sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Resenha Hyperborea Álbum de Tangerine Dream 1983

 

Resenha

Hyperborea

Álbum de Tangerine Dream

1983

CD/LP

Os dois adjetivos que coloquei no título usualmente não são associados a música eletrônica, mas o som de Tangerine Dream orbita ao redor de temas graves da alta literatura, filmes alternativos, poesia obscura e histórias mitológicas, de acordo com os gostos pessoais do fundador e diretor da banda, Edgar Froese, que na juventude tocou para Salvador Dalí e o tinha como mestre. Estão presentes aqui os dois outros membros mais importantes da biografia da banda, Christopher Franke e Johannes Schmoelling.

Em 1983 o grupo produzia trilhas sonoras para cinema como numa linha de montagem, num esforço imenso para aproveitar ao máximo o bom momento comercial. Este álbum de estúdio parece ser uma coleção de peças alternativas, que não caberiam nos filmes. A reedição "de luxo" contém como bônus as contribuições do TD para a trilha do filme 'Risky Business'.

A excelente primeira faixa, 'No Man's Land', possivelmente criada inteiramente por Schmoelling, é inspirada na música marroquina e contém sons sampleados de instrumentos norte-africanos. Assim, ela se afasta bastante da proposta usual do grupo. Muitos anos depois, Froese retomaria o conceito com outra música chamada 'Mombasa'.

'Hyperborea', a faixa-título, na realidade são duas canções instrumentais unidas numa faixa só. É como se a primeira parte apresentasse uma questão e a segunda uma resposta. Começa num clima de melancolia pesada e penetrante, utilizando um coral sintetizado e percussão eletrônica extremamente lenta. A resolução na segunda parte é soturna.

'Cinnamon Road' pretende ser o oposto de 'Hyperborea', com uma melodia alegrinha, mas não funciona tão bem quanto sua predecessora sisuda. TD é uma banda tão "séria" que não consegue fazer uma música soar bem-humorada de maneira sincera. Esta faixa é composta com timbres metálicos, com destaque para uma sitar sintetizada bem ao gosto de Froese, que nos anos seguintes saturaria os arranjos com esse timbre e outro de espineta (cravo). O resultado é áspero e estridente.

O que antigamente era o lado B do vinil corresponde a 'Sphinx Lightning', criação solo de Froese que é a última composição longa do grupo em muitos anos. Os discos seguintes do TD seriam inteiramente compostos por faixas mais curtas. Esta peça começa com as badaladas ameaçadoras de um carrilhão sintético que vão formando os acordes da música. A sonoridade dessa parte evoca o contemporâneo 'Pinnacles', um dos raros discos solo de Froese. A faixa pega embalo e em alguns minutos parece um trem a todo vapor, para então desacelerar totalmente, reiniciar a corrida e terminar numa seção otimista e galopante. Com arranjo esparso e desenvolvimento lento, ela foi revisitada em tempos recentes pelo grupo, sem adição de grandes novidades.

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