sábado, 24 de dezembro de 2022

20 melhores álbuns lançados no ano de 2022

 


20 melhores álbuns lançados no ano de 2022

Final de ano chegando, é época de analisar os melhores lançamentos dos últimos 12 meses. Em 2022, ao invés de dez, escolhi os vinte melhores álbuns lançados, uma vez que o mercado musical foi intenso. 

Como sempre digo, a lista é exclusivamente pessoal, e obviamente eu não ouvi ou tive acesso a todos os lançamentos. Claro que muita coisa boa ficou de fora, mas acredito que os álbuns abaixo representem o que há de melhor na musica mundial.

Avishai Cohen Trio - Shifting Sands. Desde que alcançou a notoriedade integrando a banda do pianista Chick Corea, o baixista israelense Avishai Cohen vem mantendo um alto padrão de qualidade em sua carreira solo. Neste novo álbum, o músico conta com o pianista Elchin Schirinov, natural do Azerbajão e da baterista prodígio Roni kaspi. Este é um dos trabalhos mais percussivos e intensos do baixista, que faz uma ponte entre seus outros dois colegas de trio. Também pode ser considerado um dos mais rebuscados trabalhos de Cohen em termos de composição. Uma aula de jazz contemporâneo!
Buddy Guy - The Blues Don’t Lie. Aos 86 anos, o mestre do blues Buddy Guy continua em plena atividade, cantando e tocando como nunca. O músico lançou em setembro ultimo, seu 34º disco, que conta com participações importantes como Elvis Costello, James Taylor, Jason Isbell e Mavis Staples. A produção ficou a cargo de Tom Hambridge, seu baterista de longa data, além de parceiro e prolífico compositor. Completam a banda Tom Hambridge e Michael Rhodes no baixo, e Reese Wynans no piano, teclados e órgão hammond. O disco possui 14 faixas, onde o guitarrista passeia pelas mais diversas vertentes do blues se saindo bem em todas elas. O músico se sente em casa ao propagar o estilo que o consagrou e a participação de vários convidados trouxe frescor a música do velho Guy. “The Blues Don't Lie” pode ser considerado um dos trabalhos mais completos de Buddy Guy, que do alto de seus 86 anos não aparenta o menor sinal de cansaço. Um disco que já nasceu clássico!
Cássia Eller e Victor Biglione – In Blues. Projeto do guitarrista Victor Biglione em parceria com Cássia Eller, este disco ficou arquivado por anos até ser lançado em dezembro de 2022. Musicalmente o álbum apresenta releituras vigorosas de clássicos do blues ao lado de uma banda competente que inclui um eficiente naipe de metais. Ao todo, foram selecionados 10 canções, oito para serem revisitadas e dois temas instrumentais que ressaltam a versatilidade da guitarra de Victor, que chegou a contribuir com trechos autorais. O álbum soa ao mesmo tempo elegante e visceral, trazendo frescor a grandes clássicos.
Collage – Over and Out. Após 27 anos sem lançar nenhum material inédito, os poloneses do Collage, uma das maiores bandas de neo progressivo dos anos 90, retorna com um álbum de canções inéditas. Da formação clássica, estão o baterista, letrista e líder Wojtek Szadkowski, o baixista Piotr Mintay Witkowski e o tecladista Krzysztof Palczewski. A ausência do vocalista Robert Amirian e Mirek Gil me deixaram preocupado, afinal, ambos foram essenciais para a consolidação do estilo criado pelo grupo. Mas para seus lugares vieram respectivamente Bartosz Kossowicz e Michał Kirmuć, músicos experientes do cenário musical polonês, que tiveram a dura missão de substituir a dupla dissidente e cumpriram seu papel com louvor. O novo álbum possui cinco canções todas com o rock progressivo característico da banda, que ao que parece, trabalhou duro para manter sua clássica sonoridade intacta, sem grandes surpresas. Está tudo ali: A bateria técnica e rebuscada, o baixo preciso e camadas de teclados dividindo a base com a guitarra sinfônica e oportuna. Sem decepcionar, o Collage lança mais um grande clássico do neo-prog.
