segunda-feira, 31 de março de 2025

Tonic - This way 1980 (Germany, Symphonic Prog)

 



TONIC é uma dessas bandas com nenhuma ou pelo menos pouca informação sobre a era das trevas (início dos anos 80), na verdade descobrimos a banda por sugestão de uma das poucas pessoas que ainda tem seu único lançamento chamado "This Way" (1980).

Impressionado com seu som sinfônico imaculado e toques de jazz rock, comecei a procurar em todas as páginas em alemão e consegui o álbum, que não fornecia muitas informações, exceto sobre sua formação:

- Michael Draskowitsch (saxofones, clarinete)
- Michael Hocker (bateria)
- Uwe Murschel (teclados, trompete, vocais)
- Andreas Taßlack (vocais, baixo, metalofone, guitarra)
- Roland Schmid (guitarra, baixo)
- Andreas Stelzer (teclados, vocais)
- Johannes Wenzerrit (guitarra, baixo)

E o fato de que seu único álbum foi lançado em 1980,

- Michael Draskowitsch / Saxofones, clarinete
- Michael Hocker / Bateria
- Uwe Murschel / Teclados, trompete, vocais
- Andreas Taßlack / Vocais, baixo, metalofone, guitarra
- Roland Schmid / Guitarra, baixo
- Andreas Stelzer / Teclados, vocais
- Johannes Wenzerrit / Guitarra, baixo
Convidado:
Manfred Rösch / Flauta em "Sometimes"

1. Once I Had A Dream (8:22)
2. Ask Me No More (13:28)
3. Black Boy (5:45)....1:35
4. Sometimes (4:14)
5. This Way (4:19)
6. Against The Fear Of Death (5:52)








Review: Hagbard - Rise of the Sea King (2013) e Vortex to an Iron Age (2016)

 



Ninguém conhece tudo, não é mesmo? Eu, por exemplo, nunca tinha escutado o Hagbard, apesar de já ter ouvido muito gente falar bem da banda. Até que recebi do selo Heavy Metal Rock os dois discos do grupo. Vamos a eles então.

O Hagbard foi formado em Juiz de Fora em 2010 e faz um folk/viking metal. Após duas demos, lançou em 2013 o seu primeiro disco - Rise of the Sea King -, enquanto que o segundo e mais recente trabalho, Vortex to an Iron Age, saiu no segundo semestre de 2016.

A banda é formada por Igor Rhein (vocal), Gabriel Soares (teclado, flauta e vocal), Danilo “Marreta" Souza (guitarra), Rômulo “Sancho" Piovezana (baixo) e Everton Moreira (bateria). Musicalmente, o quinteto apresenta influência de nomes como Blind Guardian, Turisas, Amon Amarth e segue a sonoridade habitual do estilo, intercalando riffs pesados, melodia onipresente e a inserção de instrumentos atípicos ao heavy metal, como flauta, violino e outros. O predomínio do vocal gutural contrasta de maneira agradável com o instrumental que traz elementos de power metal, montando um quebra-cabeça interessante.



Pessoalmente, achei o disco de 2013 muito mais consistente do que o segundo álbum do grupo. Em Rise of the Sea King há uma agressividade e uma violência inerentes, fazendo com que a pegada do Hagbard aproxime-se das áreas mais extremas da música pesada, o que soa como uma espécie de yin-yang constante. Já no segundo disco há uma suavizada geral nesse aspecto, com o lado agressivo ficando em segundo plano enquanto temos a acentuação de uma sonoridade que tenta ser mais elaborada e intrincada, mas que, infelizmente, acaba não encontrando um equilíbrio e perde a personalidade que havia mostrado na estreia. Isso não quer dizer que Vortex to an Iron Age seja um disco ruim, longe disso, mas ao ouvir os dois CDs em sequência sem nunca ter escutado a banda, fiquei esperando um trabalho muito mas forte depois da ótima impressão causada por Rise of the Sea King.

Inegavelmente, o Hagbard possui talento e capacidade para crescer e se tornar uma referência não apenas no Brasil, mas é preciso definir melhor o caminho que a banda pretende seguir em seus próximos passos. Se eu puder dar uma dica, aí vai ela: retomem a agressividade e a violência sonora da estreia, inserindo melodias e aspectos folclóricos a partir dela, nunca deixando de lado isso. Acredito que é por aí que o grupo pode crescer e se desenvolver cada vez mais.






