
And see all the unusual animals, and the Animals?
Well they’re something else…”
W.A.S.P. [1984]
Foi em 17 de agosto de 1984 que o W.A.S.P. deu seu primeiro tiro certeiro, lançando um álbum com excelentes riffs, solos emblemáticos, refrões pra lá de memoráveis e letras cheias de perversão, sexo e críticas disparadas por Mr. Lawless. O disco realmente é fantástico, praticamente todas as músicas contidas nele são de uma qualidade impressionante, surpreendendo os ouvintes logo na primeira audição. O álbum começa em alto nível com a animalesca faixa de abertura “
I Wanna Be Somebody“, velocidade e excelentes refrões. Os outros destaques são as faixas “
L.O.V.E. Machine“, “
On Your Knees“, a nervosa “
Hellion“e a semibalada “
Sleeping (In the Fire)” simplesmente linda. O álbum alcançou status de ouro nos EUA e vendeu mais de um milhão de cópias em todo mundo. Apenas como curiosidade, o W.A.S.P. tentou lançar antes deste debut o single “Animal (Fuck Like a Beast)”, que a gravadora Capitol Records na época recusou-se em colocar no mercado, pois as letras das músicas eram muito agressivas para os padrões da sociedade norte-americana. Só depois de muito tempo é que ele finalmente foi lançado pela gravadora Music for Nations.
The Last Command [1985]
Segundo grande parte de seus fãs, trata-se do melhor trabalho da banda, que nada mais é que a segunda parte do debut. Trata-se de um registro mais contido em relação à selvageria do primeiro, mas traz grandes composições, que até hoje são tocadas em seus shows, como a excelente “
Wild Child” e a despojada “
Blind in Texas“. Como destaque, temos também a divertida e suja “
Ball Crushe” e a semi-épica “
Widowmaker” que tem uma levada fantástica e emocionante. Segundo Lawless foi o álbum onde ele mais cantou e teve trabalho para gravar…
“Deus, eu cantei pra caramba nesse disco, eu realmente detonei, levei seis horas para colocar os vocais em Wild Child”. Se você não conhece muito o W.A.S.P., comece por esse. Um disco que resume a boa fase desta grande banda.
Inside the Electric Circus [1986]
Com a saída do guitarrista Randy Piper, Lawless largou o baixo e assumiu de vez uma das guitarras, trazendo para a banda o baixista Johnny Rod (King Kobra). Aproveitando a ótima repercussão de seu antecessor, o W.A.S.P. entrou novamente em estúdio e colocou no mercado mais um ótimo trabalho. Deixando o hard rock um pouco de lado e investindo mais no heavy metal, o W.A.S.P. alcançou a posição de número 60 na parada de álbuns da Billboard, logo após iniciar uma turnê conjunta com Iron Maiden e Slayer. Confesso que tenho este álbum como um dos meus preferidos, pois foi através dele que conheci a potência da banda, através das faixas “
Inside the Eletric Circus“, “
9.5.-N.A.S.T.Y.“, onde Lawless grita tanto que os seus tímpanos parecem que vão estourar e a faixa mais conhecida do petardo “
I Don’t Need no Doctor“, presente em todos os shows da banda. Outros destaques ficam por conta da faixa de abertura “The Big Welcome”, uma das melhores que já ouvi, simplesmente fantástica para não dizer cinematográfica. Por fim, o cover do Uriah Heep ”
Easy Livin“, muito mais pesada e rápida do que a versão original.
The Headless Children [1989]
Em abril de 1989 chegou às lojas o álbum
The Headless Children, causando certo impacto nos fãs, pois o W.A.S.P. cresceu e passou a trilhar novas caminhos, isto é, estava evoluindo para um novo nível de composição, com letras adultas sobre assuntos políticos e religiosos, deixando de lado a maquiagem e a selvageria encontrada nos primeiros discos. Com uma sonoridade mais polida, o W.A.S.P. dali em diante deixou a regularidade de seus álbuns para mostrar a cada trabalho uma diversidade maior com um grau de experimentalismo cada vez mais interessante. Neste disco, os guitarristas Chris Holmes e Lawless mostram toda sua versatilidade, em músicas com solos inspirados; e Frankie Banali, baterista recém chegado do Quiet Riot, mostra toda sua técnica em constantes viradas que acrescentaram muito à nova proposta da banda. Posso apontar como destaque do álbum a faixa “
The Heretic (The Lost Child)“, épica e grandiosa, com uma avalanche de solos, “
The Headless Childre“, com uma levada sensacional e um Lawless cantando demais, “
Forever Free“, linda balada, e as igualmente descompromissadas e sujas “
Mean Man” e “
Rebel in the F.D.G.“. Enfim, trata-se de um dos trabalhos mais fortes do W.A.S.P., se transformando em seu álbum mais vendido até então.
