sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

“Dookie” (1994, Reprise), Green Day





Após muita exposição midiática e sofrer um duro golpe com a morte de Kurt Cobain, líder dos Nirvana, em abril de 1994, o grunge começa a entrar em declínio. Num sentido oposto, do outro lado Atlântico, o britpop está em franca ascensão no Reino Unido, e em pouco tempo, dominará o mundo.

É nesse cenário que uma nova tendência vinda da costa oeste dos Estados Unidos despontava fazendo um revivalismo de um velho conhecido: o punk rock. A tal tendência era o pop punk, que resgatava o ritmo furioso do punk, acrescentando a ele acrescentava melodia pop, solos rápidos e curtos de guitarra, cujo resultado final era um tipo de música agressiva e ao mesmo tempo acessível, de fácil consumo do ponto de vista radiofônico. Não tardou para que bandas pop punks caíssem no gosto do público jovem, assinassem contrato com grandes gravadoras e rapidamente alcançassem o estrelato. Quem não gostou nada disso foram os antigos punks que viram naquela nova tendência, um desvirtuamento dos ideais punks.

Uma das primeiras bandas de pop punk a ganhar fama em escala mundial, e ser alvo de uma bateria de críticas dos punks veteranos, foi a californiana Green Day, formada em 1987, na cidade de Berkeley. Os dois primeiros álbuns do power trio, 39/Smooth (1990) e  Kerplunk (1992), foram lançados pelo selo independente Lookout! Records. A boa recepção do público e da crítica por Kerplunk, despertou a atenção da gravadora Reprise Records, uma subsidiária da Warner, que fez uma proposta irrecusável à banda californiana. Logo o trio deixou a Lookout! e assinou com a Reprise, o que gerou comentários negativos, como o de que o Green Day havia se “vendido”.

Intitulado Dookie, terceiro álbum de estúdio da carreira do Green Day e o primeiro por uma grande gravadora, foi lançado em 1º de fevereiro de 1994. Dookie resume bem o espírito pop punk: letras descontraídas e juvenis, ritmo veloz, pesado, mas com um certo “polimento” sonoro para torna-lo mais “palatável”.

O começo repentino da primeira faixa, “Burnout”, com voz e instrumentos ao mesmo, dão início ao álbum, e à toda velocidade. A música fala de tédio e da falta de perspectivas na vida. O ponto alto de “Burnout” é a pausa instrumental em que Tré Cool faz um pequeno e alucinado solo de bateria, demonstrando fúria e ao mesmo tempo um completo domínio técnico do instrumento.

A sarcástica “Having A Blast” trata sobre vingança: um homem-bomba que está prestes a explodir dentro de um avião, e levar consigo muita gente para se vingar daqueles que fizeram mal a ele. “Chump” faz referência ao ciúme e inveja que um sujeito tinha de uma pessoa que ele nem conhecia. Mas o destaque fica mesmo para a longa seção instrumental da música, concentrada na performance do baixo e da bateria.

Green Day em fevereiro de 1994, da esquerda para esquerda: Mike Dirnt,
Billie Joe Armstrong e Tre Cool.

“Longview” tem o seu título baseado no nome de uma cidade homônima, situada no estado de Washington, nos Estados Unidos. A letra da música fala de tédio e preguiça, assuntos tão comuns na vida de qualquer garoto adolescente. O destaque fica para a linha de baixo de Mike Dirnt nas estrofes da música, antes da explosão dos refrãos.

“Welcome To Paradise” foi originalmente gravada no segundo álbum da banda, mas ganhou uma nova e definitiva versão em Dookie. O som é um punk rock básico, com vocais harmônicos e um baixo em ritmo frenético. A letra versa sobre o jovem que deixa a casa dos pais e sai para o mundo, indo morar sozinho ou dividir um lar com outras pessoas. Foi inspirada nas próprias experiências dos membros da banda que deixaram as casas de seus pais para dividirem uma casa abandonada, em Oakland.

“Putting Teeth” tem uma inclinação para a country music, vocais em primeira e segunda vozes, e guitarras vibrantes e pesadas. Armstrong canta sobre uma garota possessiva e violenta que espanca o namorado. “Basket Case”, outro dos grandes sucessos presentes no álbum, teria sido inspirada num problema que o próprio Armstrong estava passando que era o transtorno do pânico. “She” foi escrita por Armstrong inspirado num poema feminista mostrado a ele por uma ex-namorada. Assim como “She”, “Sassafras Roots” também é uma música sobre essa mesma ex-namorada.

Já a faixa seguinte, “When I Come Around”, teria sido escrita por Armstrong para a sua esposa, Adrienne Armstrong, quando ainda eram namorados. A letra aborda a fase em que o casal teria passado por um rompimento. Armstrong e Adrienne viveram um tempo afastados, mas acabariam voltando.

