domingo, 15 de janeiro de 2023

CRONICA - BLOSSOM TOES | We Are Ever So Clean (1967)

 

Blossom Toes é uma daquelas bandas inglesas dos anos 60 que aparecem e desaparecem imediatamente após terem editado um ou dois álbuns. Combinação de discos adorados pela crítica, apreciados pela qualidade dos seus concertos mas rejeitados pelo grande público. O típico exemplo do talentoso grupo underground que não conseguirá desbravar e perderá por pouco o sucesso, mas encontrará uma vida póstuma inspirando futuras gerações de músicos e colecionadores de vinil.

Tudo começou em 1962 com o encontro no bairro de Islington, em Londres, do guitarrista/tecladista/vocalista Brian Godding e do baixista Brian Belshaw em uma fábrica de instrumentos musicais. Com 17 anos, eles decidem formar um grupo com alguns amigos, que chamam de The Gravediggers e depois Ingoes. Depois de alguns shows na Alemanha, os músicos retornaram a Londres no final de 1964 e abordaram o empresário dos Yardbirds, Giorgio Gomelsky, uma das grandes figuras da nascente Swinging London e dono de clubes como o famoso Crawdaddy onde os Rolling Stones jogado pela primeira vez. Ele ofereceu-lhes um primeiro contrato como músicos de apoio para o bluesman Sonny Boy Williamson, também abrindo para os Yardbirds e tocando em lugares emblemáticos da cena londrina, como o Marquee e o Crawdaddy. Além disso, ele tem a ideia de mandá-los para Paris para algumas cenas, conhecendo Johnny Halliday, onde juntos eles tocam alguns covers de rock. Para completar seus honorários, os Ingo acompanham Chuck Berry e Vince Taylor em visitas ao Olympia.

Ainda em Paris, Giorgio Gomelsky deu aos Ingoes a oportunidade de gravar um single em 1966, "Viens Danser Le Monkiss" (uma paródia de algumas canções de Johnny Halliday que não obtiveram sucesso) com a condição de integrar o guitarrista Jim Cregan dos uma daquelas famosas Escolas de Arte que viram nascer os músicos mais talentosos desta geração. Com a chegada do baterista Kevin Westlake, o empresário propõe renomear o grupo Blossom Toes, que ele acha que está em sintonia com os tempos e no movimento flower power. Ele trouxe o quarteto para o estúdio com vistas a um álbum em seu novo selo Marmalade, uma subsidiária da Polydor. Sem economizar recursos, ele trouxe músicos adicionais e teve o álbum produzido por Richard Hill e David Whitaker, ambos compositores de música para cinema e produtores de álbuns de Julie Driscoll e Nico. Em outubro de 1967, Blossom Toe lançou seu primeiro LP intituladoEstamos sempre tão limpos .

Composto por 15 faixas, este Lp é uma verdadeira joia do pop psicodélico. O disco começa com um estrondo com sons estranhos na garagem e a sonhadora "Look At Me I'm You" onde o grupo tenta alternar os tempos. Aproveitamos belas harmonias vocais, orquestrações pomposas e uma bela flauta em "I'll Be Late For Tea" uma dica nebulosa seguida pela delirante e esquizofrênica "The Remarkable Saga Of The Frozen Dog". Chega o pop/folk sob acid “Telegram Tuesday”, deixando transparecer silenciosamente a balada de outono “Love Is” e a sua desencantada flauta. Vem o mariachi perturbador e despreocupado "What's It For", bem como "People Of The Royal Parks" reminiscente dos Beatles na conclusão do lado A.

O lado B começa com magníficos metais no paquiderme "What on Earth", onde após abusar do LSD e outros psicotrópicos os músicos tiveram que se deparar com um engraçado elefante rosa. Encontramos a influência dos Beatles com “Mrs. Murphy's Budgerigar” e “I Will Bring You This and That” dando lugar à despreocupada “Mister Watchmaker” e “When the Alarm Clock Rings” com notáveis ​​harmonias vocais intercaladas com sublimes orquestrações. Valsamos com "The Intrepid Balloonist's Handbook, Volume One". Desfilamos com “Você”. O disco termina com o noisemaker feito de colagens “Track for Speedy Freaks (or Instant LP Digest)”.

Porém, é preciso admitir que os integrantes do Blossom Toe saem frustrados com essa experiência mesmo que devam reconhecer que o resultado é bom. Vendo-se transformados em banda de apoio apesar das composições de Brian Godding e Jim Cregan, por vezes relegados a artistas inúteis, os músicos estão longe do estilo que gostariam de explorar. Além disso, os arranjos e outros ruídos que aparecem entre cada peça foram feitos sem seus acordes.

Após o lançamento do disco, Blossom Toe saiu em turnê. Mas a longa ausência de concertos e títulos demasiado complexos para se apresentarem em palco conduzem a atuações catastróficas. Quanto a We Are Ever So Clean , não decolou muito nas vendas. Nenhum título entra nas paradas, apesar das boas críticas da imprensa que tende a atribuir o sucesso artístico a Giorgio Gomelsky. Decepções que parecem uma dádiva de Deus para os integrantes do Blossom Toe, felizes por se distanciarem de músicas que não os representam. Godding, Cregan, Belshaw e Westlake partem para alguns shows na Suécia. Longe de Gomelsky, jogam poucos títulos de We Are Ever So Clean, preferindo apostar em novas composições. A ocasião pode ser para pensar em um novo álbum.

Títulos:
1. Look At Me I’m You
2. I’ll Be Late For Tea           
3. The Remarkable Saga Of The Frozen Dog
4. Telegram Tuesday
5. Love Is
6. What’s It Forµ
7. People Of The Royal Parks
8. What On Earth
9. Mrs. Murphy’s Budgerigar
10. I Will Bring You This And That
11. Mister Watchmaker
12. When The Alarm Clock Rings
13. The Intrepid Balloonist’s Handbook, Volume One
14. You
15. Track For Speedy Freaks (Or Instant LP Digest)

Músicos:
Brian Belshaw: Baixo, Vocal
Jim Cregan: Guitarra, Vocal
Brian Godding: Teclados, Guitarra, Vocal
Kevin Westlake: Bateria
David Whittaker: Orquestração

Produtor  : Giorgio Gomelsky

Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

Sandro ‎– Sandro (LP 1978)

MUSICA&SOM Sandro ‎– Sandro  (LP RCA ‎– 103.0239, 1978).  Género:  Pop.  Sandro , nome artístico de Roberto Sánchez Ocampo, nascido em B...