Jethro Tull – The Zealot Gene. Em seu novo álbum após mais de 18 anos, o Jethro Tull apresenta a bíblia como conexão entre as canções, e é utilizada muitas vezes como referência para tratar de vários aspectos da natureza humana. Anderson continua sendo um letrista prolífico e refinado, o que faz com que tais alusões passem longe do óbvio nos doze temas apresentados. Na parte musical, o álbum tenta resgatar a musicalidade antiga e trovadora da banda, sem, no entanto, deixar de adicionar alguns elementos atuais em meio sua sonoridade. “Mr. Tibbets” abre o álbum com a flauta do líder, deixando evidente a sonoridade a ser seguida. A letra menciona o 11 de setembro de forma eloquente; A curta “Jacob's Tales” traz Ian empunhando sua gaita em uma folk que deixaria Neil Young orgulhoso. “The Zealot Gene” entrega a música acústica, progressiva e sinfônica do Jethro Tull em todos os seus temas.
Joshua Redman, Brad Mehldau, Christian McBride, Brian Blade – LongGone. Os quatro músicos começaram sua carreira no inicio dos anos 90, sendo denominado pela crítica como os Young Lyons ou novos expoentes do jazz. Estrearam juntos em Moodswing, disco solo de Redman naquele mesmo ano. Após seguirem cada um com seu próprio grupo, sedimentando seu nome no meio jazzístico mundial o quarteto voltou a se reunir em 2020 para a gravação de “Round Again”. Este disco pode ser considerado uma continuação do trabalho anterior, onde quatro amigos e músicos excepcionais se reúnem para gravar e improvisar sobre temas pré concebidos. Fugindo do óbvio e se reinventando, o quarteto mostra que tem fôlego para muitos novos trabalhos.
Julia Hülsmann Quartet – The Next Door. Pianista de origem alemã, Julia Hülsmann vem se destacando no cenário jazzístico atual. A musicista se encontrou ao gravar pela prestigiosa gravadora ECM e lança este seu segundo álbum a frente de seu quarteto. A sofisticação das composições apresentadas tem como destaque o sax melódico de Uli Kempendorff, que faz intervenções oportunas e bem colocadas, usando seu instrumento como uma ponte entre o piano da líder e a cozinha excepcional formada por Marc Muellbauer e Heinrich Köbberling.
Kirk Hammet – Portals. Fã incondicional de filmes de suspense e terror, Kirk Hammet revelou que se inspirou nas películas para compor temas que seriam como "trilhas sonoras para os filmes em sua mente". Kirk assumiu a produção do álbum e se aliou ao maestro Edwin Outwater, que trabalhou com o Metallica no "S&M 2" de 2020, para criar partes orquestradas e ambiências fazendo um contraponto com sua guitarra pesada. O Músico soube balancear influências tão discrepantes e variadas, criando uma atmosfera exótica, sem ser cansativa ou cair no lugar comum de discos solo de guitarristas. Confesso que fiquei surpreso com tamanha desenvoltura e acredito que o Kirk deveria ter se lançando em carreira solo há muito mais tempo. Perto dos sessenta anos, Kirk Hammett ainda tem muito a oferecer em termos de música e guitarra. Excelente estreia!
Lô Borges - Chama Viva. Com setenta anos recém-completados, Lô Borges continua se mostrando um compositor prolífico, lançando seu quarto disco de inéditas em apenas quatro anos. Composto em apenas uma semana, o disco conta com participações dos amigos de clube da esquina Milton Nascimento e Beto Guedes, além de Patrícia Maês e Paulinho Moska. O álbum traz dez novas canções e é uma continuidade de sua sonoridade sedimentada: Altas doses de MPB, influenciada por rock (especialmente Beatles), pop e música mineira.
