quinta-feira, 30 de junho de 2022

Introdução ao Rock Progressivo Colombiano (2ª parte)

 

Indisciplina, uma introdução ao rock progressivo colombiano (segunda parte: 1990, 2000 e 2010)


(Primeira parte II: década de 1990)

Autor: Luis López Huertas - O Audiomante

Os anos noventa, Heavy Metal Progressivo

Durante o resto da década de 1980, as apostas no rock nacional foram enquadradas pelo aparecimento de bandas centradas nas influências hispânicas, nas sonoridades do hard rock ou do metal extremo, mas para a década de 1990, em plena mudança da cena internacional onde o mudanças nos interesses do rock foram enormes, é sem dúvida notável o forte impulso e atração gerado pelo aparecimento de bandas como Dream Theater e Tool, bandas cuja presença ajudou a divulgação e redescoberta de outras como Queensryche, The Watchtower ou Fates Warning com as quais dá uma revitalização do progressivo, agora em seu aspecto mais pesado, mas que também ajudou no ressurgimento de clássicos como King Crimson ou na compreensão das viradas sonoras que grupos como Opeth davam na época.

Pela segunda vez na Colômbia, pode-se falar de uma cena rock nacional, um momento em que surgiram muitas propostas voltadas para sons alternativos e com uma abordagem comercial típica do movimento do rock latino em sua língua, mas um movimento underground também se expandiu. no metal e nestas bases é evidente a notável liderança de Kraken, que embora tenha começado na década anterior com uma tendência clara e definitiva de Hard e Heavy Metal clássico em seus dois primeiros álbuns, foi notavelmente complicando suas intenções criativas.

Pessoalmente, considero que embora a banda estivesse em constante evolução sonora e claramente -The Symbol of the Footprint- de 1995 representa uma incursão nas tendências mainstream da época, é especificamente em álbuns como o Kraken III dos anos 90, o IV Skin de Cobre del 93, -Humana Deshumanización- de 2009 e -Sobre Esta Tierra, VI- de 2016 que a banda apresenta, enfim, marcadas intenções progressistas, necessárias também para as letras cada vez mais profusas do maestro Elkin Ramírez.

Também nos anos 80 surgiu uma nova geração internacional de guitarristas virtuosos que foram agrupados sob o nome de Shred. Neste se fala de qualidades como a extraordinária capacidade de velocidade, o domínio de várias técnicas, importante capacidade interpretativa e complexidade composicional. Esta tendência também contou com um grande número de discos instrumentais, com sonoridades neoclássicas em alguns casos e improvisações do tipo jazz em outros, destacando nomes como Joe Satriani, Steve Vai, Tony MacAlpine ou Jason Becker.

Com essas referências encontramos Tom Abella, um guitarrista lembrado desde sua aparição no Rock al Parque del 95, tornando-se conhecido por sua técnica solo e com três importantes álbuns instrumentais de metal progressivo, quase certamente os primeiros do estilo no país. Nacidos Para La Batalla- de 99 onde conseguiu imprimir as músicas que vinha tocando ao longo da década e que acima de tudo representa uma das apostas mais arriscadas da época. Também -Tinittus- de 2005 e -Archited of The Universe- de 2017.

Por outro lado, por volta de 1997 a banda Legend Maker da cidade de Cali entrou em cena, levando os referentes do Power Metal, muito em alta na época com bandas como Angra e Gamma Ray, apresentando o trabalho The Path To Glory ( 1999 ) um dos discos mais celebrados do metal nacional. Esta produção permitiu-lhes assinar com o selo norte-americano Sentinel Steel Records (Manilla Road, Valdemar, etc). Mais tarde, seu segundo álbum, Líes Bleeding the Blind de 2006, os aproxima de sons épicos mais complexos que podem até ser associados a bandas de power prog como Symphony X.


