segunda-feira, 21 de novembro de 2022

POEMAS CANTADOS DE SÉRGIO GODINHO

O Homem dos Sete Instrumentos

Sérgio Godinho

 

Chegou o homem dos 7 instrumentos

sua cantiga aos 4 ventos repartiu

às duas por três chegou

e às duas por três partiu

segue para a rosa-dos-ventos

segue para a rosa-dos-ventos

chegou o homem dos 7 instrumentos


Sua cantiga não foi feita de encomenda

não é carne nem é peixe

não compra nem está à venda

não se esquece de quem trata

gente como um cão vadio

fala de gente a lutar

luta de fio a pavio

p´ra poder recuperar

o direito de a respirar

o direito de a respirar

o direito de a respirar


Chegou o homem dos 7 instrumentos

sua cantiga aos 4 ventos repartiu

às duas por três chegou

e às duas por três partiu

segue para a rosa-dos-ventos

segue para a rosa-dos-ventos

chegou o homem dos 7 instrumentos


Ó, Eh! Zés Pereira

Com os tambores a rebentar

andais perdidos nas feiras

nem sabeis p´ra quem tocar

toca tu que tão bem boles

nesse tambor bem martelado

toca toca toca toca

toca toca a reunir

toca toca a reunir

toca toca a reunir


Chegou o homem dos 7 instrumentos

sua cantiga aos 4 ventos repartiu

às duas por três chegou

e às duas por três partiu

segue para a rosa-dos-ventos

segue para a rosa-dos-ventos

chegou o homem dos 7 instrumentos


E se algum dia toda a música acabar

se se acabar de partir

o espelho que faz cantar

preparai-vos meus amigos

que será dia de escuro

de temporais desabridos

dum Inverno bem mais duro

do que este que está a passar

se a música se acabar

se a música se acabar

se a música se acabar


Chegou o homem dos 7 instrumentos

sua cantiga aos 4 ventos repartiu

às duas por três chegou

e às duas por três partiu

segue para a rosa-dos-ventos

segue para a rosa-dos-ventos

chegou o homem dos 7 instrumentos


O Homem-Fantasma

Sérgio Godinho

 

Eu sou o homem-fantasma

vejo tudo sem ser visto

eu sou um justiceiro

com um disfarce sinistro

eu meto medo aos que nos vêm

com falinhas falsas

e treme-lhes a dentadura

cai-lhes as calças


Eu sou o homem fantasma

e estou em toda a parte

voar para alguns é profissão

para mim é uma arte

mas para ver o meu bairro

eu não preciso de asas

muito prédio a crescer

e muita gente sem casas


Nunca descansa, o homem-fantasma

e a gente espanta-se e a gente pasma

quando respira fundo, o homem fantasma

nunca é de alívio

quando muito será de asma.


Eu sou o homem-fantasma

vejo tudo sem ser visto

e já espreitei para dentro

da carteira de um ministro

e vi fotografias

de um passado duvidoso

e outras mais recentes

dele todo vaidoso


Eu sou o homem-fantasma

justiceiro imortal

eu vou de norte a sul

da montanha ao litoral

e enquanto a luz e a água

vão para a vila e para a cidade

para aldeia vão jornais da tarde

e boa vontade


Nunca descansa, o homem-fantasma

e a gente espanta-se, e a gente pasma

quando respira fundo, o homem-fantasma

nunca é de alívio

quando muito será de asma


Eu sou o homem-fantasma

e estive num hospital

há lá quem morra

tanto da cura como do mal

e os donos da medicina

gritaram: Aí, o homem-fantasma!

Depressa, uma seringa,

um bisturi, um cataplasma!


Eu sou o homem-fantasma

e como vidro transparente

eu sento-me aos jantares

e ninguém me pressente

e dizem: tal e coisa

e coisa e tal e vice e versa

e o que lá fora era discurso

cá dentro é conversa


Nunca descansa, o homem-fantasma

e a gente espanta-se, e a gente pasma

quando respira fundo, o homem-fantasma

nunca é de alívio

quando muito será de asma


Eu sou o homem-fantasma

combatente infatigável

mas atenção que até eu

posso ser creticável

se depois do que eu digo

e denuncio e reclamo

eu voltar para casa

e em casa eu for um tirano


Nunca descansa, o homem-fantasma

e a gente espanta-se, e a gente pasma

quando respira fundo, o homem-fantasma

nunca é de alívio

quando muito será de asma

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