sábado, 27 de agosto de 2022

POEMAS CANTADOS POR SÉRGIO GODINHO

Sérgio Godinho

As Certezas Do Meu Mais Brilhante Amor

Sérgio Godinho


As certezas do meu mais brilhante amor

vou acender que amanhã não há luar

eu colherei do pirilambo um só fulgor

que me perdoe o bom bichinho de o roubar


Assobiando as melodias mais bonitas

e das cidades descrevendo o que já vi

homens e faces e os seus gestos como ecritas

do bem do mal a paz a calma e o frenesi


Se estou sozinho é num beco que me encontro

vou porta a porta perguntando a quem me viu

se ali morei se eu era o mesmo e em que ponto

o meu desejo fez as malas e fugiu


Assobiando a melodia mais bonita

a da certeza do meu mais brilhante amor

a sensação de entre as demais a favorita

que é ver a rosa com o tempo a ganhar cor


Assobiando as melodias mais brilhantes

como o brilhante da certeza de um amor

como o rubi mais precioso entre os restantes

que é o da meiguice alternando com o amor


Não negarei ficar assim nesta beleza

assobiando as melodias mais fugazes

não é possível nem é simples com certeza

mas é a vontade que me dá do que me fazes


 As Horas Extraordinárias

Sérgio Godinho


Foi a saudade do teu braço

e o olhar que já da luz me dói

trabalhei sem dar p´lo cansaço

horas extraordinárias, foi

um dia que passou num furacão

um furacão que se amainou, só

quando, aparte o amor

eu me vi só

atirando amoeda ao ar

diz-me que cara ou coroa

eu vou ganhar

diz-me quanto eu fiz bem

em me apostar

e que bem fiz em ter por necessárias

as horas extraordinárias


E assim que volto ao meu lugar

reencontro com dor e com prazer

o coração que fiz falar

à máquina de escrever, a ver

ela a dar corda à máquina de amar

e um coração a se amainar, só

quando aparte o amor

eu me vi só

atirando amoeda ao ar

diz-me que cara ou coroa

eu vou ganhar

diz-me quanto eu fiz bem

em me apostar

e que bem fiz em ter por necessárias

as horas extraordinárias


Às Vezes o Amor

Sérgio Godinho


Que hei-de eu fazer

Eu tão nova e desamparada

Quando o amor

Me entra de repente

P'la porta da frente

E fica a porta escancarada


Vou-te dizer

A luz começou em frestas

Se fores a ver

Enquanto assim durares

Se fores amada e amares

Dirás sempre palavras destas


P'ra te ter

P'ra que de mim não te zangues

Eu vou-te dar

A pele, o meu cetim

Coração carmesim

As carnes e com elas sangues


Às vezes o amor

No calendário, noutro mês, é dor,

é cego e surdo e mudo


E o dia tão diário disso tudo


E se um dia a razão

Fria e negra do destino

Deitar mão

À porta, à luz aberta

Que te deixe liberta

E do pássaro se ouça o trino


Por te querer

Vou abrir em mim dois espaços

P'ra te dar

Enredo ao folhetim

A flor ao teu jardim

As pernas e com elas braços


Às vezes o amor

No calendário, noutro mês, é dor,

É cego e surdo e mudo


E o dia tão diário disso tudo


Mas se tudo tem fim

Porquê dar a um amor guarida

Mesmo assim

Dá princípio ao começo

Se morreres só te peço

Da morte volta sempre em vida


Às vezes o amor

No calendário, noutro mês é dor,

É cego e surdo e mudo


E o dia tão diário disso tudo

Da morte volta sempre em vida

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