O Novo Milênio. 
Power Prog e a era da guitarra

Não parece justo reduzir em poucas linhas os últimos 20 anos do rock e do metal nacional, mas para não estender ainda mais este artigo, basta lembrar que no início do milênio a Colômbia não só perdeu o interesse dos meios de comunicação de massa no rock, sofreu também uma importante ruptura devido a uma profunda crise econômica e após a passagem da moda do rock em sua língua, projetos nacionais, salvo raras ocasiões, têm ido principalmente para o underground, mídia alternativa e independência, ou melhor, trabalhar apenas por conta própria. No entanto, isso não fez com que a produção de material diminuísse e pelo contrário, mais e mais bandas de rock de todos os subgêneros surgissem a cada dia, representando assim uma maior produção de progressivo que não consegui compilar aqui,

O caminho aberto por Kraken, Tom Abella e Legend Maker fica evidente nos projetos da nova década, onde inicialmente encontramos Introspección, banda originária de Villavicencio e lembrada por abrir o primeiro e grande show do Iron Maiden na Colômbia. Eles apresentaram seu primeiro álbum chamado -Revealed- em 2006, mas é com o segundo intitulado -Transcending- de 2006 que eles passam do poder épico para uma maior ênfase prog com a inclusão de ritmos e passagens sinfônicas e algumas folk.

Hidden Path e Within The Hour são duas bandas com a notável participação do guitarrista Daniel Realpe (Ex Ethereal) que apresentam uma sonoridade também enquadrada no Heavy Prog. A primeira conta com dois álbuns -Before Our Eyes- de 2005 e -Time Will Tell- in 2008, enquanto o segundo lançou um álbum auto-intitulado em 2013 ao lado de músicos como o vocalista e youtuber Pablo Cuevas (Ex Supremacy). Posteriormente, o guitarrista apresentou seu trabalho solo com -Compulsive- de 2009, -Garments Of Insanity- de 2019 e finalmente participando em 2020 da proposta colombiana-argentina Alan Freed Project em seu primeiro álbum -No Awareness- também no instrumental progressivo caminho. .

Patricio Stiglich é outro dos grandes guitarristas do país, trabalhando lado a lado com muitos músicos de destaque, ele produziu quatro grandes álbuns com seu PSP (Patricio Stiglich Project) onde enfatiza sons próximos ao thrash mais técnico do Metallica ou Megadeth do Friedman palco e Menza, mas mantendo arquétipos do gênero que nos preocupa com grandes temas instrumentais onde a técnica é marcante. Entre -PSP- de 2010, -Bloodline- de 2013 e -No Reaction- de 2018 encontramos -True Colors- de 2016, que se destacou sobretudo pelo equilíbrio e variedade de temas.

Da mão do próprio Patricio, mas desta vez ao lado daquele que é o baixista do Kraken há mais de 15 anos, Luis Alberto Ramírez (um dos músicos responsáveis ​​pela Kraken Philharmonic), o projeto chamado Parallax com -Quasar- de 2012 e o Ep -Phasing Out- em 2016. Estes mostram uma maior influência do jazz em termos de progressão de acordes e resolução estilística de certas músicas (acho que notei referências a Greg Howe por exemplo) mas sem nunca perder a vertigem do metal.

Não poderia faltar neste artigo o Sr. Nicolas Waldo, um músico prolífico se houver no país, que se aventurou no Power Metal mais técnico ao lado de bandas como Vorpal Nomad e Energema, porém, tem um número bastante considerável de lançamentos A nível pessoal, cerca de quatro Ep's mais sete de longa duração onde se destaca -Equilibrium- de 2017.

No Presente E Na Vanguarda

A explosão de bandas nos últimos 10 anos na Colômbia parece não ter precedentes, porém, com o mesmo ímpeto da formação de novos grupos e do lançamento de material, ocorre a velocidade com que muitas dessas propostas infelizmente permanecem anedóticas. Por isso, fica claro que compilar todos eles é uma tarefa quase impossível, ainda mais quando muitas de suas músicas são lançadas apenas como singles ou EP's em plataformas digitais onde são difíceis de encontrar. Mesmo assim, alguns nomes conseguiram deixar uma marca importante para o progressivo nacional que, como procurei destacar, também produz música de excelente qualidade.

