quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Creedence Clearwater Revival – Creedence Clearwater Revival (1968)


 

Lançado em 1968, um ano após o famoso Verão do Amor, mas ainda na cena do peace and love, o álbum homónimo de estreia dos Creedence Clearwater Revival é uma bela obra em contraciclo com os tempos que se viviam, dando voz ao amor de John Fogerty pela tradição americana.

Quando oiço Creedence Clearwater Revival lembro-me sempre daqueles que criticam quem escreve sobre o que não sabe; ou melhor, sobre o que não viveu ou que não experimentou. Porque, dizem eles, os que criticam, que quem não viveu x ou não experimentou y não sabe o bê-á-bá e por isso mais valia estar quietinho no seu canto antes de escrevinhar patacoadas. Bom, mal estávamos se o empirismo fizesse jurisprudência em tudo o que se presta a ser lido. Um tipo que não sabe tocar guitarra não pode criticar um guitarrista? Pode. E um tipo que não sabe escrever pode criticar um crítico? Pode. E deve. O que é preciso é qualidade e talento. Coisas que não faltaram aos Creedence Clearwater Revival, um bando de meninos da cosmopolita, modernaça e provocadora São Francisco que se atreveram a cantar e a (d)escrever o bayou e os swamps e os bull frogs do sul dos EUA. No coração do mundo redneck.

Creedence Clearwater Revival, álbum homónimo da banda, é o menos forte de todos. Não é a toa que os singles mais conhecidos são covers (“Suzie Q.” e “I Put a Spell On You”). Neste LP só há um cheirinho do estilo “Bayou Country/Rock and Roll” e da canção de intervenção social que John Fogerty celebrizaria como a “Born on the Bayou” ou “Fortunate Son”. Mas – e há sempre um mas – Creedence Clearwater Revival tem duas canções porreiras, orelhudas, mordazes e que fazem parte do código genético da banda. Ou de John Fogerty – convenhamos, é difícil distinguir as partes. Sem mais demoras, elas são a “The Working Man” e “Porterville”. Nelas, sente-se aquele ambiente positivamente pantanoso e a raiva na voz excecional de John Fogerty, um dos únicos na história a quem se lhe permitiu gritar esperneando e chamar-lhe a isso cantar.

Ahhh… A “The Working Man” e a “Portverville” são escolhas fáceis, dirão vocês. Óbvias, responderei eu. Que não sei tocar guitarra ou escrever como Fogerty.


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