O Homem dos Sete Instrumentos
Sérgio Godinho
Chegou o homem dos 7 instrumentos
sua cantiga aos 4 ventos repartiu
às duas por três chegou
e às duas por três partiu
segue para a rosa-dos-ventos
segue para a rosa-dos-ventos
chegou o homem dos 7 instrumentos
Sua cantiga não foi feita de encomenda
não é carne nem é peixe
não compra nem está à venda
não se esquece de quem trata
gente como um cão vadio
fala de gente a lutar
luta de fio a pavio
p´ra poder recuperar
o direito de a respirar
o direito de a respirar
o direito de a respirar
Chegou o homem dos 7 instrumentos
sua cantiga aos 4 ventos repartiu
às duas por três chegou
e às duas por três partiu
segue para a rosa-dos-ventos
segue para a rosa-dos-ventos
chegou o homem dos 7 instrumentos
Ó, Eh! Zés Pereira
Com os tambores a rebentar
andais perdidos nas feiras
nem sabeis p´ra quem tocar
toca tu que tão bem boles
nesse tambor bem martelado
toca toca toca toca
toca toca a reunir
toca toca a reunir
toca toca a reunir
Chegou o homem dos 7 instrumentos
sua cantiga aos 4 ventos repartiu
às duas por três chegou
e às duas por três partiu
segue para a rosa-dos-ventos
segue para a rosa-dos-ventos
chegou o homem dos 7 instrumentos
E se algum dia toda a música acabar
se se acabar de partir
o espelho que faz cantar
preparai-vos meus amigos
que será dia de escuro
de temporais desabridos
dum Inverno bem mais duro
do que este que está a passar
se a música se acabar
se a música se acabar
se a música se acabar
Chegou o homem dos 7 instrumentos
sua cantiga aos 4 ventos repartiu
às duas por três chegou
e às duas por três partiu
segue para a rosa-dos-ventos
segue para a rosa-dos-ventos
chegou o homem dos 7 instrumentos
O Homem-Fantasma
Sérgio Godinho
Eu sou o homem-fantasma
vejo tudo sem ser visto
eu sou um justiceiro
com um disfarce sinistro
eu meto medo aos que nos vêm
com falinhas falsas
e treme-lhes a dentadura
cai-lhes as calças
Eu sou o homem fantasma
e estou em toda a parte
voar para alguns é profissão
para mim é uma arte
mas para ver o meu bairro
eu não preciso de asas
muito prédio a crescer
e muita gente sem casas
Nunca descansa, o homem-fantasma
e a gente espanta-se e a gente pasma
quando respira fundo, o homem fantasma
nunca é de alívio
quando muito será de asma.
Eu sou o homem-fantasma
vejo tudo sem ser visto
e já espreitei para dentro
da carteira de um ministro
e vi fotografias
de um passado duvidoso
e outras mais recentes
dele todo vaidoso
Eu sou o homem-fantasma
justiceiro imortal
eu vou de norte a sul
da montanha ao litoral
e enquanto a luz e a água
vão para a vila e para a cidade
para aldeia vão jornais da tarde
e boa vontade
Nunca descansa, o homem-fantasma
e a gente espanta-se, e a gente pasma
quando respira fundo, o homem-fantasma
nunca é de alívio
quando muito será de asma
Eu sou o homem-fantasma
e estive num hospital
há lá quem morra
tanto da cura como do mal
e os donos da medicina
gritaram: Aí, o homem-fantasma!
Depressa, uma seringa,
um bisturi, um cataplasma!
Eu sou o homem-fantasma
e como vidro transparente
eu sento-me aos jantares
e ninguém me pressente
e dizem: tal e coisa
e coisa e tal e vice e versa
e o que lá fora era discurso
cá dentro é conversa
Nunca descansa, o homem-fantasma
e a gente espanta-se, e a gente pasma
quando respira fundo, o homem-fantasma
nunca é de alívio
quando muito será de asma
Eu sou o homem-fantasma
combatente infatigável
mas atenção que até eu
posso ser creticável
se depois do que eu digo
e denuncio e reclamo
eu voltar para casa
e em casa eu for um tirano
Nunca descansa, o homem-fantasma
e a gente espanta-se, e a gente pasma
quando respira fundo, o homem-fantasma
nunca é de alívio
quando muito será de asma
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