Nesta época, duas bandas se destacaram principalmente, como The Brainwash Machine e MIJO, visando compor músicas memoráveis ​​e buscando acima de tudo sua própria personalidade. No caso de The Brainwash Machine, há uma banda com um lado mais Floydiano que, embora deixe clara sua capacidade técnica interpretativa, optou mais por trabalhos conceituais com uma construção de temas focados em ambientes oníricos, surreais e até psicopáticos, evidentes também em magníficas artes gráficas impressas em seus dois álbuns -Modern Day Sisyphus- de 2011 e -A Moment of Clarity- de 2014.

No caso do MIJO, a banda representa parte do melhor do rock colombiano dos últimos anos em geral. Liderados pelo virtuoso baterista Adolfo Torres, por agora entregando um álbum auto-intitulado lançado em 2018. Nele, você pode viajar por sons sombrios e ao mesmo tempo com muito sentimento interpretativo que alcança uma espécie de psicodelia ácida e pesada que poderia ser definido como um Stoner progressivo.


Adolfo também se juntou a outro projeto interessante chamado 0RM1G4 junto com dois músicos excepcionais de sua cidade natal, Cali. 
Carlos Peralta (guitarrista com uma enorme carreira no jazz) e José Francisco Rodríguez no baixo (Kaiju, Zola) que em plena pandemia lançaram três singles com um som quase inédito de jazz, rock e metal fusion, pensemos no Liquit Tension Experimente apenas para dar um exemplo para referência.

Claramente, o prog ganhou popularidade devido a uma espécie de explosão global nos últimos anos, onde o gênero evoluiu e está relacionado a quase todos os subgêneros do rock. Cada banda imprime características próprias e à medida que a música evolui, cada vez menos se procuram rótulos, até post rock, avant garde, art rock são classificações que vieram tentar explicar certas motivações e formas de fazer música Rock. elaboradas para além das convenções , mas não deixam de ser generalizações, simplificações ou determinismos, por isso eu em particular me baseio e acredito no que os próprios membros da banda dizem na época.

Pelo exposto, é importante citar os trabalhos de bandas como El Último Boabdil y sus -Lenguas Vernaculas- de 2014, os mais experimentais e artísticos desta lista. Argovia Banda colombiana-venezuelana e seu -Distante Presente- de 2017. Maalesh com sonoridades que combinam Groove Metal com ares árabes e a apreciável participação do guitarrista de Soufly (se banda de Max Cavalera) Mark Rizo. Entropía e seus dois álbuns -Simetría- de 2010 e -Transform- de 2014 ou Los barranquilleros Septon destacando-se por uma magnífica voz feminina e entregando o completo -Cradle Of Deception- de 2018 enquadrado no Poder Sinfônico.

Muito ativo nos últimos anos é o inconfundível power duo Cosmology X e seu -Perihelion- de 2019 onde misturam ritmos de vários territórios nacionais, que também me dão a oportunidade de falar sobre o trabalho do produtor e baterista Matthias Krieger nos estúdios Poket Audio. Mattias foi responsável por muitos dos álbuns aqui nomeados e pelo que poderia ser um novo movimento prog ou pelo som de Bogotá de bandas muito atuais como Xinnix, além disso, ele está atualmente na bateria do INDIO, um grupo com forte discurso e bases históricas.

Finalmente me lembro de um dos projetos mais recentes chamado Boreal e seu EP de estreia -Las Alas de las Mariposas- de 2020, sob influências de prog metal alternativo como Mastodon, Baroness e Coheed & Cambria, mas com som próprio e fortes bases filosóficas nas letras, chego ao fim desta turnê inicial um tanto extensa de rock e metal progressivo que me faz refletir como mesmo nos caminhos mais difíceis da indústria musical colombiana, o que mais importa para os músicos não é a superexposição comercial, senão a música em si como um meio de expressar suas preocupações artísticas internas, não importa o quão confusas, complexas, incompreensíveis ou totalmente agradáveis ​​elas possam parecer para nós, e o prog vive e continua assim.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

CRONICA - KEVIN AYERS & THE WHOLE WORLD | Shooting at the Moon (1970)

  Depois do grande sucesso  Joy Of A Toy  em 1969, Kevin Ayers fez isso novamente com  Shooting at the Moon  nas lojas no ano seguinte em no...