sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

5 discos para conhecer Ronnie James Dio nos anos 1990 e 2000


 Saiba por onde começar a ouvir as comparativamente pouco celebradas duas últimas décadas de atividades do vocalista

Ronnie James Dio era quase uma unanimidade entre o público headbanger. Nascido Ronald James Padavona em 10 de julho de 1942, o deus metálico das cordas vocais foi integrante ou membro fundador de importantíssimos grupos na história do rock, como ElfRainbowBlack SabbathDio e Heaven & Hell – somados, os álbuns nos quais cantou beiram 50 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Também recebe o crédito pela popularização dos “chifrinhos”, gesto de mão que define o metal. Morreu em 16 de maio de 2010, vítima de câncer.

Embora extensa, a discografia de Ronnie James Dio tem álbuns-chave, e um 5 Discos Para Conhecer que abrangesse toda a sua carreira inevitavelmente traria “Rising” (Rainbow, 1976), “Heaven and Hell” (Black Sabbath, 1980) e “Holy Diver” (Dio, 1983). A fim de evitar isso, a presente lista se concentra nas duas últimas décadas de atividades do vocalista, na qual entregou trabalhos menos festejados e que venderam relativamente pouco, mas que são dotados de inúmeros predicados e merecem ser ouvidos com o volume alto.

Black Sabbath – “Dehumanizer” (1992)

Trinta anos após o lançamento de “Dehumanizer”, sabe-se que o disco que marcou a volta de Ronnie James Dio e do baterista Vinny Appice ao Black Sabbath foi fruto de um estratagema que visava à recolocação da banda nas paradas por meio de um argumento de venda inteiramente saudosista.

A partir da segunda metade da década de 1980, os números tanto do Dio quanto do Sabbath vinham caindo vertiginosamente e, como reflexo disso, ambos os grupos passaram a se apresentar em locais menores para públicos modestos. Ninguém estava satisfeito, e todos os envolvidos viram na reunião do line-up responsável por “Mob Rules” (1981) a tábua de salvação.


Musicalmente, “Dehumanizer” promove uma volta ao som original do Sabbath, parcialmente esquecido entre “Seventh Star” (1986) e “Tyr” (1990). Em termos de letras, Ronnie substitui aquelas sobre dragões e arco-íris por outras baseadas em fatos, como o lado ruim do advento tecnológico (“Computer God”) e a hipocrisia dos televangelistas até hoje tão populares, inclusive no Brasil (“TV Crimes”).

Embora tenha chegado a posições mais altas nos rankings, a grana que entrou não foi o suficiente para manter Ronnie e Vinny a bordo, e o telefone do solícito vocalista Tony Martin logo tocaria novamente.

Dio – “Strange Highways” (1993)

Tido como o disco mais pesado e sombrio da carreira de Ronnie James Dio, “Strange Highways” começou a ser elaborado logo após o fim da turnê de “Dehumanizer” e o segundo rompimento com o Black Sabbath. Ao lado de Ronnie e Vinny Appice, que também pulou fora, temos o recém-chegado Tracy G (ex-WWIII) na guitarra, Jeff Pilson, à época dando um tempo no Dokken, no baixo, e Scott Warren quebrando o galho com um teclado aqui, outro ali.

O toque sujo e grave de G no disco é o aspecto que mais divide opiniões. Para este autor, ele pode não ser um Vivian Campbell em elegância, mas compensa com harmônicos artificiais, alavancadas e outras peripécias nas seis cordas. A produção assinada pelo canadense Mike Fraser, que há mais de três décadas produz o AC/DC, é soberba.


Aparentemente Dio curtiu fazer raios-X do mundo real em “Dehumanizer” e seguiu pela mesma linha de escrita de letras neste aqui, priorizando histórias de carne e osso e, como o título (“caminhos tortuosos”, em tradução livre) bem sugere, explorando os recônditos da mente, inclusive da própria, como na autobiográfica “Jesus, Mary & the Holy Ghost”.

Outros temas abordados são a promiscuidade dos famosos (“Hollywood Black”), escravidão (“One Foot in the Grave”), abuso infantil e a exploração de crianças e adolescentes (“Give Her the Gun”) e a incapacidade de obter algo, não obstante o quanto se esforce (“Blood from a Stone”). Na reta final, Dio mira nos poderosos que “cometem o crime e, em seguida, escrevem a lei”. Poucas vezes o baixinho foi tão incisivo quanto em “Here’s to You”.

