quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Resenha Blackwater Park Álbum de Opeth 2001

 

Resenha

Blackwater Park

Álbum de Opeth

2001

CD/LP

Blackwater Park é com certeza uma das melhores ofertas do Opeth, aquele tipo de disco que agarra o ouvinte de jeito logo nos seus primeiros segundos e só larga após a última nota, embora nem fosse preciso que ele segurasse o ouvinte por tanto tempo, afinal, não ia demorar muito para que quem o escute se sinta hipnotizado por uma música que o vai fazer ficar viciado nela e a permaneça ouvindo por si só. Sendo mais uma obra-prima da banda, veio apenas dois anos depois de Still Life, disco que de certa forma marca o ponto onde um número maior de pessoas tomou conhecimento da banda - não só conhecer, passaram a gostar de fato de suas músicas.  

Sempre que escuto Blackwater Park, imagino como se a banda quisesse ter feito uma trilha sonora ou mesmo uma espécie de ode à tristeza e ao desespero. Uma música bastante agressiva, mas tocada com tanto primor, que aquela ideia de muitas pessoas de que um disco nesses moldes não passa de barulhos sem propósito acaba caindo por terra, afinal, tudo é entregue com bastante clareza. Mikael parece cada vez melhor em seus vocais rosnados e mais confiante em relação aos de natureza mais serena. Riffs pesados de guitarra, death metal melódico, incursões de doom metal aliado a algumas tapeçarias acústicas maravilhosas que realmente se encaixam perfeitamente com as mudanças nos vocais. Inclusive, vocais e instrumentais combinados formam uma mistura verdadeiramente original e progressiva, as músicas nunca cansam, e realmente surpreende com mudanças rítmicas, passagens atonais e gritos dilacerantes em meio a partes extremamente calmas. 

O disco também marcou o primeiro álbum em a banda o coproduziu na companhia de Steven Wilson, os outros foram Deliverance (2002) e Damnation (2003), além disso, Wilson esteve envolvido na engenharia e mixagem de Heritage (2011) e na mixagem de Pale Communion (2014). Em seus dois discos anteriores, a banda vinha trabalhando com o engenheiro sueco Fredrik Nordstrom.  É um profissional bastante conhecido na cena do metal, tendo produzido várias bandas como Hammerfall, In Flame, Arch Enemy e Dark Tranquillity. E estava certo de que também estaria a frente da produção de Blackwater Park caso a banda contratasse alguém, porém, não foi isso que aconteceu.  

Segundo palavras do próprio Mikael em relação a essa escolha, ele disse, “quando contamos a Fredrik sobre Steven, ele ficou um pouco magoado. Não com raiva – esse nunca foi seu jeito –, mas claramente chateado. Felizmente, uma vez que ele e Steven se conheceram, eles se deram tão bem que nunca houve problemas no estúdio. Eles se entenderam e foi uma grande parceria. No final, permitimos que Fredrik mixasse o álbum sozinho – todos nós confiamos nele – e ele fez um trabalho fantástico.” 

Wlson sempre foi famoso por ter opiniões bastante francas e incisivas, mas conseguiu se adaptar muito bem para poder trabalhar com o Opeth, tendo qualquer tipo de atrito reduzido ao mínimo, apesar dos perigos óbvios de embates artísticos alimentados por egos. Nesse caso, podemos perceber que Wilson é um ditador quando se trata de sua própria música, pois quando está trabalhando nas músicas dos outros, ele costuma ter a consciência que tem que assumir um papel diferente. Alguns fãs da banda chegaram a ficar preocupados com o fato deles não estarem trabalhando com um produtor de metal, porém, foi uma preocupação desnecessária, pois Wilson não alterou o som da banda, mas buscou aprimorá-lo.  

Já houve bastante discussões sobre Blackwater Park ser ou não um disco conceitual, mesmo com Mikael afirmando que não é. Em uma entrevista o líder da banda disse, “não, eu realmente não tinha um conceito desta vez. Eu senti como se tivesse feito isso nos últimos álbuns. Eu queria fazer algo diferente desta vez e talvez trazer letras um pouco mais pessoais, porque obviamente os conceitos que eu criei são pura ficção. Acabei escrevendo as letras em 10 dias antes de gravarmos, o que acabou sendo bem rápido, eu não gastei muito tempo. Basicamente, acabei usando tudo o que escrevi naquele período. Não é um conceito, mas pode-se dizer que há uma ligação entre as músicas porque todas tratam praticamente do mesmo tipo de assunto. Que são basicamente apenas pensamentos pessoais tirados de algum tipo de subconsciente sombrio que eu tenho. Acho que todas as pessoas têm algum tipo de pensamento obscuro e eu meio que trouxe isso para as letras desta vez. Eu me vi mais isolada de tudo. Não gosto mais tanto da companhia de pessoas. Eu sou meio desconfiado das pessoas.” 

“The Leper Affinity” já começa o disco de maneira avassaladora. Incríveis riffs de guitarra, vocais rosnados e uma seção rítmica latejante. Do começo ao fim oferece algumas mudanças bastante dinâmicas bem característica da banda. Mesmo melódica, a música prossegue também carregando bastante peso, até que em determinado ponto, muda para uma linha acústica, com isso, a voz de Mikael passa a ficar mais limpa e melódica. Eu fico impressionado como ele consegue variar tão bem o seu vocal. Assim como aconteceu em Still Life, Blackwater Park começou com uma de suas músicas mais forte. O piano bem no final é lindo e prepara muito bem o ouvinte para a próxima música.  

