Os singles são maiores que a vida, mas o todo é coeso e pujante o suficiente para não ser desmerecido: com Hot Fuss, os Killers apresentaram os seus sintetizadores ao mundo – e algures entre os Duran Duran, New Order e os Smiths começaram uma história de sucesso e de fim aparentemente ainda distante.
O mito diz que Brandon Flowers, o vocalista e a alma, ouviu Is This It e apagou quase todas as canções que tinha na gaveta. Era difícil bater tamanha perfeição, mais valia nem tentar, pensou. Sobrou uma, de nome “Mr. Brightside”.
Lançada no final de 2003 como aperitivo para o que viria a ser Hot Fuss, “Mr. Brightside” foi um sucesso e é ainda hoje garantia global de sucesso em qualquer pista de dança de bom gosto: é uma canção de vistas largas, celebrativa, memorável. Os demais singles do primeiro disco dos Killers foram “Somebody Told Me”, “All These Things That I’ve Done” e “Smile Like You Mean It” – o que na gíria se pode definir numa básica, mas elucidativa expressão: só malhas.
Os Killers não nasceram no subsolo ou numa qualquer subcave de Brooklyn, bem pelo contrário: Las Vegas foi o elo de ligação dos músicos, que bem ativos têm andado nos últimos tempos: em 2020 editaram Imploding the Mirage, o disco mais próximo musicalmente de Hot Fuss, e já este ano deram ao mundo Pressure Machine, obra mais introspetiva, lenta e ambiciosa.
Voltando ao começo: Hot Fuss é um disco imediato e de rápida apreensão, e mesmo após muitas escutas permanece fresco e arejado. Foi um disco apreciado logo na altura, e que ainda hoje é tratado globalmente como o momento maior em álbum dos Killers, pese embora uma falange de adeptos vá mais à bola com o lado mais rock que o grupo apresentaria no seguinte Sam’s Town.
Hot Fuss é uma carta de amor aos anos 1980 – esta frase, assim a seco, pode meter medo, mas felizmente os Killers estiveram sempre do lado certo da estrada, sem nunca atravessarem para o lado mais discutível (e até piroso, atiramos) que os anos 1980 nos trouxe.
Outro mito conta que foi após um concerto dos Oasis que Brandon Flowers descobriu que não haveria de ser outra coisa que não um músico de sucesso. Menos megalómano e egocêntrico que os irmãos Gallagher, embora tão ou mais carismático, o tempo – e três ou quatro discos bem bons – deu-lhe razão. Tudo está bem quando acaba bem.
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