segunda-feira, 1 de agosto de 2022

POEMAS CANTADOS POR RUI VELOSO

Luz Falsa

Rui Veloso


Não vais pedir perdão

Por não seres quem eu vi

À luz falsa da paixão

É apenas minha a falta

Só por não condizeres

Com a visão tão alta

Que eu quis ter de ti


Não há muito a fazer

Tu não mudaste nada

Eu é que estou pior

Sou alma condenada

A amar a ideia do amor

Essa lente desfocada

Que engana o amador


Apaguem essa luz, apaguem essa luz, falsa


Ela à primeira vista

Não há quem lhe resista

Depois há sempre um quê

Que nem eu sei bem dizer

É um mal que desaponta

Nunca mais vou aprender

Apesar da minha conta


Tu dizes que o amor

É como abrir gavetas

Ver tudo o que há lá dentro

Quebrar o brilho à montra

Até cortar a mão

E gostar do que se encontra

Em cada vidro do chão


Apaguem essa luz, apaguem essa luz falsa


Máquina Zero

Rui Veloso


Fui à inspecção ao quartel de infantaria

Estava no edital da junta de freguesia

Depois de inspeccionado deram-me uma guia

Com um carimbo chapado dizendo que servia


Ainda argumentei e disse que não ouvia

Não regulava bem e que tinha miopia

O capitão mirou-me no seu ar de comando

E o sargento mandou-me um sorriso de malandro

Do bolso tirou a velha máquina zero

E tugindo gozou pró ano cá te espero


Eu não quero ir à máquina zero

Eu não quero ir à máquina zero


Um dia na recruta fui limpar a latrina

O rancho veio-me à boca e faltei à faxina

O sargento de dia não me deixou impune

Levou-me à companhia e aplicou-me o rdm

Aqui nada se aprende odeio espingardas

Não fui feito para isto e tenho horror a fardas


Eu não quero ir à máquina zero

Eu não quero ir à máquina zero


Não me façam guerreiro eu nunca fui audaz

Sou um gajo porreiro só quero viver em paz


Eu não quero ir á máquina zero

Eu não quero ir à máquina zero


Nunca fiz inimigos em nenhum continente

Não dividam o mundo em leste e ocidente

Pactos e alianças são um bom remédio

Para entreter marechais e lhes combater o tédio

Pactos e alianças são um bom remédio

Para entreter marechais e lhes combater o tédio


Eu não quero ir à máquina zero

Eu não quero ir à máquina zero


Miúda (fora De Mim)

Rui Veloso


Primeiro deste-me sorte

Saímos os dois por aí

Cinemas uns bares e dançamos

Perdemos sul e norte

Ficámos partimos daqui

Quisemos achar a achámos


Depois tu de repente já diferente

Percebi que alguma coisa se passava

Procurei-te e miúda achei-te ausente

E era a primeira vez que assim te achava


Aí miúda

Já não posso passar sem ti

Aí miúda

Tu pões-me completamente

Fora de mim


Agora estou sempre à espera

Feito um idiota

Pelo que me diz de ti quem nos via

E vivo como uma fera

Na paranóia da noite

Fumo e bebo até ser dia


Aí miúda

Já não posso passar sem ti

Aí miúda

Tu pões-me completamente

Fora de mim


Continuo a acreditar que irás voltar

Virás por aí pelo ar num repente

Só tu miúda me poderás levantar

Deste sonho medonho que abraço consciente


Aí miúda

Já não posso passar sem ti

Aí miúda

Tu pões-me completamente

Fora de mim


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