domingo, 2 de outubro de 2022

Erasmo Carlos – Carlos, ERASMO… (1971)

Um disco com mais de cinquenta anos e que permanece fresco e fofo como poucos, Carlos, ERASMO… é um dos pontos altos da música feita em terras de Vera Cruz.

Na minha infância um dos momentos altos lá em casa era ver o especial anual do Roberto Carlos e lembro-me como se fosse hoje da sua versão de 1991, onde aparece Erasmo num saudoso medley com o seu parceiro de longa data. Sendo um cantor sobejamente conhecido e querido no Brasil, poucos o reconhecerão por causa da música encontrada neste disco – antes é visto como o parceiro da verdadeira estrela da música do país irmão, Roberto Carlos. Qual Batman e Robin, Roberto e Erasmo interpretaram um papel essencial na música popular brasileira dos anos 60, especialmente através do seu programa televisivo Jovem Guarda que levou toda uma geração a descobrir música nova. Isto, até o tropicalismo chegar e tudo ter mudado.

Chegando em 1971, enquanto Caetano e Gil ainda estavam no exílio, Rita Lee havia acabado de sair d’Os Mutantes e Gal Costa havia procurado novos caminhos para o seu som, o álbum de Erasmo de 1971 foi o que mais se aproximou da Tropicália. Carlos, ERASMO… foi co-produzido pelo produtor da Tropicália, Manoel Barenbein, incluindo uma nova composição de Caetano (“De Noite na Cama”), alguns arranjos cortesia de Rogério Duprat e o talento musical de nada menos que três Mutantes: o guitarrista Sergio Dias, o baterista Dinho Leme e o baixista Liminha, não para mencionar o indiscutível mestre do psicadélico do Brasil, Alexander Gordin, também conhecido como “Lanny”. Carlos, ERASMO… é portanto uma equipe virtual de estrelas de tropicalistas que sobreviveram ao exílio forçado. Este álbum é considerado um disco de rock dentro do cenário do rock brasileiro e uma notável entrada tardia na tradição da Tropicália, balançando mais forte do que qualquer álbum em seu catálogo, mas também incluindo canções de amor finas, movimentos de soul e funk, músicas pop atrevidas e uma marimba – ode dirigido à maconha.

Arrancando com a excelente já referida “De Noite na Cama”, cedida por Caetano, passando da suave e doce “Masculino, Feminino”, a um portentoso riff em “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”, estamos perante um sem fim de músicas orelhudas que nos cativam desde o início. “Gente Aberta” será a mais maior de todas, a beleza pura da simplicidade, mas há que também referir “Maria Joana”, “26 anos de vida normal” e a ledzeppeliana “Ninguém Chora Mais”.

Será porventura o álbum mais criativo, consistente e pessoal de Erasmo e, ao mesmo tempo, um dos menos bem sucedidos comercialmente e subestimados de sua longa carreira, pelo menos até recentemente. Abraçando a liberdade artística da contracultura global do final dos anos sessenta e início dos anos setenta, Erasmo evoluiu de seu início de pastilha elástica para um sofisticado cantor e compositor nos anos setenta. Erasmo Carlos E Os Tremendões (1970), Carlos, ERASMO… (1971) e Sonhos E Memórias 1941-1972 (1972) demonstram toda a maturidade do cantor e, em conjunto, encontram este teeny-bopper a evoluir para uma mistura de psicadelismo, rock n’ roll, Soul, Funk, Folk, Bossa Nova e Samba-Rock para um público brasileiro que não soube como o acolher. Importa não deixar a memória esquecer o portento que este disco é.


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