“Bleak” começa por meio de alguns acordes de violão sob um poderoso riff de guitarra, que mais a frente, dá lugar a uma melodia incrível com a pegada lembrando um pouco músicas do Oriente Médio, e que se desenvolve em uma crescente de guitarra e, que em seguida, leva a um verso de vibração assustadora. Os vocais novamente estão excelentes, mas dessa vez, menos furiosos e agressivos, soando mais ritmado, porém, sem perder o seu status de poderoso. A peça se constrói de uma maneira belíssima, tendo um momento acústico que engana o ouvinte, pois parece que vai entrar um vocal, mas o peso regressa. Wilson participa cantando brilhantemente alguns versos da peça, às vezes solo e às vezes em duo com Mikael. O momento mais calmo e acústico enfim chega e vai guiando a música, até que ela começa a emergir em peso novamente, mas agora em uma espécie de “peso médio”, digamos assim, com Wilson cantando mais uma vez.  

“Harvest” é uma peça mais suave que as duas anteriores. Bastante acústica e somente com vocais limpos, além de nada de guitarras apocalípticas. O solo de guitarra é bem melódico e bonito. Apesar de não possuir nada de impressionante, se encaixa muito bem no meio das demais faixas para dar um equilíbrio ao som geral do disco. “The Drapery Falls” é mais um momento de brilhantismo do álbum, quase que uma combinação perfeita dos momentos acústicos de “Harvest” com os momentos furiosos de “Bleak”. Inicialmente, entrega uma melodia pesada e fúnebre até silenciar em uma linha acústica sob um vocal com eco. De repente, a serenidade é quebrada por uma sonoridade mais pesada, mas não dura muito e logo a peça retorna para a linha acústica e atmosférica. O peso regressa, primeiramente com cantos melódicos, até que um solo de guitarra antecipa os primeiros vocais rosnados da música. Interessante que a peça parece mudar constantemente, se mantendo sempre cativante durante todo os seus quase 11 minutos.  Já devo ter mencionado aqui nem sei quantas vezes, mas não gosto de músicas que terminam em fade out, sendo esse o único problema aqui. Mas de qualquer forma, não deixa de ser uma obra de arte.  

“Dirge For November” começa por meio de uma melodia bem bonita de violão e um vocal bastante limpo e melódico de Mikael. O violão segue até mais ou menos um minuto e quarenta, então que a frieza acústica da peça dá lugar para toda a banda que explode em uma instrumental pesada e de vocais furiosos. Perto dos 6 minutos a música entra em uma calmaria – permanecendo assim até o fim -, mostrando os diferentes lados dos trabalhos das guitarras na banda. Eu fico impressionado em como cada membro trabalha bem mostrando suas próprias emoções e talentos.  

“The Funeral Portrait”, uma música com esse nome eu acho que deveria ser calma e triste. Bom, triste todas as músicas são, mas não há nada de calmo aqui, muito pelo contrário, após uma breve introdução de violão, toda a banda é introduzida da peça. O riff de guitarra é tão sensacional que poderia ter sido criado por Tony Iommi para alguma música do Black Sabbath. A bateria e o baixo fazem uma cozinha sólida e bem estruturada do começo ao fim. Há dois solos de guitarra muito bom na música, sendo um no núcleo e outro na parte final. E novamente a banda termina a faixa em fade out.  

“Patterns In The Ivy”, possui menos de dois minutos e confesso que não faria falta caso não existisse. Se for considerá-la apenas como uma espécie de vinheta, bom, nesse caso tudo bem. Agora dentro de uma ideia musical, apesar do violão ser bonito e o piano eficaz, parece que ficou faltando algo e ela não se desenvolveu o suficiente para que eu pudesse entendê-la. “Blackwater Park”, a faixa título fecha o disco de forma brilhante. Começa com uma bela progressão de acordes pesados que é interrompido por um breve movimento acústico antes de seguir em frente, agora com os vocais raivosos e cheio de fúria de Mikael. A música então “descansa” durante um bom tempo em alguns arpejos de guitarra antes de sermos levados a um momento intenso de puro metal. Quando a música regressa, o som é tão pesado e Mikael solta um rosnado tão horripilante, que me desperta alguns sentimentos ruins. O breve solo de guitarra depois dos sete minutos é muito bom e bastante adequado. “Blackwater Park” é aquele tipo de peça que entrega uma grande variação em termos de estilo e densidade, além de possuir uma estrutura relativamente complexa. Chega ao fim por meio de um belíssimo arpejo que vai desaparecendo no horizonte – nesse caso eu achei que o fade out foi apropriado.  

Ao longo de todo o disco, você vai se deparar com verdadeiras joias absolutas do que podemos entrar em um acordo e chamar de death metal progressivo melódico. Sobre o quão o som do álbum pode ser descrito tecnicamente, quem acompanha a banda sabe que os músicos são no geral proficientes, jamais procure na música do Opeth pirotecnias ou passagens instrumentais intrincadas onde o primeiro nome quem vem e mente é o do Dream Theater, porém, também não pense que o som é simples. Por serem muito direcionadas por riffs, as composições da banda acabam refletindo em algo mais visceral. Blackwater Park é um disco sem defeitos – mesmo eu achando que “Patterns In The Ivy” não tenha acrescentado em nada -, de composições brilhantes que esmerilam inúmeros tipos de sons que podem ser produzidos a partir de instrumentos musicais e de mudanças frequentes de andamento que por vezes ocorrem abruptamente. Por último, uma das razões que fazem desse disco algo tão especial é que estamos falando de um trabalho multidimensional, afinal, uma simples audição irá revelar muito pouco sobre ele, sendo necessário um esforço muito maior para maximizar todo o impacto que será deixado.  


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