Ao oitavo disco, Old Jerusalem dá-nos um disco despido e plácido, com o habitual conforto contemplativo
Francisco Silva, aka Old Jerusalem, já anda nisto há muito tempo. E se as suas fotos mostram a passagem do tempo – como acontece com todos nós – a sua música permanece a mesma, habitando um lugar sem tempo e sem qualquer preocupação em soar moderna.
Certain Rivers, o novo álbum, sucede a Chapells, de 2018, e o que temos podia, na verdade, pertencer a qualquer outro disco ou fase da sua carreira de 20 anos. O que não representa para nós problema algum. Old Jerusalem é um daqueles artistas cujo conforto nós procuramos com a certeza de reencontrar um velho e fiel companheiro. Cuja música acompanhou as nossas vidas e as nossas inseguranças há cinco, há dez ou há 20 anos.
Não sendo um “disco conceptual”, o músico tem focado um tema central, a passagem do tempo e o eterno regresso a marcos da nossa vida, sobretudo quando esta nos desgasta. O título do disco, aliás, inspira-se num verso do Nobel da Literatura de 1980, o polaco Czeslaw Milosz: “Quando sofremos regressamos às margens de certos rios”.
O tom do álbum é espartano, centrado na quase totalidade na guitarra e na voz de Francisco Silva, até porque a pandemia e os seus isolamentos forçados não facilitaram o encontro com parceiros e exigiram uma simplificação de processos. Mas, no fundo, ficou o que interessa. A voz, a guitarra, os versos, a beleza triste mas confortavelmente conformada, com um raio de esperança a brilhar lá ao longe.
Quem quer novidade e ser arrebatado pelos colarinhos, pode ir bater a outra porta. Nós ficamos com o encantamento do costume e de que tanto gostamos.
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