Se em Countdown To Extinction e Youthanasia o Megadeth havia amansado seu som, deixando de lado a agressvidade e a complexidade dos discos anteriores e investindo em músicas mais simples, com estruturas mais próximas do heavy metal e do hard rock, em Cryptic Writings a banda se mostrava mais uma vez em transição, mas desta vez abandonando muito do que a caracterizava como uma banda de metal em diversas faixas. Enquanto músicas como “Vortex” e “FFF” seguiam o estilo que a banda vinha adotando, outras como “Almost Honest”, “Use The Man”, “I’ll Get Even” e “A Secret Place“, apesar de interessantes, tinham pouca distorção, refrões de fácil assimilação e riffs que em nada lembravam o estilo de compor de Dave Mustaine, mais suaves e adequados às rádios do que aos mosh pits. Ainda assim, o disco continha duas músicas que se tornariam clássicos do grupo, a melódica “Trust“, que seguia a linha dos dois discos anteriores, e a estupenda “She-Wolf“, que soava totalmente deslocada no álbum, alternando bases cavalgadas e solos dobrados no melhor estilo Iron Maiden. Em resumo, Cryptic Writings era um disco extremamente irregular, mas que ainda trazia boas composições e mostrava uma banda cada vez mais distante de suas raízes. Vale ressaltar que este foi ainda o último disco com a mais celebrada formação da carreira da banda, com Dave Mustaine, Dave Ellefson, Marty Friedman e Nick Menza, visto que o último saiu do grupo após a turnê de divulgação do álbum.
Como o título sugere, Risk, lançado em 1999, foi uma aposta de Dave Mustaine e cia. Abandonando por completo o thrash/heavy metal, o disco apresentava composições totalmente calcadas no hard rock, mas com toques de música eletrônica, pop e até soul. E ainda que algumas faixas se salvassem graças ao talento de Mustaine e de Marty Friedman, foi extremamente dificil para os fãs assimilarem uma mudança tão radical na sonoridade da banda, mesmo com os indícios apresentados em Cryptic Writings. O disco foi muito mal recebido, mas havia motivos de sobra para tal rejeição: a música de trabalho, “Crush’em“, tinha guitarras pesadas sobre uma base praticamente disco music; “Breadline” parecia uma sobra de um dos discos que o Def Leppard lançou nos anos 90; e outras músicas chegam a soar como o Bon Jovi ou o U2 da época, ainda que as guitarras em geral fossem um pouco mais pesadas. Dentre os poucos bons momentos, é possível destacar a faixa de abertura, “Insomnia”, com a sua pegada industrial, “Prince Of Darkness” e “The Doctor Is Calling”, mas mesmo estas eram muito inferiores ao que a banda havia feito até então.
Com o fracasso de Risk e a subsequente saida de Marty Friedman da banda, Dave Mustaine decidiu gravar um disco que retomasse a veia heavy metal do Megadeth, e para isso recrutou o talentosíssimo guitarrista Al Pitrelli, que já havia passado pelo Savatage, pelo Widowmaker de Dee Snider e pela banda de Alice Cooper. Com ele, David Elefson no baixo e Jimmy DeGrasso na bateria, a banda lançou The World Needs A Hero em 2001. E ainda que a qualidade do material estivesse longe da apresentada no auge da carreira do grupo, o álbum conseguia ao menos resgatar o peso e o estilo clássico do Megadeth em alguns momentos. A abertura com “Disconect” é um dos destaques do disco, com um riff cadenciado e forte, na linha do álbum Countdown To Extinction. Outras que lembravam essa fase do grupo eram a excelente “Burning Bridges” e “Dread And The Fugitive Mind“, que tinha um ótimo refrão. Já o primeiro single do disco, “Moto Psycho”, tem uma pegada mais hard rock, lembrando a fase Youthanasia, assim como a balada “Promisses”. Havia ainda uma continuação para a clássica “Hangar 18”, de Rust In Peace, intutalada “Return To The Hangar”, que reaproveitava diversas passagens da letra, melodia e riffs da original; e a longa “When”, que é praticamente uma nova versão para “Am I Evil”, do Diamond Head, coverizada pelo Metallica desde a época que Mustaine integrava a banda. Após a turnê do disco, Dave Mustaine sofreu uma lesão em um nervo do braço que o deixou impossibilitado de tocar guitarra, e a banda acabou se separando por tempo indeterminado.
