quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Peter Baumann – Trans Harmonic Nights (1979)


 

Peter Baumann é um ilustre conhecido dos amantes da eletrónica. Um dos gomos dos míticos Tangerine Dream, do tempo em que as tangerinas davam bom e sumarento prazer. Trans Harmonic Nights não é um clássico absoluto, mas merece a pena ser ouvido e recordado.

Há uma certa nostalgia latente quando a agulha desce e assenta nos sulcos da rodela negra de Trans Harmonic Nights, oferecendo-nos os primeiros sons de “This Day”, sobretudo para aqueles que testemunharam o momento, já quase no patamar de entrada da década de 80. O álbum, posto à venda ainda em 1979, não recolheu críticas olímpicas, mas não fez, mesmo assim, má figura. Talvez tenha sido o peso da sua discografia anterior com os Tangerine Dream o responsável pelas cautelas escritas nos jornais e revistas especializadas, aquando da saída do disco. É que Peter Baumann, convém lembrar, esteve presente como membro da banda alemã desde Zeit (1972) até Encore (1977), passeando as suas teclas pelos intemporais Atem (1973), Phaedra (1974) ou Rubycon (1975), por exemplo. É, de facto, um histórico de pesada responsabilidade. Para mais, depois de um primeiro momento a solo (Romance ’76), Peter Baumann terá tido vontade de dar um passo à frente, aproximando-se, em certa medida, do que acabou por ser reconhecido como o movimento neo-romântico electrónico, embora sempre distante de uns Ultavox ou de uns The Human League, apenas para referir duas instituições do género. E agora, que a agulha voltou a fazer o trajeto mencionado no início deste parágrafo, é bom reter algumas ideias e anotar algumas impressões.

O que fica, sobretudo, é uma vontade forte em criar melodias, linhas de sons bonitos, cenários orelhudos e fáceis de, com eles, haver festa garantida na cabeça e no corpo, embora sem grandes fogos de artifício, entenda-se. A música deixava de ser em Peter Baumann, em certos momentos e em retrospetiva, o quarto escuro de “Fauni-Gena” ou de “Circulation of Events” (faixas do já mencionado Atem), abrindo-se a propostas diferentes, mais abertas e luminosas, embora por vezes de gosto um pouco exagerado e duvidoso. Diríamos, nos tempos que correm, um maneirismo algo datado. Mas o que é, na verdade, a nostalgia que não um pendor saudoso e melancólico sobre um tempo que não volta nem se repete, fechado e parado num qualquer instante datado da vida? Não há que levar a mal, portanto. Faixas como “This Day” e “White Bench and Black Beach” vão um pouco nesse caminho, até à curva de “Chasing the Dream”, imersa num espírito algo celta, embora não de forma a tornar-se deprimente. “Biking Up The Strand” parece feita para salões de valsa de um qualquer século, ao mesmo tempo passado e futurista. “Phaseday” e “Meridian Moorland” talvez correspondam aos momentos mais densos do disco, mais virados para dentro, mais românticos, se assim os quisermos entender. Com “The Third Site” volta algum espalhafato, e por isso é a faixa mais fraca de todo o álbum. Poderia ter ficado de fora, e calculamos que ninguém se importaria. Para fechar, a derradeira faixa de Trans Harmonic Nights é “Dance at Dawn”, que poderia muito bem ser o tema final de um western italo-germano-americano com os seus tambores e trompas.

Peter Baumann ainda hoje está vivo e ativo no mundo da música. Continua a fazer o seu caminho de forma assinalável, com os altos e baixos próprios da criação artística. Trans Harmonic Nights é um momento interessante, musicalmente falando. Não se regressa a ele como se regressa a um dos discos das nossas vidas, mas há nesse objeto sonoro alguma coisa que pode saber bem, quando o revisitamos. Talvez seja apenas uma duradoura inquietação, um desassossego profundo que teima em não passar. E, não passando, permanece, sem se saber bem como ou por quê.


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