Holandeses e turcos vão do funk ao rock psicadélico, passando pelo disco, num álbum viciante e que nos faz mexer irresistivelmente
Os Altin Gün são uma bizarria retro mas que só podiam ser deste tempo. São de Amesterdão, fundados pelo holandês Jasper Verhulst, antigo baixista da banda de Jacco Gardner, e fazem rock psicadélico turco. Vieram a Portugal ao Jameson Urban Routes no “longínquo” ano de 2019. Bem-vindos ao maravilhoso mundo globalizado, mesmo em lockdown.
Verhlust apaixonou-se pela música turca dos anos 60 e 70 numa viagem à Turquia, da qual regressou com vários LP que lhe expandiram os horizontes. Chegado a casa, deu início ao projecto, que começou por ser uma simples banda de covers de clássicos e temas tradicionais turcos. Através de um anúncio de jornal recrutou dois músicos turcos (que asseguram as vozes e os sintetizadores), e os Altin Gün estavam prontos para curtir.
Aquilo que os torna especiais, inclusivamente para quem não percebe patavina do que está a ser cantado nas canções, é a mistura de influências que o veículo Altin Gün comprova ser, com tremenda eficácia.
Neste disco, já o terceiro depois de On (2018) e o bem-sucedido Gece (2019), nada muda verdadeiramente na fórmula: desbundas musicais de possibilidades aparentemente infinitas com base em temas tradicionais turcos. Quem já ouviu minimamente o fenómeno do rock psicadélico turco – chamado por vezes de anatolian rock – sabe bem do pegadiço e enérgico que ele pode ser. O que estes rapazes fazem, e novamente em Yol, é injectar esteróides no exercício, abrindo o caldeirão para colocar lá de tudo um pouco, em cima desse refogado: o rock, a folk, o psicadelismo, o disco, o funk e os ritmos orientais.
Em Yol, uma nave espacial que garante o escapismo cósmico, há de tudo um pouco, e o grande desafio é conseguir ficar quieto e sentadinho. Como a doçura da breve introdução com “Bahçada ye?il çinar”, o quase chillwave de “Ordunun Dereleri”, o funk irresistível de “Hey Nari”, a viciante pérola pop que é “Yüce Da? Ba??nda” ou o disco-sound de “Maçka Yollari”.
Face aos trabalhos anteriores, há talvez um maior predomínio da electrónica e dos sintetizadores, explorando pistas que não haviam sido tão aprofundadas.
Os Altin Gün assumem que não querem mudar o mundo e sim fazer música que aproxime as pessoas e as faça querer mexer e sentir-se bem. Missão cumprida, dizemos nós, num dos discos mais viciantes do ano.
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