Resenha
Brief Nocturnes And Dreamless Sleep
Álbum de Spock's Beard
2013
Se quando Neal Morse deixou a banda, houve uma certa demora para que a Spock’s Beard brilhasse de forma plena novamente, não podemos dizer o mesmo em relação ao que houve com a saída de Nick D'Virgilio após X, já que em Brief Nocturnes And Dreamless Sleep - disco lançado três anos após o seu predecessor – eles atingiram um nível musical quase tão elevado quanto o alcançado em seus mais aclamados – ao menos por mim - álbuns, Snow e X. A banda agora conta com dois novos nomes, Jimmy Keegan na bateria e Ted Leonard nos vocais, sendo o primeiro um ótimo baterista, mas o segundo merecendo uma menção um pouco maior, afinal, Leonard Leonard sempre foi um excelente vocalista, mas neste cenário um pouco menos agressivo que a banda o fez explorar, ele simplesmente brilhou, com sua voz cheia de personalidade enquanto oferece uma performance sincera, emocional, mas poderosa e que sempre acerta em cheio o que a música pede. Considero Brief Nocturnes And Dreamless Sleep um disco extremamente acessível e de uma simplicidade muitas vezes quase pop, mas claro, com a banda ainda mantendo hasteada a bandeira da boa música progressiva com excelentes passagens instrumentais com bastante ênfase ora nas guitarras e ora nos teclados. Se por um lado, existem discos de rock progressivo que são difíceis de manusear, digamos assim, há discos como este, em que não é necessário nem de muita atenção para captar toda sua essência musical em um equilíbrio de qualidade e acessibilidade poucas vezes visto na música da banda. “Hiding Out” já inicia o disco com um dos seus destaques. Ted logo na sua primeira participação, mostra que é um vocalista incrível e que foi a escolha perfeita para esse novo lado da banda. Possui uma instrumentação excelente, com destaque para alguns ótimos riffs e solos de guitarra, além de um solo de órgão empolgante. “I Know Your Secret” é uma das peças mais rock and roll do disco. Tem ótimos e cativantes riffs. É um pouco mais agressiva, de linha de baixo bastante fortes e um groove marcante. Ainda que não seja da mesma qualidade da faixa anterior, mantem o disco em alto nível. “A Treasure Abandoned”, apesar de ser uma música muito boa, ainda deixa margem para que eu a considere um pouco mais fraca se comparada ao restante do álbum. Há trechos interessantes com forte inclinação ao Genesis, além de uma boa mescla entre partes suaves e bonitas e outras mais pesadas. Porém, quase 9 minutos ficou um pouco demais e acabou a deixando muito arrastada, tirando muito do seu brilho caso fosse mais compacta. “Submerged” é sem dúvida a música mais pop do disco – o que em hipótese alguma quer dizer que não se trata de uma peça excelente. Como sempre repito, adoro um refrão bem-feito, sendo o encontrado aqui um exemplar clássico. A performance de Ted é poderosa. Tudo bem que é uma música nenhum pouco progressiva, mas de qualquer forma, se encaixa muito bem para o momento do disco. “Afterthoughts”, há algo que não falei ainda, mas Neal Morse participou da composição de duas músicas no disco, sendo essa uma delas. Inicialmente, era para ser a “Thoughts Part 3”, tanto que é possível perceber algumas referências às duas partes anteriores. A peça entrega alguns ótimos riffs de hard rock e é muito bem executada, além de ser extremamente bem arranjada e possuir solos de sintetizadores muito bem adicionados. “Something Very Strange” começa por meio de algumas vozes robóticas. É mais uma faixa maravilhosa e de performance vocal irretocável de Ted. De melodia complexa, o instrumento de destaque aqui sem dúvida é o teclado, porém, vale prestar atenção nas linhas de baixo que são bastante proeminentes. Também gosto muito do refrão dessa música. “Waiting For Me”, quando escutamos essa peça pela primeira vez, sentimos uma sensação de que ela poderia estar tranquilamente em algum disco solo do Neal Morse, mas o motivo de pensarmos isso é logo explicado a partir do momento em que vemos que ela é a outra faixa do álbum em que ele é um dos compositores. A mais longa do disco com seus quase 13 minutos, é um número cheio de alegria e de uma sensação instrumental edificante. De momentos pop e até um pouco funk, em seu núcleo há também uma seção mais lenta que é belíssima, com direito a um solo de guitarra de Alan Morse que é de arrepiar. Quando a banda regressa para um ritmo mais rápido, eles revezam entre solo de sintetizador e guitarra de forma brilhante. A peça encerra com o seu tema inicial e coloca um ponto final em um álbum maravilhoso. Se por algum motivo, no Olimpo da discografia da Spock’s Beard só pode haver três álbuns, e os outros dois lugares já são ocupados por V e Snow, eu daria para Brief Nocturnes And Dreamless Sleep a vaga restante. Todas as suas sete músicas são realmente envolventes e mostram uma enorme variedade de estilos e influências. Pra concluir, é bom deixar claro que esse álbum não é de alto nível por ser uma sequência bem-feita do que eles já haviam feito antes, mas sim, por ser uma banda apresentando com extrema confiança um novo som dentro de uma área musical progressiva mais melódica.
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