domingo, 15 de janeiro de 2023

Resenha Se Dependesse De Mim Álbum de Wilson Simonal 1972

 

Resenha

Se Dependesse De Mim

Álbum de Wilson Simonal

1972

CD/LP

Wilson Simonal foi um cantor, artista e showman que fez muito sucesso nos anos 60, trazendo muita carisma, alegria ao povo e ótimas músicas que são arrebatadoras, muitas foram arrasa-quarteirão. Porém, sua carreira foi repentinamente abalada por causa de um infame incidente no qual se dizia que ele era um informante na era da ditadura militar nos anos 60, 70 (o que eu acho, particularmente, uma mentira, ou o que o povo chama de 'fake news'). Com esses problemas, isso fez a carreira dele ser diminuída, os holofotes não estavam mais nele, o cara que antes era o sorriso pra galera, se tornou a lágrima pro povo.

Todos estes acontecimentos se deram por volta do final dos anos 60', e ao longo dos anos 70, então isso fez o Simonal perder a fama e acabar sendo esquecido com o tempo por toda a cultura brasileira. Mas, mesmo com esses infames acontecimentos, Simonal tentou perserverar durante os Anos 70, discos incríveis que podem ser até mesmo clássicos (apesar de não tão populares e conhecidos pelo público, são jóias raras sim da música brasileira!!!)

E a propósito, um desses clássicos é exatamente esse daqui. O Wilson Simonal tinha lançado um disco em 1970 chamado de 'Simonal', uma obra-prima, e logo no ano seguinte ele lança o 'Jóia, Jóia' que é um disco muito bom, mas não chega à altura de ser um sucessor do álbum de '70, mas 'Se Dependesse de Mim' de 1972, esse sim consegue chegar aos pés de ser um sucessor à altura!

Agora, uma coisa que eu não entendo é Como o público ignorou esse disco tão belíssimo? Dizem que o ano de 1972 tiveram muitos discos ignorados pelo público, como o "Tim Maia '72" e "Quem Sou Eu?" de Ivan Lins, são discos maravilhosos mas que não cativou o público (Que ano estranho esse de 1972!).

Se Dependesse de Mim é um disco que eu visualizo como a atualização certeira do Wilson Simonal para a época que foi lançado. Por vezes o Simona lançava certas coisas meio datadas pra época e demorava um tempo pra se atualizar as tendências. Tudo bem que nem sempre as tendências da época são as melhores, mas nos anos 70 elas eram! Por isso quando o Wilson Simonal se entregava cada vez mais pro Funk e a Soul Music, a coisa evoluía de patamar. E isso tudo foi começando aos poucos nas séries de discos "Alegria, Alegria” e com uma maior entrega nos discos "Mexico '70" e "Simonal". Neste disco, ele se embala de vez nos gêneros e crescendo ainda mais as influências de samba e samba-rock, que já havia trago no disco anterior, músicas como 'Feitio de Oração', 'Ninguém Tasca' e 'Quarto de Tereza' provam isso com maestria. E a gama de influências e músicas de diversos compositores que o Wilson Simonal traz é surpreendente, 'Noves Fora' é uma composição do Fagner e Belchior, interpretada por muitos (A que eu conheço além do Simona é a da Elis Regina, mas pra mim a melhor é a dele, sem dúvidas!), 'Irmãos de Sol' que é uma composição dos irmãos Valle, que traz uma viola cintilante com um ar de nostalgia, como se fosse uma viagem ao interior, belíssima!

Os arranjos nesse disco também são os melhores, feitos pelo Sérgio Carvalho, devo dizer que ele soube pontuar bem cada música pro Simonal, e eu tenho que te avisar Wilson Simonal já trabalhou com grandes nomes da música que fizeram arranjos pra ele, e tem que ser mestre pra trabalhar direito nos arranjos das músicas dele. Foi feito o acompanhamento certeiro pra voz do Simonal e a base instrumental que soube mandar bem no groove e no swing das músicas.

Wilson Simonal trouxe de tudo pra esse disco, inclusive uma música excelente chamada "Glória e Paz Nas Alturas", de Tony Osanah, que traz uma música na perspectiva de "um certo cara que fez sacrifícios pela humanidade", achei muito top(!), tudo desde o instrumental à interpretação do Simonal na música, e aquela intro... Caramba! Coisa que só o Simonal sabia fazer. Também há outras músicas tão incríveis como "Mexerico de Candinha" de Roberto e Erasmo Carlos, num groove funkeado que só o Simonal pra conduzir e arrebentar, e de sobra ainda tem "Expresso 2222" do Gilberto Gil, que cá entre nós eu prefiro (UM MILHÃO DE VEZES!!!) a versão do Simona!

O Wilson Simonal ainda faz uma coisa que eu gostei muito, que é trazer uma composição própria chamada de "A Quem Interessar Possa" (com parceria de Luiz Claudio Ramos), que é uma música onde ele abre o coração sobre não conseguir ser o maior poeta do mundo, mas mesmo assim tentar abrir o peito pra cantar e compor uma música especial para alguém especial, isso é uma prova que o cara se entregou mesmo nesse disco. Eu sou vidrado nessa música, ela é linda e ainda com uma intro de violão de fazer qualquer lágrima arranjar um plano de fuga dos olhos. Ele finaliza o disco com a música "Não Me Deixe Sozinho", que na primeira vez que eu ouvi me veio a mente a Nossa Queridíssima Alcione, talvez pelo estilo balada mais lenta e bem mais romântica sofrida tenha me feito pensar isso, contudo isso não interfere em nada na experiência, música arrebatadora e ainda numa harmonia maravilhosa num cantarolar magnífico do nosso fantástico Simonal!

Como eu já mencionei esse disco foi esquecido pelo público em geral e está meio apagado na discografia do Simonal, por isso vocês não encontrarão este disco nas plataformas de streaming de forma alguma, a menos que procurem no Youtube ou comprem o Vinil, é coisa rara. Mas com tudo isso, ainda acho que esse achado vai ver a luz do dia e vai ressoar nos ouvidos de muita gente ainda, por isso desfrutem mesmo quando ouvirem esse disco, vão encontrar tesouros que nenhum outro artista foi capaz de mostrar. Wilson Simonal ainda continuaria a lançar mais discos pela frente, mas nem preciso dizer que esse daqui tem um brilho especial além dos outros!

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