sábado, 22 de outubro de 2022

NO BAIRRO DO VINIL

 Henrique Cordeiro e Ariovalda Maria

A comunidade portuguesa radicada nos Estados Unidos da América, nomeadamente a açoriana radicada na California, é bem maior do que aquela que porventura possamos imaginar. Sendo assim, é natural que nessas comunidades surjam muitas vezes músicos portugueses com registos musicais naturalmente virados para a comunidade lusa radicada no estrangeiro. Nada mais óbvio. Não surpreende também que muitos desses músicos conservem bem vivas as raízes musicais da terra-mãe, cantando temas intimamente ligados ao que de mais português há em nós. Um dos temas mais simbólicos do nosso universo musical, é a conhecida “Júlia Florista” com letra de Joaquim Pimentel e música de André Vilar, um fado cantado por dezenas de ilustres intérpretes da nossa canção. Outro dos temas mais conhecidos da música popular portuguesa, é a canção do folclore açoriano “Olhos Negros”, também ela gravada de forma recorrente pelos mais diversos artistas, sendo actualmente conhecida a versão de Teresa Salgueiro.
Os intérpretes desses conhecidos temas, cujo nome apresentamos hoje, são também eles cantores radicados nos Estados Unidos, provenientes dos Açores, cujo nome em Portugal é totalmente desconhecido da quase totalidade dos portugueses. Falamos de dois irmãos : Henrique Cordeiro e de Ariovalda Maria, aqui acompanhados pelo “famoso” Conjunto Ibérico (conforme descrição da capa – uma vez que na contracapa a informação é inexistente), num E.P. gravado pela etiqueta Vance Records.

Sobre esse duo pouco conhecemos, para além do facto de serem ambos cantores açorianos com raízes discográficas que já remontam, pelo menos, ao ano de 1955, quando os dois pertenciam ao grupo Artistas Unidos. Henrique Cordeiro tem diversos registos musicais gravados, quase todos editados nos Estados Unidos, o mesmo sucedendo com Ariovalda Maria. Relativamente ao disco que apresentamos hoje aos nossos ouvintes, segundo informações de um dos membros da formação da altura do denominado Conjunto Ibérico, o mesmo foi gravado em princípios de 1968, numa única sessão de gravação, num dia em que chovia torrencialmente (facto que acrescenta a titulo de curiosidade). Já nessa altura o Conjunto Ibérico sofrera alterações na sua formação, sendo que dois dos seus membros originais se tinham afastado e formado um outro conjunto. Desta forma, conforme nos esclarece, João Cardadeiro, os membros que participaram na gravação deste disco foram: Belmiro Silva, saxofone e director do conjunto, João Cardadeirona guitarra electrica, Francisco Rosa na viola-baixo e Manuel Ildeberto "Burt" Gonçalves na bateria.
Os dois músicos que se ausentaram do grupo antes da gravação deste E.P. foram foram Aniceto Batista (entretanto falecido) e José Elmiro Nunes, agora radicado em Lisboa, tendo este último originalmente acompanhando Carlos do Carmo, sendo ainda hoje em dia acompanhante de muitos outros fadistas da nova vaga, entre os quais Ana Moura.
Para além da falta de informação constante no disco, que nos encarregámos de desvendar, há ainda que registar como ponto de interesse, o recurso a um saxofone neste tipo de formação musical como instrumento solista no tema Júlia Florista, com naturais influências americanas. Do mesmo, tal como também no tema Olhos Negros, há ainda o recurso a uma guitarra eléctrica, que se destaca, mais uma vez em completo arrepio com a instrumentalização base dos conjuntos típicos portugueses.

* A quem agradecemos, não só a oferta do disco, como também todas informações relativas à gravação destes temas.

Clique no Play para ouvir um excerto do disco

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