Marillion – An Hour Before It´s Dark. Após seis anos de seu ultimo álbum, os ingleses do Marillion lançaram seu novo disco nas plataformas digitais. Percebe-se que o álbum tem um clima melancólico de despedida, que se reflete nas letras e canções. Hogarth continua um letrista hábil e neste álbum trouxe a tona seu lado mais ácido e depressivo, sem, no entanto se tornar óbvio. Na questão musical, o quinteto investiu em canções mais longas e rebuscadas, como acontece em “Be Hard on Yourself”, que abre o disco com seus mais de nove minutos. Os teclados mais expansivos de Mark Kelly comandam o tema com uma guitarra discreta, porem eficiente de Steve Rothery. Mas o destaque são os vocais urgentes de Hogarth dando ênfase a letra. “An Hour Before It’s Dark” não é um álbum fácil, principalmente pelo lado melancólico dos temas abordados. Porém, musicalmente acredito ser um dos discos mais fortes e líricos desde o lançamento de “Marbles” em 2004.
Megadeth – The Sick, The Dying ... and The Dead!. Um dos maiores expoentes do thrash metal, o Megadeth vem chegando com tudo em seu novo álbum. É notório que a entrada de Kiko Loureiro trouxe frescor e vitalidade, não só a sonoridade em si, mas como também nas composições. O baterista Dirk Verbeuren, fã declarado do grupo, conseguiu trazer à tona aquela sonoridade pesada característica dos álbuns clássicos. Dave Mustaine continua sendo um riffmaker nato, e embora sua voz apresente sinais de desgaste pela idade e problemas de saúde, o resultado final é um álbum explosivo, pesado, cheio de riffs e com excelentes canções. Ou seja, tudo que se espera do Megadeth.
My Sleeping Karma – Atma. O grupo natural da Alemanha vem se firmando como um dos maiores expoentes do rock progressivo e psicodélico. Atma, sexto álbum da banda, soa denso, arrastado, com teclados etéreos dividindo atenção com guitarras pesadas e soturnas a lá Black Sabbath. O disco apresenta seis temas instrumentais carregados de melancolia e com uma narrativa implícita, uma vez que a banda utiliza uma história em quadrinhos que vem junto com o disco. O grupo consegue soar sensorial e etéreo sem abrir mão do peso, criando canções que transportam o ouvinte para outra dimensão. Sensacional!
Ozzy Osbourne – Patient Number 9. Do alto de seus 73 loucos anos, Ozzy continua lançando grandes trabalhos dentro do heavy metal. E ao contrario do que muitos alegam, o madman não tem medo de se reinventar. Ao contrário do álbum anterior que contava com uma banda fixa, "Patient Number 9" conta com uma infinidade de participações, principalmente de guitarristas. Músicos tão dispares como Zakk Wylde e Eric Clapton, Tony Iommy e Jeff Beck ou ainda Mike McCready e Josh Homme. Assim como aconteceu no álbum anterior, é notório que o produtor Andrew Wyatt e os convidados tiveram a maioria das ideias e foram responsáveis pela concepção do álbum como um todo. Entretanto, tal fato não tira o mérito de Ozzy, que entrega uma de suas melhores e mais enérgicas performances. Sua voz dá certa unicidade ao álbum, não deixando de descaracteriza-lo pelo enorme numero de convidados. Ozzy mostra como fazer um disco clássico mais uma vez.
Porcupine Tree – Closure Continuation. Depois de anos dedicando a sua carreira solo, Steve Wilson retoma a parceria com Richard Barbieri e Gavin Harrison para a retomada do Porcupine Tree. A ausência do baixista Colin Edwin é sentida, uma vez que as linhas de baixo ficaram a cargo do líder. Apesar disso, o grupo entrega um ótimo disco. Parece que a banda optou por condensar todas as sonoridades utilizadas anteriormente neste único petardo. O lado positivo é que o disco vai agradar todos os fãs do grupo. Não espera nada de novo ou inovador, temos aqui o Porcupine Tree em sua maior essência. E talvez por este motivo tenha ficado tão bom.