Review: Yannick - Também Conhecido Como Afro Samurai (2016)

 




De cara, o que chama a atenção neste EP de estreia do rapper Yannick Hara é a temática das letras. Elas são inspiradas no mangá Afro Samurai, de Takashi Okazaki, publicado entre setembro de 1999 e maio de 2000. No Japão a história saiu em um único volume, enquanto no restante do mundo foi dividido em dois. O enredo conta a história de um samurai negro e é fortemente influenciado pela blaxploitation, movimento do cinema norte-americano do início da década de 1970 focado na valorização da cultura negra. O mangá foi adaptado para o anime, que estreou em janeiro de 2007 e teve cinco episódios. No Brasil, o título foi publicado no final de 2009 pela Panini Mangás, enquanto o anime passou na MTV.

Desde o início, a obra de Okasaki teve forte ligação com a música, com a trilha-sonora do anime sendo composta por RZA, integrante do combo Wu-Tang Clan. Essa associação segue com o trabalho de Yannick.


São apenas oito faixas em 28 minutos, que traduzem a trama para as canções de Yannick. Musicalmente, temos um hip-hop com batidas fortes e melodias que remetem à cultura japonesa, tudo feito de maneira orgânica e pulsante e com direito a participações de nomes com associação direta com o rock como Dieguito Reis do Vivendo do Ócio, Paula Malvar do Vó Tereza e do rap como Pedro Camargo da Ol Darth Bastard. 

O timbre de voz de Yannick lembra, ainda que sutilmente, a de Thayde, o que traz boas recordações que ficam ainda mais acentuadas pelo sotaque paulista. Mas, como já dito, Yannick ganha atenção pela originalidade de sua abordagem, trilhando pelo caminho do mangá-rap com autoridade e firmeza.

Entre as faixas, destaque para “Jinno" e a ótima música que dá nome ao EP, que vem em duas versões, incluindo um delicioso remix.

Também Conhecido Como Afro Samurai é uma bela estreia de um cara que chega atraindo a atenção, com um trabalho bem feito e que tem tudo para render belos frutos nos próximos anos. Ouça!






Review: Trem Fantasma - Lapso (2016)

 




Por vários momentos, o rock mundial alcançou status de arte. Daria pra citar dezenas de bons exemplos, mas esse não é o caso. Não que a estreia fonográfica do grupo em questão esteja isenta de caráter artístico, pelo contrário. O mote apenas é reavivado para ilustrar as linhas iniciais daquilo que percebo do CD de estreia da banda paranaense Trem Fantasma. 

Pra início de conversa, uma boa arte de um álbum sempre faz a diferença, e Lapso, que foi lançado em 2016 (mas só conheço agora) tem a assinatura do artista Pietro Domiciano, com ilustrações interessantíssimas ao estilo do que o poeta francês Jean Cocteau se utilizou em Ópio, livro lançado aqui no país nos anos 1980 pela Brasiliense. O cuidado e a coerência estética das artes do CD já nos instigam a começar a audição com o encarte na mão, isso segundos depois de rasgar o celofane que envolve o produto. Foi  que fiz. 


E essa correlação com outros gêneros artísticos segue, já que em duas músicas o grupo pinça poemas do escritor curitibano Paulo Leminski para compor "O Silêncio e o Estrondo" e "Lua Alta". Num país onde letras de canções são tão maltratadas (falando principalmente daquilo que se ouve nas FMs pelo público médio), o sumo poético é também uma das virtudes do quarteto composto por Marcos Dank (guitarra, violão e voz), Leonardo Montenegro (violão, guitarra, piano, órgão, synth e vocais de apoio), Rayman Juk (baixo, piano, órgão, synth e voz) e Yuri Vasselai (bateria, percussão e voz). 


Lançado pelo Selo 180 Fonográfico, o disco é produzido a quatro mãos por Sanjai Cardoso e Beto Bruno (Cachorro Grande), com arremate final a cargo da masterização de Rob Grant, na Austrália, mesmo nome que já assinou álbuns de nomes importantes do rock atual como Tame Impala. 


Em pouco mais de 30 minutos, Lapso é um álbum que bate na pinha do ouvinte acostumado (e carente) por boas bandas/artistas ligados ao rock progressivo cantado em português. E a opção em tingir o vocal principal de um reverber onipresente, não apenas carimba o disco com ares saudosos dos anos 1970 como ainda nos conecta a diversas lembranças do gênero. Além das já citadas faixas rebuscadas com esboços poéticos de Paulo Leminski, ouça com atenção temas como "Tua Nuvem", "Sem Rumo", "Antimatéria" e  "Pesadelo", essa última composta em parceria com Pedro Pelotas (Cachorro Grande), que também toca piano na faixa.  


