A definição da identidade, a confiança no som e o orgulho nas raízes musicais fazem de Rubber Factory, o primeiro grande cartão de visita dos Black Keys. Foi à terceira tentativa. A verdade é que poucos são os que acertam à primeira.
Valem pelo momento, pelo marco na vida de cada um, mas a verdade é que raramente as primeiras vezes são memoráveis. A procura da identidade, a falta de confiança, de jeito ou o atabalhoamento no cumprimento das tarefas a fazer, são muitos os fatores que fazem da estreia um momento com elevada percentagem de insucesso para quem se lança em terrenos novos. Foi assim com os Black Keys.
Pode ter sido por excesso de voluntarismo, um entusiasmo excessivo que os levou a lançar três discos em três anos. Quem sabe, se o vigor descontrolado próprio dos mais jovens. Também pode ter sido por ainda procurarem o ponto mágico, o tal que faz a diferença entre o sucesso e um travo amargo na boca, ou por ainda não terem a identidade definida. Também pode ter sido, apenas, a vida e dores de crescimento que com ela chegam. The Big Come Up (2002) e Thickfreakness (2003), não são maus discos. Do ano seguinte, Rubber Factory menos ainda o é. Ouvidos hoje, torna-se evidente que já lá estava tudo. Faltava acerto e, sobretudo, confiança. Acontece muito quando se está em estreia.
Mas voltemos aos discos. Três anos, três discos, todos de nível e registo parecido, mas apenas um certeiro. Em Rubber Factory tudo é melhor, soa a disco em vez de soar a ajuntamento de canções, a produção mais cuidada, os grooves mais contagiantes, os riffs mais marcantes. Simultaneamente, ouve-se o fim da vergonha de soar aos mais velhos blues elétricos, ouve-se o fim da crise de identidade de quem até hoje vive entre o blues e o rock, de quem só ao terceiro disco percebeu que, afinal, é mesmo nesse limbo que está a identidade da dupla. Entre “When the Lights Go Out”, “All Hands Against his Own”, “Desperate Man”, “Stack Shot Billy” e “The Lenghts”, ouve-se tudo o que os faria explodir. Mesmo que, à época, poucos o tenham percebido.
Seriam o tempo e a insistência a revelar-se decisivos. A tal conversa das 10 mil horas, a mesma que diz que só com a prática se atinge a perfeição. O sucessor (Magic Potion) demoraria dois anos a chegar, outro tanto para Attack & Release e só três anos depois, já em 2011, se ouviria El Camino, esse, o de “Lonely Boy”. Mais tranquilos, mas com música mais vigorosa. Mais seletivos na hora de atacar e mais confiantes na hora de assumir as raízes, vagarosas e sofridas, mais certeiros na hora do riff, os Black Keys demorariam até se tornarem num dos melhores portos de abrigo para fãs de blues rock. Como o fizeram? Está tudo em Rubber Factory. O resto? O resto fez o tempo e a vida. Às vezes é assim. Mesmo que a busca seja por um riff capaz de fazer tremer joelhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário