domingo, 28 de agosto de 2022

Drake – Honestly, Nevermind (2022)


 

Seria de esperar que quem vibrou com temas como “Hold On, We’re Going Home”, “One Dance” e “Passionfruit” (os grandes sucessos comerciais do artista) fosse adorar a nova produção de Drake, mas não é o que tem acontecido — afinal, ninguém gosta de house, e misturar rap com elementos dançáveis é meio caminho andado para o insucesso.

A Internet tem sido particularmente maldosa para com Drake. O rapper canadiano decidiu fazer uma surpresa ao lançar Honestly, Nevermind… E a receção não foi a melhor, sobretudo porque tanto os rapheads mais extremistas, como os discípulos mais fiéis a Drake, desprezaram, sem surpresa, as letras que acompanham as faixas eletrónicas e profundamente líquidas do seu mais recente álbum.

Ainda que os charts do Spotify digam o contrário, o LP que antecedeu a Honestly Nevermind (Certified Lover Boy, de 2021) foi uma espécie de de fracasso — os dois (ou três) primeiros temas prometem, mas, no fim, os nossos ouvidos provam uma tremenda desilusão. Deste modo, para os fãs e crítica em geral, Drake vai em duas falhas consecutivas, sendo que, em Honestly, Nevermind, o problema está — melhor: volta a estar… — na questão lírica, que traz ao de cima a vaidade do artista oriundo do Canadá e a sua tremenda falta de sal artístico. 

A verdade é que Drake teve sempre um travo insosso. Mesmo nos seus melhores álbuns (Take Care, de 2011; Nothing Was The Same, de 2013; If You’re Reading This It’s Too Late, de 2015), Drake nunca conseguiu ser propriamente consensual — aparecia sempre alguém a apontar uma falha, a criticar a sua falta de personalidade thug (como se essa fosse uma característica chave na carreira de um rapper…), ou a demonstrar que o artista depende absolutamente de ghostwriters. Contudo, a cada álbum que lança, Drake para o mundo, mesmo que essa paragem dure apenas um par de semanas. A verdade é que, no fim do dia, o rapper é uma estrela mundial, cujos lançamentos dão invariavelmente que falar. 

E Honestly, Nevermind está a dar que falar porque, aparentemente, é um flop. Eu, um cidadão de Portugal com muito pouca relevância no mundo da música e nas ordens socioeconomicas e artísticas mundiais, não concordo. Honestamente, Honestly, Nevermind é o que é: trata-se de um álbum pensado, não só para longas temporadas e noites de verão, como também para Reels e Tik-Toks de pessoas com medo de envelhecer e que querem perpetuar a sua juventude em pequenos e rápidos clipes, que necessitam da ajuda de um algoritmo nefasto para triunfar — e é por essa razão que o novo álbum de Drake é um sucesso: é música simples, de audição fácil, que entra bem nos ouvidos das pessoas.

As produções do artista dito rapper não disparam balas, mas preparam uns belos gin and tonic’s.

Drake deve estar confuso: as pessoas estão a ser injustas e críticas em relação a Honestly, Nevermind. Seria de esperar que quem vibrou com temas como “Hold On, We’re Going Home”, “One Dance” e “Passionfruit” (os grandes sucessos comerciais do artista) fosse adorar a nova produção de Drake, mas não é o que tem acontecido — afinal, ninguém gosta de house, e misturar rap com elementos dançáveis é meio caminho andado para o insucesso. Num mundo justo e coerente, Honestly, Nevermind teria tanto sucesso como os anteriores hits do rapper, mas o mundo funciona a partir de regras estranhas — e parece estar agora um bocadinho farto das tentativas de Drake.

Ele e a sua equipa foram bastante inteligentes ao lançar, repentinamente, um álbum desta natureza, na semana que marcou o início do verão de 2022. Paralelamente, Drake e os seus deverão ter-se apercebido de que correntes house music têm-se aproximado cada vez mais da costa da pop. (Como se explica a ascensão meteórica de Dua Lipa? E como devemos lidar com o novo single de Beyoncé, que parece ter sido inspirado nos anos dourados de Bob Sinclair?) É provável que Drake esteja dececionado com a receção de Honestly, Nevermind, mas é certo que, por outras razões, está contente, apenas porque este vai ser o álbum do verão, ouvido por todos. Lá está é música fácil: uma máquina de fazer dinheiro. Aliás, os grandes sucessos de Drake são simples — e, por isso, são bons. No fundo, Drake é um popstar mascarado de rapper.

Contudo, há muito valor em Honestly, Nevermind, daí a existência deste texto meio sério, meio jocoso. Entre as faixas 8 e 13, Drake oferece momentos intensos e multifacetados de música. Se “Massive” parte qualquer discoteca … ou Zara (ou H&M, ou Mango, ou Bershka), “Flight’s Booked” diminui a nossa batida cardíaca e faz-nos descontrair, transportando-nos para um cenário idílico de verão. “Overdrive” segue dinâmicas semelhantes ao tema anterior, mas é uma produção mais pop, mexida e atrevida, sendo que “Down Hill” recupera sonoridades mais tranquilas e líquidas. 

A pérola de Honestly, Nevermind é “Tie That Binds”, um tema que tem todas as propriedades: a batida, sempre em crescendo, é viciante (a dado momento, sentimos que poderia ter sido oferecida por Kelly Lee Owens); a voz cantada de Drake — goste-se ou não — conduz a nossa mente; uma guitarra transparente que revoluciona a faixa, constituindo o momento mais musical do álbum. Quando a escutei pela primeira vez, lembrei-me, sem qualquer tipo de vergonha ou constrangimento, de guitarristas espanhóis de que tanto gosto e admiro, e pensei que, se ainda estivesse entre nós, José Padilla, o mítico DJ de Café Del Mar, iria incluí-la num dos seus extensos sets

Agora, deixo um aviso: não ouçam a letra da canção — nem desta nem de outras que se incluem em Honestly, Nevermind ou noutros álbuns de Drake. As produções do artista dito rapper não disparam balas, mas preparam uns belos gin and tonic’s.


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