quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Resenha White Snake Álbum de David Coverdale 1977

 

Resenha

White Snake

Álbum de David Coverdale

1977

CD/LP

Com o fim do Deep Purple em Março de 1976, David Coverdale foi obrigado a trilhar uma carreira solo. 

Não que o vocalista (originalmente dos Fabulosa Brothers) desejasse manter a banda em ação. 

Após 3 anos exaustivos de comparações com Ian Gillan, brigas de egos, vícios e a saída de Ritchie Blackmore, Coverdale se demitiu no palco do último show da banda, em Liverpool. Jon Lord e Ian Paice - membros fundadores - então comunicaram ao vocalista que já não havia mais banda.

Após jams com o Uriah Heep e sondagens para o Bad Company, Coverdale gravou seu primeiro disco como solista. "White Snake" acabaria dando nome à sua futura banda (ele prefere trabalhar em grupo), sem porém insinuar o som dos seus futuros sucessos da década de 1980.

O disco - lançado pela gravadora do Deep Purple, "Purple Records" - foi produzido por Roger Glover (baixista da formação Mark II). Glover tocou sintetizador no álbum. A formação se completou com Mick Moody nas guitarras, De Lisle Harper no baixo, Tim Hinckley nos teclados e Simon Philips na bateria (atuou no disco Sin After Sin do JUDAS PRIEST), além das backing vocals Liza Strike, Helen Chappelle e Barry St. John (que trabalharam, entre outros com o KISS). 

Lançada no auge do Punk Rock britânico (1977), a estréia de Coverdale nadou contra a corrente. O disco passou despercebido. O que não quer dizer que seja um trabalho atemporal ou desconectado da música feita então nas ilhas britânicas ou mesmo no resto do planeta. 

A abertura - "Lady" - mescla o Rock dos Rolling Stones e Faces da década de 1970 com ecos Funk herdados do Purple (o naipe de metais). Coverdale soa despretensioso, no seu papel de bon vivant da noite londrina. A letra sexy acompanha o ritmo desbragado da esbórnia setentista. Lembra músicas de Rita Lee e Made in Brazil feitas na mesma época, não era algo inovador ou descontextualizado. Autêntico, sem ser original.

"Blindman" traz um registro vocal mais baixo e introspectivo, sob uma camada de sintetizadores distantes e a slide guitar melancólica de Moody. A faixa traz o misticismo de Coverdale atravessando as nuances de sua voz alternadamente grave e límpida. De repente, a festa de "Lady" acaba numa busca por sentido na estrada da vida. O que parecia uma homenagem ao Bad Company se debruça num solo percussivo de guitarra que tira o vocalista da zona de conforto e ele solta o Blues da garganta. A soma das paixões uivantes da guitarra e voz possuída levaria Coverdale adiante por décadas. "Blindman" foi regravada pelo Whitesnake em 1980 (ironicamente, tendo Jon Lord e Ian Paice como integrantes) 

Soul e Gospel são as matrizes da sonoridade de Coverdale desde a adolescência; No seu disco de estreia, a faixa que melhor retrata essa paixão é "Goldies' Place", narrativa que remete ao Chitlin' Circuit da década de 1950. Inicialmente a música parece hesitar. Sobre um rastreado Funk, os trechos musicais se entrelaçam devagar. Coverdale toma seu tempo e fôlego para se encaixar nas backing vocalizes. Quando a soma se efetua, temos um vocalista relaxado em seu ambiente preferido, culminando num refrão que oscila entre as vocalistas e David, num ping-pong melódico que lembra Eric Clapton. Até pensamos por que Glenn Hughes não teve essa chance ao lado Coverdale em sua antiga banda...

O Rock retorna com a faixa título. Numa cavalgada de baixos e guitarras (alô, Iron Maiden...) “White Snake” não anuncia a chegada de um novo som, ou de uma nova banda. O Hard Rock aqui deriva da matriz setentista (as guitarras percorrem “Demon’s Eye”, do Deep Purple, o ritmo lembra o Queen e a talking box emula Peter Frampton e Jeff Beck, um favorito de David). Mas o impulso é novo: a faixa pulsa no ritmo dos vocais, diferindo dos tempos de Blackmore e Lord. Retomando uma longa tradição blueseira, Coverdale solta uma infame letra de duplo sentido. “White Snake” traz mais as intenções do que a sonoridade de sua futura banda - mas o amálgama agradou os ouvidos. 

“Time On My Side” não é um cover dos Stones (que também não a compuseram em 1964). De outro modo, é um hino de autoafirmação digno de “Come Taste the Band”. Será que a banda teve chance de recusar essa música? Coverdale ataca os sentidos com vocais sóbrios mas veementes, sem deixar a menor dúvida sobre onde suas esperanças futuras residiam. O Hard Rock aqui emerge da matriz Purple. Os vocais dobrados de Coverdale no refrão prenunciam o Whitesnake. Caso Elton John se unisse ao Purple, essa música seria uma excelente escolha como faixa-título. 

“Peace Loving Man” é outra faixa mergulhada no Gospel e no Soul, poderia ser um lado B de Sam Cooke num dia relaxado. Só que Sam (ou Rod Stewart) não teria submergido nos backing vocals. O naipe de metais soa genérico, seguido por um solo de sax e temos algo que as bandas de Coverdale do passado e futuro não gravariam. Se a letra é uma reminiscência de seus dias púrpuras, o efeito é bastante adequado.

“Sunny Days” aprofunda a festa setentista com mais Rock tradicional, num tom mais celebratório. Os metais não deixam dúvidas da influência dos Stones sobre David nessa época (vide “Silver Train”) junto a um teclado metalizado que poderia surgir dos Doobie Brothers. Decerto, não é o 
que os fãs de Whitesnake aguardam – mas os sapatos rock n’roll Coverdale calçou muito antes desses dias, e seu primeiro ídolo foi Elvis Presley.  

“Hole in the Sky” remete às baladas da Broadway, trazendo o lado crooner de Coverdale. O moço também toca piano, num arranjo que não faria feio num disco de Barry Manilow. David sempre teve um fraco pelas Love Songs, dessa vez sem qualquer acento Hard Rock ou Blues. Inesperadamente, a faixa prenuncia “Goodbye to Romance” de Ozzy Osbourne e os vocais macios lembram seu colega Glenn Hughes.

“Celebration” fecha o disco de estreia com percussão latina, guitarra Funk da Filadélfia e clima Disco. Coverdale não estava desconectado de seus arredores em 1977, mas não foi lembrado nessa forma. Sensacionais backing vocals monopolizam o refrão, Mick aperta o taking box e David fica relegado ao papel de MC introduzindo seus amores musicais, sem convencer os ouvintes de que essa seria sua carreira solo. Uma alquimia finíssima, digna dos Stones de meados da década ou Earth, Wind and Fire da virada para os anos 1980 – mas ninguém gostou...

Faixas

Lady – 8	
Blindman – 9,5	
Goldies’ Place – 8,5	
White Snake – 8,5 	
Time On My Side – 9	
Peace Loving Man – 8 	
Sunny Days – 8,5	
Hole in the Sky – 8	
Celebration – 8.5  

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