“Coming Clean” é outra música do álbum que diz respeito à vida pessoal de Billie Joe Armstrong. Ela faz referência a uma fase da adolescência do vocalista quando ele se descobriu bissexual, embora não tivesse passado por uma experiência sexual com um homem.

“Emenius Sleepus” é a única música do álbum que não foi escrita por Billie Joe Armstrong. Escrita pelo baixista Mike Dirnt, “Emenius Sleepus” trata do reencontro de dois amigos após muitos anos, mas que o longo tempo afastados mostrou que os dois não tinham mais nada a ver um com outro como no passado. “In The End” é um punk rock que Armstrong escreveu sobre o seu padrasto; a julgar pela letra, o vocalista do Green Day não tinha o menor apreço pelo sujeito: “How long will he last / Before he's a creep in the past / And you're alone once again?” (“Quanto ele durará / Antes de ele se tornar um merda / E você ficar sozinha de novo?”).

O título de “F.O.D.” é a abreviação de “Fuck Off and Die” (“Foda-se e morra). Seu começo é acústico, com Armstrong cantando acompanhado de um violão. Mais adiante, uma massa sonora elétrica, pesada e veloz, rompe a tranquilidade. A letra mostra-se como um desabafo de alguém revoltado, disposto a dar a fim em todo mundo.

Billie Joe Armstrong em cena do videoclipe de "Longview". 

A lista de faixas do disco apresenta “F.O.D.” como última faixa do álbum. Mas quem ouve o álbum pela primeira vez descobre que há uma “faixa oculta”: “All By Myself”. Escrita pelo baterista Tré Cool, é ele mesmo quem canta os versos da letra que sutilmente fala de masturbação e encerra em definitivo o álbum.

Enquanto os punks veteranos torceram o nariz para Dookie, a crítica e o público aclamaram o álbum. Na época de lançamento de Dookie, a revista Time declarou Dookie o 3º melhor álbum do ano e melhor álbum de rock de 1994. O New York Times, no início de 1995, afirmou que o som de Dookie transformou o punk em pop através de músicas rápidas, engraçadas e cativantes.

Comercialmente, Dookie teve um desempenho fantástico para um álbum punk, ainda que com um viés pop. Só nos Estados Unidos, o álbum vendeu mais de 12 milhões de cópias, e no resto do planeta, chegou à incrível marca de 30 milhões de cópias vendidas. Dookie conquistou o prêmio Grammy em 1995 na categoria “Melhor Álbum Alternativo”.

Os videoclipes de “Longview”, “Welcome To Paradise”, “Basket Case” e “When I Come Around” exibidos à exaustão na MTV, ajudaram a impulsionar as vendas do álbum. Os singles de “When I Come Around”, “Basket Case” e “Longview”, figuraram em primeiro lugar da parada de singles nos Estados Unidos, enquanto que o de “She” e de “Welcome To Paradise”, ficaram respectivamente em 5º e 7º lugares.

Ao lado do álbum Smash, do Offspring, também lançado em 1994, Dookie possibilitou com o seu sucesso comercial o renascimento do punk, desta vez dirigido para as grandes massas. Dookie acabaria se tornando uma grande influência para uma nova geração de bandas de pop punk que conquistariam fama na década seguinte, como Good Charlotte, Simple Plan, Sum 41, New Found Glory e Yellowcard.

Faixas

Todas as letras escritas por Billie Joe Armstrong , exceto onde indicado; todas as músicas compostas pelo Green Day .

"Burnout"       
"Having a Blast"         
"Chump"        
"Longview"
"Welcome to Paradise"
"Pulling Teeth"          
"Basket Case"
"She"
"Sassafras Roots"
"When I Come Around"         
"Coming Clean"         
"Emenius Sleepus" (letra: Mike Dirnt)         
"In the End"   
"F.O.D."
"All by Myself" (“faixa oculta” escrita e tocada por Tré Cool)

Green Day: Billie Joe Armstrong (vocal e guitarra), Mike Dirnt (baixo e vocal de apoio) e Tré Cool (bateria, guitarra e vocal em “All by Myself”).



"Burnout"  

  
"Having a Blast" 


        "Chump"  

      "Longview" (videoclipe oficial)

"Welcome to Paradise"
 (videoclipe oficial)

"Pulling Teeth"       

   "Basket Case"
(videoclipe oficial)

"She"

"Sassafras Roots"

"When I Come Around"
(videoclipe oficial)

         "Coming Clean" 

        "Emenius Sleepus" 
            (letra: Mike Dirnt)

     "In the End"   

"F.O.D."

"All by Myself" 
 

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