The Crimson Idol [1992]
Depois da turnê para o disco
The Headless Children, Chris Holmes deixou a banda, dessa maneira, Lawless começou a trabalhar sozinho na composição daquele que seria um de seus maiores trabalhos, se não o maior, a ópera-rock
The Crimson Idol. Para gravá-lo, Lawless chamou Bob Kulick (guitarra) e os bateristas Stet Howland e Frankie Banali. O álbum conceitual narra á história de Jonathan Aaron Steel, um jovem suicida e ícone do rock, que acaba se envolvendo com os perigos da fama e suas consequências. Eleito pela revista Metal Hammer como um dos 20 melhores álbuns conceituais de todos os tempos,
The Crimson Idol é uma obra prima. É impressionante como este registro traz uma riqueza em melodias, detalhes e riffs, mostrando Blackie Lawless como um compositor de mão cheia trazendo algo completamente diferente e original em relação ao que se tinha no início dos anos 90. Com uma introdução apoteótica “
The Titanic Overture“, o álbum cresce e mostra a sua grandiosidade perante as faixas “
Arena of Pleasure” e “
Chainsaw Charlie” esta por sinal sempre executada em seus shows. Os destaques estão também nas excelentes baladas “
The Idol” e “
Hold on to My Heart“, esta última, uma das baladas mais bonitas que já ouvi. Como fã, considero este o melhor álbum da banda. Como Lawless mesmo diz:
“este álbum deve ser apreciado com muita calma e cuidado, pois não criei um fast food para os ouvidos”.
Still Not Black Enough [1995]
O que estava previsto ser lançado como um álbum solo de Blackie Lawless transformou-se no sexto album do W.A.S.P.. Na verdade, não é novidade para ninguém que desde
The Crimson Idol o W.A.S.P. nada mais é que a banda solo de Lawless, onde ele manda e desmanda como quer. Para esse registro, os músicos são praticamente os mesmos do registro anterior, Bob Kulick (guitarra), Frankie Banali (bateria) e Lawless na guitarra, baixo, teclados e vocais. Como o W.A.S.P. vinha em uma sucessão de excelentes discos, este ficou aquém das expectativas, mais fraco e sem o brilhantismo dos anteriores. Não se trata de um disco de todo ruim, mas perdeu-se um pouco do peso e da melodia que a banda vinha desenvolvendo através do tempo. Talvez parte da culpa seja da produção, que está polida demais, deixando o som da banda bem artificial. As faixas “
Black Forever” e “
Goodbye America” trazem um pouco do velho W.A.S.P., e “
Rock ‘n’ Roll to Death“, com toda sua energia, faz valer o álbum. O destaque fica por conta da voz de Lawless que está fabulosa, ouça a faixa “
I Can’t” e descubra por si só. Um álbum razoável, onde as composições são medianas, mas a voz de Lawless está extraordinariamente inigualável.
Kill Fuck Die [1997]
Com a volta de Chris Holmes e os novos integrantes Michael Duda (baixo) e Stet Howland (bateria), o W.A.S.P. tentou voltar às raízes, mas com um novo direcionamento musical, mais cru e pesado, com a adição de elementos do industrial. Muitos fãs torceram o nariz, considerando este o pior álbum da banda. Discordo totalmente. O registro não traz tantas mudanças significativas que justifiquem tal desapontamento dos birrentos fãs.
Kill Fuck Die traz boas composições e uma aura de experimentalismo, onde o som industrial se fundiu em perfeita sintonia com as melodias compostas por Lawless. O objetivo das diferentes influências era somente dar ênfase ao clima obscuro e agressivo das faixas, sem descaracterizar a reputação da banda. Os ótimos momentos do álbum são as faixas “
Take the Addiction,”, “
Kill Your Pretty Face“, “Little Death” e a perfeita e angustiante “
My Tortured Eyes” onde a proeminente voz de Lawless sugere um espetáculo a parte. Enfim, este álbum merece mais respeito pelos fãs e uma audição mais delicada, pois trata-se de um trabalho coeso, maduro e acima de tudo criativo.