The System Has Failed [2004]
Recuperado da lesão no braço, Dave Mustaine começou a compor para um futuro disco solo, e convidou alguns músicos de estúdio para as gravações, incluindo o ex-guitarrista do Megadeth, Chris Poland, e o virtuoso baterista Vinnie Colaiuta. Contudo, ao longo das gravações, decidiu-se que o material seria lançado como um disco do Megadeth, e que uma nova formação seria reunida para promovê-lo. E aos primeiros acordes de “Kick The Chair“ percebia-se que esta foi a decisão mais acertada, visto que o material era puro Megadeth e muito mais inspirado que os últimos discos da banda. Rápida, pesada e agressiva, a banda não tinha gravado nada tão furioso quanto esta música desde Rust In Peace, de 1990. A faixa de abertura, “Blackmail The Universe” também seguia esta linha, enquanto a segunda, “Die Dead Enough”, lembrava “Angry Again”, com um ótimo refrão. Ao longo do álbum é possível encontrar referências a todos os discos da carreira da banda, e ainda que a segunda metade do álbum não seja tão empolgante quanto a primeira, o nivel é elevado em todo o disco. Ainda assim, é impossível não destacar as músicas já citadas, além de “Tears In A Vial” e da sensacional “Back In The Day”, que narra o início da cena thrash metal nos Estados Unidos e tem uma pegada NWOBHM irresistível. No geral, The System Has Failed foi um retorno em grande estilo do Megadeth, apagando a má impressão que alguns de seus últimos discos haviam deixado no ar.
Estabilizado com Glen Drover nas guitarras, Shawn Drover na bateria e James Lomenzo no baixo, além do lider Dave Mustaine, o Megadeth manteve a fórmula do disco anterior em United Abominations, lançado em 2007. Misturando músicas mais agressivas a outras mais melódicas, o grupo adotou um estilo que ficava no meio termo entre o thrash de Rust In Peace e o heavy metal de Countdown To Extinction. A faixa de aberura, “Sleepwalker”, tendia para para o lado mais rápido, técnico e intrincado, enquanto a música de trabalho, “Washington Is Next!” era mais melódica e marcante, com uma influência latente da NWOBHM, além de ter um refrão excelente. Outros destaques eram as ótimas “Never Walk Alone… A Call To Arms”, dona de um riff típico de Dave Mustaine; e a faixa de encerramento, “Burnt Ice”, repleta de solos de Mustaine e Glen Drover. Há ainda uma nova versão de “A Tout Le Monde”, de Youthanasia, com Cristina Scabbia, vocalista do Lacuna Coil, como convidada. AInda que a versão original seja melhor, a nova, intitulada “A Tout Le Monde (Set Me Free)”, não faz feio. Em resumo, United Abominations consolidou a recuperação do Megadeth após a lesão de Mustaine e a reformulação da banda, mantendo o nome da mesma em alta.
Apontado por diversas revistas como o melhor lançamento de 2009, Endgame mostrava o Megadeth voltando a investir no thrash metal técnico e vigoroso dos tempos de Peace Sells… But Who’s Buying e Rust In Peace. Contando com um novo guitarrista, o virtuosíssimo Chris Broderick, Dave Mustaine voltou a compor músicas mais rápidas, complexas e agressivas, e o resultado foi excelente. Da abertura, com a instrumental “Dialectic Chaos”, repleta de solos de Mustaine e Broderick, ao encerramento com “The Right To Go Insane”, tudo que os fãs esperavam do Megadeth podia ser encontrado no álbum. Os riffs de “This Day We Fight“ são sensacionais, e surpreendiam a quem achava que a banda nunca mais soaria tão pesada e agressiva. “Headcrusher”, a música de trabalho do disco, era outra que não deixava pedra sobre pedra, e remetia diretamente aos tempos de Rust In Peace. Havia também músicas mais cadenciadas e melódicas, como “44 Minutes” e a faixa-título, que também eram excelentes, e até uma semi-balada, “The Hardest Part Of Letting Go… Sealed With A Kiss”, também inspiradíssima. Endgame figura facilmente entre os melhores trabalhos da banda de Dave Mustaine, e mostrava que apesar de todas as polêmicas que o guitarrista/vocalista parecia fazer questão de entrar, o mesmo continuava muito afiado na hora de compor.
Dando continuidade ao bom momento que a banda vivia, vinda de um álbum elogiado pela crítica e público, o retorno do baixista David Elefson e a turnê com os chamados Big Four, Dave Mustaine e cia decidiram que a hora de lançar um novo álbum havia chegado. Entretanto, como o tempo para compor novo material foi curto, a saída foi utilizar faixas compostas em sessões de gravações de outros discos e ainda não aproveitadas oficialmente pela banda para complementar o track list do disco. Contudo, quem esperava um disco irregular e inferior aos últimos lançamentos da banda se decepcionou, uma vez que Th1rt3en mantinha o nível elevado dos últimos discos. Entretanto, se em Endgame a banda explorou sua faceta mais pesada e agressiva, no novo álbum o lado mais melódico e marcante ficou mais evidente, até porque algumas das faixas foram compostas para discos como Countdown To Extinction e Youthanasia. Os principais destaques do disco são a faixa de abertura, “Sudden Death”, que havia sido lançada no videogame Guitar Hero 6; o single “Public Enemy Number 1”, que tinha um riff sensacional ; e as melódicas “New World Order” e “Black Swan“, ambas com trabalhos de guitarras impressionantes de Mustaine e Broderick e ótimos refrões.
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