Robben Ford – Pure. Aos 70 anos Robben Ford é um dos decanos do blues. Mas sua habilidade vai além do estilo, com um vocabulário que abrange ainda jazz, rock e soul music. Para o novo disco, Robben se juntou com seu produtor e engenheiro de som Casey Wasner para juntos criarem a base dos temas que seriam utilizados na gravação. Só posteriormente foram incluídos baixo, bateria, teclados e ocasionalmente sopros, deixando o trabalho de criação completamente diferente de tudo que havia feito até então. Ford optou por trabalhar com vários músicos diferentes na cozinha do álbum, alternando entre três baixistas e quatro bateristas diferentes, mantendo apenas seu velho amigo Russel Ferrante nos teclados. “Pure” apresenta todas as facetas do guitarrista que consegue soar coeso e robusto em meio a todas as influências expostas na música. Um dos grandes lançamentos de 2022.
Sass Jordan – Bitches Blues. A cantora canadense Sass Jordan começou sua carreira no final dos anos 80 e sempre teve seu nome ligado ao rock básico. Em 2020 lançou seu primeiro álbum de blues e o que parece se apaixonou pelo estilo criado no delta do Mississipi. O disco alterna faixas autorais com covers pouco óbvios, como a faixa de abertura, “Still Alive and Well” do subestimado Rick Derringer. Sass possui uma voz forte, vibrante e se encaixa perfeitamente em um estilo tão melódico e passional. Parece que temos mais uma nova diva do blues.
Tears For Fears – The Tipping Point. Um dos maiores expoentes do pop rock oitentista, o Tears for Fears retorna com álbum de inéditas após quase 20 anos. Roland Orzabal e Curt Smith se reuniram para criar as canções em dupla, sem nenhuma ajuda externa como faziam nos bons tempos. O resultado é um disco fantástico, com canções melódicas, bem estruturadas, trazendo influência da fase clássica da banda, mas sem se prender a ela. A dupla soube trazer novas influências sem comprometer sua sonoridade habitual e apresentam um disco impecável do inicio ao fim.
Taj Mahal & Ry Cooder – Get on Board. O músico e bluseiro Taj Mahal se juntou com o amigo, guitarrista e compositor de trilhas Ry Cooder para gravar um álbum em parceria e celebrar uma amizade que dura mais de 50 anos. A dupla resolveu homenagear outras duas lendas do estilo, Sonny Terry e Brownie McGhee, interpretando grandes clássicos de maneira despojada e se divertindo, como dois amigos fazem quando se reencontram. Apesar da informalidade do encontro, a qualidade dos arranjos é excepcional, merecendo destaque para o baterista e baixista Joachim Cooder, filho de Ry e único musico a acompanhar a dupla. Após mais de 60 anos sem gravar juntos, Taj e Ry se mostram em plena forma a apresentam um disco impecável do inicio ao fim.
Terri Lyne Carrington, Kris Davis, Linda Oh, Nicholas Payton e Matthew Stevens – New Standards Vol. 1. A baterista Terry Lyne Carrington começou sua carreira no inicio dos anos 80, trabalhou com grandes nomes do jazz e seguiu liderando seu próprio grupo. Neste álbum a baterista tem ao seu lado o pianista Kris Davis, a baixista Linda May Han Oh, o trompetista Nicholas Payton e o guitarrista Matthew Stevens, e alguns convidados especiais. Além da qualidade das canções, não há espaço para firulas ou experimentalismos. Carrington entrega um jazz de alto nível, técnico, empolgante com espaço para todos os músicos se sobressaírem sem autoindulgência. Um clássico.
ZZ Top – Raw. Na estrada há mais de 50 anos, o ZZ Top é uma dos mais emblemáticos Power trios de todos os tempos. Este disco foi gravado ao vivo no Gruene Hall, uma das casas mais icônicas e tradicionais do Texas, sua terra natal. Entretanto o grupo optou por não abrir ao público, ou seja, era apenas Billy, Dusty e Frank no palco em estado bruto. O grupo repassa seus maiores sucessos em um clima de Jam session, com uma sonoridade básica e visceral, fazendo jus ao titulo do disco. Além de excelente trabalho, Raw é uma justa homenagem a Dusty Hill, o baixista do grupo que faleceu aos 72 anos, em julho de 2021.

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