Ouça na íntegra.






Review: Lord Blasphemate - Lucifer Prometheus (2017)

 




Na estrada desde 1992, o Lord Blasphemate lançou em maio o seu quarto disco, Lucifer Prometheus. O trabalho saiu pelo selo Heavy Metal Rock e é o sucessor de The Sun That Never Dies … (1997), A Restless Shelter Under the Remote Star (2006), Ophisophia (2013) e do EP Opus Gnosticum Satannae (2014).

Um dos pontos principais do Lord Blasphemate é a temática lírica, que explora elementos de filosofia thelêmica e do luciferianismo. O Thelema, palavra grega que significa “verdade”, é uma filosofia religiosa desenvolvida no início do século XX pelo cultuado escritor e mago inglês Aleister Crowley e reconhecida como uma religião no Reino Unido em 2009. Um dos preceitos mais conhecidos é a Lei Thelêmica, popularizada no Brasil por Raul Seixas na canção “Sociedade Alternativa” ao cantar a plenos pulmões o ensinamento de Crowley: “faça o que tu queres pois é tudo da lei”. 

Já o luciferianismo é um conjunto de crenças centrado na figura de Lúcifer, o anjo caído. Suas origens estão nas práticas pagãs da Grécia antiga, que enxergam Lúcifer como o Portador da Luz e a personificação do esclarecimento. A principal filosofia do luciferianismo é a busca da divindade dentro de cada um de nós como elemento essencial para o caminho da verdade, encontrando assim a consciência, o conhecimento e o livre arbítrio.

Lucifer Prometheus traz oito faixas, sendo que duas ultrapassam os dez minutos de duração e uma supera os quinze. Musicalmente, temos um black metal voltada para a escola norueguesa do início dos anos 1990, construído pela tríade guitarra-baixo-bateria e sem a presença de teclados. Ou seja, e apenas para efeito de localização do leitor: soa muito mais como Mayhem e Burzum e não tem nada a ver com Dimmu Borgir e similares. Essa escolha, aliada à alternância de movimentos rítmicos, conduz o ouvinte por estados de consciência alternativos e sempre crescentes, como que retirando-o do seu cotidiano e inserindo-o, aos poucos, em um universo regido pela filosofia do grupo.

Muito mais do que apenas um disco, Lucifer Prometheus funciona como uma obra artística muito mais profunda, como ferramenta de expressão e propagação de um modo de vida. A busca pelo auto-conhecimento pregada tanto por Crowley quanto pelo luciferianismo é explorada de maneira criativa pelo grupo, e este aspecto é embalado em canções fortes, criativas e que mostram a capacidade da banda em conseguir traduzir para a linguagem musical aquilo em que acredita. A ótima produção só deixar a mensagem ainda mais forte.

No final, a experiência de ouvir Lucifer Prometheus se revela muito mais completa do que a de apenas escutar um disco. O que o trabalho proporciona é a quebra de paradigmas milenares de uma sociedade construída sobre uma estrututa religiosa responsável pela morte de milhões de pessoas (sim, estou falando do cristianismo) ao mesmo tempo em que apresenta uma visão alternativa aos dogmas espirituais tão necessários ao ser humano. Ou seja, tudo que um bom e competente disco de black metal deveria fazer.







Review: Vento Motivo - Sol Entre Nuvens (2016)

 




O Vento Motivo vem de São Paulo e está na estrada há mais de quinze anos. O trio é formado por Fernando Ceah (vocal e guitarra), Ivan Isoldi (baixo) e Binho (bateria) e lançou no final de 2016 o seu quinto disco, o EP Sol Entre Nuvens. São apenas cinco faixas, incluindo uma versão para "Um Dia, Um Adeus", de Guilherme Arantes.

Tudo soa bem encaixado no trabalho do Vento Motivo, com soluções bem resolvidas e arranjos simples, mas sempre eficientes. Musicalmente, o que temos é um pop rock competente e bastante maduro, e que traz bastante influência de Engenheiros do Hawaii. Isso se percebe tanto na parte musical quanto na maneira como as letras são construídas, com a presença pontual de frases de efeito e de duplo sentido, e culmina com a semelhança entre a voz de Fernando Ceah e Humberto Gessinger. 


