Resenha
V
Álbum de Spock's Beard
2000
CD/LP
Considero a banda estadunidense de rock progressivo sinfônico, Spock’s Beard, um grupo de pouquíssimos erros durante os seus 30 anos de carreira e 13 discos lançados até hoje, porém, V é um acerto único, algo que a banda até hoje nunca conseguiu igualar – embora muitas pessoas considerem Snow ou The Light a grande obra-prima do grupo. Aqui a banda conseguiu unir de forma perfeita, melodias à lá Genesis, misturado a um talento musical encontrado no Yes e Emerson, Lake & Palmer, além de uma ferocidade crimsoniana e uma sofisticação encontrada em sons do Alan Parsons, tudo isso dentro de uma incrível proficiência instrumental extremamente criativa para que tudo fosse feito da forma mais acertada possível. V é sem dúvida uma verdadeira maravilha do rock progressivo moderno, misturando com maestria músicas de sonoridade até mesmo de pop-rock curtas com épicos cheio de pompas, de musicalidade riquíssima, além de sinfônico e extremamente artístico, desenvolvida de uma maneira calorosa e agradável. “At The End Of The Day” é a peça que abre o disco e também a minha preferida de todo o catálogo da banda. Começa muito bem em um clima de música ambiente e com alguns sons suaves de teclados e mellotron. Até as letras são excelentes, algo que nunca considerei um dos pontos fortes da banda. Possui solos maravilhosos de órgão e de guitarra em determinados pontos que fazem com que a temperatura da peça aumente consideravelmente. De arranjo perfeito, possui cada uma de suas seções muito bem entrelaçadas. As melodias vocais são edificantes e as texturas da faixa – principalmente o trabalho de mellotron de Okumolto – remete o ouvinte facilmente ao rock progressivo dos anos 70 embalado em um som muito mais moderno. Uma peça perfeita. “Revelation” direciona o disco para uma linha mais suave e agradável - ainda que o refrão soa em uma pegada hard rock. De ideias até mesmo espaciais devido a exploração feita pelas teclas, flui muito bem do começo ao fim dentro dessa variação de bonança e tempestade. Mesmo que às vezes pareça um pouco arrastada demais, no geral é uma música excelente. “Thoughts (Part II)” é aquele tipo de música que sugere uma sonoridade ao melhor estilo Gentle Giant, por meio de muitos vocais e musicalidade meio estranha. A bateria é maravilhosa e possui algumas explorações orquestrais em algumas de suas transições. Uma peça feita principalmente para aquele fã de Gentle Giant que quer ver o tipo de som da banda invadindo um progressivo moderno, porém, entusiastas de Kansas também podem se encontrar bastante acolhidos aqui. “All On A Sunday”, é uma peça bastante simples, um número pop, mas extremamente agradável, com destaque para o excelente trabalho de órgão/teclado que às vezes remete um pouco aos encontrados no Procol Harum. A peça mais unilateral do disco, quase sem variação. Eu a colocaria facilmente na trilha sonora de alguma comédia romântica. “Goodbye To Yesterday” é mais uma balada muito bonita. Belíssimo violão, Morse cantando em sua área de conforto onde eu sempre achei mais interessante e uma linha de baixo singela, mas muito bem incorporada à música. O lindo mellotron de fundo também merece menção. “The Great Nothing”, com os seus 27 minutos é o grande épico que finaliza V. Existe um problema que me fez não ter nessa peça uma primeira impressão tão forte quanto na que abre o disco, a sua falta de fluxo entre as suas seções, as coisas não fluem com muita facilidade e acaba deixando uma sensação de que 27 minutos foi algo bastante exagerado – lembrando que o tamanho de uma música nunca foi problema pra mim. Mas mesmo assim, existe muito o que aproveitar aqui durante as suas 6 seções. Interlúdio acústico com duas vozes antes de uma bela explosão de guitarra – que foi muito bem explorada durante toda a faixa - e sintetizador, efeitos sonoros imersos em ótimos riffs de baixo e uma comovente seção de órgão, mostrando uma música antes suave se transformando em algo intermitente durante uma de suas transições. Ainda que, como eu disse, o fluxo musical não aconteça de uma maneira memorável - assim como não haja melodias vocais boas o suficiente para grudar na cabeça -, a peça continua a ser um épico que oferece uma grande variedade de estilos e sons/efeitos explorando todos os talentos que a banda possui. Facilmente um dos 10 melhores discos de rock progressivo sinfônico moderno – leia-se 1991 em diante -, mesmo não sendo exatamente perfeito devido a alguns ajustes que eu acho que deveriam ter sido feitos na última faixa. No geral, V entrega músicas dinâmicas, bem-produzidas, bem escritas e executadas por músicos extremamente habilidosos.
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