Roadrunner, 1991
Um disco ainda brutal e muito bem trabalhado, lembremos que desde o final dos anos 80 o Sepultura esteve sob a proteção da histórica gravadora Roadrunner Records, o que significou a permanência deles na Flórida e um contrato discográfico que augurava um bom futuro. . O dinheiro estava na mesa, os brasileiros só faltavam fazer o que queriam e cara fizeram, desencadeando o caos no álbum daquela capa bizarra e ao mesmo tempo visionária de Lovecraft, onde aqui pela primeira vez foram dados vários gostos. Pela primeira vez vimos na banda uma certa maturidade na hora de compor, dedicando seu tempo até para trabalhar com coisas experimentais e progressivas, como nunca antes.
A premissa industrial fica evidente na introdução do brutal primeiro corte: “Arise”, uma música com efeitos sonoros mas que não tirou um pouco do thrash furioso e com Max Cavalera curtindo sua voz talvez como nunca antes. Mudanças de ritmo, riffs sequenciados, aquele refrão inesquecível "I see the world, old, old..." em uma música que de outra forma representava um claro e forte cenário pós-apocalíptico, potencializado com aquele vídeo transgressor filmado no Vale da Morte com imagens de a banda tocando durante o dia, misturada com imagens de uma figura semelhante a Cristo em uma máscara de gás, pendurada em uma cruz, que foi censurada pela MTV na época. A força do hit 'Dead Embryonic Cells' foi contundente e maravilhosa, uma música em que o Sepultura abominava o holocausto, as guerras santas que naqueles anos tomaram conta dos noticiários,
"Desperate Cry" por exemplo é uma delícia, por sinal uma das músicas mais longas da banda. Sua construção é sólida, beirando a desgraça de seus mentores do Black Sabbath. O riff ficou mais midtempo, as revoluções a mil por hora não estavam em tudo, mas entraram com fúria. Os solos infernais de Kisser às vezes eram um pouco mais segregados e a marcha sombria que ele propunha em seu número de partes era admirável. «Arise» na generalidade, apesar de seguir uma linha, nunca foi repetitivo e seguramente aí reside que para o metal é uma obra tão culta sem sinal de expiração.
Cavalera estava com a cabeça enfiada no industrial, não havia dúvidas se ainda mais tarde ele se envolveria com seu próprio projeto no estilo Nailbomb. Bandas como The Young Gods e Ministry foram mudando e evoluindo a forma de compor um poderoso e engenhoso Sepultura: “Altered State” é outra joia que se nutre de riffs industrialóides. O mesmo aconteceu com 'Under Siege', cheio de vozes de além-túmulo, efeitos, movimento pantanoso, mas nunca deixando o poder e a atitude bestial de outrora. Claro, a diferença, o riff de gancho, estava começando a aparecer, como já havia se infiltrado em seus futuros álbuns.
Bater cabeça estava na ordem do dia em 'Meaningless Movements', com uma pitada de hardcore nas veias que também marcou o som da banda nesses anos. Aquela bateria do Igor em 'Infected Voice' no final ainda ecoa em nossas cabeças. Que máquina.
O Sepultura foi aclamado mundialmente pela primeira vez e teve um retorno triunfante ao Brasil no Rock In Rio '91, sem contar as apresentações ao lado de astros do rock e metal mundialmente famosos como Ozzy, o próprio Ministry, Helmet e aquele show inesquecível em Barcelona depois, eles deve ser uma das melhores bandas de thrash ao vivo dos anos 90 de todos os tempos. O que o Sepultura deixou nesse álbum foi bastante, e apesar de a mudança ter sido mais ou menos drástica para eles, esse som lançou as bases para muitas bandas que seguiram os passos de um dos pioneiros irrefutáveis do death global/ lixo.
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