Fever to Tell trouxe à onda revivalista rock de início de século um lado mais glam, de artifício e purpurina que as restantes bandas não tinham.
O Setembro de 2001, para além do dia 11 de má memória para os americanos, trouxe também outra explosão – a revitalização do rock que teve como epicentro Is This It. Pareceu que o mundo ia de facto mudar do dia para a noite, e todos voltaríamos a dançar rock nas discotecas até ao amanhecer pelo resto das nossas vidas, mas o que é facto é que a coisa não foi instantânea.
Em 2002 houve aqui e ali alguns fogachos de bandas que apareceram nesta senda, mas chegámos ao fim do ano e não guardámos na memória mais que uma mão cheia de discos realmente pertinentes e duradouros nos tempo (Libertines – Up the Bracket; Broken Social Scene – You Forgot it in People; Interpol – Turn on the Bright Lights; Wilco – Yankee Hotel Foxtrot) dos que se podem inserir neste rótulo indie rock.
Também 2003 não foi estrondoso em termos de desenvolvimento deste novo galho da árvore rock, entretanto já dois anos se tinham passado da explosão isthisitiana e no ar pairava a dúvida sobre a sustentabilidade e durabilidade do mesmo. Entre os melhores do ano encontram-se nomes como The Wrens, The Books, Ted Leo & the Pharmacists, M83, Prefuse 73, The Darkness (credo), e mais algumas bandas que desde 2003 ninguém ouve. Foi preciso que os grandes responsáveis pelo movimento, White Stripes e Strokes, se chegassem à frente novamente para forçar a barra, no caso dos primeiros com o sublime Elephant, no dos segundos com um intenso e bem esgalhado segundo disco Room on Fire. A eles juntou-se uma frente nova-iorquina com vontade de aproveitar o embalo e levar o rock para a pista de dança, constituída pelos Yeah Yeah Yeahs e os Rapture. Echoes foi um estrondo, com “House of Jealous Lovers” a conquistar a anca assim que chegava ao ouvido. E depois houve Fever to Tell.
Começou-se a ouvir falar em Nova Iorque de uns miúdos de artes que se juntaram para fazer música punk, aqui e ali a aparecer nas primeiras partes de Strokes e White Stripes, a fazerem tour na Europa com Jon Spencer Blues Explosion, mas mais pela pose, que miúdos de arte tanto gostam, do que pela música feita – assim surgiram os Yeah Yeah Yeahs. Karen Orzelek deu corpo a Karen O, figura de ícone de rock pastiche como afirmação, roupas extravagantes muito glam, banhos de cerveja nos concertos, acompanhada por um tipo que se achava com muito estilo só porque tocava guitarra numa banda. Dizem as más línguas que as performances dos primeiros tempos mais pareciam circo do que concerto. E depois houve Fever to Tell.
Com o lançamento do primeiro álbum, a banda realmente mostrou que era mais do que a imagem que tinham criado, havia substância na música, havia pungência nas letras, havia ganas de abanar a pista de dança. “Date with a Night”, “Pin”, “Tick” são canções às quais é simplesmente impossível não reagir, sendo que para mim “Y Control” é mesmo a canção mais bem esgalhada neste equilíbrio rock para a pista. E em cima disto tudo, há a tal pungência acima referida, na canção suprassumo do disco – “Maps”. Mostra a banda e a sua líder Karen O despida de artifícios, esvaindo-se da dor num contundente “Wait! They don’t love you like I love you”.
Depois vieram muitas outras bandas dar maior solidez ao rock alternativo que dominou a década, casos de The Walkmen, Arcade Fire, The National, TV on the Radio, Vampire Weekend, Arctic Monkeys, Bloc Party, Franz Ferdinand, mas em 2003 foram os Yeah Yeahs a carregar a tocha olímpica. E que bem que o fizeram.
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