Leslie Feist: a irreverência feminista sem temores
Com uma voz única e um estilo muito próprio, Leslie Feist – mais conhecida simplesmente pelo seu apelido – regressa com um novo trabalho musical após um hiatus de 6 anos. A artista canadense, que divide o seu tempo entre a carreira a solo e como membro da banda Broken Social Scene, não nos apresentava novos temas musicais desde o seu álbum de 2011, Metal, que tinha sido já bastante aplaudido pela crítica.
Pleasure, de 2017, prometeu trazer a artista de novo para as luzes da ribalta. No entanto, antes de falarmos um pouco mais sobre este trabalho da artista, decidimos relembrar um pouco da sua história e da carreira que a colocou na posição onde se encontra hoje.
É no dia 13 de fevereiro de 1976 que nasce Leslie Feist, aquela que viria a ser uma das artistas mais proeminentes do cenário pop rock da música canadense. A aptidão pelas artes, e o interesse para tal, foi cultivado pelo próprio ofício dos pais. Mesmo que não estivessem ligados ao ramo da música, os pais trabalhavam em artes plásticas: o pai, pintor abstrato-expressionista e professor no Colégio de Arte de Alberta e a mãe, que estudou cerâmica e exerce esse talento.
Os primeiros anos de vida de Feist não foram propriamente os mais calmos: o divórcio dos pais acabou por resultar em algumas mudanças de residência. Com o irmão, Ben, Feist muda-se com a mãe para Regina, em Saskatchewa, e mais tarde para Calgary, em Alberta. Neste período, frequenta a escola como qualquer outra criança e adolescente e vai descobrindo paixão por duas coisas: a escrita e a música. Inicialmente, uma das suas aspirações passava mesmo pelo jornalismo. No entanto, o bichicho da música era alimentado também pouco a pouco à medida que ia participando em coros de música.
A decisão de uma carreira musical começa-se a tornar mais definida ainda em 1991 quando, com apenas 15 anos, Feist funda uma banda punk a que chama de Placebo (não, não é a mesma Placebo que bem conhecemos de Inglaterra) mas sim uma pequena banda de Calgary, constituída por alguns colegas da escola e amigos locais. Ainda que o trabalho desta Placebo não se tenha tornado conhecido, valeu-lhes algumas vitórias, nomeadamente uma vitória numa batalha de bandas local e a abertura de um concerto dos Ramone.
Após cinco anos a fazer tour, Feist decide, no entanto, dar uma pausa à música para recuperar a voz e se dedicar a novos projetos. Da pequena vila de Calgary mudou-se para Toronto, em 1998, onde, com a sua guitarra, consegue um lugar na banda By Divine Right. Nesse mesmo ano lança ainda o seu álbum de estreia solo, Monarch (Lay Your Jewelled Head Down).
Em 2000, Feist muda-se para um apartamento na Queen Street West, em Toronto, tendo como colega de casa Merrill Nisker, que integrava a banda de electro-punk Peaches. É esta amizade com Nisker que lhe abre alguns convites futuros: é vocalista convidada em The Teaches of Peaches e conhece aqui Gonzales, com quem vive os dois anos que se seguem, em Berlim, e onde escreve algumas das canções que surgem mais tarde em Let It Die.
Durante o seu período na Europa colabora com os noruegueses Kings of Convenience, no albúm Riot On a Empty Street e entra ainda no álbum dos de The New Deal, intitulado Gone Gone Gone e ainda no trabalho dos Apostle of Hustle, o álbum Folkloric Feel de 2004. No entanto, este período não foi apenas para gravar álbuns de outras bandas: é entre 2002 e 2003 que grava o seu segundo álbum a solo, Let It Die, em Paris.
Feist: o sucesso de Let It Die
Let It Die era completamente diferente de tudo o que Feist tinha feito até então, combinando jazz, bossa nova e indie rock, tendo sido aclamado como um dos melhores álbuns pop canadenses de 2004. O facto do single “Mushaboom” ter feito parte de um anúncio para um perfume da Lacoste ajudou imenso a promover o trabalho da artista.
No inicio de 2006, Feist voltou à Europa para gravar o álbum sucessor de Let It Die com Gonzales, Mocky, Jamie Lidell e Renaud Letang. Um álbum de misturas e colaborações, chamado Open Seasons que foi lançado a 18 de Abril em 2006 no Canadá.
O terceiro álbum a solo de Feist, The Reminder, foi lançado em 2007 e levou a artista numa tour mundial para promover o seu trabalho. Em 2011, chega então o álbum Metals, que referimos no início deste artigo e que uma vez mais prova ser um ponto marcante na carreira da artista, valendo-lhe o Polaris Prize.
Metals foi o seu disco que alcançou os lugares mais cimeiros dos tops de vendas, entrando diretamente para o n.º 9 da tabela da Billboad. Foi eleito Álbum do Ano pelo New York Times, venceu o Polariz Prize e quatro Juno Awards. Até à data, Feist já venceu mais de 3 milhões de discos em todo o mundo e ultrapassou os 500 milhões de streams.
Pleasure: de Feist chega 6 anos depois
Em 2017, seis anos depois do seu último álbum, chega ao mercado o novo trabalho de Feist: Pleasure.
Pleasure assume-se como uma reflexão sobre segredos e vergonha, solidão e ternura, carinho e fadiga e é, no fundo, um estudo sobre autoconsciência. Este que é o quarto álbum da cantautora canadiana Leslie Feist, Pleasure parte do naturalismo de Metals, e surge como o seu trabalho mais desafiante e expansivo até à data. E apesar de cada álbum que lança se distinguir do seu antecessor, Pleasure mostra a mais extraordinária profundidade da arte da cantora, nomeada já por quatro vezes para os Grammy.
Gravado ao longo de três meses, entre Stinston Beach, Nova Iorque e Paris, Pleasure foi coproduzido por Feist com os colaboradores de longa data Renaud Letang e Mocky. Além de reafirmar Feist como uma guitarrista inventiva, o álbum aborda uma voz sempre em mudança que se alia a arranjos esparsos e crus.
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