domingo, 27 de novembro de 2022

Bonobo – Fragments (2022)


Fragments apresenta-se como mais uma aposta segura de Bonobo. Realmente, o reportório musical do artista britânico é formado por projetos «seguros», com margens de risco reduzidas, no entanto, essa não é uma estratégia condenável porque, mesmo que cada álbum de Bonobo seja parecido ao anterior, todos formam momentos auditivos refrescantes, constituindo LP’s que merecem ser escutados de uma ponta à outra.

A Natureza surge sempre representada no trabalho de Bonobo. Numa carreira que conta com sete álbuns de originais, é notória a importância que o músico inglês concede a planos naturais e a fenómenos físicos – o  produtor inspira-se a partir dessas realidades. Talvez seja por isso que os diferentes e sucessivos trabalhos do músico inglês assumam, não raramente, resultados semelhantes, isto é, experiências auditivas de difícil distinção.

É justo afirmar que Fragments, o mais recente álbum de Bonobo, lançado no ainda fresco dia 14 de janeiro, é pouco diferente do LP antecessor, Migration, de 2017, mas a verdade é que todas as criações de Simon Green partilham traços comuns, muitas vezes indistinguíveis (The North Borders, de 2013, também não se afastou muito de Black Sands, produzido três anos antes). 

Esta situação não é exclusiva a Bonobo, mas a todos os artistas que se aventuram por caminhos eletrónicos e escolhem percorrer trilhos downtempo. O destino musical destes agentes é quase sempre o mesmo e o ouvinte sabe, à partida, com o que poderá contar de cada vez que um novo LP é anunciado. Desta forma, a musicalidade de Fragments não surpreende ninguém, porque é mais do mesmo – hey … Já ouvi isto antes! –, no entanto, a verdade é que Bonobo conseguiu, mais uma vez, construir um álbum estável, rico em pormenores orgânicos que unem instrumentos tradicionais a truques eletrónicos modernos.

Fragments apresenta-se como mais uma aposta segura de Bonobo.

Fragments é uma experiência auditiva verdadeiramente agradável – e por isso é um sucesso. Ainda que não seja um projeto propriamente original, é um álbum que devemos respeitar, pois foi trabalhado por um daqueles músicos que, goste-se ou não se goste, não erra. No entanto, mostra-se legítimo aguardar ansiosamente pelo dia em que Bonobo partilhe um LP com traços próprios e assumidamente disruptor.  

O espírito de Simon Green foi outro dos lesados da pandemia. No dia em que lançou Fragments, Bonobo admitiu, através de uma publicação no Instagram, que sentiu uma enorme pressão em finalizar o novo projeto, depois de um interregno criativo de cinco anos e das pressões causadas pela crise que tocou a todos. De acordo com Simon, Fragments é um álbum que, representando alegria e força, emana otimismo. É complicado recusar esta ideia, porque, à boa maneira bonobonianaFragments assume o controle dos nossos pés e domina os nossos sentidos: faz-nos dançar e, pelo meio, pensar. 

No mais recente álbum de Bonobo, há espaço para sentimentos de todos os tipos. Cada faixa explora um estado de alma, de certo modo. Se “Polyghost” e “Elysian” são temas líquidos e calmos, e “Otomo” e “Sapien” são duas bombas atómicas eletrónicas cujas progressões aceleram o batimento cardíaco, então “Shadows” e “Rosewood” são hinos de dança.

Mais uma vez, Simon volta a apostar em colaborações externas. Ao longo das doze canções que edificam Fragments, contamos com a participação de Miguel Atwood-FergusonJordan RakeiJamila WoodsJoji Khadja Bonet – todos os features são bem sucedidos, nomeadamente os que juntaram Bonobo a Jamila Woods (“Tides”) e a Joji (“From You”).

Fragments apresenta-se como mais uma aposta segura de Bonobo. Realmente, o reportório musical do artista britânico é formado por projetos «seguros», com margens de risco reduzidas, no entanto, essa não é uma estratégia condenável porque, mesmo que cada novo álbum de Bonobo seja parecido ao anterior, todos formam momentos auditivos refrescantes, constituindo LP’s que merecem ser escutados de uma ponta à outra. 

Bonobo prova, mais uma vez, que é possível ser-se original e bota de elástico ao mesmo tempo. Em música que ganha não se mexe!



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