domingo, 1 de janeiro de 2023

Public Service Broadcasting – Bright Magic (2021)


 

Bright Magic é um disco cheio de amor por Berlim e pelo que a capital alemã deu à música no século passado. É, sobretudo, uma bela homenagem sonora que os Public Service Broadcasting resolveram fazer chegar até nós, cidadãos do mundo.

Os Public Service Broadcasting são uma banda interessantíssima. Autênticos cavalheiros dos sons, das colagens sonoras e dos imaginários retrô, embora com toques futuristas de grande fulgor! No entanto, é também verdade que estes britânicos nunca conseguiram fazer, pelo menos na nossa opinião, um disco perfeito, digamos assim. As aproximações feitas a essa ideia de excelência absoluta acabam sempre por tropeçar em algo que desequilibra, mesmo que ligeiramente, os álbuns, um a um, criando no ouvinte a ideia de que ainda não foi desta. Já estiveram perto, é verdade. The Race For Space esteve perto, muito perto mesmo, foi por um triz. Mas depois, um ou outro tema não se mostrou capaz de aterrar em perfeito solo sonoro dentro das nossas cabeças. O charme da música que produzem, no entanto, talvez nos faça desejar sempre mais e mais. O erro, seguramente, será nosso. Os Public Service Broadcasting são enormes, mas nós gostaríamos que fossem verdadeiros colossos de Rodes da música. Aos humanos o que é humano, aos deuses o que só a eles pertencem. Que nos sirva sempre de exemplo esta verdade absoluta. E agora, em 2021, os londoners J. WillgooseEsq.J. F. Abraham e Wrigglesworth voltam à carga e, de novo, fazem-nos sonhar. O disco chama-se Bright Magic e bem podemos acreditar na verdade que ele transmite. O título não mente, de facto. É assertivo e traz encantos e efeitos surpreendentes, dignos de magos.

Bright Magic é um disco que transpira paixão. O amor por Berlim, a cidade que a banda decidiu homenagear neste trabalho, escorre por cada microssulco de vinil por onde vai rodando a agulha. De entre os onze temas que fazem parte desta nova leva de canções, há um single irresistível que deveria, houvesse justiça nas pistas de dança de bom gosto, tornar-se viral em todo o planeta: chama-se “Blue Heaven” e, nos seus ups and downs, é demolidor. Que grande canção! Mas, por outro lado, há também outros temas mais sombrios, menos saltitantes e vigorosos, porque também Berlim tem esse lado negro, denso, que a história da música lá gravada ao longo dos tempos foi registando. Lembremo-nos do Bowie da era berlinense, por exemplo. Ou do tempo em que os Depeche Mode também por lá passaram. Bright Magic incensa esses tempos, embora sem os copiar. Mas em “The Visitor”, por exemplo, temos mesmo de pensar em Low, obra marcante do percurso discográfico do grande, eterno e saudoso camaleão.

Bright Magic divide-se em três partes distintas. Isso parece claro e apresenta-se de forma coerente. Ao passar em revista inúmeras referências (literárias, musicais, cinematográficas e históricas) da capital Alemã, os Public Service Broadcasting inovam ao criar um álbum que não se submete ao registo que anteriormente foi sendo uma das suas imagens de marca. Aqui não há samplers históricos / radiofónicos de outros tempos, como acontece em The Race For Space, por exemplo. Há, isso sim, diferentes atmosferas que fazem parte do imaginário dessa complexa cidade do nordeste da Alemanha. Num primeiro momento, as atmosferas são mais densas, mas com espaço para a melodia (“Im Licht”), ou ainda para uma aproximação aos inevitáveis Kraftwerk. Sim, sabemos que esses homens-robôs saíram das Autobahn de Düsseldorf para o mundo. Mesmo assim, a sua sombra inundou os sons de Berlim dos anos 70, pelo menos. Um pouco mais à frente, na ordem das canções do álbum, uma segunda fase mais dançante apresenta-se em pleno, e aí são as canções mais clássicas que comandam. “People, Let’s Dance” e a já mencionada “Blue Heaven” serão clássicos instantâneos da banda, sem margem para erro. A participação vocal de Andreya Casablanca na voz é arrebatadora. E uma vez que se fala de participações, o ex-Bad Seeds Blixa Bargeld também dá uma perninha no disco, na faixa “Der Rhytmus der Maschinen”. Por fim, na terceira e última fatia do disco, os contornos sonoros voltam a mudar e tornam a ser de pendor mais etéreo e abstrato. É um fim em beleza, sem dúvida.

O tempo dirá, como tantas vezes acontece, se Bright Magic segue o caminho costumeiro da quase perfeição dos anteriores álbuns da banda. O tempo é sempre o eterno juiz. Não nos precipitemos, portanto, mas o que apetece dizer agora é que os Public Service Broadcasting voltaram cheios de força e vigor. De Berlim para o mundo, com passagem segura por muitas das  nossas vidas.

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