quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Resenha Damnation Álbum de Opeth 2003

 

Resenha

Damnation

Álbum de Opeth

2003

CD/LP

Damnation com os seus apenas 43 minutos de duração é até mesmo de longe o disco mais curto do Opeth, mas há uma explicação sobre isso e que eu comentei na resenha do Deliverance, ele não era pra ter saído de forma solo, mas sendo o segundo de um disco duplo, representando o lado mais taciturno e melancólico da obra. Damnation mudou completamente o cenário musical da banda, mas não sei exatamente se os fãs foram completamente surpreendidos, já que mesmo não sendo lançado junto de Deliverance, Mikael havia dado uma entrevista sobre o tipo de música que seria entregue no álbum. Foi surpreendente? Sim, mas também deu para os mais atentos ao menos se anestesiarem pescando algumas palavras do líder da banda.  

Muito uso de violões e guitarras limpas, vocais melancólicos e teclas – principalmente mellotron – que ambientam as músicas por toda parte. Steven Wilson, como já é de costume, entrega uma produção excelente, além de estar presente em todas as teclas e alguns backing vocals. As composições e as estruturas das músicas são de primeira grandeza dentro uma escala qualitativa. Este álbum é simplesmente lindo e só não agrada mesmo aquele fã mais purista que não aguenta ouvir a banda sem que ela despeje uma avalanche de peso e agressividade em seu som. 

Mas também não vou mentir, apesar de ter gostado do disco logo na primeira audição, não teve como ficar indiferente com a sua abordagem musical se comparada ao que eles haviam feito até então. Conheci a banda em 2006 - até aquele momento o disco mais recente era Ghost Reveries de 2005 -, por meio de Still Life e depois ouvi seus discos na ordem cronológica, e Damnation realmente soou como um ponto fora da curva. A maneira como a banda aborda cada uma de suas músicas é única. Mikael é um compositor a nível de excelência e tem uma capacidade de colocar emoção em suas músicas de uma forma apaixonadamente singular, conseguindo emergir as mais variadas sensações profundas e colocá-las em seu som, sem com isso parecer clichê, criando um verdadeiro vínculo entre a sua arte e ouvinte.  

“Windowpane”, o disco já começa de uma maneira quase que contrária a tudo que a banda tenha feito antes, como quem já quer deixar bem claro a dinâmica de todo o álbum. Possui uma introdução extremamente suave e atmosférica. As harmonias vocais de Wilson e Mikael funcionam muito bem juntas. Possui um solo espaçado de guitarra discreto que inicia por volta de 2:24 e uma linha sólida de baixo. O momento mais progressivo ocorre por volta de 3:45, então que mais à frente tem um interlúdio bastante triste que antecipa um solo comovente de guitarra. Apesar de belíssima, eu ainda acho que ela se arrasta um pouco demais. De qualquer forma, um ótimo começo de disco.  

“In My Time Of Need”, começa com um arpejo seguido de uma seção rítmica lenta e vocais como se estivessem ao telefone, então que alguns segundos depois a voz fica normal. Por volta de 2:45 a música sofre uma mudança que não cai muito bem. Sei que mudanças de andamento e humores dentro de uma música são coisas muito legais, só eu sei o quanto que gosto disso, porém, é necessário ter coerência e aqui pareceu 25 segundos desperdiçados. O que eu adoro nessa música é o refrão, ele sempre me emociona por algum motivo que eu nunca soube explicar. Lindo também são os usos das teclas que criam uma parede sinfônica clássica.  

“Death Whispered A Lullaby” é a única música do disco que não foi composta unicamente por Mikael, mas em parceria com Steven Wilson. O violão de abertura é bem ornamentado. Essa é uma música que se desenvolve muito bem em uma mistura de dissonância e melodias arrebatadoras – talvez faltando um pouco de dinâmica. Vale destacar o solo de guitarra por volta dos 3:00 que parece ter sido tirado de algum disco do Porcupine Tree – apesar de Wilson não ter tocado guitarra em nenhuma das faixas. Por volta dos 5:00 há outro solo que também parece ter ido tirado da banda de Wilson e companhia. Embora no geral seja uma música onde a estrutura básica não é muito dinâmica, o nível de interesse é mantido alto pelas complexas harmonias e camadas.  

“Closure”, começa por meio de um violão com influência folk e o vocal de Mikael sendo apresentado em duas camadas. Quando a peça começa de vez é entregue um riff de guitarra influenciado pela música do Oriente Médio e uma bateria em um estilo mais tribal. A música vai seguindo em uma crescente até que de forma abrupta fica novamente só voz e violão. O clima tribal e de influência na música do Oriente Médio regressa e dessa vez permanece até o final da faixa que acontece de repente. Considero essa música muito bem escrita e pensada, além de ser divertida – apesar da atmosfera tristonha ser algo comum no disco – e a mais diferente do álbum.  

“Hope Leaves” é mais uma peça nos moldes das três primeiras faixas do álbum. Começa por meio de um arpejo e depois vai se desenvolvendo de uma maneira bastante atmosférica e descontraída. Por volta dos 1:10 uma guitarra sutil antecipa a entrada da bateria. Possui um ritmo vigoroso e um vocal sinistro, sendo que, mesmo sendo um pouco estática e até repetitiva, soa exatamente como tem que soar. Vale destacar também que, além do belo e suave trabalho de guitarra, também há uma entrega de linhas proeminentes de baixo e teclados atmosféricos e assustadores.  

 “To Rid The Disease” é sem dúvida um dos destaques, espetacular do começo ao fim. A peça se desenvolve em versos tranquilos para um refrão atmosférico que eu acho maravilhoso. O mellotron é utilizado durante todo o disco, mas aqui é onde ele mais se destaca, onde por meio da atmosfera criada, ajuda a dar uma sensação maligna, deprimente e fatalista à faixa. O solo de guitarra por volta de 3:35 direciona a música para uma seção diferente. Um piano triste e solitário prepara a entrada de todos os instrumentos, com isso, a peça entrega uma base sinfônica por alguns segundos, mas logo o piano que estava solitário regressa, mas agora, acompanhado de uma seção rítmica bem suave, ficando assim até acabar a faixa.  

“Ending Credits”, se o próprio Mikael disse que se influenciou no Camel para compor essa música, quem sou eu pra discordar? Uma espécie de serenata romântica de guitarra de sensação quase flamenca em sua linha melódica principal. Uma peça que não chega a ser brilhante, mas relaxa e funciona bem dentro do disco. “Weakness” é a faixa que encerra Damnation. Executada apenas por algumas notas fantasmagóricas e inquietantes de teclados, sem linhas de baixo ou bateria, somente Mikael cantando e tocando alguns riffs com Wilson nas teclas. Um final de disco arrepiante. Acho que esse final assustador de Damnation foi feito para “duelar” com o de Deliverance que por meio da “By The Pain I See In Others” também teve um encerramento de disco de ares macabro.  

O que torna Damnation um disco tão valioso é a sua abordagem totalmente pessoal e que contrasta com o material geralmente pesado da banda. Em vez de composições mais longas e técnicas, Mikael optou por transmitir os seus significados concentrando-se mais na pura emoção do que na brutalidade ou progressividade, ainda que, obviamente, haja elementos progressivos evidentes no álbum. Ao ouvir Damnation, posso dizer também que uma das grandes virtudes que ele tem a oferecer é a sinceridade de sua música. É nítido que existem algumas músicas aqui que tem um significado especial para Mikael. Damnation é uma joia musical que é um senso de sentimento puro e descomprometido. 

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