Em relação ao cover de Guilherme Arantes, temos uma releitura consistente, que inicia como reggae e evoluiu para um gostoso pop rock que renova a criação do compositor carioca, um dos principais hitmakers do Brasil.

Ao final do EP, a sensação é de termos ouvido uma versão paulista do Engenheiros do Hawaii, que navega na mesma seara musical dos gaúchos mas possui outras referências líricas para contar suas histórias. O trabalho do Vento Motivo é inegavelmene bom e a similaridade com uma das bandas mais amadas nos quatro cantos do país pode abrir portas, porém um toque um pouquinho mais original faria bem ao trio.






Mary Butterworth - Same

 




Incrível que algumas dessas músicas tenham sido regravadas no filme "Lost iTranslation", pelo grupo Sausalito. Alguém fez sua pesquisa! 

Mary Butterworth: A banda que nasceu e morreu no culto

Há álbuns que nascem sob os holofotes e outros que parecem emergir dos cantos mais sombrios do tempo, envoltos em um halo de mistério e segredo. Mary Butterworth é um desses segredos bem guardados, um álbum que viu a luz do dia discretamente em 1969, mas que ao longo dos anos se tornou um tesouro cult entre os buscadores de raridades psicodélicas. Com sua fusão de acid rock, jazz e uma sensação de improvisação quase esotérica, essa banda californiana deixou apenas um rastro na história, mas seu único álbum é um portal para uma dimensão onde Hammonds uivam, guitarras flutuam e ritmos parecem guiar um ritual sonoro esquecido. Como essa joia ficou presa na sombra? Quem foram os arquitetos desse feitiço musical? BEM-VINDO a esta nova cápsula sonora.

Há álbuns que parecem esculpidos no mármore do tempo, clássicos imóveis, indiscutíveis, que sempre estiveram ali. E então há aqueles outros, os fantasmas, os sussurros nas sombras da coleção, as joias cult que apenas alguns sortudos tiveram o privilégio de possuir em sua forma original. Mary Butterworth , lançado em 1969, é um desses casos. Sua própria existência parece um mito. Dizem que apenas algumas cópias foram impressas, que nunca chegou às lojas e que foi pré-vendido para amigos e conhecidos da banda. Encontrar uma edição original hoje é como caçar um unicórnio no século XXI. Mas além da raridade do objeto físico, há a música. E é aqui que a verdadeira história começa:

Descobrir Mary Butterworth é como entrar em uma sala desconhecida e encontrar uma coleção de pinturas fascinantes em cada canto. O grupo, uma banda underground de meados dos anos 60, não alcançou a transcendência que sua qualidade merecia, mas deixou um trabalho que exala espontaneidade e performance marcante. Não é um álbum que explode em clímax estrondosos ou abraça a psicodelia mais extrema, mas parece um elo na evolução do som. Há jazz, há rock, há blues flutuando na mistura, com uma tendência progressiva marcante que antecipou o que viria nos anos seguintes. 

À medida que as músicas avançam, é possível perceber aquelas mudanças inesperadas de ritmo, aqueles toques lisérgicos que, embora fugazes, dão ao álbum um ar de experimentação controlada. Não é acid rock em sua forma mais pura, mas sim proto-progressivo com um toque de jazz. Às vezes, seu som evoca ecos de Spirit, After All ou Free, embora sem realmente se assemelhar a nenhuma dessas bandas. Em vez disso, eles compartilham um espírito exploratório comum, aquele desejo de quebrar estruturas sem cair no caos total. Ouvi-la hoje, com a distância do tempo e sabendo de tudo o que viria depois, é apreciar uma obra que tinha tudo para ser grande, mas que, por caprichos do destino, ficou presa em seu próprio limbo. Talvez seja essa a sua magia, a sua mística. Porque, embora Mary Butterworth não tenha alcançado o pedestal dos gigantes, sua única gravação continua brilhando como um diamante bruto na história oculta do rock. E se você é fã de jazz fusion em seus estágios iniciais, aqui está muito material estimulante para sua próxima sessão.

01. Phaze II
02. Optional Blues
03. It's a hard road
04. Make you want me
05. Feeling I get
06. Week in 8 day

CODIGO: V-22

MUSICA&SOM





Destaque

Jon Bergaretxe - Jon Bergaretxe (1978)

  Primeiro LP da cantora basca. O arquivo  inclui o single do mesmo ano. Download