Dio – “Magica” (2000)

Quatro anos após o maior equívoco de sua carreira — a saber, o esquisitíssimo “Angry Machines”, do qual apenas a balada “This is Your Life” se salva —, Ronnie James Dio promoveu uma limpa em sua banda solo e fez as pazes com o mundo da fantasia, levando a inspiração de sempre muitos passos além ao elaborar o que se tornaria o primeiro e único disco conceitual de sua carreira.

“Magica” conta a história de Blessing, um submundo invadido por forças do mal. O destino do planeta está nas mãos de dois heróis, o mestre Eriel e seu aprendiz Challis, que devem recitar um feitiço do livro sagrado de Magica para derrotar o inimigo Shadowcast. Um detalhe curioso: todas as letras do álbum foram escritas do ponto de vista do vilão.


Ao lado de Ronnie na empreitada, alguns dos músicos que mais vezes colaboraram com ele: na guitarra, Craig Goldy, o mesmo de “Dream Evil” (1987) e que voltaria em “Master of the Moon” (2004); no baixo, Jimmy Bain, reeditando a parceria que teve início em “Rising”; na bateria, Simon Wright, que permaneceria até 2010, gravando ao todo quatro álbuns de estúdio e dois ao vivos.

Sabe-se que Ronnie tinha em mente duas sequências para o álbum, mas infelizmente faleceu antes de ter a chance de fazê-las.

Dio – “Holy Diver Live” (2006)

Sim, um álbum ao vivo. Entre os muitos a contarem com a voz de Ronnie James Dio, lançados por ele em vida ou de maneira póstuma, “Holy Diver Live” se destaca pelo repertório.

Como o próprio nome já entrega, o clássico “Holy Diver” é tocado na íntegra conforme a estética de guitarras afinadas tons abaixo adotada pelo Dio a partir de “Strange Highways”.


Completam o show performances arrasadoras de músicas do Rainbow (“Tarot Woman”, “Gates of Babylon”, “Man on the Silver Mountain” e “Long Live Rock ‘N’ Roll”), do Black Sabbath (“The Sign of the Southern Cross” e “Heaven and Hell”), além de uma dobradinha do gêmeo em espírito de “Holy Diver”, “The Last in Line” (1984): “One Night in the City” e “We Rock”.

A formação que acompanha Ronnie é composta por músicos rodados: Doug Aldrich (Whitesnake, The Dead Daisies, House of Lords etc) na guitarra, Rudy Sarzo (Quiet Riot, Ozzy Osbourne, Whitesnake, Blue Öyster Cult etc) no baixo e os já mencionados Simon Wright (AC/DC, Rhino Bucket, Operation: Mindcrime etc) na bateria e Scott Warren (Warrant, Keel, Berlin, Heaven & Hell etc) nos teclados.

Heaven & Hell – “The Devil You Know” (2009)

eunido para gravar as três faixas inéditas da coletânea “Black Sabbath: The Dio Years” (2007), Ronnie James Dio, Tony Iommi, Geezer Butler e Vinny Appice uniram forças mais uma vez, para registrar o que seria o último álbum de estúdio do vocalista.

Impedidos legalmente de usar o nome Black Sabbath, escolheram “Heaven & Hell”, título do clássico lançado em 1980, o primeiro da banda com Dio no vocal.


Como se soubesse que seria a sua saideira, Dio entrega em “The Devil You Know” algumas de suas melhores e mais inteligentes letras – a começar já na faixa de abertura, “Atom & Evil”, que correlaciona a história de Adão e Eva com o desenvolvimento da bomba atômica.

Já “Bible Black”, adequadamente escolhida como single, temos a história de um sujeito cuja obsessão pela Bíblia Satânica o leva a ser possuído pelo próprio diabo. Mais adiante, “Eating the Cannibals” lança a mão de uma metáfora grotesca para criticar a violência que toma conta do mundo nos dias de hoje.

Do ponto de vista musical, “The Devil You Know” é pesado e arrastado, como um gigante que caminha sobre terras ermas. É também longo em duração, o que pode ser um problema a depender do ouvinte. Mas verdade seja dita: a entrega dos envolvidos, sobretudo de Iommi e Butler, faz “13” (2013), o derradeiro disco do Sabbath com o vocalista Ozzy Osbourne, tremer

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