quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

NO BAIRRO DO VINIL

 Beatriz de Sousa Santos - Uma vedeta totalmente ignorada

Uma das figuras mais distintas da música portuguesa de todos os tempos é também simultaneamente uma das mais esquecidas pela nossa imprensa (mesmo a especializada). Cabe-nos a nós contribuir para que a memória de alguns sobreviventes dessa época não se esmoreça, bem como contribuir para que outros fiquem a conhecer (ainda que com algumas décadas de distância) essa grande pianista que foi Beatriz de Sousa Santos.
Beatriz de Sousa Santos era uma artista peculiar e foi esse aspecto que sempre a caracterizou. De facto, não podemos olvidar que na época de 40 e 50 foi uma das poucas mulheres que se destacou como instrumentista num universo predominantemente masculino. Contudo, a singularidade de Beatriz de Sousa Santos vai muito para além disso, pois outras mulheres solistas instrumentistas co-existiram na mesma altura. O que mais se destaca é simplesmente a linha artística que a mesma seguiu, pois embora tivesse adoptado como instrumento de eleição o piano, afastou-se da linha clássica da altura, aderindo aos ritmos modernos sobre teclas e à improvisação sobre temas estrangeiros aprendidos de ouvido em noites às claras junto ao seu rádio receptor.

Em inícios de 1944, o director musical da NBC, enviou-lhe um telegrama com uma proposta milionária para actuar nas emissões normais daquela estação. O telegrama tinha os seguintes dizeres: “Oferecemos contrato de executante de piano, música moderna, com ordenado anual de dez mil dólares para actuar nas emissões normais da N.B.C. Queira responder”. 
Contudo, contrariamente ao que fora noticiado na época com grande destaque na imprensa, Beatriz de Sousa Santos, acabou por recusar tal convite, ficando-se por Portugal onde fez toda a sua carreira, fosse como pianista residente do Hotel Mundial (onde terá permanecido cerca de 19 anos), seja na Emissora Nacional, onde colaborou com assiduidade com Mota Pereira, no Centro de Preparação de Artistas de Rádio, desde a sua fundação em 1947. Não deixa de ser curioso que Beatriz de Sousa Santos chegou a confessar ter medo das audiências de milhões de ouvintes nos Estados Unidos ao mesmo tempo que admitia ser um sonho trabalhar com os coros de All Johnson, ou conhecer Bing Crosby ou Vera Lynn, que na altura fariam furor na N.B.C. Terá sido a sua exagerada modéstia que a impediu de se tornar mundialmente famosa, não duvidamos.
Beatriz de Sousa Santos, nos anos 40


Temos plena consciência que as novas gerações provavelmente nunca ouviram falar de Beatriz de Sousa Santos, pois o apogeu da sua carreira ocorreu há mais de 50 anos , durante as décadas de 40 e de 50 do século passado. No entanto, não deixamos de lamentar que tão ilustre e mediática figura não conste em qualquer obra de carácter enciclopédico virada para a música ou para as artes e o espectáculo. Uma verdadeira lacuna. Veremos o que o futuro nos reserva.
Escusado será dizer, como aliás bem se salienta no blogue “Isto é Espectáculo” que Beatriz de Sousa Santos morreria na miséria, totalmente esquecida pelo público e por aqueles que outrora do seu talento se serviram para promover a imagem da cultura e do talento dos portugueses.
Caso algum leitor disponha de mais dados sobre esta figura incontornável gostaríamos que entrasse em contacto connosco. Para já, deixamos para os nossos ouvintes e leitores uma pouco da música de Beatriz de Sousa Santos.



Beatriz de Sousa Santos 
Alvorada MEP 60209
A1) Canção do mar - Estoril - Sempre que Lisboa canta 
A2) Chove lá fora - La paloma - Cielito lindo
B1) Flamingo - Woman in love
B2) La piu bella del mondo - Parole e musica - Chau Chau bambina

Clique no play para ouvir a última canção do lado B.

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